A Caçadora escrita por Messer


Capítulo 9
Passado


Notas iniciais do capítulo

Capítulo explicativo. Dúvidas, envie-me um review! :D



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Mary continuou andando, sem olhar para trás. Estava indo em um ritmo rápido, com o vento frio batendo no rosto. Quando chegou as escadas, desceu fazendo barulho, sem se importar com nada. Ela só pensava em ir para o seu quarto.

No momento em que ela abriu a porta, parecia que um século havia se passado um século, mesmo ela sabendo lidar com o tempo. Quando viu que o final do corredor de seu quarto não chegava, ela começou a correr. Era tarde da noite, e seus passos ecoavam fortemente no corredor, fazendo uma pessoa colocar uma cabeleira loira para fora, mas Mary nem olhou. Chegou em seu quarto, e se trancou lá dentro, e ficou apoiada na porta, como se alguém fosse arrombá-la.

E viu Quione, dormindo lentamente. Pelo menos isso, a deusa não havia tirado. Ela se aproximou da loba, e acariciou-a, fazendo-a abrir os olhos, e se virar de barriga para cima. Quione sempre foi muito mais para uma loba sem-vergonha do que de caça. Depois se sentou na cama e tirou o sapato, fazendo carinho nela com o pé.

Ela ficou lá, encarando a parede. Pensando no que as Parcas, as vovós demoníacas que fazem o futuro, como Mary chamava, estavam tramando para ela. Realmente não conseguiu entender. Talvez que as pessoas não são confiáveis? Mas isso não era verdade, por mais que ela quisesse acreditar.

Se lembrava pouco do passado. Mas era suficiente para saber que havia sofrido bastante.


Era um dia frio, com o vento assobiando do lado das grossas paredes da casa. Mary estava sentada, com as mãos em uma caixinha prateada. Ela a encarava atentamente, tamborilando os finos dedos em sua tampa. Não sabia o que era, só que encontrou no lado de sua cama quando acordou, aquela manhã. Não ousou contar para a mãe, que era realmente má. Talvez pelo fato de ela não ter casado com ninguém, e cuidar da filha sozinha. Todos na pequena cidadela falavam dela.


Nesse momento, Mary não estava com medo. A mãe estava no trabalho, fazendo doces artesanais em uma loja na frente da praça. Ela tinha faltado a aula, mas não ligava. Ela era disléxica, e TDAH, como veio a descobrir anos mais tarde, e não ia nada bem. Mais um motivo para a mãe lhe odiar.

Mary tomou coragem e abriu a caixa rapidamente. Não era maior que sua mão aberta, mas dava para guardar algumas coisas. E viu o que menos esperava.

Era um colar negro. Mary enfiou a pálida mão e pegou o colar com as pontas dos dedos, fazendo o pingente balançar. Ela pode reconhecer uma espada curva. Era estranho. Ela gostava de lutar, gostava de coisas pretas, mas nunca sua mãe lhe daria algo daquele jeito.

Colocando a caixinha na cama, com os lençóis pesados e cor de rosa, com bordados, o qual ela tanto odiava, levantou e se encaminhou para o grande espelho que tinha a sua frente. Era o único espelho da casa, mas ela não ligava. Lá podia ver sua imagem, com um longo e pesado vestido cinza com preto, cheio de babados, camadas e um collan apertado, cheio de minúsculas flores. Ela realmente odiava vestidos e coisas assim. Pensava que era um garoto em um corpo feminino, exceto pelo fato de gostar deles.

Ela colocou o colar, passando a corrente pelos cabelos arrumados em um coque desleixado, e o prendeu. Viu que combinava perfeitamente com ela, e a fazia se sentir poderosa, mesmo com somente sete anos. Ela girou o pingente entre os dedos, e viu uma escrita estranha em prata, que ela conseguiu ler como Stokonéis skiés, que, de algum modo, sabia que significava matassombras.

Nesse momento, uma espécie de aura, uma enorme sombra tomou conta do quarto. Ela ia se dissipando, indo do chão até que começasse a formar uma espécie de vulto. Mary já sabia o que vinha, mas mesmo assim gritou e saiu correndo.

