Digimon Adventure 03 - Em Busca Do Espaço Zero escrita por Sillycone br


Capítulo 10
Sombras do Passado


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Estamos de volta, depois de um tempinho.

Sabe como é, inspiração demora pra vir. E o tempo também não é nosso amigo, com um monte de coisa pra fazer.

Mas resolvi que hoje ia postar de qualquer jeito, já estava enrolando demais.

Então, sejam bem vindos! Aguardo sua opinião sincera nos comentários!

Sem mais delongas, que venha o capítulo!

Ps: Estou com sono. Perdoem os erros, eles serão corrigidos assim que percebidos, ok?



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Ninguém se atreveria a mover um músculo. Os digiescolhidos estavam entre a cruz e a espada naquele momento.

Para qualquer lado que tentassem fugir, eles estavam cercados pelo exército de digimons negros, que até o momento não tinha feito nada. Provavelmente querendo evitar outro disparo de energia, igual ao que tinha ocorrido há pouco tempo.

Além disso, o terreno em volta era instável e rochoso, composto de diversas rachaduras irregulares. Em outras palavras: qualquer passo em falso poderia custar a vida.

E como se isso não bastasse, eles ainda tinham que lidar com o Cavaleiro Negro. Ele, que tinha acabado de executar uma seqüência de ações brutais e aparentava estar bem irritado. Ele, que ainda mantinha a palma da mão erguida e apontada para os garotos.

 “Vocês acham que é o Dorumon?” – indagou Miyako, falando no menor volume possível.

“Tudo o que eu sei é que ele está mirando na gente.” – disse Ken, quase sussurrando.  – “Então não acho que nos veja como aliados. Independente disso, acredito que seja imprudente atacá-lo agora.”

“É, não depois do que ele fez com aquele cara.” – afirmou Daisuke, que ouvia atentamente a conversa dos dois. Ele apontou com sua luva amarela para a fenda onde estava o corpo imóvel de ChaosDukemon e todos concordaram discretamente.

Por um tempo, o guerreiro de armadura negra permaneceu em silêncio. Os Digiescolhidos e seus digimons podiam inclusive ouvir a respiração descompassada dele. Podiam sentir seus olhos profundos e amarelos analisando-os de cima a baixo. Como se estivesse escolhendo quem deveria morrer.

Melhor dizendo: quem deveria morrer primeiro.

O olhar do guerreiro se demorou um pouco em Taichi. Não exatamente no garoto em si, e sim na pessoa que ele carregava em suas costas.

Takeru teve um pequeno pressentimento. Como se pudesse prever o perigo, ele se jogou por cima de seu antigo líder gritando “Cuidado!”, no momento exato em que um disparo de energia verde passou zunindo e por pouco não atingiu a cabeça dos dois.

Ninguém viu de onde veio. Foi tão rápido que mal deu tempo de olhar para trás e cobrir os ouvidos. O raio passou por todos e explodiu em um ponto distante.

Como conseqüência, o exército que cercava os digiescolhidos acabou debandando. Alguns fugiram pelo ar, outros retornaram ao que restou castelo. Mas todos perceberam que se envolver em uma luta contra o Cavaleiro Negro não valia o risco.

A cabeça dos digiescolhidos ainda vibrava devido ao impacto. Todos se viraram e procuraram a origem daquele golpe.

Mas ele não estava lá. O cavaleiro não estava lá.

Em um piscar de olhos, ele reapareceu ao lado de onde Taichi e Takeru estavam caídos. Já estava com o punho direito erguido e tinha os olhos amarelos bem abertos. Os dois garotos mal tiveram tempo de se levantar quando o Cavaleiro berrou com uma voz claramente corrompida pela escuridão:

Desapareça... DESAPAREÇA!”

E então tudo pareceu acontecer em câmera lenta. O líder dos antigos digiescolhidos, de maneira ágil, fez um rolamento e desviou do murro que se aproximava.

O rapaz sentiu suas costas leves, notando em seguida uma coisa importante: ele havia derrubado a pessoa que estava carregando no instante em que foi empurrado.

Por sorte, Takeru também percebeu esse detalhe. Sabendo que não havia tempo para desviar, tudo o que o garoto pôde fazer foi se jogar novamente, desta vez sobre a pessoa que Taichi havia deixado cair.

