– Onde estamos?

– Essa é a Oa Dance

– Hum. É um nome estranho para uma boate... Aqui que você trabalha?

– Eu sei que é, mas é coisa deles. Sim, trabalho.

– Certo.

Ele estava me deixando nervosa. Seja lá qual for a ideia que ele tinha de mim, piorou com o momento. Ah, dane-se. Peguei sua mão e o puxei para dentro.

– Venha logo. Vou te deixar entrar de...

– Callissa!

Ally veio correndo em minha direção e parou a cinco centímetros do meu rosto.

– Graça. O que aconteceu Ally?

– Joe. Ele... quebrou ...o ...pé! Não pode dançar.

– Só pode estar brincando!

– Eu queria... O que vamos fazer Calli? É noite de casais!

– Ah, droga...

Jake pegou meu braço e aproximou o rosto do meu ouvido para poder sussurrar: - O que está acontecendo? Quem é Joe?

– Joe dança comigo nas noites de casais, sem ele hoje, não posso dançar.

Ele afrouxou os dedos no meu braço, mas não me soltou. Isso só pode acontecer comigo dentre milhões de pessoas no mundo! Eu devo ter feito algo muito ruim nas outras vidas. Eu só preciso de alguém...

– Que saiba dançar. Jake, querido...

– Hum?

– Sabe dançar?

– Na medida do possível.

– Consegue fazer algo que me impressione na pista?

– Depende. Que tipo de música?

– Street Dance.

– Tem certeza?

– Bem, é a única coisa que eu sei dançar. Mas se você não quiser...

– Não, tudo bem. Eu faço. Tem algum vídeo que eu possa ver pra ter uma ideia?

Eu não podia acreditar que ele tinha aceitado. Sério, ele não parecia o tipo de cara que ajuda os outros dessa forma. Apesar de que ele parecia bem mais sério depois de ter me salvado da banheira.

– Na verdade, a Calli e o Joe costumam gravar os ensaios. Tem a coreografia dessa noite. Mas não sei se vai ajudar muito.

– Ah, vai sim. Posso ver?

Ally saiu correndo à procura dos DVDs das coreografias. Fiquei onde estava enquanto ele a seguia. Será que acha que vai aprender alguma coisa em duas horas?

– Você quer mais informações Calli?

Jake gritou do outro lado do salão e me trouxe de volta a realidade. Informações de que mesmo? Ah, sim... Sobre ele.

– Hum, sim, por favor.

– Eu aprendo as coisas rapidamente.

– Isso não é o bastante...

– E eu também sei dançar.

– Ah, ta.

Meia hora depois de ter visto a coreografia oito vezes, Jake estava em pé à minha frente, estendendo a mão para me ajudar a levantar.

– Vamos ensaiar.

– O que?

– Ensaiar. Igual ao vídeo. Vamos.

– Você tem certeza?

– Claro.

– Se você diz.

Eu estava apreensiva. Será que ele realmente acha que aprendeu todos os passos?

– Jake, fique do outro lado. Vou te passar as regras.

– Mas e o ensaio?

– As regras são o ensaio.

Ele parou a uns longos passos de distância de mim e me olhou.

– E agora?

– E agora faça o que eu disser.

Jake pareceu tremer. Certo, ele realmente deve estar pensando que eu sou algum tipo de tarada psicótica.

– Vou fazer

Ta, talvez ele também seja algum tipo de tarado psicótico. Só talvez.

– Hum,ok. Olhe bem para mim, como se tivesse acabado de me conhecer e quisesse chegar mais perto pra saber se sou real.

Um leve tremor passou pelos meus dedos quando ele me olhou tão intensamente que parecia que estava tentando tirar minha roupa. Mas só parecia.

– Ér... Agora faça a mesma coisa, só que fazendo com que eu vá até você.

Senti meus pés se moverem sob meu corpo, como se eu não tivesse controle sobre eles. O que esse cara está fazendo? É como se eu me derretesse inteira quando ele me olha. Inferno! Quando dei por mim, já estava a dois passos dele.

– Cara, agora feche os olhos e se recomponha.

Segui meu próprio conselho e fechei os olhos, apoiei as mãos nos joelhos e respirei fundo. Droga.

– Calli, uau! Isso foi tão intenso! Fico imaginando como será quando vocês dançarem...

– Eu nem quero imaginar Ally.

Eu podia ouvi-lo rindo. Parecia que ele se divertia fazendo isso comigo. Canalha! Abri os olhos e me endireitei.

– Certo Jake, vamos continuar.

