Trevas Imortais escrita por Renan Colzani


Capítulo 2
As coisas se desenrolam e se enrolam de novo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/325737/chapter/2

Chegaram a pedra indicada pela mãe. Mike, a todo momento durante a descida, olhava para trás, e via a imagem reconfortante de sua mãe. Tudo o que via a sua frente era uma rocha cinzenta cortada por fios de luz brilhantes. No meio, havia um raio em Z exatamente como o que sua mãe colocava em seus bolos de aniversário.

Receou um pouco em tocá-lo, mas então percebeu que, se aquilo fosse tudo mentira, o máximo que ia acontecer era sua mãe descer colina abaixo e gritar “PEGADINHA!”. Então, fechando os olhos, tocou o raio. Contou até 10 e então abriu os olhos. Sentiu-se tonto.

A sua frente, viu um grande campo de morangos, e um pouco mais a frente, com muitos andares, viu uma mansão azul do estilo casa de campo. De um outro lado, havia um lago de canoagem, onde várias pessoas de idade entre 11 e 17 anos navegavam em canoas comuns. Uma parede de escalada imensa se erguia a um lado da lagoa, e a única diferença entre aquela parede escalada das outras, era que daquela escorria uma lava brilhante de consistência viscosa. O mais impressionante, na opinião de Mike, veio depois. Próxima a mansão azul, doze chalés de aparências muito distintas se estendiam 5 da direita, 5 da esquerda, e dois outros em frente aos outros, mais fantásticos e mais imponentes que os outros.

Mike saiu correndo pelos campos de morango e chegou até a lagoa. Fed corria atrás dele, berrando para tomar cuidado com os morangos muito vermelhos. Mike viu seu reflexo na lagoa, e então observou os jovens nas canoas. Todos usavam camiseta laranja-claro, com os dizeres “Acampamento Meio-Sangue” sobre a imagem de um centauro erguendo seu arco e apontando uma flecha para o alto.

– O que é “Acampamento Meio-Sangue”? – Mike perguntou a Fed. Ainda estava impressionado com o que via.

– Mike, Quíron vai lhe explicar quando chegarmos a Casa Grande – Fed disse apontando para a mansão de paredes azuis.

Mike desviou seu olhar para o telhado da mansão. Viu a janela do sótão, e de repente teve a impressão de ver uma pessoa que lhe era familiar lá em cima. Distinguiu cabelos ruivos em meio a sujeira da janela.

Acompanhou Fed até a Casa Grande, onde encontrou o diretor Parreira sentado em uma mesinha, tomando uma Diet Coke e rabiscando uma folha. Um homem em uma cadeira de rodas estava sentado do outro lado da mesa.

– Tudo bem, Quíron, me conte agora sobre a sereia que lhe seduziu naquela viajem ag... – o diretor falou para o homem na cadeira de rodas, e então interrompeu seu pensamento quando viu Mike. – Ah, você chegou!

– Sim... – Mike falou, acanhado. Sempre tivera medo de Parreira, mesmo que usasse uma camisa havaiana e cheirasse a vinho tinto. – O senhor dirige esse acampamento também?

– Sim, moleque. Agora, devo dizer, seja bem-vindo ao Acampamento Meio-Sangue, e bla bla bla. Agora, espere ser reclamado por seu pai ou mãe divino, enquanto isso o chalé 11 vai ter prazer em recebe-lo. Seja bem-vindo, semideus.

Tudo aquilo entrou na cabeça de Mike com um impacto da força de um meteoro. Semideus? Nas aulas de História Geral, o Sr. Frozen disse que semideuses eram dos mitos gregos, e que eram filhos de deuses olimpianos com humanos. Como poderia ele, Mike, um garoto disléxico e com TDAH poderia ser o filho de um ser divino?

– Ora, vamos lá, Dioniso, vamos dar a ele as boas-vindas. Seja bem-vindo, Mike. Você vai entender tudo o que está acontecendo. Você acredita em deuses? – perguntou Quíron.

– Bem, minha mãe nunca foi a igreja e nunca acreditou em Deus e tudo o mais...

– Não, não, estou dizendo deuses, aqueles do Olimpo. Você acredita?

