Ela deu alguns passos para trás, mas viu que algo lhe impedia de se distanciar mais. Quando viu, estava apertando a mão de John com tanta força que seus dedos estavam começando a ficarem roxos. Ela soltou sua mão e deu mais alguns passos.

- Ele vai me matar! - Disse, furiosa.

O vampiro levantou uma sobrancelha escura, olhando para ela. Não estava mais feroz como antes, mas ainda era assustador, logo que Mary sabia o que ele podia fazer.

John balançou a cabeça, em negação.

- Não, não vai.

- Como você pode garantir? - Ela ponderou, dura e com o rosto em uma máscara fria.

 O vampiro deu um passo à frente, o que a apavorou. Sua mão foi logo para o seu colar, procurando alguma proteção. Ela o apertou contra a mão, sentindo a lâmina lhe perfurar a mão. Depois, quando se lembrou que nas lendas vampiros tomavam sangue, tratou de soltar a imitação de matassombras e limpar a palma da mão na saia do vestido.

- Tem minha palavra - ele disse.

Todos ficaram em silêncio, com os dois garotos encarando Mary e ela o vampiro. Era um silêncio tenso, e ela podia escutar as batidas de seu coração. Ele estava acelerado. Parecia querer pular para fora de seu corpo e dar o fora de lá.

- Sente-se - ela disse, depois de alguns minutos. 

O vampiro a obedeceu, e ela continuou lá, de pé. John se encostou em um dos pilares lá por perto, de frente para os dois. Quando os dois terminaram de se ajeitar e ficaram olhando-a, esperando alguma reação, ela puxou o pingente, e apontou a espada para o vampiro.

- Ei! - Ele protestou, claramente ofendido.

- Você até pode dar sua palavra - ela disse, dura -, mas eu não confio em você. 

Ele suspirou e rolou os olhos, mas não fez nada contra. Se sentindo melhor, ela caminhou para uma distância mais próxima dele, mas longe, e ainda com a espada na mão. 

- Então - John começou, com uma leve diversão claramente estampada no rosto - não sei se realmente é necessário tanta violência, Mary, pois...

- Ele me quer morta e quase matou Percy! - Interrompeu ela.

-... pois ele veio em missão de paz. - Terminou o garoto e a olhou, esperando sua reação.

Ela estava bem perdida, como se tivesse acabado de acordar de um sonho sem saber se ele era verdade. Ela o olhou duramente, esperando ele abrir um sorriso ou algo do tipo e dizer que era mentira. Mas ele não fez nada.

- Este vampiro tentou matar-me! - Ela por fim disse, se esquecendo da ameaça que ele representava e abaixando a espada.

- Esse vampiro se chama Jake - disse o próprio, claramente entediado.

Mary o ignorou e concentrou sua atenção em John, que, mesmo não sorrindo, parecia se divertir muito com o que estava acontecendo. Era sempre assim, a reação dos outros parecia desencadear uma reação muito boa nele para ficar com aquela cara de riso.

- Um péssimo mal entendido - disse uma voz na entrada da sala. Mary se virou e viu que era Percy, já meio recuperado. Uma garota de pele escura e cabelos bem encaracolados estava ao seu lado, como se fosse ajudá-lo para qualquer coisa que pudesse vir a acontecer. - Olá Jake, John e Mary. E me desculpe pelo mal entendido.

- Já fiquei mal o suficiente quando vi você quase morto - ela disse, e John franziu a testa e a olhou como se dissesse : e eu? Mas ela o ignorou, para variar. E aquela expressão ia demorar bastante tempo para sair de sua mente.

Percy pareceu considerar um elogio isso, mas Mary percebeu que a garota do seu lado não gostou nada do que havia dito.  O modo como que agiam, juntos, e ela o ajudava... Era sua namorada. Mary quase enrubesceu, mas se concentrou ao máximo para não se deixar fazer isso. Só iria complicar a situação.

- Parece que alguém quer que você morra, Mary - disse ele, chegando mais perto e se sentando no divã. Sua acompanhante se sentou ao seu lado, claramente dizendo que ele era dela. - Antes que você me pergunte, não sei o por quê. Mas mataram alguns vampiros do clã de Jake, e colocaram provas de que era você que havia feito isso.

- Você sabe quem e como? - Ela disse, intrigada. Já podia sentir o chão girando por tantas acusações.

- Não. Mas você deve representar uma ameaça para algum Nelphim. Algum que sabe da existência do outro mundo, pelo jeito. Conseguiram plantar algumas provas e pareceu que fora você que os matou. Mas, pelo jeito, não sabiam que você passou os últimos dias no Mundo Inferior.

Mary ergueu as sobrancelhas com a observação de Percy. Ele estava calmo, parecia Sherlock Holmes, ou um filho de Atena. Era realmente fascinante aquela dedução, o modo que ele explicava. Se fosse com Mary, ela pensou que se sairia como um touro em uma loja de porcelanas.

- O que mais? - John disse, logo que ela ficou calada. Mary quase pôde sentir a amargura em sua voz. Ele parecia estar com... Ciúmes?

- Bem, sabemos que há bastante coisa em jogo aqui. Mary, você conheceu algum Shadowhunter? - Percy perguntou.

- Só minha mãe - ela respondeu. - Os outros achavam que eu era louca. Minha mãe... Bem, ela não gostava muito de mim. Então, quando eu fugi, nem lhe dei a importância de se lembrada.

- Isso é mal - John comentou, e a sinceridade era presente em sua voz. Era estranho aquilo... Ele deixava quase tudo escapar por seus olhos. Os outros agiam como se ele precisasse ser protegido. Mas Mary viu que era uma máquina de matar.

- Bem, ela nunca me disse nada e sempre brigava comigo quando eu mencionava algo. Então nunca quis aprender nada. Mas... O que isso tem a ver com Jake?

- Mataram alguns dos meus. E eu quero vingança. - ele respondeu, se encostando no divã. 

Um bom motivo, pensou Mary, mas não disse nada. Tentando relembrar algumas coisas, não achou nada ou ninguém que pudesse desejar isso. Era algo que ela não conhecia.

Mas não sabia o quanto estava errada.