A Física Das Possibilidades escrita por Jessy Hell


Capítulo 5
Catulus Crinitus


Notas iniciais do capítulo

CATULUS CRINITUS significa "gatinho macio" em latim.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/325171/chapter/5

— Vamos Sheldon, vamos nos atrasar!

A voz de Leonard ecoou pelo apartamento, mas Sheldon fingiu não ouvir.

— Mas eu lavei! Não consigo achar minha camisa do Darth Vader! – Comenta Sheldon consigo mesmo.

Leonard senta no sofá novamente. Ele acha estranho o comportamento do amigo. Muito contrastante com o Sheldon “normal”. Ele nunca ligara para roupas. Com a higiene,sim. Mas não com combinações ou escolhas de camisetas.

Mas sorriu ao ver Sheldon saindo do quarto com a típica camisa do Flash. Estava emburrado, extremamente emburrado. Olhou para Leonard:

— Não consegui achar a minha camisa do Darth Vader. Terei que ir com esta.

— Você sempre gostou dela, qual o problema?

Sheldon corou muito.

— N-não queria que ela me visse com essa camisa... Não ainda...

Leonard riu.

— Mas você se encontrou com ela ontem com a camisa do Lanterna Verde. É a sua favorita, junto com essa.

— Mas ontem eu queria que ela me detestasse e me desse o quadrinho logo – Disse Sheldon, cruzando os braços.

— E hoje, qual a sua intenção? Causar admiração? – Riu Leonard, mas a risada morreu ao ver Sheldon colocando as mãos nos bolsos e abaixar a cabeça.

— S-sim... – Ele sussurrou – Mas após mostrar meu intelecto, ela não fará questão de roupas, não é? – Ele pergunta, confiante.

— Sim. Judy não parece se importar com roupas. Uma conversa deve funcionar melhor.

— Concordo. Já deixamos tudo pronto para os convidados e Raj ficara aqui para recebê-los?

— Sim, ele mandou um sms pra mim. Tá subindo as escadas – Fala Leonard pegando a chave do carro e abrindo a porta. Sheldon o segue.

— Tomara que não traga aquela cachorra dele. Se ela assustar o Einstein? – Comenta Sheldon, trancando a porta e descendo as escadas.

— Quem é Einstein? – A pergunta de Raj soa pelo corredor do térreo – Só não a trouxe porque ela está em tratamento na veterinária.

— Ótimo. Cuide do apartamento e nada de cozinhar, Raj. Já planejei tudo e não quero que os temperos da sua cultura acabem deixando Judy com um mau estar! – Disse Sheldon sem olhar para o homem, apenas seguindo em frente.

— Quando chegarmos, te explico – Responde Leonard ao olhar indagador do indiano – Esperaí Sheldon!

***

— Ai,ai,ai!

Judy reclamava de uma queimadura leve que levara ao terminar o chá. Optou por um de hortelã. Gostava desse e rezava para que Sheldon também gostasse. Achou uma burrice não ter perguntado sobre o gosto do físico.

O gato enroscou-se nas pernas da ruiva, fazendo-a cair com a bandeja. Sorte que ainda não tinha colocado nada nela.

— Ai Einstein! Me perdoa, por favor! – Disse ela no chão enquanto o felino se aproximava de seu rosto – A mamãe tá desastrada hoje. Machucou? Deixa eu ver – Disse a garota sentando-se e pegando o gato. Verificou as patinhas – Que bom, você está bem. Desculpe – Beijou-o, recebendo um ronronar em resposta.

— Ai, tô cheia de pelo! Cadê aquele rolinho de papel adesivo?! – Disse se assustando e levantando rápido.

***

— Oi Penny!

— E aí Bernadette? Howard?

Eles se encontram no corredor do prédio. Howard carregava um montes de dvd’s. a garçonete ia sair para comprar algumas bebidas.

— Você não vai à reunião que vai ter no apartamento? – Pergunta Bernie com sua vozinha esganiçada.

— Reunião? Não tô sabendo... – Responde a loira, curiosa.

