[...] E quando Laura olhou mais de perto reconheceu a amiga, Isis, e correu ao encontro dela e abraçou-a, soluçando.

E a amiga perguntou:

- O que aconteceu Laura?! – ela não parava de chorar.- O que foi amiga?!

   Mas só o que Laura conseguiu responder foi:

- Wesley e Jiulia.. - E a amiga então disse:

- Eles estão bem. Bem até demais.- E com um risinho que tinha a intenção de ser reconfortador continuou - Ele a pediu em namoro hoje na aula de educação física. Ela aceitou.

   E ao ouvir isso Laura estremeceu nos braços de sua amiga, numa reação de dor e repulsa, e gemeu inconformada. E foi aí que Isis percebeu o que estava acontecendo com Laura, e então ficou pasma com a intensidade e com o quanto custava a Laura saber que seu amor fora recusado e trocado por um muito menor.

   Isis não queria deixar a amiga ir pra casa sozinha naquele estado e ser questionada pelos pais do porque de estar do jeito que estava, então convenceu Laura a dormir na casa dela. Laura foi e chegando lá, Isis ligou pra casa de Laura avisando à mãe dela que ela ficaria na casa da amiga para fazer um trabalho que tinham esquecido.

   Já era quase noite quando Laura foi tomar um banho. E ali chorou mais uma vez, pensando no que tinha acontecido naquela manhã, lembrando das palavras ditas pela voz tão doce do amor de sua vida, aquele amor que ela deixara escapar. Escapou porque por vezes teve chance de ser revelado e vivido, mas por medo, vergonha, insegurança ou qualquer outro motivo foi mantido guardado no coração de Laura. Amor que um dia foi correspondido na mesma intensidade sem que ela soubesse. Ela chorou por sua covardia. Ela chorou pela dor que sentia, pelo vazio que fora deixado em seu peito.       

   Quando saiu do banho, Isis já havia preparado um lanche, que comeram silenciosamente. Viram, em silêncio, o programa favorito delas, e ao fim do mesmo, Laura quebrou o silêncio:

- Você deve estar incomodada com meu silêncio. Não quero ficar aqui fazendo você assistir meu drama.

Isis respondeu:

- Sinceramente, me incomoda sim, ver minha melhor amiga, que sempre foi uma tagarela, ficar muda assim. É quase uma tortura – disse ela rindo-, mas se assim estiver bom pra você, pra mim também vai estar. Só quero que você saiba que se você precisar conversar ou chorar ou de um abraço, eu estou aqui.

   Laura respondeu com um obrigada e um meio sorriso tímido. Não era muito tarde quando elas dormiram. Quando acordou no sábado, Laura sorriu ironicamente para si mesma feliz por ser sábado, pois não precisaria ir à escola, olhar pra Wesley e ver nos olhos dele que ele agora pertencia a outra. Pegou o celular pra ver as horas e viu que havia uma mensagem. Uma mensagem de Wesley. Acabou não reparando na hora. Tomou coragem abriu a mensagem e leu:

“Oi Lá, você sumiu ontem, fiquei preocupado! O que aconteceu? Está tudo bem? Você sumiu e perdeu! Pedi a Jiulia em namoro!!! Ela aceitou e eu sou o cara mais feliz do mundo, Laurinha! Queria que você estivesse lá pra me dar apoio e é claro pra ser madrinha do nosso namoro, afinal você é minha melhor amiga e apesar de você e a Jiulia não serem grandes amigas ela gosta de você. Entra em contato comigo por favor, quero saber como você está. Beijo. -W. ”

   Ela leu e se arrependeu. Se livrou da dor de não ter que encontrar com eles, mas logo cedo a mensagem vem lhe atormentar o dia. Mas ele era seu melhor amigo, ela não podia simplesmente ignorá-lo. Ela resolveu responder:

“Oi Wesley, bom dia. Desculpe por ontem ter sumido daquele jeito. Quando eu corri pra encontrar com as meninas eu me senti mal e fui embora. Mas que bom que você seguiu seu coração. Espero que vocês sejam felizes, ou melhor, espero que ela te faça tão feliz quanto eu faria. Beijo. Laura.”