O risco e a morte certa lhe assustaram, inicialmente. Afinal, que ideia foi aquela? Salvar alguém da morte, morrendo em seu lugar? Mas, pensando bem, o loiro não se perdoaria se ficasse parado sem fazer nada. Estava seguindo puramente seu instinto, que lhe dizia para fazer o que era certo.

Antes que houvesse tempo para mais dúvidas, o punho do Cavaleiro negro desceu e criou uma nova cratera ao redor daquela área.

O golpe, entretanto, não chegou a atingir o adolescente. Angemon, que tentou interceptar o ataque no último segundo, acabou usando o próprio corpo para evitar que seu parceiro e a pessoa ao seu lado saíssem feridos. As penas de suas asas brancas se espalharam pelo ar e ele retornou para a forma Seichouki com um brilho dourado.

Uma onda de vento se propagou, seguida de uma densa camada de poeira. Daisuke e os outros sentiram os pés deixarem o chão no momento em que o impacto também lhes atingiu. Cada Digimon teve que resgatar seu respectivo parceiro, antes que aquela ventania soprasse-os para longe.

Tudo isso só com o movimento de um braço!?” – Analisou Yamato, temendo saber o que aconteceria se o inimigo resolvesse lutar à sério.

O corpo de Patamon finalmente desabou alguns metros ao lado Takeru. Este último ficou paralisado, sem saber o que dizer. Ele tinha que se levantar, pegar seu Digimon, a pessoa ao seu lado e dar o fora dali.

Só então o loiro percebeu que, no calor do momento, seus braços haviam envolvido, de forma protetora, o corpo daquela pessoa... Uma garota de cabelos castanhos e vestes cor de rosa, que ainda estava desacordada.

E os dois estavam com os rostos bem próximos um do outro.

“Hi...Hikari!” – espantou-se o rapaz, ao mesmo tempo confuso e envergonhado pela proximidade. “Mas... Como!? Você está bem?Por favor, Hikari, abra os olhos!”

Ele continuou chamando, sacudindo de leve o ombro dela, mas a garota não respondeu.

A essa altura, a poeira já havia baixado. O Cavaleiro negro afastou o que restava dela com seus braços e iniciou uma investida. Foi quando uma chifrada atingiu-lhe no peito ,forçando o guerreiro a recuar alguns passos.

Greymon rugia contra ele. Depois de gritar “Mega Flame!”, o dinossauro laranja cuspiu uma bola de fogo, achando que poderia atingir seu adversário enquanto estava distraído. Entretanto, as chamas simplesmente tocaram a superfície de sua armadura e ricochetearam para cima, sem nem mesmo chamuscar a tintura.

Irritado, o cavaleiro negro agarrou a cauda de seu oponente com as duas mãos e começou a girá-la bem rápido, como estivesse sacudindo uma boneca de trapos.  Em seguida saltou, cruzando os braços por cima da cabeça.

Garurumon tentou acompanhar o movimento, cuspindo uma labareda de fogo azul contra o guerreiro. Novamente, o calor só se espalhou pela parte externa da armadura, sem nunca penetrá-la.

E antes que as quatro patas do Digimon lobo tocassem o chão, ele foi atingido em pleno ar pelo corpo do dinossauro gigante. Como se Greymon fosse algum tipo de espada sendo brandida.

Quando se colidiram, os dois digimons esgotaram suas energias e foram forçados a regredir para a forma anterior. Yamato e Taichi gritaram pelos nomes de seus parceiros, no instante em que eles caíram do céu.  O guerreiro negro, no entanto, expandiu os dois mecanismos em suas costas e alçou vôo.

Stigmon e ExVeemon tentaram segui-lo. Ambos se lançaram na direção do inimigo e começaram a trocar alguns golpes assim que fizeram contato. Mas eles logo perceberam que chutes e socos não serviriam de nada, já que todos eram defendidos ou desviados com facilidade.

O guerreiro de armadura berrou novamente e uma aura de trevas passou a envolver seu corpo. Como se fosse uma chama poderosa, que não descansaria a até consumir tudo o que se colocava no caminho de seu invocador.