– Minha mãe acreditava – Mike disse com calma.

– Pelo uma coisa a mortal lhe ensinou – conclui Quíron, com um sorriso.

– Calma, você chamou minha mãe de mortal? Olhe quem fala, você usa cadeira de rodas e tudo o ma... UOU! – Mike recuou alguns passos e quase tropeçou na escadaria da Casa Grande quando Quíron se levantou de sua cadeira de rodas e se mostrou uma criatura metade homem metade cavalo. Era um centauro. – O senhor é um centauro?!

– Sim, Mike, e lhe dou novamente as boas-vindas ao Acampamento Meio-Sangue. Você será ou não reclamado por seu pai ou mãe divino, no seu caso, pai. Eu não conheço seu destino, Mike Martinés, portanto, peço que tenha paciência. Tudo isso deve parecer estranho para você, mas vai se explicar no futuro. Em quanto isso, Fed o levará para o chalé 11. Espero que seja bem recebido lá.

Então, Mike e Fed desceram a escadaria da Casa Grande e foram em direção ao chalés. Eram disponibilizados em U, como vira antes. Dois grandes e imponentes na ponta, e mais cinco chalés mais simples na direita, e outros cinco na esquerda. Eram todos diferentes. Os maiores brilhavam em mármore branco. Um tinha um número 1 em cima da porta de mármore, o outro um número 2. Os chalés eram todos assim, porém, uns eram de pedras marinhas, outros de madeira, um era mal pintado com tinta vermelha e tinha um javali pendurado em cima da porta, logo acima de um enferrujado número 5 em latão. O chalé ao qual Mike estava se dirigindo era muito simples, e um caduceu estava colocado sobre um número também em latão.

Mike entrou pela porta já aberta, da qual era possível ver um cômodo apinhado de gente, com beliches com bagagens colocas em cima do colchão, colchonetes jogados no chão e muita bagunça. O barulho era alto, tão alto que Mike nem sequer chamou atenção ao entrar. Um campista de cabelos pretos, muito alto e musculoso apareceu no meio da multidão. Foi até Mike.

– Olá, soube que você chegaria hoje – sua voz era de pelo menos um garoto de 19 anos. – Seja bem-vindo ao chalé de Hermes. Indeterminado, Fed?

– Sim – Fed disse, como explicasse tudo.

– O que significa isso? – Mike perguntou, confuso.

– Que seu pai ainda não o reclamou. Não se preocupe, a maioria aqui é assim – O campista disse. – Me chamo Gabe. Você é Mike, não?

– Sou sim. Obrigado pelas boas-vindas. Onde eu vou dormir? – Mike perguntou, olhando para o chão já lotado de colchonetes.

– Ah, separei um lugar ali no canto para você – Gabe apontou para um lugarzinho colado na parede com um colchonete azul. – Ali.

– Ah, obrigado – Mike agradeceu.

– Tudo tão parecido... – Fed murmurou.

– O que disse, Fed? – Mike perguntou.

– Somente estou me lembrando. Um amigo meu, também um sátiro – a menção do nome fez a testa de Mike enrugar. – Sim, um sátiro, metade bode, metade humano.

– Isso explica o cheiro... – Mike insinuou.

– Enfim, – Fed continuou, fingindo não se ofender com o xingamento – ele trouxe um garoto semideus. Era filho de Poseidon, um dos Três Grandes. Você conhece a história dos Três Grandes, não é? – Mike assentiu com a cabeça. – Então, tudo está tão parecido, mas não me atrevo a dizer que tudo vai acontecer como antes. Me lembro de como foram as coisas. Eu estava lá. Foi... foi terrível.

– O que foi terrível? – Mike perguntou a Fed.

– Nada demais, por enquanto. Amanhã você tem um dia cheio. Vá dormir agora, amanhã lhe conto tudo.

– Tudo bem.

Gabe já havia se separado deles. Estava deitado no andar de cima do beliche. Mike foi até seu colchonete, recostou a cabeça em um travesseiro pouco confortável, mas, mesmo assim, adormeceu imediatamente. Se arrependeu de ter pego no sono, pois os pesadelos foram ainda piores desta vez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Trevas Imortais" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.