Pessoa Certa escrita por Mary


Capítulo 27
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

É, esse não é o final...
Desculpa ter sumido gente, mas agora estou de volta finalmente!
Os comentários do capitulo anterior fizeram um bem enorme no meu coração! Obrigada!



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Acordei algum tempo depois apenas para descobrir que a bola no meio do meu corpo tinha desaparecido. Minha primeira reação foi leveza.

A segunda foi desespero.

                - Jake?

Ai Deus, meus bebês! Onde estão? Será que eu tive a capacidade de perder os dois de uma só vez?

                - Jake?

Controlei-me para não gritar. Mas onde está esse idiota? Escutei um cochicho do lado da minha cama.

                - Xiu, é só a mamãe tendo um ataque... Você logo vai se acostumar com isso, ela faz muito.

Girei a cabeça e encarei-o. Jake estava com umas olheiras muito escuras contornando os olhos, o lábio ressecado (como se estivesse sem beber água há dias) e segurava uma trouxinha cor de rosa nos braços...

Ai, meu bebê!

Mas onde está o outro?

                - Jake? Por favor, o que aconteceu?

Ele me olhou e tinha um poço de desespero naqueles olhos listradinhos. Ai... O que será de aconteceu com meu outro bebê?

                - O garoto... Ele é fraco, Calli, muito magrinho... Está internado.

Quis levantar e abraçá-lo, mas não estava com força nos braços para apoiar minhas pernas que também não tinha porcaria de força nenhuma. Sentia-me uma inútil.

Ele se levantou e colocou a trouxinha rosa num berço que estava do outro lado do quarto... Postado de forma que não atrapalhasse qualquer procedimento que fosse necessário...

Jake andou até minha cama, e quando pensei que fosse apenas se sentar ele deitou-se por cima de mim, com os braços ao meu redor para não me esmagar. E chorou.

                - O que aconteceu enquanto eu dormia Jake? Me conta, está me assustando!

Ele apenas chorou mais. E me desesperou até o meu ultimo fio de cabelo ruivo.

                - Eu quase te perdi Callissa. Você quase morreu por causa daquele médico imbecil!

                - Calma, eu não morri está bem? Estou aqui, sendo esmagada, mas estou bem.

                - Não brinque com isso!

Jake gritou, a cabeça enfiada no meu cabelo. Tremi e tentei disfarçar para não deixá-lo mais insano do que já estava. Não resolveu muito.

                - Desculpe... Senti tanto medo... Ainda estou com medo... Tristan está morrendo...

Quem? Quem está morrendo?

                - Jake, você o chamou de que?

Ele ergueu a cabeça e me fitou, os olhos vermelhos e inchados contrastando com as olheiras roxas. Parecia que tinha quebrado o nariz.

                - Eu o chamei de Tristan... Pensei que isso lhe faria bem... Sabe, ter a força do tio que nunca teve...

                - Isso doeu.

                - Desculpe.

                - Mas eu gosto. Gosto muito. E quero vê-lo.

                - Se eu te pedir para não se levantar não vai adiantar nada, não é?

Levantei a mão com um pouco de esforço e acariciei os seus cabelos.

                - Tem razão.

Jake voltou uns minutos depois com uma cadeira de rodas. Mas eu já estava de pé... Estava encarando o bebê mais lindo e ruivo do mundo: ela era pequenininha, com as bochechas rosadas e sinais de sardas no nariz. Olhei para aquele rostinho e tive certeza absoluta de como deveria ser seu nome.

                - Melissa.

                - Eu gosto deste.

Sorri. E recusei a cadeira.

Deu-me um casaco dele e me ajudou a caminhar até a ala do hospital onde meu Tristan estava. Jake contou que eu estava dormindo há quase uma semana e que estava com um medo dos infernos de que eu não acordasse. Ele até tentou brincar dizendo que se eu não acordasse e deixasse-o cuidando de dois recém nascidos ele mesmo usaria o desfibrilador pra me fazer voltar. Mas eu vi seus olhos se enchendo de lágrimas. 

Chegamos à sala que tinha uma janela grande de vidro onde vários pais olhavam seus bebês. Jake deu o nome para a enfermeira chefe que nos deu acesso à outra sala onde havia várias incubadoras. Havia alguns pais ali também, com os braços enfiados nas luvas plásticas cuidando das criancinhas. Jake me arrastou até um berço mais afastado e mostro-me nosso bebê.

