“Querida amiga...

Você não sabe o quão estressante, chato e horrível foi hoje. Primeiro, tive que ir para a escola, aguentar aqueles metidos a bestas falando de mim! Isso eu já estou acostumada com esse tormento, mas não consigo explicar... Cada dia é uma sensação diferente.

Segundo e último, fui ao shopping, mais precisamente no cinema, assistir um filme de terror, ver as pessoas chorarem de medo e ficar rindo da cara delas! Porém, ao chegar ao shopping tive um pequeno problema. Encontrei o cara de ontem. Ken. Ken Smith. (...)”

– Olá Car. – disse aquela voz atraente e conhecida atrás de mim.

– Oi. – disse virando para trás para ver quem era. – Ken?

– Sentiu minha falta? – disse ele com um tom de malicia no rosto.

– Nem um pouco! – disse com um sorriso de orelha a orelha.

– Que pena. O que uma garota como você faz aqui, sozinha?

– Vim assistir um filme. Tentar esquecer que um cara me chamou de prostituta, né? – disse indiretamente ou diretamente.

– Conheço esse cara! Ele é bem gostoso! – Realmente, ele sabia que estava falando dele.

– Nossa, que legal!

– Vem, nós vamos perder o filme!

– Nós? – falei sem entender.

– Claro, gata. Vou assistir com você!

– Desde quando? – estava confusa.

– Calada, vamos logo!

Ele segurou firme no meu braço e me puxou até o cinema. Ele não me soltava por nada. Até comprando os ingressos ele me segurava. Depois, comprou pipoca, refrigerante e um chocolate.

Entramos na sala, tentei sentar no meio, mas, ele me puxou lá no fundo. Só havia nós dois no fundo. Não gostava daquele lugar. Era estranho. Geralmente era o lugar onde homens virgens de 40 anos se masturbavam assistindo filmes pornôs!

O filme começou. E eu só ouvia gritos das pessoas assustadas. Aquilo era engraçado. Eu ria sem parar. Até sentir alguém massageando minhas pernas. Olhei e era Ken.

– Pare com isso. – disse brava batendo na mão dele e jogando-a para o lado.

Depois de um tempo, ele começou a aprofundar os carinhos. Massageava dos meus joelhos até minha cintura. Ele a massageava. Não conseguia sentir prazer naquilo. Em nada que ele fazia. E por incrível que pareça eu estava ficando com medo.

Resolvi sair dali. Quando fui me levantar, ele me puxou, me fazendo sentar de novo. Contei até dez e deu uma cotovelada muito forte nele, fazendo-o gemer de dor. Enquanto ele se remexia por causa da dor, eu me levantei, subi nas cadeiras e sai correndo por ali mesmo, muito mais fácil para sumir dali. Corri como se fosse o fim do mundo. Quando sai do cinema, vi que ele estava vindo atrás de mim. Eu corri mais rápido, só que ele conseguia correr mais rápido. Ele tentava segurar no meu braço, mas eu desviava. Consegui sair do shopping e chamei um táxi. Disse para ele ir o mais rápido que ele conseguiria.

Finalmente, cheguei em casa. Cheguei chorando. Corri para o meu quarto e me tranquei no banheiro e chorei como se não houvesse amanhã.

Estava com raiva de mim mesma. Com raiva do mundo. Com raiva de minha melhor e única amiga não estar aqui comigo. Eu queria morrer. Quem sabe desse jeito todos os meus problemas somem e até, provavelmente, posso encontrar minha amiga novamente.

Foi aí que eu resolvi fazer uma coisa. Abri a gaveta que estava toda bagunçada e comecei a procurar o que eu queria. Jogava as coisas no chão até que finalmente achei o que eu precisava. Uma lâmina velha. Mas era uma lâmina.

Eu olhava para ela e pensava. Eu queria fazer aquilo. Talvez pudesse sentir prazer nisso. Talvez pudesse matar-me e encontrar com Kristy. É tudo o que eu mais quero.

Foi ai então que eu posicionei a lâmina sobre meu pulso, e a deslizei sobre o mesmo com muita força. Vi o sangue escorrer e manchar todo o chão. Aquele vermelho foi perdendo a nitidez. Minha visão estava borrada. Eu estava... morrendo? Eu acho que não. Eu queria prazer. Mas não senti prazer. E então eu perdi totalmente a visão...