Os dois agressores hesitaram por um momento, diante da forma que seu oponente tinha tomado. Aproveitando a oportunidade, o Cavaleiro criou um círculo mágico em cada mão, apontando para seus dois alvos. 

Digitalize of Soul!” – ele proferiu.

E então, dois novos disparos de energia se seguiram. Assim como da última vez, o diâmetro de cada golpe era tão absurdo que praticamente engoliu os corpos dos parceiros de Daisuke e Ken, queimando-os dos pés à cabeça.

Até que, por fim, voltou a reinar o silêncio. O cenário ficou devastado, somando duas novas erosões depois que Veemon e Wormmon foram ao chão. O único Digimon que restou de pé foi Hawkmon que, por insistência de Miyako, não tinha se envolvido na luta.

A desculpa dela foi que ele não podia evoluir. O que a garota não tinha coragem de dizer é que não queria que seu digimon se tornasse mais uma das vítimas.

Novamente, o guerreiro de armadura negra pousou e avançou alguns passos na direção de Hikari. Parou diante dela e do rapaz de olhos claros que a segurava nos braços. Ao perceber o que estava prestes a acontecer, Takeru apertou ainda mais o seu abraço.

 “Eu quase já a perdi uma vez...” – pensava o garoto, encarando o seu destino, sem fazer esforço para fugir – “Não vou abandoná-la de novo!”.

Ele ouviu seu irmão e os outros chamarem pelo seu nome. Era tarde demais para salvá-lo, é claro. Porém, antes que o punho do Cavaleiro pudesse atingir o loiro, uma luz branca forçou todos a cobrirem seus olhos.

Era como se o corpo de Hikari tivesse se transformado em um farol. Os raios iluminados se espalharam por toda a superfície da ilha flutuante. Como se seu poder fosse capaz de acabar com toda a escuridão.

Em algum lugar, os digiescolhidos ouviram uma voz gritar:

NÃO! ELE ESTAVA TÃO PERTO!

E pelo tom grave da voz, já se sabia que era o próprio Reapermon amaldiçoando aquela luz, que tocou o corpo de cada Digimon ferido, cada digiescolido, envolvendo-os em seu calor reconfortante até que eles não puderam ver mais nada.

 (...)

Takeru despertou do que parecia ser um sonho. Ao seu redor, tudo era claro e branco como se ele estivesse diante de um salão imenso daquela mesma cor, sem portas ou janelas à vista. O rapaz estava de pé, ainda meio tonto, quando as lembranças dos acontecimentos recentes lhe vieram à mente.

“Hikari! Onde está você?” – gritou o loiro, desesperado.

Mas por alguns segundos, não houve resposta. Até que, um a um, Taichi, Yamato, Ken, Miyako e Daisuke se juntaram ao loiro, cada um deles acompanhado de seu respectivo Digimon. Todos pareciam igualmente confusos, se perguntando como tinham parado naquele lugar.

E mais ninguém apareceu. Nem o Cavaleiro negro, nem a garota que ele tentou matar.

“Takeru!” – disse Patamon, vindo voando na direção de seu parceiro humano – “Que bom que está bem!”

O rapaz aparou o monstrinho em seus braços quando se lembrou da batalha que havia ocorrido. E naquele momento notou algo importante: os ferimentos e queimaduras de todos os presentes haviam desaparecido. Como se houvessem sido curados.

“Afinal, que lugar é esse?” – resmungou Takeru, arrumando o chapéu em sua cabeça e oferecendo o espaço para Patamon se apoiar.

Foi quando uma voz calma, vinda das costas de onde o garoto estava, lhe respondeu:

“Onde há luz, naturalmente nascem as trevas.”

Todos se viraram para poder encarar Hikari. Ela estava de pé, sem nenhum tipo de ferimento à vista. O que, para um garoto loiro em particular, não deixou de ser um alívio. Porém, tinha alguma coisa errada. Era como a voz dela não fosse a mesma. Como se a pessoa estivesse falando fosse alguém totalmente diferente da garota que eles conheciam.

 Foi então que, como se obedecessem às suas palavras, a sombra de cada um dos presentes se projetou no chão.

