Trevas Imortais escrita por Renan Colzani


Capítulo 3
Um choque e tanto




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Em seus sonhos, viu criaturas horrendas do tipo humanoide, cabritos falantes, leões que andavam sobre as patas traseiras, e coisas assim. Sentiu como se tivesse tudo passado em um minuto.

Estava em um lago com superfície de cor verde-escuro, como se fosse formado por musgo e somente musgo. Tocou a água com os dedos, receoso, e então percebeu o que era aquilo. Eram bolinhas de vidro verdes, dentro de um grande poço. Em uma plaquinha na outra margem do lago, estava escrito em grossos garranchos “Poço da Esperança”. Sinceramente, pelo que havia acontecido depois, Mike não achava que aquilo era realmente esperança.

Sentiu seu sangue parar, os pulmões esvaziarem, as mãos tremerem e os olhos saltarem. Viu um enorme leão, com pelagem reluzente e dourada. Seus olhos eram famintos, e seu corpo exalava força. Reconheceu o leão. Em uma aula de história, lhe falaram sobre o primeiro trabalho de Hércules. Fora-lhe concedida a missão de matar o terrível Leão de Nemeia.

Aquela mesma criatura havia saído do lago de bolas de vidro verdes, e atacou. Investiu violentamente contra Mike, que recuou, bateu com a cabeça em uma rocha de pelo menos 3 metros de altura e acordou.

Durante a manhã, enquanto Fed o levara para um passeio pelo acampamento, Mike não conseguira tirar a visão do terrível felino da cabeça. Imaginava ele devorando a cabeça de seus amigos, e engolindo com uma mastigada só.

Desistiu então de tentar esquecê-lo, e, quando percebeu, já estava absorto em outro pensamento. Quando passaram pela arena de combate, viu uma garota muito bonita afiando o fio de sua espada. Tinha cabelos castanho-avermelhados, olhos escuros, que quando refletiam a luz do sol, brilhava em vermelho vivo. Estava rodeada de garotas corpulentas e de expressões grosseiras, ela, porém, era magra e tinha um rosto gentil. Sorria alegremente enquanto as outras garotas contavam piadas toscas sobre javalis e lhamas.

Fed, notando a expressão de Mike, disse:

– Essa aí, não, cara – começou. – Tem rostinho bonito e tudo o mais, mas pode ser tão perigosa quanto um tubarão faminto. Uma piadinha ofensiva, e ela te arranca um dedo com a espada.

–Eu... bem, eu não pensei em nada disso – mentiu Mike. Em contrapartida, em sua cabeça giravam imagens da garota. – M-mas, qual é o nome dela?

– Mary Edduard, chalé 5 – explicou Fed.

– O que significa? – Mike perguntou, intrigado.

– Filha de Ares, deus da guerra, e etc..

– Oh!, acho que realmente não quero me meter com ela...

O restante do dia foi em uma caminhada pelo acampamento. Durante a última noite, enquanto todos jantavam, Mike recebera comida no quarto, pois Gabe achava que um campista como ele merecia tratamento vip.

Esta noite, porém, iria comer com todos no pavilhão do refeitório. Fed lhe explicara todo o procedimento; você faz a oferenda aos deuses, o melhor pedaço do seu frango, a maçã mais vermelha, o cacho mais maduro de uvas. Depois disso, se fazia a refeição e então todos iam para os seus chalés.

Nesta noite, iriam fazer um jogo, a famosa a bandeira. Segundo Gabe, iriam ser separados em duas equipes, e daquela vez seriam os chalés de Ares, Atena e Hermes juntos em um grupo, o restante dos chalés iria ficar no outro grupo. Segundo Gabe, a outra equipe não tinha nem sequer 5% de chances de ganhar, já que os melhores chalés estavam reunidos, a não ser, é claro, o chalé de Apolo, o de número 7, que lideraria a equipe que levaria um  dos estandartes de guerra.

Tudo correto. Eles foram comer. Fizeram a oferenda, na qual Mike ofereceu uma ameia muito bonita que estava em seu prato. Como não sabia quem era seu pai, simplesmente se ajoelhou diante de uma grande fogueira, jogou sua ameixa, e então saiu.

Logo após a refeição, o Sr. D, o diretor Parreira, ou qualquer que fosse o seu nome, disse algumas palavras sobre a caça a bandeira, e então passou a fala para Quíron, o centauro das cadeiras de rodas.

– Bem, iremos jogar então – Quíron começou. – Vamos às regras: não é permito aleijar, arrancar membros ou matar, o restante, está legalizado. Que a caçada comece.

Ouviram-se vivas e gritos de alegria. Um grupo entrou de um lado, com um campista de olhar opressor carregando um estandarte amarelo com um arco-e-flecha ilustrando-o. Segundo Gabe, o garoto carregando o estandarte com o símbolo de Apolo era Train Hatfields. Era alto, porém magro. Não inspirava força nem nada do tipo, mas exibia um ar de autoridade que Mike não vira em mais ninguém que não fosse ele. Então, logo após a entrada do estandarte da equipe amarela, entrou Mary, carregando um estandarte vermelho com uma cabeça de javali, o símbolo de Ares.

