Pov's:Hades
O sonho sempre começava no mesmo local.
O local poderia ser infinitamente velho e infinitamente horrível. Tudo era terrivelmente escuro, e havia por toda parte um cheiro maldito, tal como o de montes de cadáveres de gerações inteiras. Nunca havia luz, nem havia sol do lado de fora, apenas um vazio. Vez ou outra parecia escutar gritos, mas ao invés de se horrorizar parecia sentir um estranho contentamento.
Então, seu eu no sonho parecia tentar atrair a atenção de alguém.
–Tártaro! - Berraria o Hades do sonho esperando a resposta.
–Você vem a mim, pequeno rei - então surgia aquela voz, tão antiga e gélida– Quer o meu apoio na causa contra meu sobrinho?
– Tártaro, tenho uma mensagem para transmitir. - murmurava sempre sem nenhuma variação, aquele Hades do sonho, de modo inseguro.
– Sim, filho de Cronos– sussurrava novamente a voz, em tom jocoso.
Eu venho aqui para pedir... - Começaria o deus e sendo interrompido pela terrível voz que ecoava pela sua mente.
Não ouse continuar, eu estou tentando repousar, desde que Cronos tomou o poder se tornou impossível, as almas punidas gritam a todo o momento, por favor Hades , tome meu fardo, seja meu herdeiro de meu poder. - dizia a voz em um tom autoritário e ao mesmo tempo tão sedutor.
Quer que eu seja teu herdeiro ? falava, ele , confuso - Porque eu ? Todos preferem Zeus , o meu arrogante irmão .
Eu te escolhi exatamente por ser o oposto de Zeus, eu vejo trevas em sua alma imortal, meu jovem, você deve derrotar seu irmão depois da guerra com os titãs e se tornar rei. Garanto que será eternamente lembrado.– a voz, sempre o tentava com aquela oferta.
Onde fica seu maravilhoso reino? perguntava, Hades ,ansioso para Tártaro.
Eu sou meu reino, você está sobre meu reino.Te apresento o Mundo Inferior ,criança .- disse solenemente ,sem o habitual sarcasmo.- Me tornarei o abismo mais profundo que este mundo e todos os outros verão, e você será o senhor deste mundo .Aceita minha proposta?
Sim - Respondia Hades, finalmente se sentindo poderoso, talvez até mais poderoso que aquele Zeus arrogante.
As trevas envolveram Hades, ele não reclamou, as trevas eram suaves e confortáveis. De repente começaram a queimar. Sentiu-se paralisado, tentou erguer a mão, mas seus nervos estavam a tal ponto abalados que seu braço não obedecia ao querer. A tentativa, contudo, foi o suficiente para perturbar seu equilíbrio, de modo que tive de dar alguns passos involuntários para diante, a fim de evitar a dor. Não chegou a gritar, mas todos os demônios que cavalgam o vento noturno gritaram por ele, de modo alucinado. No supremo horror daquele segundo, esqueceu o que o havia aterrorizado, e a explosão de lembrança negra se desvaneceu num caos de imagens ecoantes.
Acordou, gritando. O mesmo pesadelo de sempre, pensou frustrado.
Hades, desde a mais tenra infância tinha sido um garoto esquisito. Rico para além das necessidades de uma vida comercial, e de um temperamento inapto por aqueles com quem se relacionava. Sentia que apenas poderia confiar em sua mãe. Ainda assim não sabia o quanto
Sua mãe apareceu. Seu olhar era compreensivo, e sua voz tão carinhosa e tentando çhe transmitir segurança.
Aconteceu de novo meu filho? -perguntou preocupada, embora fosse visível em seus olhos que soubesse a resposta.
São sempre as mesmas cenas mãe, parecem até lembranças-Respondeu Hades, ele nunca conseguia mentir para ela.
Acho melhor ligar para o doutor Lerman, estão voltando a ficar frequentes. Disse enquanto passava a mão pelos cabelos de Hades.
Não! - gritou Hades, logo se recompondo, tentando transparecer que estava bem Digo, não há necessidade, estou perfeitamente bem.
Se acontecer de novo serei obrigada a leva-lo- respondeu, sua mãe, beijando lhe a testa e deixando um pensativo Hades sozinho no escuro.
Doutor Lerman era psiquiatra. Parecia odiar Hades tentando sempre lhe dopar, usando qualquer desculpa, para receitar-lhe pilhas de remédio ou querendo lhe internar em hospício. O único ponto positivo sobre ele, era sua filha Perséfone.
Ah, a doce Perséfone parecia ser como a própria primavera, tinha cabelos castanhos longos e cacheados, estando sempre adornados por flores, olhos castanhos que pareciam chocolate derretido e eram tão doce quanto, e seu sorriso, oh, o sorriso dela era mais belas e iluminados que todas as estrelas do céu. Se havia alguma luz em sua vida era ela, a única, além de sua mãe, que não o temia. Desejou ter coragem para se declarar a ela.