A Profecia escrita por Annabel Lee


Capítulo 24
CAPÍTULO XXIV


Notas iniciais do capítulo

Reviravooooltas



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/325395/chapter/24

HELENA

Entro no banheiro e pego uma bacia qualquer. Sem falar nada com Zyah, começo a enchê-la de água.

      - O que você vai fazer, Helena? – Zyah me pergunta enquanto estou para lá e para cá.

      - Vou falar com minha avó.

      - É impossível!

      - Não. Não é. Conversei com Márcia quando voltamos da Aldeia Quinta. Se pude falar com ela, posso fazer umas perguntinhas a minha vó.

      A bacia estava cheia de água. Eu sabia exatamente o que fazer naquele momento. Soltei os cabelos e olhei fixamente para a água, focalizando em meu objetivo. Todas as peças do quebra-cabeça se juntavam de certa forma, exceto o pequeno joguete que o Destino havia feito.

      A água começou a borbulhar e consigo ver minha avó sentada no Quarto do Espelho, fixando o olhar nele.

      Ela me vê. E fica atordoada.

      - Helena... – ela balbucia. Mas não estou ali para matar saudades.

      - Quem é meu avô?

      - O quê?

      - Me responda!

      - Como assim, Helena?

      - Visitar você não estava em nossos planos, não é? Você tinha um propósito! Os sinos e a hora exata de eu chegar aqui não é coincidência. A Besta acordar não é coincidência. Eu tenho poderes que não foram herdados só do sangue Guardião. Me diga a verdade.

      Minha vó fica em silêncio por horas. Até me responder.

      - Eu já visitei Nitha uma vez – ela diz – cada Aldeia com sua beleza incrível. Eu visitei junto de meu parente Alternativo, Sollun. Ele me explicou tudo sobre ser Guardiã, me mostrou toda a beleza e me disse o que eu era e o que deveria fazer para manter a segurança dos Mundos.

      Era respira fundo.

      - Entendi tudo, é claro! Os humanos não estão prontos para toda aquela magia e beleza. Mas havia uma Aldeia que eu não tinha visitado. E eu queria vê-la mais que qualquer coisa.

      - A Aldeia Décima.

      - Sim. Eu fugi da casa de Sollun, com meu cavalo e rumei para a Última Aldeia. Ela era incrível. Linda. Sombria. E perigosa! Entrei por seus Portões sem medo e me deparei com seu Governante.

      Ela faz uma pausa, enchendo-se de nostalgia e continua com a voz fraca:

      - Ele não me matou. Passamos... Tanto tempo juntos. Eu o amava. E ele a mim. Mas a Profecia impedia nossa felicidade.

      - A Profecia?

      - A Profecia que ouviu não é a completa. Poucos sabem sua versão original... Ela dizia:

      A cada ciclo, eis que uma fenda deve se abrir

E encontra-te a oportunidade de outro Universo descobrir

Mas ouça-te bem antes de um passo dar

Pois se a fenda você atravessar,

Jamais irá voltar

E pela Última Batalha sua ruína chegará,

Por bem ou por mal, seu sangue vai voltar.

Então antes da Escolha tomar.

Lembre-se que, com ela, pode se arruinar.

Fico perplexa. Minha avó fecha os olhos como se a lembrança trouxesse sofrimento.

      - Eles me encontraram logo depois. Eu estava grávida! Castigaram Ysill novamente e me mandaram a força para o Espelho. Fizemos uma promessa naquele dia. Iríamos nos vingar de Nitha! Iríamos recomeçar. A Profecia dizia que nosso sangue voltaria. Eu e Ysill esperamos 15 anos para que ele começasse a travar o plano. Ele conseguiu fazer com que eu retornasse, ele usaria o Sino para me levar para Nitha e você ficaria de guarda no Espelho, conforme eu te explicasse. Mas deu tudo errado.

      Fico perplexa. Silenciosa. Não podia acreditar no que ouvia.

      - Ysill vai te poupar, querida. Mas não pode impedir que ele e eu tenhamos nossa vingança. Estamos selados com o Pacto. Se ele morrer... E vou junto com ele.

      Vovó percebeu minhas expressões. Mas eu não podia deixar que ela destruísse Nitha e todos os amigos que fiz, todo aquele Mundo... Zyah.

      Não, eu não deixaria. Vovó enlouqueceu em destruir um mundo inteiro. Lamento por ela... E por Ysill. Mas não posso deixar essa insanidade se concretizar.

      - Desculpa, vovó.

      - ACHA QUE VÃO CONFIAR EM VOCÊ? NÃO CONFIARAM EM MIM. SANGUE DÉCIMO CORRE NAS SUAS VEIAS, HELENA. E AGORA NAS MINHAS! NÃO PODE MATÁ-LO.

      Me assustei. Lembrando de minha avó quando eu tinha cinco anos, repetindo as mesmas palavras. Dizendo que eu deveria ajuda-la. Fazendo-me prometer que ajudaria.

      - Vingança não te levará junto a ele.

      - Só não fiquei junto a ele, por sua causa, minha menina.

      As palavras foram como golpes de espadas. Soquei a água da bacia, e derrubei-a pelo banheiro. Comecei a chorar, desesperadamente.

      Vou destruir aquilo que minha avó lutou tanto par conseguir. Mas eu não podia deixar que isso acontecesse. A Escolha da Profecia. Eu ou minha avó nos arruinaremos por nossas escolhas. Certas e erradas.

      Devo fazer o certo. Devo fazer o que acredito. Devo fazer o que prezo e proteger o que amo. Proteger os dois. Vovó e Zyah. Mas sei que não posso proteger minha avó dela mesma, nem de seu sofrimento.

      Zyah está me abraçando e beijava meu rosto. Ele também havia visto e ouvido tudo.

      - Eu sou de lá, Zyah. Sou Décima! Sou uma Herdeira...

      Ele vira meu rosto para mim, segurando-o com força.

      - Não. Você é Guardiã! Só! Para mim é o que basta!

      Ainda estou em prantos. Fazia tanto sentido. No conselho, quando Ysill olhou para mim fixamente, eu sabia que ele me conhecia. Eu vi em seu olhar algo vacilar. Eu sabia que era algo importante!

      - Eu sou um inimigo, Zyah!

      - NÃO, NÃO É!

      - Não é atoa que não sou confiável. Todos respeitavam minha avó antes do incidente. Lembra-se da cara de Lyra quando soube que eu era Guardiã? É porque o sangue Guardião está sujo. Eu estou suja!

      - Helena, você é boa. Já provou isso! Eu te amo. E não ligo se você é ou não da Aldeia Décima! Você é Herdeira Guardiã da Terra. Só.

      Paro de soluçar e olho nos olhos dele. Como ele poderia me amar ainda? Como continuava a confiar em mim? Eu, essa criatura errante. A continuação do erro cometido pela minha avó. Eu, essa coisa misturada! Esse sangue confuso.

       Zyah continua segurando meu rosto e beija minha boca. Um beijo salgado pelo desespero e tristeza.

      Então o alarme toca.

      - Enxuga essas lágrimas, meu amor – ele diz – temos um Espelho para recuperar.

      Nós dois saímos do quarto e encontramos Cyra no corredor. Nós três seguimos até a carruagem. Rumo à Aldeia Quarta, depois para o Baile Sexto... E depois para a Aldeia Décima.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Profecia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.