— É, parece que o Sheldon quer nos apresentar pra uma garota, acredita? – Comenta Howard, batendo na porta com o pé – Juro que pensei que fosse uma pegadinha,sabe? Mas Leonard me jurou que é verdade.

— Ah tá, é uma ruiva baixinha e metida. Mas pensei que era zoeira dele. Convidou ela ontem pra ver um filme, o Leo me comentou. Mas que droga, por que ele não me disse? – Diz Penny, inconformada.

— Ah Penny, pode ser que ele tenha se esquecido – Bernie sorri – Mas como você namora o Leonard, não vejo problema de você entrar com a gente!

— É! Quem sabe dê tempo pra uma maratona de Indiana Jones? Trouxe todos os meus filmes – Fala Howard feliz – Que droga, Raj! Demorou muito pra abrir! Cadê o Sheldon e o Leonard?

Eles entram e Raj fecha a porta.

— Saíram pra buscar a tal nova amiga do Sheldon. Espero que não seja mais uma Amy... – Diz o indiano.

Penny sorri e pega o celular. Digita um sms:

Oi :D Vai rolar um cineminha na casa do Leo, quer vir? Bjs

Não ia deixar aquela ruiva entrar na turma.. Ainda mais que o seu namorado a achou bonita e teria que explicar direitinho por que não a tinha comunicado dessa reunião. Devia proteger o que era seu. Sentiu o celular vibrar:

Oi Penny. Sim, posso sim ir aí. Até.

A loira deu um sorriso enorme e guardou o celular, daria uma lição no Leonard por não falar nada pra ela e faria Sheldon perceber que aquela garota era uma péssima escolha. Bernie percebeu e comentou:

— O que houve? Você tá muito feliz pro meu gosto

— E isso é ruim? – Debocha Penny.

— É bizarro. Você só fica assim quando tá bêbada! – Comenta Howard da cozinha, para depois voltar a discutir com Raj por conta da filmografia de Harrison Ford.

— Me deixa, Howard. Tem algo pra beber aí?

— Só cerveja light – Responde Raj oferecendo uma lata. Penny olhou e deu de ombros.

— Tô tão feliz que nem me importo. Coloca pra gelar as outras – E virou a latinha de um só gole.

***

— Por sua culpa, estamos atrasados.

— Minha culpa? Você que ficou enrolando com o lance da camisa. E convenhamos, tanto faz. É só uma camisa, Sheldon.

— Já lhe disse que tinha achado esse assunto relevante na ocasião da situação. Precisa usar essa desculpa como justificativa do seu péssimo desempenho em me ajudar? – Ele responde ríspido e nervoso. Estava chegando ao prédio. Lembrava-se das ruas. Sua memória fotográfica não falhara.

Estou chegando. E se ela não quiser mais ir? E se ela se arrependeu? E se ela nem me receber? E se ela me achou patético e só aceitou por educação? E se...

— Desculpa? Ora, você que ficou uns vinte minutos nisso e o transito também não ajudou, ok? Quer saber? Vou relevar por que é só virar essa esquina aqui e... Sheldon?

Isso foi uma estupidez. Quero tanto vê-la e ao mesmo tempo não quero. Me sinto estranho. Minhas mãos suam... E estou gelado. AI, que dor no estomago!

Cooper olhava para frente com um olhar distante e estava ficando pálido. Leonard freou suavemente. Sacudiu o amigo.

— Sheldon, tô falando com você!

— Estou enjoado.

Não consigo mais...

— Quê?

— Eu vou... Eu...

Sheldon abriu a porta do carro, colocou a cabeça pra fora e desandou a vomitar. Leonard não sabia o que fazer.

— Jesus, Sheldon! O que houve?!

Sheldon respirou fundo e segurou a barriga.

— Está doendo. Faça parar... Minhas mãos...

Estou nervoso! Extremamente nervoso. Socorro.

Sheldon suava frio e tremia levemente. Leonard tocou nas mãos do amigo e se assustou com o fato delas estarem geladas. Muito geladas e suadas.

— Nossa! Vamos logo na Judy, ela é médica! Saberá o que fazer! – Disse Leonard ajudando o amigo a se sentar novamente e colocar o cinto. Sheldon só balançava a cabeça.

