Digimon Adventure 03 - Em Busca Do Espaço Zero escrita por Sillycone br


Capítulo 6
A Mente Perturbada de Hibiki


Notas iniciais do capítulo

Bem, fiz o que eu pude para adiantar tudo hoje, já que sábado e domingo eu provalmente não iria ter tempo para escrever.

Eu diria que esse capítulo é meio monótono, já que é praticamente só falação. Infelizmente não achei uma maneira de encaixar mais nada nele já que, como vocês podem notar, já estava muito grande.

Esse é menos focado em batalhas e mais na história. O que a meu ver é interessante, mas não sei. Não sinto como se fosse o meu melhor trabalho.

Como eu tive pouco tempo para rever, é normal ter alguns erros de digitação. Então eu vou arrumando eles com o tempo. Me perdoem por qualquer coisa e uma boa leitura!



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Andromon parou por um instante para recuperar o fôlego. O Digimon ciborgue se esgueirou por entre um beco e continuou correndo. Notou então que uma parede bloqueava o fim daquele caminho. Em outras palavras, era um beco sem saída. Por sorte, encontrou uma pilha de destroços. Ele se agachou por ali e passou a usar aquilo como cobertura.

Então nem mesmo essa cidade está segura...” – pensava Andromon – “E eu que achei que poderia me esconder por aqui...

“Não adianta ficar fugindo.” – disse uma voz feminina – “Lorde Reapermon já tem planos para você. Não posso deixar que me escape.”

Uma mulher, com a aparência de um anjo caído, pousou na entrada do beco onde Andromon estava escondido. Seu corpo era coberto por um vestido preto rasgado, que parecia feito de remendos dos corpos de outras criaturas. Havia correntes enroladas em seu braço direito e envolta de seu corpo. O braço esquerdo dela lembrava as garras de um demônio. Usava uma máscara preta que deixava soltas as mechas de seu longo cabelo prateado. Em suas costas haviam duas asas negras.

 O robô se arrepiou com o tom sombrio com que aquela voz estava falando. Ele passou praticamente o dia inteiro fugindo dos ataques daquela criatura diabólica. Quem quer que fosse, estava determinada a eliminá-lo, perseguindo-o pelas ruas da cidade abandonada.

“Acho que me cansei desse pega-pega.” – declarou a mulher, em um tom levemente entediado – “Ou você luta comigo agora ou morrerá como um covarde.”

 Aquele foi o fim da linha para ele. Seu orgulho não se permitiria que fosse destruído sem ao menos oferecer alguma resistência. O androide colocou-se de pé, encarando o demônio a sua frente com toda a coragem que lhe restou.

“Eu me coloco diante de você, serva de Reapermon.” – disse ele – “Mas antes de nossa batalha, permita-me fazer uma pergunta.”

“E de que lhe adiantaria se eu respondesse?” – respondeu aquela mulher, sem esconder a ironia – “Para um digimon como você, que ainda não serve o nosso Deus, nada que eu disser fará o menor sentido.”

Ela estava certa, é claro. O que não impediu Andromon de se colocar em uma posição de batalha.

 “Afinal, o que vocês querem?” – inquiriu o Digimon Ciborgue – “Porque estão eliminando os digimons um após o outro? Porque vocês eliminaram meus companheiros Guardromon, até que só restei eu para proteger essa cidade? ”

Aquele comentário foi demais para a mulher. Ela disparou a rir, sem conseguir conter o desprezo que sentia por aquelas palavras.

“Que lindo! Ainda se preocupa com os amigos!” – zombou ela, sem o menor pudor – “Eles provavelmente iriam te abandonar mesmo, assim como fizeram comigo. Esqueça eles e abrace de uma vez a escuridão. Só assim vai ter tanto poder como eu tenho. ”

A mão do Digimon Ciborgue começou a girar em uma velocidade impressionante. A ponta do seu braço se transformou em uma broca, que brilhava com uma cor azul.

“Nem em seus sonhos, bruxa!” – ele afirmou – “Eu prefiro morrer a me esquecer dos meus amigos! Spiral Sword!”

E com aquelas palavras, Andromon brandiu seu braço na horizontal, como uma espada. O golpe criou um projétil de energia azul, cuja forma era de uma lua crescente, que saiu voando na direção da mulher. E ela sorriu de maneira diabólica.

Com um golpe rápido de seu braço esquerdo, ela rebateu projétil para longe. Uma onda de energia das trevas acompanhou o movimento, o que fez as construções naquela área simplesmente se desintegrarem.