No quesito beleza maior do mundo ele empatava com Melissa, mas era menor, bem menor e ao invés de rosinhas, suas bocheches estavam pálidas.  Comecei a chorar e me segurei em Jake, a cabeça em seu ombro.

Fiz uma promessa silenciosa naquele momento: prometi que faria o possível e o impossível para salvar meu bebê, que cuidaria dele e lhe protegeria para que ele crescesse forte e saudável junto com sua irmã.

Exatamente cinco meses depois dessa promessa eu estava de boca aberta encarando Melissa que tinha acabado de pedir que eu parasse de ler Bambi para eles dormirem.

                - O que você disse Mel?

Ela balançou a cabecinha, onde vários cachinhos louro-avermelhados despencavam, recusando-se a repetir.

                - Certo, estou enlouquecendo.

                - Lo-que-endo! Tri-tris!

Ainda de olhos arregalados levantei da poltrona, deixei o livro ali de qualquer jeito e sai correndo em direção ao escritório.

                - Jake? Jake, ai meu Deus! Ela está falando!

                - O que? Acho que não Calli... Você só está cansada e...

                - Não, não Jake! Ela está falando!

Peguei-o pela mão e sai puxando seu corpo pesado corredor afora até o quarto deles. Paramos escondidos no vão da porta e olhamos o quarto: Mel estava sentada, batendo com as mãozinhas na cama, o que seria normal tirando o fato de que ela era muito nova para ao menos se virar sozinha na hora da soneca!

                - Tri-tris! Loqueendo!

Olhei para Jake, como que o forçando a discordar de mim agora. Ele ficou tão chocado quanto eu, mas decidimos esperar mais alguns dias para ver se não era passageiro.

Dois dias depois estávamos no escritório: eu escrevendo, lendo, apagando e reescrevendo, e Jake contando e somando sei lá o que, quando ouvimos barulhos vindos do quarto de Mel e Tristan. Fomos até lá apenas para entrarmos em pânico.

Melissa estava de pé em seu berço, segurando nas grades e gesticulando para Tristan, que estava em pé do mesmo jeito que ela.

                - Tri-tris!

                - Mei-ssa!

Colocamo-los nas cadeirinhas e fomos visitar um médico.

Depois de vários testes, o médico nos contou que talvez Mel e Tris fossem gênios, mas que era preciso visitar um especialista. Em algumas semanas já tínhamos certeza disso.

Melissa falava tudo, Tristan repetia tudo. Ele estava maior que ela, mas não era motivo para ele mandar em algo.

Tudo o que Mel fazia Tris a imitava... E em algumas vezes fazia melhor que ela.

Eu estava na cozinha tentando convencê-los a comer enquanto discutiam comigo sobre o gosto da cenoura.

- Mamãe, “cenorinha”...

                - Tem gosto estranho.

Porque, ó Deus? Porque não consigo me acostumar com isso? São duas criancinhas, pequenininhas, que deveriam estar babando... Fazendo cocô, ou algo assim! E não discutindo comigo sobre o gosto da cenourinha!!! E o pior é essa mania de ficar completando o que o outro diz!

- Eu sei Mel... Vocês já me disseram isso semana passada. Só que precisam comer a “cenorinha”... Estamos entendidos?

Eles se entreolharam e Mel fez um aceno positivo para Tristan. Ela era a líder... O que me assustava muito mesmo, porque eu olhava para ela e via uma miniatura do seu pai: Jake era maquiavélico, Melissa iria se tornar maquiavélica. Tristan é mais parecido comigo: uma mini bagunça ambulante.

                - Vamos comer...

                - A “cenorinha” mamãe.

                - Ótimo.

Algo se enroscou nas minhas pernas e me abaixei para pegar Lotte. Ela estava maior... E mais gorda. O presente que Jake tinha me prometido antes de eu desmaiar alguns meses atrás era outro gatinho adotado... Um macho para fazer companhia a ela. Coloquei o nome do meu pai nele: Phillip.

                - Lotte, como estão as coisas?

Ela soltou um miado esganado e saquei o que ela queria: comida! Enchi sua tigela e a coloquei ao lado da mesa de jantar. Olhei para os três bebês da minha vida comendo juntos e comecei a entrar em pânico... De novo!

Phil apareceu e sentou-se aconchegado ao lado de Lotte. Sorri feito uma idiota e fiquei imaginando que eram mesmo meus pais ali. Ouvi um carro estacionar.

Jake.