“Luz e Trevas são como dois lados de uma mesma paixão.” – continuou a irmã de Taichi, com um olhar vago e sereno – “Entretanto, quando o poder das trevas aumenta...”

E antes que ela pudesse terminar sua explicação, o cenário mudou novamente. As sombras dos garotos se alongaram de tal forma que todo o chão ficou coberto. Aquela escuridão se espalhou para as paredes, para o teto, mergulhando o salão em uma penumbra assustadora.

“Essas palavras...” – murmurou Yamato – “Você é...”

“O que houve, Hikari!?” – perguntou Daisuke, ainda sem entender o que estava acontecendo. – “Do que você está falando?”

“Não...” – murmurou Taichi, trocando olhares com Takeru e o irmão dele –“Não é Hikari que está falando. Aquele é...”

E pela cara que o ruivo de cabelos espetados, ele continuou sem entender nada. Foi quando a voz de Hikari completou:

“Eu sou aquele que deseja o equilíbrio no mundo dos Digimons.”

“Mas como pode ser?” – perguntou Ken, um pouco incrédulo. – “Porque você não fala com sua própria voz?”

“Eu sou diferente.” – respondeu a voz de Hikari, ainda sem expressão em seu rosto – “Sou feito de dados, como os Digimons. Mas não tenho corpo físico para me materializar. Peguei o corpo dessa garota emprestado, já somente aqueles que têm um poder como o dela podem receber minhas palavras.”

 Levou algum tempo para absorver aquela informação. Ken e Miyako estavam aceitando razoavelmente bem. Afinal, estamos falando do Digimundo. Tudo poderia acontecer.

O único que realmente estava revoltado era Daisuke. Não importa o quanto os outros tentassem, não conseguiriam convencê-lo de que aquela pessoa não era Hikari. Que por sinal, ele não tinha ideia de como tinha chegado ali.

Mas como ninguém reclamou, o rapaz decidiu não se pronunciar. Odiava ser deixado de lado daquele jeito. Odiava não saber de algo que os outros sabiam. Mas por hora, a garota de quem ele gostava estava viva e bem. Para ele, isso bastou.

“Já faz muito tempo, digiescolhidos.” – disse Hikari, sorrindo gentilmente para Taichi, Takeru e Yamato, passando o olhar pelos outros três como se não os reconhecesse. – “Sete anos desde que nos encontramos. Nunca imaginei que este dia chegaria. Mas, mesmo fraco como estou, não posso perder vocês para o vazio sem nem ao menos lhes dar uma chance de lutar.”

“Espere, lutar com o que?” – exclamou Taichi, buscando em vão enxergar algo naquela escuridão. – “Aquele Cavaleiro Negro? Ele está aqui?”

“Hibiki e Dorumon estão a salvo.” – afirmou a voz da irmã do garoto. – “Eu preciso mantê-los em um lugar separado. Do contrário, eles realmente matariam vocês. Mas não. Não é contra ele que vocês precisam lutar.”

A revelação da garota pegou todos desprevenidos. Seria verdade? Seria o Cavaleiro Negro assassino, na verdade, alguma forma evoluída de Dorumon?Mas então, de onde veio tanto poder? E, talvez principalmente: Porque havia perdido o controle, a ponto de atacar qualquer um que via pela frente?

“Eu não tenho muito tempo.” – alertou a voz da garota de cabelos morenos – “Enquanto falamos, meu poder se esvai. Preciso prepará-los antes que seja tarde de mais.”

“Tarde demais para que?” – indagou Daisuke, furioso com aquela situação – “O que pode ser pior do que esse maluco e seus raios verdes da morte?”

“Por favor, não diga isso.” – pediu a menina à frente dele – “Aqueles dois são a única chance que vocês têm de salvarem os seus mundos.”

Ela disse isso olhando tanto para os humanos quanto para o digimons. Porém, por algum motivo, parecia estar dizendo muito mais do que era possível compreender naquele momento.

Foi então que a irmã de Taichi movimentou os braços, fazendo escuridão que os cercava desaparecer. Aos poucos, o cenário foi clareando, até que finalmente os garotos puderam reconhecer algumas imagens.