Impossível!” – pensou o Ciborgue – “Ela fez aquilo só movimentando o braço?

A mulher riu baixinho, surpresa com sua própria força.

“Eu estava certa em procurar por você!” – disse ela, se colocando no ar com um salto e pairando com suas asas – “Mas só isso não é o suficiente. Vou lhe mostrar o que é força de verdade. Darkness Wave!”

E então ela executou um giro, liberando diversas criaturas das trevas, similares a morcegos. Os pequenos animais foram voando e se chocando contra as paredes, engolindo a área ao seu redor em uma completa escuridão.

Não havia maneira de lutar contra aquilo. Sem reação alguma, Andromon sentiu os dentes das pequenas criaturas atravessando a armadura de metal. Para se livrar do bando que o rodeava, o andróide não teve outra escolha.

Ele abriu a escotilha que havia no peito de sua armadura, revelando dois mísseis armados, prontos para explodir. Os olhos da mulher se permitiram um instante de surpresa, quando ele saltou no ar e gritou:

Gatling Missile!

O impacto que veio a seguir foi suficiente para afastar as criaturas. O problema é que, depois de explodir metade do beco e ser jogado para uma rua paralela, o corpo de Andromon ficou seriamente debilitado.

A voz da mulher ecoava por todos os cantos, rindo diabolicamente. Se havia alguma parte da consciência dela que estava sã, essa parte já era. O poder das trevas já a havia enlouquecido.

Ela pousou suavemente sobre o corpo do Andróide, colocando os pés sobre o rosto dele e murmurando baixinho:

“Acho que não fomos devidamente apresentados. Eu sou LadyDevimon.”

(...)

Mais uma vez havia anoitecido e nem sinal de Hibiki ou de Dorumon. Depois de uma longa discussão, Daisuke conseguiu convencer os outros que o melhor a fazer encontrá-los.

O time então acabou se separando. Cada humano se aliou ao seu parceiro Digimon e foi procurar em direções diferentes. Todos combinaram de se encontrar no local do seu primeiro acampamento no dia seguinte, independente de terem localizado os dois ou não.

Daisuke e Veemon andaram até o limite oeste da floresta, chegando a uma praia. As primeiras estrelas da noite já iluminavam o céu aberto. O som de ondas quebrando e o cheiro de água salgada deu aos dois uma energia renovada.

“Certo!” – afirmou o rapaz de cabelo espetado – “Agora vamos achar aquele idiota antes que ele se machuque!”

“Daisuke! Olha lá!” – disse Veemon, apontando para um lugar específico – “Ele está ali!”

O dragão apontou para um canto da costa, onde Hibiki estava sentado sozinho sobre a areia com a mochila nas costas e suas botas tocando uma parte rasa da água. O rapaz encarava o horizonte com um olhar perdido, como se estivesse no meio de uma meditação profunda. Uma oportunidade perfeita para os dois recém-chegados se aproximarem.

Fazendo um “Shhh” com o indicador, Daisuke passou a andar na ponta dos pés fazendo o mínimo de barulho possível, seguido de perto por seu parceiro digimon.  Eles viram, porém, que esse esforço seria inútil quando o Cavaleiro Negro riu com uma voz sarcástica, sem lhes encarar diretamente.

“Eu pensei ter dito para não tentarem me seguir.” – disse ele, em tom alto suficiente para os outros dois escutarem –“Geralmente, numa hora dessas, vocês já deviam estar com tanto medo de mim que nem pensariam em fazer algo tão ousado.”

Desatento, Veemon acabou esbarrando nas costas de Daisuke e os dois rolaram pela areia, caindo ao lado de Hibiki. Ainda se recuperando da queda, o líder dos Digiescolhidos ainda foi capaz de encarar o outro rapaz e dizer:

“Há! Como se eu fosse ter medo de um convencido que nem você!”

“Resposta errada.” – murmurou o rapaz de vestes negras.

Um forte vento soprou o dragão azul e seu parceiro para trás. Hibiki, por sua vez, não se moveu nem um centímetro. Aqueles dois ainda tentavam se levantar quando Dorugamon passou com outro rasante. A rajada de ar os jogou de volta na direção da praia.

Cuspindo uma mistura de areia e água salgada, Daisuke se colocou de joelhos com Veemon logo ao seu lado. O parceiro Digimon do Cavaleiro negro pousou com um estrondo, olhando para os dois intrusos com a cara fechada.

