Mais Do Que Você Imagina escrita por RoBerTA


Capítulo 29
Decepções amorosas


Notas iniciais do capítulo

Ooooi! Então, estive olhando os comentários antigos, e percebi que vários ficaram sem resposta, daquela época que fiquei ausente. Peço desculpas, e se algum dia tiver um tempinho sobrando, os colocarei em dia.
Dedico esse capítulo à Liz Crystal pela recomendação perfeita :)
Boa leitura!



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POV Calli

Depois de um tempo absurdo, todos foram interrogados.

Nada aconteceria a Steve, pois ele e mamãe nunca foram casados. Não era a primeira vez que um homem trocava uma mulher por outra. E não seria a última.

No fim, John era menor de idade e filho de seu pai. Ele não seria detido. Desconfio que haja um dedo do tal Leonardo nessa história, mas não seria eu a me queixar.

Mamãe passou um braço ao meu redor, tentando me reconfortar. John estava perto de sua mãe, e não ousava me olhar nos olhos.

Já Steve, estava sozinho, como haveria de ser. Sozinho e mal amado. Sozinho e desamparado.

Eu jamais sentiria pena dele.

Saímos por primeiro, acompanhadas por aquele policial estranho.

– Senhora, você tem como voltar para casa? – Ele parecia preocupado, e ficava fofo desse jeito.

– Obrigada, mas nós moramos perto, cinco minutos a pé. – Sua voz não continha emoção, e seu rosto parecia uma paisagem desértica.

Ele assentiu e voltou para dentro da delegacia. Continuamos caminhando em silêncio, reconfortando uma a outra. Nesses momentos eu agradecia a Deus por ter uma mãe como a minha. Chegamos a nossa casa, e quando passei pela porta fui recebida por Aslan. Ele ficou se esfregando na minha perna pedindo colo. Fiz o que o gatinho queria.

Quando o peguei, recebi lambidinhas carinhosas. Aslan sempre sabia quando eu estava triste.

Fui direto para o sofá. Logo em breve mamãe viria pedir o que aconteceu de forma detalhada. Foi só uma questão de minutos.

Ajoelhou-se a minha frente, e com uma voz terna que me trouxa lágrimas a tona perguntou:

– Minha pequena Calli, me conte o que aconteceu. – E apertou minha mãe, dando-me forças. Desatei a chorar e contar todos os meus demônios a ela.

POV Chris

Todo o meu corpo doía. E eu sequer fazia ideia do motivo.

Estava sozinha, sem nenhuma enfermeira prestativa pedindo se eu precisava de algo. Preferia assim, estava farta de perguntas idiotas.

Não, eu não estava bem, e queria pendurar uma placa na minha testa escrito isso.

Fechei os olhos com força. Dormir era meu melhor remédio, mas até disso eu já havia cansado. Era o aniversário do meu irmão, e eu precisava lhe dar os parabéns, mas ninguém havia levado essa minha necessidade a sério.

Naquele momento a porta foi aberta por um rapaz de olhar triste.

– Ei.

– O que você quer, Eric?

Todo vez que eu pensava nele tinha vontade de chorar. Sentia uma dor esmagadora, sem saber por que.

Ele se aproxima com passos lentos. Tira algo do bolso de seu casaco.

– Trouxe isso para nós.

Mostra-me pães de queijo e ketchup em um potinho.

Quero chorar ainda mais agora.

– Não posso comer isso. Se o médico souber das suas intenções te mata.

– Você precisa ficar feliz, Chris.

Viro o rosto em direção contrária a sua. – Por favor, vá embora.

Ele hesita, permanece olhando para mim como se eu fosse mudar de ideia. Continuo olhando para a janela, até ouvir a porta se fechar.

Estou sozinha novamente.

Choro. Sem saber o porquê e o pra quê.

O tempo passa sem eu perceber. Meus pais reaparecem, com Jimmy com eles.

– Feliz aniversário, maninho. – Dou um sorriso fraco, que se dissolve ao ver sua expressão confusa.

– Mas hoje não é meu aniv... – Mamãe o cutuca, fazendo-o calar a boca.

– Filha, - papai chega mais perto – Callilda está aqui de fora, e quer te ver. Tudo bem?

Assinto veemente. Eles ficam mais alguns minutos comigo, perguntando se está tudo bem, até que eu peço para ver Calli. Se ficaram magoados, não noto.

Ele entra no quarto após eles saírem. A primeira coisa que olho é seu cabelo.

Loiro, quase prateado de tão claro. Está despenteado, voltado para todos os lados possíveis. Fazia anos que eu não via a cor natural de seus fios. Sua expressão estava séria, coisa inédita. Talvez eu não fosse a única em uma péssima situação.