Eles estavam agora em um vasto deserto. Em diferentes pontos, havia grandes colunas de pedra do tamanho de uma pequena montanha. Toda vez que o vento soprava, carregava consigo parte da terra e da poeira que cobriam toda a vastidão daquele terreno.

“Onde estamos?” – questionou Miyako – “Voltamos para o Digimundo?”

“De fato, este é o Digimundo.” – afirmou Hikari, em um tom misterioso. – “Mas não o de vocês.”

E, daquele momento em diante, Daisuke não estava entendendo mais nada. Afinal, como seria possível? Que outro Digimundo poderia existir, que não era o deles? E, por tudo o que é Sagrado, como é que aquela pessoa estava mostrando tudo aquilo?

“Hibiki e Dorumon precisam ser salvos da escuridão, de modo que eles possam lutar por vocês.” – continuou a voz da garota – “Mas para isso, vocês precisam ver o que ele viu. Sentir o que ele sentiu. Porque se vocês não puderem ajudá-lo, ele nunca será capaz de se perdoar. E então, tudo estará perdido.”

Um trovão ecoou, fazendo com que instintivamente todos os presentes olhassem para cima. O que eles viram no lugar do céu nublado foi algo completamente diferente: Um globo, semelhante ao formato do planeta terra.

Era como uma projeção digital de todos os oceanos na cor azul escuro.  Mas no lugar onde teoricamente deveriam estar os continentes, ilhas e outros pedaços de terra, pintados de verde ou de alguma cor mais viva, tudo o que eles viam eram um borrão cinza e marrom.  

O planeta inteiro parecia estar morto. Como se estivesse a ponto de desaparecer.

Espalhados por sua superfície do globo, havia alguns círculos pretos, cujo centro liberava um fluxo constante de dados, no formato de gigantescos raios vermelhos. Esses raios atingiam vários pontos do deserto, mudando de posição no instante em que o planeta acima girava. 

Então, de uma coisa dava pra ter certeza: Aquele lugar não era, de maneira nenhuma, o digimundo que os garotos conheciam.

E, mesmo não havendo uma única nuvem à vista, começou a chover. Na verdade, o vento e os trovões também ficaram mais intensos, como se uma verdadeira tempestade estivesse se aproximando.

Estava escuro, mas deu para enxergar de longe seis figuras que caminhavam na direção dos digiescolhidos. Três delas eram digimons na forma Seichouki, das quais somente uma figura era familiar: a de Dorumon, correndo como se não houvesse o amanhã.

Ao lado dos três monstros, estavam três jovens humanos. Dois deles completamente desconhecidos. Cada um estava coberto pelo capuz de uma capa de viagem preta, o que impossibilitava enxergar seus rostos.

Um dos jovens, no entanto, era bem conhecido. Assim que os recém-chegados pararam para recuperar o fôlego, Hibiki removeu o capuz de sua cabeça, deixando que a água da chuva molhasse seus curtos cabelos castanhos. Ele parecia alguns anos mais novo, mas tinha o mesmo olhar determinado do garoto que eles conheciam.

Naquele momento, Takeru e os outros entenderam o que estava acontecendo. De algum modo, eles estavam assistindo uma projeção das memórias do Cavaleiro Negro.

“Acha que os despistamos?” – disse Dorumon, ainda arfando.

Foi quando uma voz masculina desconhecida respondeu:

“Não por muito tempo. Vamos ter que abrir o portal aqui mesmo. Não há um segundo para se perder.”

O jovem Hibiki olhou para o horizonte, como se estivesse esperando algo aparecer. Então, enfiou a mão no bolso e tirou dali seu Digivice. Os outros dois adolescentes encapuzados fizeram o mesmo, até que os três disseram, ao mesmo tempo, as seguintes palavras:

“Digital Gate! Open!”

E então, diante deles, um portal se abriu. Era como um pequeno buraco negro, que parecia querer sugar tudo ao seu redor para outra dimensão.

“Deu certo, Ryo!” – exclamou a voz de uma garota, aparentemente feliz. – “Assim como você e Azulongmon disseram que daria!”

“Claro que sim, Kiara.” – afirmou o desconhecido coberto por uma capa, em um leve tom de repreensão – “Se estivéssemos errados, não haveria nenhuma esperança.”

