Mais Do Que Você Imagina escrita por RoBerTA


Capítulo 28
Talvez fosse apenas uma ilusão


Notas iniciais do capítulo

Dedico esse capítulo à Mary Rios pela recomendação perfeita, e àquelas que deixaram reviews motivadores. São leitores assim que te dão motivos para continuar escrevendo. Obrigado.
PS: responderei assim que puder os reviews atrasados e MP.



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POV Eric

O tumulto foi estupendo. Fui separado de minha Chris precocemente, enquanto cada vez mais pessoas se aglomeravam ao seu redor. Pareciam genuinamente preocupados. Entreolhavam-se como quem compartilha um segredo silenciosamente.

Permaneci estagnado. Uma mão em meu ombro surgiu ao mesmo passo em que Christina sumia do alcance de meu olhar.

– Cadê minha filha? Cadê?!

O pai dela apertava meu ombro sem a consciência de que estava me machucando. Sua esposa tocou-o levemente, tentando eliminar aquela fúria felina.

– Meu amor, está machucando ele. Largue-o.

Senti um alívio imediato no instante que meu ombro ficou livre daquela pressão dolorosa.

– Levaram ela para aquele lugar. - Apontei com o indicador.

Eles assentem veemente e correm em direção à recepção. Um pensamento rasteja pela minha mente, e é tão repentino e agradável que quase desabo rumo ao chão. Ela está segura, finalmente. Eu fiz isso.

Resgatei minha princesa das garras daquele monstro.

POV Calli

A vida é uma merda.

E quando você pensa nesse fato tão interessante, tudo piora e ela se transforma em uma latrina. Sim, me sinto um excremento nesse exato momento.

Coloco a cabeça entre os joelhos. Dizem as más línguas que essa ação melhora as náuseas. Depois de sentir tanta dor e desespero, agora sou tomada por puro desgosto e um humor ácido que lambe minhas feridas e as cicatrizam superficialmente.

Quero esmurrar a parede em minha frente até derrubá-la. Seria perfeito se ela caísse na cabeça daquele bastardo. Ou então aquelas partículas de poeira originadas do incidente poderiam adentrar os pulmões do infeliz e causar um câncer maligno de grandes proporções, onde ele começaria a derreter lenta e dolorosamente.

Amei a ideia.

– Callilda?

– Hum? Falou comigo?

– Sim, eu perguntei se você poderia me acompanhar até a sala de interrogatório. Era aquele policial que havia visto mais cedo.

– O que, acha que eu sou algum tipo de assassina psicótica em potencial? – Bem que eu queria ser. Sua sobrancelha ergueu-se, como se eu fosse uma criança que disse algo engraçado e estranho. Parecia divertido em meio a minha desgraça.

Idiota.

– Você é? – Era obvio que ele não estava me levando a sério.

– Veremos. – Tentei erguer minhas sobrancelhas também, só que de um modo ameaçador. Fracasso total.

– Callilda! – Minha mãe me repreendeu. Ela estava com um lenço todo molhado devido às suas lágrimas. Sempre fora uma mulher sensível, e aquela pequena discussão em "família" não lhe fizera nada bem. John agora consolava sua própria mãe, enquanto que o bastardinho ficou longe de todo mundo, com seu ar de arrogância e superioridade. Levantei.

– Não fique espantada, minha cara, Callilda sempre foi uma jovem rebelde sem futuro.

Dessa vez não dei tempo a John. O homem se defendia como podia da minha ira. Senti a policial idiota atrás de mim tentando me conter. Passou os braços ao meu redor, e senti seus músculos contra minhas costas.

– Se você não se controlar, terei que tomar medidas drásticas. Garanto que não gostará nem um pouquinho.

Fiquei quieta no mesmo momento, mas extremamente contente ao ver marcas de unhas contra aquela pele velha e nojenta.

– Sua vaquinha!

Mamãe ofegou, mas nada disse. Quatro pares de olhos fuzilavam ele. O homem me largou, e chamou alguns colegas de trabalho para tomarem conta do restante até que ele voltasse. Segui-o cabisbaixa, até que entramos em uma sala quase fazia, se não fossem a mesa retangular de madeira escura acompanhada de três cadeiras metálicas.

Sentei-me a sua frente.

– Meu nome é Leonardo, e o seu?

– Callilda, mas você já sabia disso. – Analisei-o melhor, de cima a baixo. – Você não é muito novo para ser um policial?

De novo aquela sobrancelha. Por estarmos mais perto percebi uma pequena cicatriz em sua curva, provavelmente proveniente de uma facada.

– Tudo bem, façamos assim, você me conta o que aconteceu e eu te libero, que tal?

Descasco o esmalte com os dentes. Ele aguarda pacientemente.

– O que você já sabe? - Sou direta, e ele parece gostar disso.

– O rapaz bateu no pai dele, certo?