“Mate-os” – ordenou Hikibi, simplesmente.

“O quê?” – espantou-se o rapaz de cabelos espetados.

Foi quando Daisuke e Veemon se abraçaram e mantiveram os olhos fixos em Dorugamon, que rosnou para eles de uma forma assustadora. Eles fecharam os olhos e começaram a tremer quando a cabeça do dragão negro se aproximou de onde eles estavam. Dava pra sentir a respiração quente do Digimon se chocando com o rosto deles.

É isso...” – pensou Daisuke – “Acabou...

Eles ficaram esperando o inevitável... Mas nada aconteceu. Os quatro permaneceram parados, em silêncio, ouvindo o som do mar que os cercava.

“Você não me ouviu, Dorugamon?” – disse o Cavaleiro, de maneira autoritária e sem virar o rosto – “Eu lhe dei uma ordem direta! Mate-os imediatamente!”

O dragão, porém, permaneceu imóvel. Seu corpo voltou a brilhar com uma luz dourada e ele retornou à forma Seichouki.

“Não.” – afirmou Dorumon, seguro de si. –“Me recuso!”

Os olhos de Hibiki se arregalaram. Ele se colocou de pé e dirigiu o olhar ao dragão roxo que estava ao seu lado.

“Como se atreve a dizer isso?” – esbravejou o rapaz de cabelos castanhos – “Eu mandei você acabar com eles! Me obedeça!”

“Não!” – repetiu o Dragão roxo – “Não vou fazer uma coisa dessas!”

“Você está me abandonando também, Dorumon?” – gritou Hibiki, com a voz alterada – “Está recusando a ordem de seu parceiro?”

Daisuke e Veemon se atreveram a abrir os olhos. Os dois ouviam a conversa atentamente, mas não tiveram coragem de se intrometer.

“Hibiki! Ouviu bem o que você disse!?” – disse o digimon, virando o rosto para o humano – “Ouviu do que você me chamou? Parceiro. Eu nunca vou te abandonar, Hibiki! Estou sempre do seu lado!”

“Então me obedeça logo, traidor!” – o Cavaleiro deu a ordem – “Mate-os e acabe logo com isso!”

“Não!” – afirmou o digimon, pela última vez – “Não percebe, Hibiki? Isso faz de nós tão cruéis quanto Reapermon! Você está se deixando levar por essas emoções ruins! Elas estão atrapalhando o seu julgamento!”

“E QUAL SERIA A DIFERENÇA?” – vociferou o rapaz – “Já matamos muitos outros por aí! Porque você hesita em acabar com esses dois antes que eles nos causem mais problemas?”

“PORQUE VOCÊ NÃO É ASSIM!” – exclamou Dorumon, com lágrimas nos olhos. – “O Hibiki que eu conheço é um garoto gentil! Do tipo de pessoa que se preocupa com os outros antes de si mesmo. Eu não vou deixar você destruir essa personalidade só porque você quer agir como uma criança estúpida, descontando sua raiva em todo mundo!”

Ao ver seu Digimon chorando, o garoto percebeu que alguma coisa estava errada. As palavras que eles trocaram tinham ferido bastante um ao outro. Sem perceber, Hibiki deixou uma lágrima escapar de seu rosto e abraçou seu Digimon com força, sussurrando em seus ouvidos:

“Me desculpe... Eu estou tão assustado...”

“Assim como eu, Hibiki.” – respondeu o dragão roxo, engolindo o choro – “Só me prometa uma coisa, está bem? Escute o que esses dois têm pra dizer. Se você não gostar, a gente vai embora voando. Eu juro.”

Veemon e seu parceiro se libertaram de seu abraço, da mesma maneira que fizeram Hibiki e seu digimon. Os quatro se entreolharam por alguns instantes até que o Cavaleiro negro se sentou na mesma posição de antes, mergulhando as botas sobre a água e ficando com o mesmo olhar vazio.

Os outros dois encararam Dorumon, sem saber o que dizer. Tudo o dragão roxo fez foi balançar a cabeça, sentando-se ao lado do rapaz de vestes negras e convidando-os a fazer o mesmo.

(...)

Os quatro ficaram um bom tempo sem dizer nada. Fizeram uma fila na margem da água, com a dupla de Hibiki do lado esquerdo e a de Daisuke do lado direito. Somente escutavam o som das ondas e o soprar do vento. Finalmente, o Cavaleiro negro falou:

“Eu já detesto ficar me repetindo. Não sei para onde a garota foi. Não adianta ficar me enchendo o saco.”