“Me desculpe...” – murmurou a jovem, baixando de leve a cabeça. – “Não foi minha intenção esquecer o que aconteceu, eu só...”

Sem conseguir encontrar um final para aquela sentença, Kiara cruzou os braços, como se aquela postura ajudasse-a a se manter de pé. Uma lágrima escorreu de seu rosto delicado. Foi naquele momento que ela sentiu um toque de leve em sua bochecha.

Calmamente, Hibiki recuou sua mão, levando com ele a lágrima fujona e todas as outras que ameaçavam escapar dos olhos da garota. Parecia normal para aqueles dois. Um sempre cuidando do outro. Ambos sorriram, até que Kiara que se libertou de seu próprio abraço e sacudiu a cabeça, tentando recuperar sua coragem.

E então, trovejou novamente. Dorumon e seu parceiro humano se colocaram na frente dos demais, encarando o horizonte com os olhos semicerrados por conta da distância. De longe, no céu, vários pontos brilhantes se distinguiam das sombras. E quanto mais o tempo passava, mais esses pontos se aproximavam da localização atual dos garotos.

“Certo.” – disse o cavaleiro negro, ainda sem virar seu rosto. – “Eu e Dorumon ficaremos para trás e vamos atrasá-los. Ryo! Monodramon! Levem Kiara e Lopmon daqui!”

Ao ouvir aquelas palavras, a voz da garota encapuzada tomou um aspecto desesperado:

“Como assim?” – questionou ela – “O que quer dizer com isso? Nós não iríamos escapar todos juntos?”

“Alguém tem que ficar para fechar o portal.” – revelou Hibiki – “Caso contrário, nenhum de nós sobreviverá...”

O tom sério que ele usava para falar era assustador. Do tipo que estava mesmo disposto a sacrificar a própria vida para permitir que seus aliados atravessassem em segurança.

“Então eu fico!” – gritou Kiara – “Eu e Lopmon fecharemos o...”

“NÃO!” – o Cavaleiro Negro exclamou – “Não ouse terminar essa frase. Eu prefiro morrer a deixar aqueles canalhas encostarem um dedo em você.”

E dessa vez, a garota de capuz não pôde conter suas lágrimas. Era difícil dizer o que ela estava sentindo naquele momento. Parecia estar feliz e frustrada ao mesmo tempo com as palavras do garoto.

Não adiantaria tentar convencê-lo do contrario. Hibiki não era do tipo que se salvaria sozinho, enquanto alguém se sacrificava por ele. Seu orgulho era grande demais para isso.

Ainda assim, Kiara não disse nada. Seus braços tremiam, sua voz arfava, sua respiração falhava. Não havia tempo. Não havia opções.

Ela se virou, provavelmente para tentar convencer seu amigo a mudar de ideia, quando algo inexplicável aconteceu:

Hibiki foi atingido nas costas.  O golpe veio Monodramon, um dos três digimons que, teoricamente, deveriam ser seus aliados.

O cenário começou a ficar turvo e nublado. Como se, dali para frente, as memórias do cavaleiro negro fossem um borrão infinito. A última coisa que Daisuke e os outros ouviram o rapaz de cabelos castanhos murmurar foi:

“Porque?”

Antes que ele caísse no chão, inconsciente.

(...)

Continua!


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Notas finais do capítulo

Então...

Momento Flashback, sempre tem aquela pausa dramática.

Lembra daquela história das 4500 palavras por capítulo?

Pois é, eu ando sem noção nenhuma de tamanho.

Sério. Eu queria colocar tudo o que eu escrevi nos capítulos 9, 10 e no futuro capítulo 11 em um único capítulo.

Acho que, como eu gosto de falar pra caramba, vou me estender um pouco mais do que eu queria.

Tudo bem. Só deve aumentar de uns 50 pra uns 60 capítulos no total. Não deve matar ninguém...

Certo? =D

Quem sabe, um dia a gente chega lá.

Eu prefiro me preocupar com o futuro quando ele chegar. Não abro mão dos meus detalhes, então espero que tenha bastante paciência!

Até breve, e nos vemos no capítulo 11!



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