Ele engoliu o riso e voltou a prestar atenção em mim. Ele aprendeu a coreografia inteira, tudinho. Ele sabia cada passo que eu daria em sua direção e quando eu o fazia, ele já estava me esperando. Naquela noite me pareceu que as pessoas se divertiram mais. Mas talvez seja porque eu também me diverti.

– Porque você escolheu trabalhar disso?

Estávamos voltando a pé para o prédio. Eu estava mais a fim de ir de ônibus, mas Jake insistiu que a noite estava muito bonita e precisávamos aproveitá-la.

Ele não parecia o mesmo cara que jogou a caixa na minha cabeça. Parecia mais sério. Mais certo.

– Eu não escolhi exatamente. Apareceu para mim, então eu peguei.

– Você gosta?

– Sim, acho que sim. Tipo, não é o trabalho da minha vida, mas eu gosto de dar meu tempo para fazê-lo.

– Você acha que é algo importante?

– Importante? Se for pra pagar meu aluguel em dia, é muito importante.

Jake riu e me deu um empurrão com o ombro. Alguma coisa nesse gesto me mostrou que isso é o que o verdadeiro Jake faria.

– Se mudou para cá por quê?

– O que é isso? Algum tipo de questionário?

– Responda.

– Tá bom. Mudei pra cá para ter inspiração.

– Por quê?

– Porque quero ser escritora, e Seattle me trás bons ares.

Caminhamos um tempo em silêncio. Eu já estava cansada. A boate ficava muito longe de casa e eu nunca volto a pé.

– Agora eu entendo porque você usa essas roupas esquisitas.

– O que?

– Suas roupas...

– O que têm elas?

– São estranhas.

– São perfeitamente normais.

– Ah, não são não. Cada dia você está vestida de um jeito diferente: tem dias que parece uma adolescente e outros parecem que saiu de um filme de super-heróis.

Parei de andar e Jake parou dois passos à frente. Como assim super-heróis? Eu me visto totalmente normal.

– Eu não sei nem o que dizer. Mas acho que vou voltar de táxi.

– Não!

Olhei-o assustada com o grito. Ergui uma sobrancelha e ele abaixou a cabeça. Seus cabelos castanho-avermelhados caíram sobre a testa e eu senti uma vontade sobre-humana de tirá-los dali.

– Quer dizer... Não vai, se você ficar comigo eu te respondo um questionário também.

Admito que aquilo me chamou a atenção. Coitado, vou jogar um pergunta em cima da outra.

– Certo, me convenceu. Bate e volta?

– Está bem.

– Quantos anos?

– Vinte e nove.

– Pais?

– Minha mãe está viva, e meu pai não o conheci.

–Sinto muito. Irmãos?

– Duas irmãs mais velhas.

– Interessante. Você foi a boneca não é?

– Fui.

Sorri, isso explica o cabelo sedoso e brilhante.

– Hum, por que Seattle?

– Já te disse, me cansei do sol. Ele deixa as pessoas idiotas.

– Você se aposentou mesmo?

– Não, mas ganhei muito dinheiro e resolvi parar por um tempo. Meio que sumir do mapa.

Aquilo me deixou em parte confusa, em parte aflita. Porque ele mentiu?

– Sumir por quê?

– Há dois meses, minha noiva engravidou. Eu fiquei muito contente, sempre quis ser pai. Mas então eu descobri que ela estava tendo um caso com o meu sócio, que era meu melhor amigo e a criança era dele. Não fiquei bravo com nenhum dos dois, mas resolvi ficar fora de circulação.

– Você está brincando né?

– Não.

– Ah.

– Olha, não fique assustada com esse meu jeito. Não queria te enganar, mas eu estava tentando ser diferente...

– Prefiro você assim.

Jake parou de andar, então voltei os passos que eu tinha dado e parei de frente para ele. Fiquei encarando a gola da sua blusa por um tempo, até que ele tirou o cabelo que tinha voado no meu rosto e ergueu meu queixo pra poder me olhar.

– Você é muito esquisita, sabia? Não é um tipo de garota que se encontre por ai todo dia.

– Ah é? E que tipo de garota eu sou?

– Do tipo que não se impressiona fácil.

Jake avançou alguns centímetros que nos separavam, então fechei os olhos. Mas quando pensei que ele fosse me beijar, ele parou um pouquinho, como se estivesse esperando eu virar fumaça e sumir. Quando percebeu que eu não iria para lugar algum, encostou os lábios nos meus. E quando dei por mim, já estava com os braços enrolados em seu pescoço, beijando-o.