Ela corria desesperada, segurando a saia do vestido, mostrando os sapatos pretos e as meias cinzas que vestia. Era somente uma criança, mas sua idade enganava muita gente. Ela era uma pessoa mais astuta que muitas por aí. Desceu as escadas de madeira da antiga casa, e saiu quebrando uma janela enorme, que ia do teto até o chão do andar. Ela estava com o rosto cortado, o ombro sangrando e o vestido cheio de cacos de vidro. Para piorar, o vento parecia carregar adagas de gelo.

Sua casa não ficava muito longe da praça da cidade. Sua mãe iria brigar, mas o que quer que fosse, a sombra em sua casa tinha cheiro de Morte.

Depois de passar alguns poucos quarteirões, dando com conhecidos gritando com ela, conseguiu chegar a praça. Estava para atravessá-la, mas se deteve. Ela escutou algo que lhe fez congelar no lugar.

– Bruxa! - Um homem gritava. No século XVIII, bruxas eram amarradas na praça e lhe atiravam pedras até ela morrer. Mary nunca havia visto aquilo, mas não deveria ser nada bom.

Então, sentiu uma mão segurando firme seu ombro. Àquela altura, seu penteado havia se desmanchado e ela estava com os cabelos soltos e cheios de grampos.

– Bruxa! - Gritou uma jovem de vestido verde, e apontou para Mary. Ela não estava entendendo nada. O homem que lhe segurou o ombro era alto, e muito moreno. Ele estava com os olhos negros arregalados e trazia uma cruz em uma mão. Logo depois, todas as pessoas apontavam para Mary e gritavam ofensas, e "bruxa".

Olhou para o chão e viu o por quê.

Aquele cheiro de biscoitos, de doces, havia sido permanentemente marcado em sua mente, junto com as borboletas voando, o aroma das flores, os risos das pessoas conversando, sentadas na praça. As garotas paquerando e conversando sobre seus pretendentes, os moços perto do chafariz, observando as meninas. Os casais apaixonados sentados embaixo de árvores floridas, as crianças brincando e os idosos falando, eram lembranças que ela jamais iria esquecer. Por mais que tivesse a personalidade de uma garota da metrópole do século XXI, Mary gostava da vida de 1750. Mas, no dia em que pedras preciosas, dos mais diversos tipos brotaram em sua volta, a trataram como uma aberração, um demônio.

Uma bruxa.

Logo, ela foi amarrada. Por mais que tentasse lutar, as cordas estavam bem presas, e ela podia sentir as cordas cortando sua pele, mesmo por baixo das várias camadas de roupa. O vento assobiava e cortava sua pele. Ela olhou para cima, e viu a enorme e escura cruz de madeira que estava amarrada. Estava sentada em cima de suas pernas, presa por aquela pesada e má corda.

Era somente uma criança, mas podia sentir e ver a maldade nas pessoas. Criança, jovens, idosos e adultos se reuniram em sua volta com as mãos cheias de pedras. Ela sentia os socos duros e secos batendo em seu corpo, com uma força imensa. Era horrível aquela sensação. Ela preferiria morrer do que sentir aquilo. Elas batiam em seu tronco, no seu rosto, pescoço, tudo. Mary estava desejando morrer logo.

Então viu um homem no meio da multidão. Ele tinha o olhar sofrido, os olhos negros, como pesadelo. Estava com uma roupa negra da época, uma roupa cinza e negra, como a de Mary. Sua pele era como a de um cadáver, pálida, quase azul. Tinha cabelos negros, penteados para trás sem nada para lhe fixar. Ela desejou, com todo o coração que lhe ajudasse, que parasse de lhe atirar pedras. E percebeu que não estava atirando. Ele parecia sofrer, como se aquela que estava sendo agredida fosse...

Sua filha.

Num segundo de escuridão, Mary pensou estar morta. E agradeceu. Mas ela logo enxergou novamente, e viu que estava em uma floresta fechada, não tão fria, mas o vento ainda congelava seu rosto. Lentamente, se levantou, e percebeu que os hematomas da agressão haviam sumido, mas ainda tinha a sensação que lhe atiravam grandes e pesadas pedras. Em um desespero, colocou a mão no pescoço, e sentiu o colar que havia achado de manhã. Ela sabia que aquilo era importante e perigoso, mas iria ajudá-la e muito. Então, pôs-se a correr e tentar se salvar.


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Notas finais do capítulo

Ei, eu fiz um desenho da Mary!
http://k-hione.tumblr.com/marylaurence
Vejam lá! E me deem + follow u.u



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