Cara. Será que eu estou sonhando de novo? Estou sentindo água em meus pulmões. Tem alguém gritando meu nome?

                - Callissa!

Parece que tem. Batidas na porta.

                - Callissa, se você não abrir eu vou arrombar!

Não estou sentindo meus pés... Que engraçado. Que barulho foi esse?

Senti o ar voltar aos meus pulmões num assopro. Doeu. Tossi e abri os olhos. Dei de cara com Jake.

                - O que você estava tentando fazer Callissa?

                - Não sei. Nada... Quer dizer, eu dormi.

                - E você dorme na banheira cheia, sua doida?

                - É confortável...

                - Já chega!

Senti suas mãos em minhas costas. Espere, eu estava pelada? Ai droga? Não, espere de novo... Estou de calcinha. Ai merda, meus peitos!

Jake pareceu sentir meu desconforto, pois pegou a toalha que estava pendurada e a enrolou em volta do meu corpo. Eu estava tremendo muito, olhei minhas mãos: as pontas dos meus dedos enrugadas e roxas.

                - Está com frio?               

                - S-sim!

Ele me levantou nos braços e me levou até a cama. Jogou os cobertores por cima do meu corpo, mas eu não conseguia parar de tremer.            

                - Que merda Callissa!

Ele tirou os sapatos usando os pés e se deitou ao meu lado na cama. Passou os braços a minha volta e me aproximou de seu corpo.

                - Você sabe que se eu tivesse ido embora, você teria morrido, não sabe?

                - Não exagere - re.

Jake continuou me abraçando e esfregando meus braços e minhas costas tentando esquentá-los.

                - Viu como eu não quero abusar de você!

                - Você teve a chance.

                - Mas não fiz. E agora está me devendo duas.

                - E se eu pagasse?

Ele me olhou pelo canto do olho e sorriu.

                - Hoje não.

                - Mas você...

                - Hoje não!

                - Ok.

Fiquei encostada a ele tentando me esquentar e querendo entender porque ele me rejeitou. Cai em um sono calmo e sem sonhos.

Acordei com um feixe de sol no meu rosto. Me mexi e percebi que estava sozinha na cama. Caramba será que eu sonhei tudo aquilo?

Me movimentei de novo e senti a toalha molhada em baixo do meu corpo, meu busto ainda estava gelado. Sentei-me rapidamente e olhei em volta. Os sapatos dele estavam jogados no mesmo lugar. Levantei e fui tomar um banho de verdade – sem banheira.

Já estava secando meu cabelo, quando ouvi um suspiro vindo da sala. Estava tão quieto que eu já estava começando a desconfiar que Jake tivesse ido embora sem os sapatos.

Encostei-me no batente da porta e olhei a sala. Ele estava dormindo no sofá, só usando uma calça jeans.

Tinha uma perna jogada no chão e a outra dobrada em cima do sofá. Ele é realmente lindo. E completamente maluco. Aproximei-me para olhar seu rosto: seu maxilar era bem delineado, com fios de barba crescendo, tentei me lembrar da cor de seus olhos, mas acho que toda vez que os olhava não estava concentrada o suficiente, só lembrava que combinava com seus cabelos castanho-avermelhados, não tão vermelhos quanto os meus.

Bem, eu não sou exatamente uma ruiva normal: eu tenho esse cabelo vermelho queimao, mas eu não tenho sarda e nem olhos claros. E por conta disso, eu sempre passo por ruiva falsa.

Sentei no chão e fiquei esperando ele acordar. Olhei meu apartamento que estava precisando de uma boa faxina: as cortinas brancas estavam enroladas nos cantos pra deixar a claridade entrar. O chão de madeira escura precisava ser polido (não que eu tivesse feito isso alguma vez nos anos que morei aqui) e eu precisava colocar minha coleção de livros na estante depois que eu a montasse. Jake estava demorando muito para acordar, então usei a bolsa novamente.

Ele sorriu a me ver.

                - Espero que isso não se torne um hábito.

                - Eu também espero.

Jake franziu a testa ao ver meu cabelo molhado.

                - Fique tranquilo, foi no chuveiro.

                - Você está bem?

                - Sim.

                - Hum.

                - Ah... Quer saber? Vá se arrumar vai sair hoje.