– Bem, vamos examinar a gravidade da situação. - Disse Quíron, tentando parecer calmo. - Se o que Nico viu realmente foi o futuro, nossa briga com os romanos é sem fundamento. - Ele suspirou. - Mas não era nisso que eu estava pensando. - Ele se virou para Nico. - Você disse que os nós e os romanos estávamos lutando lado a lado...

Annabeth logo entendeu.

– Então se era mesmo o futuro, vamos nos unir! - Ela concluiu, meio animada.

– Sim. - Concordou Quíron. - Então por que, se já conhecemos o futuro, deveríamos lutar com os romanos?

Todos pararam para pensar. Era um bom argumento. Por que lutar, se eles iriam se unir no final? Mas ainda tinha uma questão.

– Mas se aquilo era mesmo o futuro - começou Piper -, nós todos vamos... morrer?

Ninguém respondeu, nem mesmo Quíron. Então era isso? Lutar, se unir, e depois morrer? Simples e doloroso assim? Embora fosse um assunto absurdamente importante, não era só isso que Annabeth queria discutir.

– Há algo mais que precisamos ponderar. - Ela disse, e vários pares de olhos se voltaram para ela. - Quando usamos o vídeo-escudo, algo aconteceu. Percy e Reyna sabiam que nós estávamos observando. O que só pode significar uma coisa: temos um espião entre nós.

Alguns conselheiros ficaram tensos. Na Guerra dos Titãs, eles tiveram um espião entre eles, uma pessoa que eles mal puderam acreditar ser um espião, a pessoa mais improvável: Silena Beauregard, filha de Afrodite. No final, ela morreu como uma heroína, sacrificando-se por seus amigos.

– Mas então, quem poderia ser? - Perguntou Nico, se encolhendo discretamente.

Annabeth percebeu, e arqueou uma sobrancelha.

– Bom, me diga você. - Falou.

Nico estreitou os olhos.

– O que você quer dizer com isso? - Perguntou, a voz perigosamente baixa.

– Você sabe, Di Angelo. - Ela respondeu, desafiadora.

– Está me acusando?

– Exatamente.

– E como você pode provar que eu sou um espião?

Annabeth abriu a boca para responder, mas logo a fechou. Que provas tinha de que Nico era o culpado? Como poderia convencer os outros conselheiros, sendo que ela não tinha nenhuma mísera prova?

Mas ela tinha visto quando Octavian acenara para ele, e o discreto sorriso cínico que ele dava naquele exato momento.

– Pense bem antes de acusar as pessoas, Annabeth. - Nico disse. - Lembre-se de que é isso o que Gaia quer, que suspeitemos uns dos outros até nos destruir.

Alguns conselheiros murmuraram em concordância. Por que ninguém me apoia?, ela pensava. Foi nessa hora que Piper se levantou.

– Certo, Nico. - Ela disse. - Annabeth não tem provas de que você é o espião. Mas também não há provas de que você não seja.

Ela não estava usando charme, mas pessoas como Katie Gadner e Will Solace, que não gostavam particularmente de Nico, assentiram.

– Ela tem razão, Nico. - Will disse.

Nico já estava prestes a explodir.

– Por que vocês só apontam para mim? - Perguntou num tom irritado. - Não sou só eu que pode estar traindo vocês.

O que ele dizia era verdade. A mais pura verdade. Mas se fosse assim que a carruagem se movesse, todos ali seriam suspeitos. Mas Nico era o mais provável.

Nico bufou ao perceber que todos suspeitavam dele.

– Bom - ele disse lentamente, com raiva -, se mudarem de conceito em relação a mim, estarei no meu chalé.

E saiu pela porta a passadas longas e pesadas. Ele viajou nas sombras, pensando apenas em como Percy ficaria furioso quando descobrisse a tamanha desconfiança o filho de Hades tinha atraído para si mesmo.

*************

– Então quer dizer que depois de alguns dias eles já suspeitam de você? - Percy perguntou, calmo, encarando a parede da Principia e apertando os lábios.

Nico respirou fundo.

– Sim.

Percy não disse nada, apenas continuou encarando a parede, enquanto Reyna observava a cena, divertida.

O filho de Hades franziu a testa.

– Você não vai me matar? - perguntou.

– Na verdade, eu estou quase fazendo isso. - Percy respondeu com suavidade.

Reyna deu um risinho baixo.

– Ele diz a verdade. - Ela falou. - Parece calmo, mas tem uma criatura bruta querendo se libertar de dentro dele.

Se sua vida não estivesse correndo perigo, Nico teria rido. Mas ele ainda observava Percy, que agora andava de um lado para o outro.

Até ouviu Reyna murmurar:

– Isso não vai prestar...

Percy se virou para Nico. Seus olhos verdes pareciam o mar em seus dias de fúria. Ele respirava fundo várias vezes, tentando se acalmar.

–- Então... - Ele disse lentamente, como se explicasse a uma criança. - Se disse que estaria em seu chalé, deve voltar. Se alguém for lá, e não lhe encontrar, vai haver ainda mais suspeitas. - O filho de Hades nem teve tempo de suspirar aliviado. - Mas nem pense que essa conversa acabou.

Nico engoliu em seco.

– Certo... - Disse. --- Então... eu vou indo. --- E se foi, dissolvendo-se em sombras.

Reyna caminhou até Percy, perguntando:

– Como você consegue ter tanta paciência com esse garoto?

Percy demorou a responder.

– Devo isso a irmã dele.

A pretora franziu a testa.

– Hazel?

– Não. - Ele respondeu. - Bianca.

– Ele tem outra irmã?

Os olhos de Percy estavam pregados no chão.

– Tinha - respondeu por fim.

– Oh... - Reyna não esperava essa resposta. - Eu... eu sinto muito.

Percy não respondeu, mas a outra pretora podia ver a tristeza estampada em seu rosto.

– Percy... - Ela começou a dizer mas foi interrompida por um legionário que entrou no local, abrindo a porta bruscamente.

– Pretores! - Ele exclamou. - Temos uma mensagem de Hazel. Os túneis estão prontos.