   Antes de enviar ela releu a mensagem e viu que não podia enviar aquilo, e não enviaria a verdade completa dessa forma. Ela não tinha o direito de fazer isso com ele. Ele merece ser feliz da forma que escolher. Então só disse parte da verdade:

“Oi Wesley, bom dia. Desculpe por ontem ter sumido daquele jeito. Quando eu corri pra encontrar com as meninas eu me senti mal e fui embora. Mas que bom, que você seguiu seu coração. Espero que vocês sejam felizes. E eu não vou ser madrinha de namoro nenhum não. Coisa de velho isso! Beijo. -L.”

   Ela não mentiu quando disse que se sentiu mal, afinal ele próprio lhe fizera mal, mas isso ela não podia dizer. E com um pouco de sacrifício ela conseguiu colocar um pouco de humor na mensagem.

   Laura se levantou e viu que a amiga já tinha acordado. Foi até a cozinha e encontrou Isis sentada na mesa, rabiscando uma folha de papel enquanto comia uns biscoitos. Laura se sentou junto da amiga pegou um biscoito e perguntou:

- Já tomou café, amiga?

E Isis respondeu:

- Lógico! Por acaso você já viu que horas são?! Se não, eu te digo. São 14:00hrs!

Ela riu. Laura não conseguiu rir com a amiga, como de costume, ela ainda não se sentia feliz. Mas respondeu:

- Caramba! Pelo visto eu dormi muito né.

- Pra falar a verdade, você só deve ter conseguido dormir bem agora pela manhã. Você passou a noite se debatendo e gemendo. Não parece ter sido uma boa noite.

-Eu não me lembro de nada. Que estranho. Só tenho uma vaga lembrança de alguns sonhos estranhos. Enfim, não estou me sentindo com sono ou cansada, e isso que importa. E me desculpe se te atrapalhei a dormir.

- Não precisa se desculpar não. Tá tudo bem. Quer fazer alguma coisa? Se distrair um pouco?

- Não... Acho que vou pra casa.

E assim ela fez. Juntou suas coisas e se pôs a caminho de casa, e enquanto caminhava percebeu que se arrastava pelo caminho, lentamente, um passo após o outro, como se tivesse medo de cair, e riu consigo mesma “ Se eu cair pelo menos meu joelho não vai doer tanto quanto esse meu coração..”. Ela ironizava a própria dor. Ela estava devastada. Ela se entregou demais ao sentimento por ele e criou expectativas demais. Ela se esqueceu de pensar que poderia dar errado. Se iludiu demais e agora sofria as consequências desse erro.

Depois de fazer em quase 40 minutos um percurso que normalmente fazia em 25, ficou parada em frente à entrada da casa antiga, com telhas que seriam de um vermelho vivo se não estivem tão desbotadas pelo tempo, e de paredes claras, manchadas, mas ainda assim bonitas. E ficou olhando por quase um minuto antes de perceber que alguém na janela a observava também. E Wesley gritou da janela:

- Ei Laura, porque tá ai parada desse jeito, ficou presa ai no chão?! - e gargalhou da cara da amiga, que permaneceu em silêncio. Então ele disse:

- Laura, você não está bem, vem aqui pra gente conversar.. Não estou gostando de te ver assim.

-Eu não posso – disse ela num sussurro quase inaudível- tenho que ir pra casa. – ela lutava contra as lágrimas que agora queriam sair de seus olhos.

E saiu andando, ainda devagar, sem olhar pra trás, e ignorando a voz que a chamava.

Levou mais 10 minutos para chegar em casa. Foi direto ao armário do banheiro, procurando algum calmante ou qualquer remédio que a fizesse dormir. Ela não queria ficar acordada naquela tarde. Achou o que procurava e dormiu até a manhã seguinte. Seus sonhos não a perturbaram, então ela acordou mais disposta, mas não feliz, não com vontade de sair do quarto, só disposta a estar acordada e a enfrentar os sentimentos que ainda feriam e queimavam em seu peito. Ela sabia que uma hora ia ter que encarar isso, e acreditou que quanto mais cedo o fizesse, mas cedo se livraria daquilo.