— N-Não... Ela não. Não pode... Me ver assim...

Por favor Leonard! Não deixe que ela me veja assim! Tão... Deplorável!

— Fica quieto, você não tá falando coisa com coisa! – Leonard fechou a porta e dirigiu para frente do prédio da garota...

***

O interfone toca e Judy atende:

— Pronto?

— Judy, aquele cara compridão e o cara baixinho de ontem estão aqui no saguão. Posso deixar subir? – Diz Stu. Judy pode ouvir Sheldon reclamar – Cara, o esticado parece que tá mal...

— Quê? Ajuda eles a subirem, Stu! Por favor! – Judy ainda ouviu mais reclamações e exigências de Sheldon, falando para o porteiro tirar as mãos dele e Leonard dizendo que baixinho era a avó.

— Ai meu Deus! – Judy se assusta com as batidas na porta. Corre pra ela e escancara. Stu traz Sheldon carregado, sendo seguido pro Leonard.

— Ele tá com essa cara de papel aí – Comenta o porteiro, deixando Sheldon no sofá – Mó fracote e...

— Obrigada Stu! – Diz a ruiva o conduzindo a porta. Não ia agüentar ofensas a Sheldon. E não ia suportar cantadas do moreno nessa situação. Fecha a porta e vira-se pra Leonard:

— O que houve? – Ela pergunta. Sheldon estava deitado e suava muito.

— Não sei. Do nada ele ficou branco e vomitou! – Assusta-se o físico.

— Sheldon? Querido, o que houve? – Ela senta no chão, perto dele. Afastou o cabelo que havia grudado na testa por causa do suor. Sheldon tremeu com o toque e ficou mais pálido.

— Ele está quente! É uma crise nervosa e das bravas! Leonard, tem um termômetro na cozinha, pode pegar pra mim?

Leonard vai para a cozinha, procurando no guarda louças. Sheldon ainda tremia e balbuciava coisas.

— D-Des-Desculpe... Por... Isso...

Oh Judy, me perdoe. Não queria que me visse assim. Nesse estado deplorável de fraqueza... Até seu porteiro riu de mim. Me carregou como se eu fosse um pedaço de trapo. Oh, não sou nada perto dele.

— Para Sheldon! Você não precisa pedir desculpas! Você só passou mal... – Ela disse acariciando o rosto dele. Sheldon ficou vermelho.

Seu toque... Seu calor. Sua mão é tão macia... Ah, já entendi porque estou assim! Judy... Eu...

— Vou vomitar de novo! – Ele avisou. Judy o ajudou a sentar e pegou o lixeiro. Mas nada veio. Leonard chegou com o termômetro.

— Sheldon, você tá nervoso e por isso tá assim, meu bem. Se acalma! – Recomendou Judy, visivelmente preocupada. Sheldon sussurrou algo que ninguém ouviu.

— Há algo que o acalme? Tenho alguns calmantes, mas não quero dar pra ele ainda... Vai o deixar sonolento e ele precisaria dormir aqui. Só posso usar em caso grave de ataque de nervos... – Diz Judy se sentando ao lado do físico. Sheldon pode sentir um perfume leve e doce. Seus tremores voltaram.

— Ele... Ele se acalma quando cantam “gatinho macio” pra ele... – Comenta Leonard, aflito. Ele se senta na poltrona da pequena sala.

— Gatinho Macio? – Indaga Judy.

Não Leonard! Tudo, menos isso. Por favor. Não fale disso pra ela!

— É assim: “Gatinho macio, gatinho quentinho, bolinha de pelooo. Gatinho feliz, gatinho dorminhoco. Miau,miau,miau” – Canta Leonard. Sheldon solta uma lágrima de vergonha.

Oh não, o que ela vai pensar de mim?

Judy deitou-se no sofá, fazendo Sheldon deitar-se em seu colo. Ele se assustou com o ato mas nada fez. Estava se sentindo mole com o contato. Pos o termômetro debaixo do braço do físico, enquanto acariciava seu cabelo. Sheldon respirava acelerado e fechou os olhos.

Aaaah, ela é tão... Quentinha... E me deixa...

