[...] Ela sabia que uma hora ia ter que encarar isso, e acreditou que quanto mais cedo o fizesse, mas cedo se livraria daquilo.

Ela se enganou.

Na segunda feira ela acordou quase na hora de ir pra escola. Saiu da cama e foi direto tomar seu banho. Almoçou, juntou seu material e seguiu pra escola. Quando chegou lá por instinto, ou costume, foi logo se direcionando pro lado da escola. Ela esperava que Wesley não fosse mais para lá. Se sentou no chão e encostou na parede esperando o sinal tocar, mas não foi o sinal que a fez abrir os olhos, foi o som da risada de Wesley acompanhada da risada de alguém.

Jiulia.

Laura se levantou, colocou a mochila nas costas e reuniu suas forças pra se manter firme diante do casal que se aproximava.

-Laura! – exclamou Wesley. – Tudo bem com você?

-Está. – ela disse baixo.

-Não, você não está. Eu te conheço. Você está estranha desde a sexta-feira. Não vai me contar o que tá rolando não?

-Não é nada. – ela não conseguiu evoluir das respostas curtas.

-Laura, será que conversar com outra menina pode te ajudar? – perguntou Jiulia, sendo gentil.

-Não! – ela disse com força e saiu andando. Foi direto pro banheiro e jogou um pouco de água no rosto. O sinal tocou, ela logo se dirigiu pra sala. Isis já estava lá, junto com Flávia e Yara, suas outras melhores amigas. Elas estavam um pouco tristes.

- O que aconteceu, meninas? Não estão tristes por mim não, é? – Laura perguntou preocupada que sua tristeza estivesse atingindo as amigas. Yara  e Flávia ficaram sabendo da história no final de semana.

-Não, Laurinha.. – disse Isis. – O problema agora é comigo.

-O que aconteceu?

-Lembra quando eu comentei que meu pai seria promovido no emprego e teria que se mudar do país, mas que ele disse que era pra eu ficar tranquila pois ele não tinha muitas chances de ser promovido de verdade?

-Sim. O que tem isso?

-Meu pai foi promovido. Eu não vou poder ir embora com ele.. – Isis fez uma pausa pra enxugar uma lágrima.

-Por um lado isso é bom, amiga. Você vai ter a gente aqui, e a gente pode te ajudar com a saudade do seu pai. – Laura falou.

-Não, Laura, eu vou morar com minha mãe! Eu vou me mudar do estado! – Isis falou irritada com a situação.

-Você vai embora? – Laura não tinha certeza do que a amiga tinha dito.

-Vou, Lá! – elas se abraçaram.

****

Um mês depois, as amigas estavam na Rodoviária da cidade se despedindo de Isis. Laura não pode estar lá. Mas as amigas enviaram mensagens pra ela quando Isis embarcou no ônibus.

Laura ainda não tinha se curado por perder o amor de Wesley, e agora mais uma parte dela estava indo embora. Isso a fez chorar em seu quarto. Ela não queria que tudo isso estivesse acontecendo nem com ela nem com ninguém.

Ela começou a ficar nervosa e a gritar.

-Laura, minha filha! – seu pai entrou no quarto assustado! – O que foi?

-Pai! – ela exclamou. O pai foi correndo para abraçá-la.

-Estou aqui, pequena. Está tudo bem. – ele acariciava a cabeça da filha e a ninava em seus braços.

-Não, pai. Não está tudo bem. – ela soluçava. Sua voz foi quase um sussurro.

-O que está acontecendo, Laurinha?

-Pai, meu coração está vazio. Vazio de mim. Vazio de quem eu amo. Mas está cheio de dor e de mágoa, pai. Isso está machucando demais.

-Minha filha, você sabe que pode partilhar sua vida comigo. – o pai ainda a abraçava ternamente como se Laura fosse de novo um bebê.

-O Wesley está namorando, pai. E a Isis foi embora da cidade. Foi morar com a mãe. Ela é minha melhor amiga, você sabe. E ele é o amor da minha vida. Eu estou perdendo pessoas importantes. Partes importantes de mim, da minha história.

-Querida, talvez exista alguém que vá te fazer feliz de uma forma que o Wesley não conseguiria. Talvez não fosse pra ser, ou pelo menos não agora. Você é jovem ainda, princesa. Não deixa isso te abater dessa forma. Não é saudável. E sua amiga não foi embora pra sempre. Vocês podem visitar uma a outra.

-Pai.. – ela lutava com o aperto em seu coração. - ... a mãe da Isis não vai deixar ela vir pra cá nos ver, e nós não vamos poder ir lá também. Ela é uma bruxa! Ela não tem coração! – ela não queria falar sobre o Wesley. Era doloroso demais ainda. Seu pai entendia isso.

-Calma, minha filha, calma. Tudo vai se acertar e você vai sorrir de novo. Mas tenta não deixar essas coisas serem maiores que as alegrias que você pode experimentar. – o pai foi se levantando e deu um beijo na testa de Laura. – Você é forte, princesa. E eu estou aqui com você. O tempo todo.

-Obrigada, pai. Eu te amo. – ela sorriu um pouco, reconfortada com as palavras do pai.

-Eu te amo. – ele disse saindo do quarto.

Laura ficou deitada na cama. Estava mais calma agora. Ela pensava em como era difícil lidar com tudo isso, mas ela sabia que havia maneiras de contornar a situação. Sobre Isis ela não podia fazer muita coisa. Talvez a única coisa que funcionaria, mas acabaria em problemas, seria sequestrar a amiga. A mãe dela era mesmo uma megera, não deixava a filha fazer nada. É raro Isis ter um momento de lazer quando está sob a guarda da mãe. Por isso seus pais são separados e até então ela morava com o pai. Mas com relação a Wesley havia um jeito de ser menos pior. Ela poderia cortar o contato com ele. Não seria fácil, ela sabia, mas era preciso, já que vê-lo na escola todos os dias com Jiulia não a fazia bem. A decisão estava tomada. As coisas mudariam.

Na hora da janta, Laura e seu pai estava sentados à mesa.

-Pai, eu quero mudar de escola. – Laura disse com firmeza.