“Mas não era isso que eu...” – começou Daisuke.

“E tem mais uma coisa.” – continuou o outro garoto –“Acho que vocês estão devendo um “obrigado” para Dorumon. Até porque, se não fosse pela cabeça dura dele, vocês com certeza estariam mortos agora.”

Como sempre, um comentário nem um pouco humilde da parte dele.

“Uau... Falando de ter o nariz empinado.” – resmungou o líder dos Digiescolhidos.

Dorumon riu timidamente, até que Hibiki deu de ombros e todos voltaram a observar o horizonte do oceano.

“Muitas coisas aconteceram...” – disse o Cavaleiro, em um tom sereno – “Eu posso estar perdendo a calma sem perceber. Mas de uma coisa eu sei: já tenho meus próprios problemas. Não posso querer lidar com eles e ficar me preocupando com o que Reapermon pode fazer com vocês...”

“Sabe...” – declarou Veemon – “Se você não falar, nós nunca vamos entender o que está passando na sua cabeça. Nos dê uma chance! A gente pode te ajudar, não é Daisuke?”

O rosto de Hibiki se fechou de repente.  O dragão azul fez uma cara assustada, mas Dorumon sacudiu a cabeça e garantiu que estava tudo bem. Daisuke suspirou aliviado e perguntou:

“É Hibiki, certo? Alguém já contou pra você da época do Digimon Kaiser?”

O rapaz de cabelos castanhos nem chegou a virar o rosto, claramente desinteressado. O líder dos Digiescolhidos hesitou por um momento, mas vendo que ninguém oferecia nenhuma resistência, se pôs a falar.

Ele falou sobre um tempo em que um Digiescolhido se autoproclamou dono do digimundo.Conquistando seu espaço território por território, Kaiser escravizava os digimons com seus anéis e suas torres, que se chamavam...

“Como se chamavam mesmo?” – indagou o rapaz de cabelos espetados, se esforçando para se lembrar.

 “As Dark Towers...” – lembrou Veemon, emburrado. – “Daisuke, não faz tanto tempo assim... Já se esqueceu?”

“É... É lógico que eu não esqueci! Estava na ponta da língua!” – garantiu o garoto.

Do nada, Hibiki riu por um breve momento. Não foi uma risada sarcástica como as outras. Pela primeira vez parecia demonstrar uma alegria sincera, o que fez com que todos rissem também, com a exceção de Daisuke.

“Ei! Do que você está rindo?” – questionou o líder dos Digiescolhidos.

“De nada importante.” – respondeu o Cavaleiro Negro – “É que vocês são estranhos. Você e aquele garoto loiro. Faz tanto tempo desde que eu não consigo rir desse jeito que chega me dói para respirar. Eu até a me sinto culpado por...”

Ele se calou de repente. A expressão no rosto de Hibiki tomou um aspecto deprimido e ele voltou a ficar perdido em seus pensamentos.

“Onde foi que sua história parou mesmo, Daisuke?” – perguntou Dorumon, encarando seu parceiro com um olhar preocupado.

Surpreso por ter sido chamado pelo nome, o rapaz de cabelo espetado pigarreou e prosseguiu com seu relato.

Daisuke contou sobre como ele, Miyako e Iori foram chamados para ajudar o digimundo. Com a ajuda de Takeru e dos outros veteranos, eles frustraram vários planos do Digimon Kaiser, até que chegou a hora de se enfrentarem frente a frente.

Por fim, surgiu o assunto sobre Kimeramon: a besta sintética criada artificialmente, que nem o próprio Kaiser conseguia controlar. Mas no final, talvez por puro milagre, o monstro acabou sendo derrotado com o sacrifício da vida de Wormmon. Ao ver o corpo de seu verdadeiro Digimon se desfazer, Kaiser se arrependeu de seus pecados e acreditou que tinha que corrigir o que ele havia feito sozinho. Por ironia do destino, o inimigo se uniu ao grupo.

“O que você quer de mim?” – murmurou Hibiki, fazendo com que Daisuke lembrasse que os dois ainda estavam ali – “O que acha que vai conseguir, me contando tudo isso?

“Sabe, eu não sou bom com as palavras...” – disse o líder dos digiescolhidos, meio sem jeito – “Mas eu gostaria que você não fizesse como Ken e nos olhasse como inimigos. Eu queria que você entendesse que não precisa salvar o mundo sozinho. Porque gostando ou não, estamos aqui também.

