Chegaram à nave, e depararam-se com todos os heróis cansados que haviam chegado antes, sentados a algum canto. Mas estavam prontos para decolar. Julia estava sentada quieta em uma cadeira, cheia de cobertores.

         - Onde está a Caixa de Inverno? - Indagou Thor, diretamente para Loki.

         - Eu a peguei, você mesmo viu, irmão... Mas eu precisava pular a fissura e passar para o outro lado. Não deu. Derrubei a caixa para poder me segurar na borda e conseguir sair do palácio.

         Thor encarou Loki por um momento. E foi a vez de Tony implicar:

         - Preferiria mil vezes a tal Caixa. Ela ficaria quieta a viagem inteira. E seria um belo enfeite.

         - Vá buscá-La, se a quer tanto. Eu não vou, muito obrigado. Prefiro sobreviver. - Despejou Loki.

         Thor interrompeu-o, indignado:

         - Você não podia ter feito isso... É essencial que a Caixa fique sob nossa proteção. Não acredito que a derrubou naquela fissura... Agora nunca iremos encontrá-la...

         - Paciência, irmão... “Nunca” é uma palavra muito forte. Quem sabe um dia ela não reaparece?! - Replicou Loki, sentando-se do outro lado da sala.

         E então Thor teve suas dúvidas. Sabia que o irmão era um dissimulado, e também o vira perder a Caixa acidentalmente, a fim de que salvasse a própria pele. Mas agora, uma nova possibilidade o acometia. Loki, nessa última fala, plantara uma dúvida em Thor. Pois parecia que Loki sabia o que estava prestes a acontecer... Falara com tal convicção que parecia, ou poderia, ter perdido a caixa de propósito.

         Esse pensamento só deixou Thor mais confuso, afinal, o que Loki estaria planejando, caso tivesse deixado a caixa cair nas ruínas propositalmente? E o pior, que consequências isso traria?

         Em alguns minutos, a nave da SHIELD retornou a Terra. Todos na nave reuniram seus poderes e expandiram o portal através do anel de jaspe verde, e retornaram pelo turbilhão do espaço-tempo.

         Fazia uma noite fria de inverno.

         A nave pousou em um pavilhão de outra base da SHIELD, de onde todos desembarcaram e foram falar com Fury, à exceção de Julia e Loki. Ela foi deixada em casa com Pepper, a fim de se recuperar e melhorar. Aquele, assim que a nave tocara o chão, saiu dela e desapareceu. Assim, os Vingadores fizeram seu relatório do que ocorreu na missão, e Thor manteve apenas para si a dúvida cruel em que se achava. Se Loki havia deixado a Caixa de Inverno cair de propósito ou não.

         Dentro de um mês, tudo se estabilizou. Julia não fora mais atacada. Estava perfeitamente bem. Os Vingadores não tinham lutas tão sérias a combater e limitavam-se a reuniões em intervalos regulares na SHIELD para discutir algum assunto. Eles andavam monitorando, com a ajuda de Thor e Heimdall, os Nove Reinos. Ao que parecia, Jotunheim estava destruída por completo, e os Gigantes de Gelo extintos. Entretanto, por engano ou não, em um dia as leituras mostraram atividades vitais fracas, mas recentes, em Jotunheim. Todos cuidaram que fosse um engano dos sensores, já que isso era impossível. Como poderia haver sinal de vida em uma espécie já extinta?

         Mas, seria mesmo tão impossível assim? Thor se pegou pensando.

         Já Loki estava inativo, e não atacara.

         E foi nesse meio tempo, refletindo, que Julia tomou uma decisão em relação a ele.

         Iria até a fábrica abandonada atrás dele.

         No dia seguinte, logo pela manhã, ela se arrumou precariamente e tomou a condução. Pelo caminho, pensou no que diria a Loki, e torceu que o momento a ajudasse, pois não conseguira pensar em nada convincente.

         Chegou lá, abriu o costumeiro portão que rangia e seguiu em direção à porta.