— Gatinho macio, gatinho quentinho... Bolinha de pelo...

Ele abriu os olhos e a viu sorrindo enquanto cantava. Aquilo foi acalmando Sheldon. O deixando mais relaxado. Aninhou-se na ruiva, deixando Leonard assustado e fazendo-o sorrir.

— Gatinho Feliz, gatinho dorminhoco. Miau,miau,miau... – Ela sussurrou e viu a temperatura. Sheldon acompanhou o olhar.

— Não está com febre. E posso sentir que o coração não está tão acelerado. Desculpe se não canto bem...

— Pode cantar de novo? – Ele pediu. Judy o abraçou.

— Sim, claro que posso – E cantou de novo. Sheldon sabia que “gatinho macio” era cantado quando estava doente. Mas era contraditório que o motivo da sua “doença” cantasse isso pra ele. E com ela cantando, Gatinho Macio atingiu um tom diferente. Não parecia puro. Aquele sussurro que ela fazia no miado final o atiçava. O deixava animado... O excitava. Era essa a sensação. O excitava como um filme novo, uma equação, como lego.

Não... É algo diferente. Eu... OH CÉUS! Agora entendo aqueles livros que Leonard me deu... Sobre... A reprodução humana. Estou... Ereto!

— Pare – Ele disse. Judy atendeu.

— Desculpe se... – Ela começou mas ele levantou a mão.

— Leonard, pode sair? Preciso conversar com a Srta. Winters.

Leonard foi pego de surpresa. Nunca tinha visto Sheldon tão bonitinho enquanto ela cantava e do nada ele voltara ao Sheldon de antes.

— Sim, posso sair. Judy, ele está bem?

— Sim. Só foi um mal estar. Não é? – Ela olha pra Sheldon, que se sentava no sofá. Ele nada disse.

— Ok, vou esperar lá fora – Leonard saiu.

— Judy, preciso confessar o motivo de minha súbita fraqueza.

Judy se sentou ao lado de Sheldon. Ele não se moveu.

— Estava nervoso. Como nunca fiquei. Pensava que você não iria mais conosco. Comigo. Que tinha sido só gentil e que não tinha interesse verdadeiro.

Ela se assustou levemente. Ela tocou de leve em sua mão.

— Oh Sheldon, me perdoe. Não queria que passasse mal por minha causa.

— Está tudo bem. Agora que vi que você se preocupa comigo, não vejo motivo para nervosismos. Me perdoe pelo trabalho.

— Não foi trabalho nenhum. Fiquei aflita em te ver daquele jeito.

Silencio. Ele segurou a mão dela de volta.

— Só peço paciência. Meu jeito de ser pode a assustar. Ou constrangê-la... Ou envergonhá-la...

Ela o silenciou com o dedo indicador em seus lábios.

— Quero te conhecer melhor, Sheldon. EU o acho fascinante.

— Mas eu sou. Quero dizer... Desculpe! Argh, estou confuso. Extremamente confuso. Sinto coisas e penso coisas que não tenho domínio. E você faz isso. Mas não quero me afastar de você, mas tenho medo de nos aproximarmos e acabar te magoando... Não sou uma pessoa fácil de se viver e sinto que estou mudando a cada segundo que passo ao seu lado!

Ela nada disse. Só correspondeu com o olhar. Ele se levanta e começa a discursar.

— Não sentia coisas, entende? Tinha e tenho um certo bloqueio a emoções e sentimentos. Sou bruto às vezes. Me chamam de arrogante... Mas não tenho culpa se a humanidade é tão ridícula! Não tenho culpa se sou inteligente. Um gênio! Mas era totalmente leigo em emoções... E... Quando você surgiu...

Ela se levantou e o abraçou. Lágrimas correram em seu rosto.

— Eu comecei a perceber e sentir coisas novas. Intensas. É tudo novo para mim. E isso só com dois dias de convívio.

— Eu te entendo, Sheldon – Ela levantou o olhar – E podemos entender melhor juntos.

Ele a encarou.

— Pode ser demorado. Um aprendizado árduo.

Ela sorriu. Ele suspirou fundo.

— Somos gênios, Sheldon. Isso será moleza.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!