Dorumon encarou o Daisuke sem saber o que dizer. Mas não eram necessárias palavras para que o garoto entendesse que o Digimon era grato pela oferta de amizade. 

“Estou surpreso...” – disse o rapaz de cabelos castanhos, voltando a encarar o mar. – “Para um idiota desastrado como você, é incrível que consiga inspirar os outros como qualquer bom líder faria.”

Aquele comentário deixou Daisuke confuso. Ele não sabia se ficava feliz por ter sido elogiado, ou nervoso por ter sido humilhado de novo.

“Agora tudo faz sentido!” – declarou Dorumon, como se tivesse percebido algo importante – “Isso explica porque só o digimon dele conseguiu evoluir no meio da batalha.”

“Espera, o que faz sentido?” – perguntou Veemon, intrigado – “Vocês sabem porque a gente a gente não consegue Digivolver?”

Foi a vez de Hibiki rir novamente, mas dessa vez era com o seu velho tom de deboche.

“Como eu pensei” – murmurou o rapaz –“Vocês são ignorantes como cegos moribundos”

“Ei!” – disse Daisuke –“Os cegos moribundos aqui tem nome, sabia? Porque não para de tentar dar uma de bacana e explica logo o que queremos saber?”

 “E por acaso você sabe me dizer como um Digimon pode evoluir, Da...i...su...ke?” – continuou o Cavaleiro, demorando-se em cada sílaba de uma maneira infantil.

O líder dos Digiescolhidos levantou-se subitamente, encarando Hibiki com um olhar furioso. Pensou que sua coragem e seu pensamento rápido fariam ele ter uma grande revelação, uma resposta que pudesse esfregar na cara daquele exibido. Infelizmente, seu cérebro sempre travava nessas horas, de forma que ele não conseguiu pensar em nada.

“Viu?” – desdenhou o rapaz de vestes negras – “Por isso que eu chamo vocês de ignorantes. Ficam por aí brincando de heróis, mas não tem a menor ideia do que estão fazendo.”

Daisuke bufou, furioso. Ele estava caindo direitinho na provocação do outro garoto. Dorumon e Veemon precisaram se levantar e segurá-lo, antes que os dois acabassem brigando.

“Sabe, eu fui com a sua cara, Daisuke.” – declarou Hibiki – “Tanto que vou explicar de forma que até seu cérebro minúsculo consiga entender.”

Afinal, qual era a daquele cara? Livrando-se da pressão dos dois digimons, o líder dos digiescolhidos demorou um tempo para se acalmar e se sentar, olhando para o Cavaleiro negro com o rosto distorcido por uma carranca furiosa. Esse último disparou a rir mais uma vez, de maneira convencida, até que se dispôs a falar:

“Há algum tempo, o digimundo tinha um objeto especial guardado em um lugar secreto. Um cristal vermelho com poderes fantásticos que carregava dentro de si uma energia sagrada. Quando acumulava muita energia, ele tinha que expulsá-la  na forma de um grande raio de luz. Os digimons absorviam essa luz e com isso modificavam a estrutura de seu núcleo, fazendo com que a forma de seu corpo mude. Isso é a digievolução.”

Escutando a explicação atentamente, Daisuke se permitiu um momento para refletir sobre aquele comentário, até que Hibiki continuou:

“Depois de Reapermon e do D-Virus, essa luz se extinguiu. Os poderes sagrados do cristal se foram e os Digimons perderam a habilidade de evoluir. Mas para os Digimons que tinham parceiros humanos ainda havia uma solução diferente...”

V-mos escutava a explicação, boquiaberto. Dorumon sorriu, feliz por seu parceiro estar compartilhando uma informação daquelas com os estranhos. Só o que Daisuke pôde fazer foi perguntar:

“E qual seria essa solução?”

Com um sorriso indecifrável, o Cavaleiro negro prosseguiu:

“Eu quero dizer que o cristal não era o único com os ditos “poderes sagrados”. Um humano, com um coração muito forte, é capaz de dividir essa força com seu parceiro Digimon. Usando a luz que se esconde dentro do coração de cada um de nós, o digivice pode voltar a brilhar com o poder da Digievolução. Por isso o loirinho conseguiu fazer seu Digimon evoluir. E pelo que você me contou, esse tal de Ken nunca nem usou a luz do cristal. Provavelmente ele sempre instigou seu parceiro com a força dos seus próprios sentimentos. ”

“A força dos seus sentimentos...” – repetiu o garoto de cabelo espetado – “Eu me lembro de Takeru estar falando alguma coisa sobre isso faz pouco tempo. Mas me diga, como você sabe dessas coisas?”