Foram feitos os cumprimentos, e, com um aceno de mão, Quíron fez aparecer uma quantidade enorme de espadas na mesa. Mike logo foi procurar uma que o agradasse, e encontrou uma espada de bronze com fio duplo, desenhada com imagens que reproduziam a história sombria de um herói muito antigo. Mike notou que a espada era bem mais nova que todas as outras. Não havia um sequer arranhão ou marca de impacto na lâmina perfeitamente afiada, então percebeu que todos evitavam aquela espada, pois, quando passavam ao seu lado, olhavam-no com um olhar de desagrado. Mesmo assim pegou-a e agarrou um escudo de braço com o desenho de raio.

– Se eu fosse você, pegava outro equipamento – disse Gabe, intrigado. – Essa espada e este escudo trazem... má sorte.

– Eu me sinto bem com eles, parecem que foram feitos sob medidas.

Ao seguir desta frase, Gabe olhou para Mike com um olhar ainda mais curioso do que antes.

– Eu vou ficar bem, Gabe, não se preocupe – consolou-o Mike, agarrando um elmo dourado com plumagem azul elétrico que lembrava a cor de seus olhos. Gabe mais uma vez olhou-o com uma curiosidade evidente. – Tudo bem, me conte o que é!

– N-nada demais, só que você deveria ter virado churrasco ao vestir este elmo, somente isto – Gabe falou com calma.

Churrasco. Tudo bem, Mike acrescentou aquilo a sua lista de coisas estranhas que presenciara desde que chegou ao Acampamento Meio-Sangue.

– Okay... Vamos logo – Mike disse, por fim.

Entraram na densa floresta que ladeava o acampamento de onde sucederam acontecimentos tensos. Ouviu o tilintar de metal contra metal. Train tentou atacá-lo, mas, quando tocou o escudo com um raio, tomou um forte choque e depois caiu inerte no chão.

Ai meus deuses, Mike pensou apavorado, eu o matei!

O garoto se mexeu no chão, então Mike se abaixou para ver se ele estava bem. Respirava com dificuldade e seus batimentos cardíacos eram lentos. Ouviu vivas do outro lado da floresta e Mary veio carregando o estandarte amarelo da outra equipe, carregada no alto por outros campistas da equipe vermelha.

Pararam imediatamente ao ver Train desmaidado e Mike agaixado ao seu lado, testando os batimentos do garoto.

– O que está acontecendo aqui?! – Uma garota de cabelos loiros, July, que Mike vira no chalé de Hermes perguntou, indignada e apavorada ao mesmo tempo. – O que o Train está fazendo aí? – Ela agora estava aos prantos.

– E-ele me a-atacou e então... – Mike gaguejou – tomou um choque e caiu. E-eu não s-sei o que é q-que...

– VOCÊ O MATOU?! – July berrou em meio à lagrimas. – COMO PODE FAZER ISSO, SEU GRANDE IMBECIL?!

– NÃO FUI EU! – Mike berrou tão alto quando July. – ELE SIMPLESMENTE ME ATACOU E... e... caiu.

– FOI VOCÊ SIM E... – July começou mas foi interrompida pelo barulho de cascos trotando.

Quíron entrou na floresta desviando de árvores, até que chegou a Mike e Train. Olhou intrigado para a cena, então perguntou o que havia acontecido. Sentindo os olhos de todos os campistas se virarem para ele, Mike contou a versão completa da história, fazendo uma curva surgir nas negras e grossas sobrancelhas de Quíron.

– Mike, venha cá – Quíron começou. – Preciso que faça algo. Vai ser rápido.

Mike assentiu com a cabeça, mas estava com tanto medo que um teste agora não seria a melhor ideia. Quíron aproximou sua boca do ouvido direito de Mike e sussurrou:

– Concentre sua energia nas mãos, erga a espada para os céus, se for preciso, grite a palavra “raio”, mas só se na primeira vez não funcionar.

Mike afastou seu rosto do de Quíron, que ainda estava com uma curva aguda por cima dos olhos. Ainda assustado, Mike assentiu. Era besteira, mas ia tentar, pela obediência a autoridade que uma criatura metade homem, metade cavalo emanava.

Fez o que pensava ser concentrar sua energia nas mãos, então ergueu a espada, mas nada aconteceu. Ouviu risadinhas dos outros campistas ao seu redor. Mais uma vez concentrou sua energia e ergueu a espada. Nada, mais uma vez. Então, com raiva, fez o mesmo processo, mas desta vez berrou “raio” a plenos pulmões.

Um fino raio de luz ofuscante saiu do céu e alcançou a espada de Mike. Ele sentiu uma energia nova mover-se dentro de si. Seu corpo estava em êxtase. Sempre gostara de raios, mas nunca vira um na sua frente, e tinha certeza que se tentasse novamente poderia morrer carbonizado. Olhou ao redor, e viu as expressões chocadas dos campistas.

– Como da última vez... – Quíron murmurou.

– Como assim, “como da última vez”? Todos me dizem isso, o que está acontecendo comigo? – Mike berrou para Quíron.

– Campistas, curvem-se diante de Mike Martinés, filho de Zeus.


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