– Meu pai também. Nosso pai. A gente não sabia disso, eu juro. – Algumas lágrimas intrusas deslizam. Leonardo fica inquieto, estranhamente incomodado.

– Continue.

– Estávamos quase namorando. – Não preciso dizer o resto, apenas abaixo a cabeça. – Hoje, na casa de John, vi uma fotografia. Reconheci o meu 'pai' - não pude disfarçar a amargura em minha voz - nela, um pouco mais velho. Saí correndo, desesperada, e acabei tropeçando naquele monstro, literalmente. John descobriu junto comigo a verdade, e após nosso progenitor insultar a gente ele agrediu sim o bastardo. Mas você não pode culpá-lo, teria feito o mesmo no lugar dele. – Levanto o rosto, e vejo um homem ponderando.

– Muito bem, creio ser o bastante.

– Vai me liberar agora? – Pergunto em um tom irônico.

– Infelizmente não posso, mas se pudesse, deixaria sim você ir para casa. Agora queira me acompanhar, preciso pegar o depoimento dos outros também. Levantei e fui trás dele.

– Espere, – digo, e ele para – por que eu fui a primeira a ser chamada, e como você sabia meu nome?

– Senhorita, você está com algumas multas atrasadas.

– O quê? – Passei de excremento comum a excremento confuso.

– Seu veículo é algo difícil de esquecer. Talvez você deva tirar alguns adesivos para poder identificar as multas. Ou tirarão ele de você. – E terminou seu discurso estranho com uma piscadela bem humorada.

Talvez a latrina possa se transformar em algo muito pior.

POV Eric

Sentado nessa cadeira dura, fico esperando. Quero ser paciente, mas a impaciência me corrói por dentro. Estou aqui a um tempão, sem receber notícia alguma. Adquiro um hábito que nunca possuí. Rôo as unhas. Quase posso ouvi-las reclamando. Danem-se elas.

– Eric?

– Eu!

Levanto em um pulo, e a enfermeira que me chamou parece surpresa comigo.

– Os pais da paciente internada mais cedo pediram para lhe chamar. Finalmente. Depois de horas esperando sentado algo aconteceu.

Levantei-me e a segui. Entramos em um quarto de hospital com paredes brancas e mobília clara e escassa. Lá estavam os Mason, ao lado de sua filha dormindo. Aproximei-me sem ser chamado.

Senti uma tristeza absurda ao vê-la assim, tão serena com aquelas contusões em seu rosto tão perfeito.

Anjo, o que aquele monstro fez com você?

Cheguei mais perto dela, sem fazer ruído algum, mesmo sem saber o porquê. Peguei sua mão também machucada. Meu coração começou a acelerar enquanto seus olhos se mexiam. Lutavam para serem abertos. A sensação era de que todos no quarto prenderam a respiração, inclusive eu.

Seus grandes olhos dourados grudaram em mim, parecendo assustados.

– Onde estou?

– No hospital, meu amor. Está a salvo, não precisa mais se preocupar.

– O que está dizendo? Por que estou em um hospital? – Seus olhos diminuíram, achei que estava com alguma dor, mas era um estreitamento desconfiado. Christina era um bicho teimoso, mesmo naquele estado. – Por que diabos me chamou de "meu amor"?

Agora todos passaram do contentamento para o choque. Entreolhavam-se, sem saber o que estava acontecendo. Uma das duas enfermeiras desapareceu.

– Chris, o que foi?

Ela tenta se levantar, mas acaba gemendo de dor e cai de volta na cama, com os olhos apertados. Puxa sua mão da minha, como se eu fosse portador de alguma doença maligna.

Tento ignorar essa mágoa que me apunhala pelas costas.

Saio do quarto, e fecho a porta atrás de mim. Nesse momento a enfermeira volta com um médico. Escorrego pela parede e afundo no chão. Após alguns segundos, seus pais se juntam a mim. Ficamos em silêncio. Esperamos. O médico sai por aquela porta com uma expressão nada boa.

– Christina está com seu calendário quase um mês atrasado.

Nossas expressões devem estar confusas, pois ele se apressa em complementar:

– Ela está com Amnésia Psicogênica. – Continuamos com cara de paisagem, e ele suspira. – Christina perdeu as memórias referentes ao último mês inteiro. É um jeito de ela bloquear seu sofrimento enquanto sequestrada, além da batida forte que levou na cabeça. A boa notícia é que...

A mãe de Chris desaba, desmaiada, e seu marido a socorre imediatamente. Ouço e não ouço o médico gritar por ajuda.

Nesse momento reflito. Se eu bater minha cabeça com força suficiente contra a parede, será que esqueço minha vida inteira?

Será que esqueço meu amor por ela?

Se foi tão fácil ela esquecer nossos bons momentos juntos, talvez tudo não se passasse de uma ilusão.

Quem sabe nós apenas chamamos de amor aquilo que não sabíamos identificar.


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