         Ao abri-la, viu que os equipamentos tinham sido retirados. As armas, os painéis, tudo sumira. O salão estava vazio, exceto pelas caixas que sempre ficavam a um canto.

         - Só estava esperando que chegasse. - Uma voz sussurrou atrás dela.

         Era Loki.

         Julia virou-se e observou-o por alguns instantes. Então, concluiu o que estava achando errado. Ela tocou na roupa tradicional de Loki, em seu capacete dourado, e pediu:

         - Tire essa máscara... Fique normal.

         E ela sorriu. Loki então a obedeceu, feliz por fazer nascer um sorriso diante da garota que olhava para ele. E a armadura dourada e imponente ia sumindo, dando lugar para uma roupa comum de Asgardiano.

         - Vou embora. - Loki falou, cuspindo as palavras, como se as detestasse.

         - Eu já imaginava... - Contou Julia, não conseguindo refrear a decepção.

         No fundo, sempre soubera que ela e Loki não dariam certo. Que cada um trilharia caminhos diferentes e paralelos. Sempre soubera que ele teria que partir. E afinal, esse dia chegara. Não havia nada que ela pudesse fazer. Ignorou a partida de Loki até o momento em que pôde, mas agora isso acontecia de verdade. Não era como em um sonho, dos tantos que ela tivera. E ela não pensava que seria tão difícil dizer adeus.

         - Não quero, você sabe... Mas preciso. Isso... É meio difícil de dar certo... - Loki falou, sinceramente, pela segunda vez em sua vida.

         - Eu sei. Mas saiba que... Eu estarei aqui. Por você. Sempre soube que iria partir, e sempre soube que não daria certo. - Lamentou ela.

         - Eu não vou te esquecer. Faço isso porque é o melhor para nós. Nunca poderíamos ficar juntos. Eu quero matar os Vingadores, inclusive Stark, tenho planos de dominação e conquista de reinos. Isso não é para você.

         Seguiu-se um minuto de silêncio. Julia não encontrou palavras.

         - Só não quero magoá-la. Mas, me desculpe... Vou partir. - Finalizou ele.

         - Há vários jeitos de me ferir. Não precisa sequer tocar em mim para fazer o pior dos estragos. - Contrapôs Julia.

         - É só o que posso oferecer. Desculpe, Julia. Eu me odeio por não ser o que você merece. Estou fadado a isso. Lutarei contra todos que se opuserem ao meu caminho. Menos você.

         E, com essas palavras, Loki se aproximou de Julia, abraçando-a.

         Inevitavelmente, os lábios se tocaram. Havia algo diferente naquele beijo, pensou Julia. Talvez fosse a ideia de despedida, que ambos rejeitavam, embora conformados. Se pudesse, Julia percebeu que faria tudo diferente. Ela tentaria fazer dar certo, mas já não era possível. E talvez nunca fosse.

          - Posso pedir uma coisa? – Julia perguntou, sentindo uma lágrima irrefreável saltar pelo olho.

         Loki sorriu. Queria poder dizer que sim, mas sentiu não ser capaz de oferecer nada que Julia pudesse querer.

         - Peça.

         - Tente mudar. Você não precisa disso. Não precisa de destruição. Não precisa matar pessoas. Tente... Fazer isso por mim.

         - É a coisa mais difícil que poderia ter pedido. – Loki resmungou.

         - É o mais próximo do “sim” que eu terei, não é?

         - Bem... É... – Ele riu, e tocou nos cabelos castanhos de Julia. Já sentiria falta deles.

         - Quero lhe dar uma coisa. – Disse ele.

         E tirou do bolso um lindo colar dourado com um pingente de um símbolo de Asgard, cujo significado Julia desconhecia. Loki colocou o colar no pescoço de Julia, e sussurrou para ela:

         - Olha que divertido...

         E o colar projetou uma imagem holográfica de Julia, quase inconsciente, ao lado de Loki, que a amparava, segurando-a. Era uma foto do dia em que ele a sequestrara e levara para Asgard, na colina. E quando eles se beijaram pela primeira vez.