E naquela manhã ela acordou cansada, cabisbaixa. O coração estranhamente frio e angustiado. Se levantou e lentamente se pôs debaixo do chuveiro, e se encolheu. Chorou. Sem saber porque, mas chorou, e ali descarregou parte de uma dor que ela não sabia de onde vinha e disse pra si mesma: “Laura, deixa de ser boba, menina! Para com isso!”. E enquanto lavava seu corpo esguio, lavava também sua alma. Passou sua manhã quieta em seu quarto, achando estranha toda aquela sensação, e pensando que iria melhorar logo. A manhã foi passando, já era quase tarde, hora de ir pra escola. E como acontecia todos os dias dos últimos 7 anos ela ia pro canto da escola e encontrava o motivo da sua alegria, seu melhor amigo, seu amor. E ao ser recebida pelo lindo sorriso de Wesley, ela sentiu seu coração aliviar de parte da tensão que ainda teimava em lhe fazer companhia, e como de costume eles se abraçaram felizes. E ali ela percebeu mais uma vez - talvez a milésima vez – que ela o amava e o queria com ela a cada dia, até o último dia de sua vida. Ela já havia percebido que nos últimos dias ele andava mais radiante que nunca antes, e claro, criava expectativas de que ela era o motivo, afinal eram anos de uma amizade muito forte e muitas vezes ela percebeu que algo mais existia da parte de Wesley por ela. E no meio do abraço ele sussurrou no ouvido dela:

- Eu tenho uma novidade... 

   E ela sussurrou em resposta:

-Eu também..

   Laura estava disposta a expor seus sentimentos ao melhor amigo. Eles se afastaram, e sorrindo puseram seus corpos de modo que seus olhares se encontrassem, e ele disse:

- Há 4 anos eu conheci uma menina muito especial..

  E ela pensou “Ele deve estar errando as contas, afinal tudo passou tão rápido que nem parece tanto tempo..”.  Ele continuou:

- E aos poucos ela foi me conquistando, e eu fui percebendo que nossos mundos não são completos um sem o outro..

   E ela se encheu de esperanças ao ouvir isso, mas permaneceu em silêncio esperando que ele continuasse, tentou controlar ao máximo sua expressão e o brilho nos olhos, e ele disse:

- E eu hoje resolvi pedir essa menina em namoro.

   Então ela timidamente sentiu seu rosto esquentar e ficar rosado e disse, quase que num sussurro:

- E está esperando o que pra fazer isso?  

   E ele respondeu:

- Estou esperando ela chegar..

   E Laura ainda pensando ser só uma brincadeira pra causar um pouco de suspense – o que era bem típico do rapaz – disse:

- Mas eu estou aqui, meu anjo.

   E ele respondeu rindo:

- Você e seu senso de humor. Você sendo minha melhor amiga e me conhecendo tão bem já deve ter percebido que eu sou louco pela Jiulia.

   E foi aí que Laura se deu conta. Não era uma brincadeira. E em questão de segundos ela se lembrou de momentos que apontavam que os sentimentos de Wesley podiam mesmo serem voltados para Jiulia.

   Laura então desistiu de se declarar ao amado, e instantaneamente se mostrou feliz pelo amigo. Mas era só mais um sorriso “ensaiado” pras situações do tipo, e ainda assim, teve medo de que sua representação não fosse tão boa quanto esperava, e ela também já não sabia por quanto tempo conseguiria conter em si a dor que agora se alastrava em seu peito queimando, ardendo, esmagando, sufocando... Então ela disse, forçando uma voz alegre:

- Ah! Que lindo! Fico feliz por você. Desculpe, mas não posso ficar aqui pra comemorar sua alegria com você, minhas amigas estão me esperando na sala. Até mais tarde!

   E saiu correndo. Corria enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas, e suas pernas ficavam dormentes, e quando ela se deu conta, já tinha saído da escola, já estava longe, na pracinha que havia há alguns metros da escola, e que vivia deserta. Ela procurou um lugar mais escondido, e ali se encolheu, e ali suas lágrimas rolaram quentes sobre a pele fria, e parecia queimar. Mas não era tão ruim quanto o que ela sentia em seu coração partido. Não era tão ruim quanto ter ecoando em seus pensamentos o nome da colega “Jiulia.. Jiulia.. Jiulia..”, e ecoava com a voz do rapaz, como se ele ainda estive ali falando com ela com o sorriso lindo no rosto e o brilho nos olhos. E ela queria que aquilo fosse só um sonho. Mas não era, doía demais pra ser sonho. E Laura ficou ali encolhida, abraçada aos joelhos por quase metade da tarde. E quando ela conseguiu se levantar percebeu que alguém a observava. A pessoa se aproximou e viu que ela estava pálida, com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar, tremula, e que talvez estivesse meio fora de si, meio atordoada. E quando Laura olhou mais de perto reconheceu a amiga, Isis, e correu ao encontro dela e abraçou-a, soluçando.