Nesse instante, Hibiki se deitou e fechou os olhos. Dorumon também repetiu o movimento do parceiro, mas deu algumas voltas em círculos antes de se esparramar sobre a areia molhada.

“Isso já não é da sua conta, não é?” – silabou o rapaz de vestes negras – “Agora se não se importa, eu e Dorumon estamos cansados. Fique à vontade para fazer o que quiser, só tente não nos acordar.”

(...)

“Daisuke! Levanta!” – pediu Veemon

“Acorda logo, idiota, não me faça ter que te chutar!” – ordenou Hibiki, com uma voz alarmada.

O líder dos digiescolhidos ainda estava meio sonolento e confuso, mas fez o possível para se colocar de pé o mais rápido possível.  Pelo tom de voz do Cavaleiro, ou ele estava disposto a começar uma briga, ou alguma coisa séria estava acontecendo.

“O que vocês querem, me acordando à essa hora da manhã?” – resmungou o rapaz de cabelo espetado, ainda esfregando os olhos com as mãos – “Se for comida, tudo bem, eu já não estou com...”

“Não é nada disso, Daisuke!” – interrompeu-lhe Dorumon, que tinha seu olhar sério voltado para o céu daquela praia – “Pare um momento e olhe lá pra cima.”

E assim o garoto o fez. Piscou os olhos e olhou de novo, sem acreditar no que estava vendo.

“Não pode ser...” – sussurou para si mesmo.

Uma verdadeira legião de Airdramons pairava sobre o lugar da praia em que eles tinham dormido. Cada um deles tinha o corpo azul e um rabo colorido, com o rosto coberto por uma máscara de osso. Seus dentes eram muito afiados e todos sobrevoavam o céu com suas asas vermelhas.

O bando de dragões era grande a ponto de bloquear a luz do sol que havia acabado de nascer. Eles ficaram rodeando em círculos o céu daquele oceano por um bom tempo, como se estivessem ainda decidindo qual seria seu próximo movimento.

Dorumon já se adiantou, assumindo a forma Seijukuki com seu corpo sendo envolvido por uma poderosa luz dourada. O cavaleiro Negro montou rapidamente sobre seu dragão e os dois se viraram para Daisuke e Veemon.

“Vocês precisam fugir daqui.” – disse Hibiki – “Eles não estão atrás de vocês. Se forem agora, ainda têm alguma chance de escapar!”

“De maneira nenhuma!” – reclamou Daisuke, sacudindo a cabeça. – “Não vou fugir enquanto você fica lutando sozinho contra todos esses monstros! Deixa a gente te ajudar!”

“Não seja estúpido!” –rosnou Dorugamon – “Quer mesmo se matar por mera teimosia? Vocês não podem fazer nada contra eles. Eu e Hibiki vamos segurá-los! Andem, vão logo!”

Daisuke baixou a cabeça e removeu os óculos de Taichi de sua testa. Aquele objeto trazia consigo a lembrança de todas as aventuras que ele havia passado ao lado de seus amigos. Carrega-lo significava também carregar algo muito importante: a responsabilidade de um líder.

 “Pois não me importa o que vocês digam.” – afirmou Daisuke, recolocando os óculos – “Eu não vou morrer. Nem vou fugir. Nem abandonar um amigo numa situação dessas! Eu vou estar onde precisam de mim... Não, onde eu sei que eu quero estar!”

“Daisuke...” – murmurou Veemon.

E então, a vontade do líder dos Digiescolhidos e a de seu parceiro Digimon se tornou uma só. O corpo do dragão azul se iluminou com a luz dourada que vinha do meio do peito de seu parceiro humano, até que todos puderam ouvir seu rugido ecoar em todas as direções:

“Veemon Shinka!” – “ExVeemon!”

(...)

Continua!


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Notas finais do capítulo

Bom, eu espero que vocês estejam pelo menos curiosos. Como eu disse nem coube batalha nenhuma. Eu tentei falar de tanta coisa nesse capítulo que acabei me embananando.

Mas deu pra explicar bem algumas coisas, deixar outras para depois, e assim vai.

Meu cérebro está fritando depois de escrever tanto, então apreciaria qualquer comentario que vocês queiram deixar por aqui.

Estou muito curioso para saber o que acharam desse capítulo em particular.

Agradeço pelo seu tempo e nos veremos em breve!