Fiquei quieta esperando ele entrar. Ele fez a mesma coisa que faz todas às tardes quando chega em casa: abre a porta devagarzinho, bate os pés na soleira e grita:

                - Vizinha! Estou aqui. 

E eu apenas sorrio.

                - Estou na cozinha Jake.

Jake apareceu na porta da cozinha e eu perdi o fôlego por alguns segundos: como sempre ele estava assustadoramente bonito, o cabelo estava muito comprido porque ele mal tinha tempo de comer (imagina ir ao cabeleireiro?) e estava usando-o penteado para trás pra disfarçar, usava uma calça jeans escura com um blazer azul marinho. Como eu disse, estava lindo.

                - Como vai?

                - Estou bem. Quer comer?

Ele fez uma carinha triste e eu soube na hora que ele ia passar mais uma noite em algum jantar de negócios e quando chegasse ou eu estaria dormindo ou muito ocupada escrevendo. Não o via acordar e muito menos ir dormir.

                - Ah, certo... Hãm, como foi seu dia?

Virei de costas para ele e comecei a remexer em qualquer coisa para ele não ver que na verdade não estava nada bem. Droga, comecei a sentir saudade do Jake irresponsável.

Estava tão absorta no meu mundo que nem percebi ele se aproximar até colocar os braços ao meu redor, o queixo apoiado no meu ombro.

                - O que aconteceu Calli?

                - Acho que essa pergunta é estúpida. Você sabe tão bem quanto eu o que está acontecendo.

                - Eu sei. E se posso me defender, senhora azedume, o jantar que tenho hoje é com uma garota.

                - Isso não é bem uma defesa, é mais uma sentença de morte, Jake.

Ele riu e seu hálito quente fez minha pele se arrepiar.

                - Ah, mas a garota com quem eu vou jantar é incrível Calli.

                - Ah, jura?

                - Sim.

                - Então peça para ela vir aqui cuidar da sua casa e dos seus filhos e esperar você chegar toda noite enquanto esta fingindo que dorme para não chorar. Diz para ela vir e tentar não ficar triste por você nunca estar aqui. Quero ver quanto tempo ela aguenta.

                - Ela está aguentando muito bem até agora.

Ele beijou meu ouvido e me soltou. Olhei para trás a tempo de vê-lo beijar a cabeça de Mel e remexer nos cachos de Tris. Jake olhou para mim por cima dos ombros e vi que estava chateado comigo.

Vê se pode! Eu que deveria estar chateada!

Fui atrás dele. Não antes de limpar a boca dos bebês e encher seus copos com suquinho. Por favor, eles têm um ano e meio e já se alimentam sozinhos! Orgulho da mamãe.

Subi as escadas correndo.

                - Jake!

Encontrei-o parado no alto da escada.

Com uma caixa na mão, olhando apavorado para algo dentro dela.

Que foi jogada em cima da minha cabeça, me fazendo cair.

Acordei com uma voz familiar chamando meu nome.

                - Calli! Calli, ai meu Deus! Me desculpa, era outra aranha! Eu juro que não queria fazer isso de novo! Calli, por favor, abra os olhos!

Abri os olhos e encontrei íris listradas me encarando. Elas pairavam sobre a minha cabeça como se fossem apenas dois círculos flutuantes. Pouco a pouco comecei a ligá-las às órbitas, sobrancelhas, depois nariz e orelhas, até finalmente formar o rosto de Jake.

                - Oi.

                - Você está bem?

                - Acho que tenho algum repelente contra mortes terríveis em escadas.

                - Bom saber que a ironia não foi afetada.

Ele começou a se mexer e num impulso agarrei-lhe o pescoço e o beijei. Jake me segurou pela cintura e percebi que estava deitada na minha cama quando ele me puxou mais para cima e me afundei nos travesseiros. Apenas me segurei nele tentando erguer sua camiseta. Arfei quando ele beijou meu pescoço.

                - As... Crianças...

                - Estão dormindo.

                - Certo.

Nem me interessei em saber quanto tempo fiquei desacordada. Estava muito mais interessada em um Jake me prendendo pelos braços e costurando minha boca com beijos.

                - Não íamos jantar?

                - Isso pode esperar...

É, acho que pode.


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Notas finais do capítulo

Um segundo apenas para dizer que a gata que deu originou a Lotte morreu essa semana... Meu bebê está no céu dos animais =(

Só isso! Comentem à vontade, não vou mais ameaçar ninguém!
Beijos :-*



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