– Oi, Chris. Fiquei preocupada com você. – Ela era minha melhor amiga, era óbvio que ficara preocupada comigo, mas seus pensamentos pareciam em outra dimensão.

– O que aconteceu, Calli? Você sabe que pode contar comigo para tudo.

Seu sorriso era triste.

– Me apaixonei pelo cara errado. Pelo meio-irmão que eu nem sabia ter até anteontem.

Fiquei quieta. Não sabia o que dizer. Se o que me disse era verdade, deveria ser horrível estar na pele da Calli naquele momento.

Eu tinha feridas externas e dolorosas, e tinha as internas e dolorosas. Sempre combinamos do avesso.

– Quem?

– Pelo John.

Ficamos sem falar nada, apenas ouvindo o barulho da nossa respiração. Pobre Calli, ela parecia ter ganhado um banho de realidade. Seus traços estavam mais duros, mas isso não a impedia de parecer com uma elfa dos contos de fadas. Não é só o tempo que nos faz amadurecer, mas acontecimentos como esse também. Depois de certas coisas, você não é mais a mesma.

Eu sei que não sou a mesma Chris, só não sei o porquê ainda.

Ela acaricia minha mão, aquela que recebe o soro.

– Por que o Eric estava comendo pastel com ketchup num banco na frente do hospital?

Sua pergunta me pega de surpresa.

– Por que eu deveria saber? – Devolvo ríspida demais.

Ela me olha com pena.

– Será que você não aprendeu nada sobre a vida?

Fico sem palavras, e sou salva pelo médico que entra com meus pais. Calli olha para eles.

– Devo sair?

– Não, minha querida – meu pai é quem responde – você também precisa saber.

Fico com um leve toque de medo quando aquele médico careca me olha de forma firme e séria.

– Tem algo que você precisa saber.

POV Eric

Depois de tudo pelo que passei, tive que voltar a escola, como se nada tivesse acontecido.

Sentado em uma classe qualquer, reavendo tudo aquilo que eu costumava acreditar com tanto afinco.

Observo Callilda entrar na sala. Ela anda estranha ultimamente, mais que o habitual. Não me lembrava da última vez que a havia visto sem algo chamativo e colorido na cabeça. Talvez tivesse finalmente criado juízo. Ela sentou do outro lado da sala, o mais distante possível de John. Algo havia acontecido entre eles, isso era óbvio.

Volto a minha atenção para o desenho que eu havia começado na minha classe. Era uma espécie da formiga alienígena.

De repente todo o barulho na sala cessa, enquanto eu estou fazendo a perninha da formiga. Levanto o rosto do meu desenho, e o que vejo me deixa sem ar.

Christina Mason, parada em frente a porta, como diversos olhares voltados para ela.

Está olhando para mim, e eu não consigo controlar aquelas borboletinhas malvadas no meu estômago.

Observo ela caminhar até sua mesa vazia. Os hematomas são imperceptíveis, provavelmente alguma maquiagem está envolvida no caso.

Não consigo desviar meu olhar dela, enquanto o silêncio se quebra e as pessoas voltam a falar entre si, esquecendo completamente da Chris. Quero ir até ela e lhe afagar a face, mas luto contra esse sentimento. Sufoco-o.

O professor Borges entra na sala, e para assim que vê Christina. Não demora a se recuperar.

– Seja bem-vinda, senhorita Mason. Meus mais sinceros votos de melhora. E não se esqueça que tem detenção à tarde.

Ela concorda com a cabeça, sem se abalar.

A aula passa num piscar de olhos, entre cálculos, conversas paralelas e um Borges vermelho de cólera. Ele sai da sala assim que soa o sinal para o próximo período, reclamando sobre a vida e por ter que dar aula a piralhos inconsequentes e mal educados.

Nossa próxima aula é informática. Coloco os materiais debaixo da classe e vou com o restante da turma em direção ao laboratório de informática, mas paro no meio do caminho quando noto a ausência de Christina.

Volto para a sala, e paro na porta.

Vejo-a aos beijos com James.

Saio correndo, não posso aguentar nem um minuto a mais disso.

Queria poder arrancar meu coração do peito e jogá-lo em uma lata de lixo qualquer.

Sento no chão, ao lado da escola. O pátio está vazio, exceto por mim, obviamente. Vejo Calli sair da escola, com uma mochila jogada por cima do ombro de forma desleixada. Ela olha para os dois lados e então atravessa a rua, de forma apressada. Observo-a até que suma da minha visão.

Estou sozinho novamente.


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