Mais Do Que Você Imagina escrita por RoBerTA


Capítulo 23
Sofás são úteis


Notas iniciais do capítulo

Dedico esse capítulo à Laly, pelo divástica recomendação, igual a ela ^^ (já vou responder teu super-review, ok Lalynda?)
E obrigada pelos reviews gente linda :3
BjxxxX



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POV Eric

O grito me encheu de uma fúria cega. Empurrei-o, sem me preocupar com as consequências, e adentrei a casa de aspecto desleixado. O lugar era mal iluminado, e tinha um leve odor de mofo. Sabia que eles não moravam ali, e que a casa tinha serventia profissional. Já havia ido ali antes, mas me limitei ao espaço maior, cuja mobília se fazia quase inexistente.

Olhei ao meu redor, e havia apenas uma porta no recinto. Porta de madeira, cor de pesadelo. Respirei fundo, e parti em direção a ela. Prestes a abri-la, senti braços me envolverem.

– Calminha aí, você não vai entrar aí não... - A voz gutural do homem que me apertava contra si foi apenas detalhe. Quando mais um grito se fez ouvir, vindo detrás da porta de madeira, juntei forças suficientes para me soltar dele, acertando um chute forte em sua perna, que o fez me libertar imediatamente.

Corri rumo à porta, mal tendo tempo em respirar direito.

Era um cômodo pequeno, mal iluminado, que se mostrava pertencer ao restante da casa. No centro dele, havia um sofá de aspecto velho, maltratado pelo tempo. À sua frente uma televisão descansava, e era tão antiga, que eu me indagava se ela ainda funcionava.

Mas o mais intrigante de tudo, fora os diversos quadros bregas que exibiam vacas pastando e cavalos galopando, era a mulher que se encontrava sentada no sofá, bem no centro do cômodo.

Não era a Christina, e nem daqui de dez reencarnações viria a ser.

Os cabelos lhe caiam na testa, ocultando parte de sua face, em uma cortina castanha clara. O corpo não era invejável, por assim dizer. A mulher parecia cansada, e também parecia estar suando.

E estava se depilando.

Uma perna permanecia esticada no sofá, metade dela coberta por uma cera em tom de caramelo. A tão falada e temível depilação. Se for tudo o que as mulheres diziam ser, os gritos são devidamente justificados.

A pessoa me encarou, eu a encarei, então sua boca se abriu, dando espaço a um novo grito, não de dor, mas de surpresa.

Senti uma mão pesada me agarrar pelo cangote, e então fui impelido a atravessar toda casa sendo empurrado. Quando na porta, ele simplesmente me atirou em direção à rua. Por pouco não caí de cara no chão.

Mesmo assim, consegui me virar para ele, com o pouco de dignidade que me restara.

– Onde ela está? Responda-me! Onde vocês levaram a Christina?!

Seus olhos me fitavam com uma falta de expressão mórbida.

– Não sei do que você está falando.

Entrou na casa, e me deixou estagnado, sem ação. Ele mentira, não havia outra opção. Óbvio que sabia de algo. Certo?

Era pouco provável que a levassem aí, um lugar que eu conhecia. Como não me toque disso antes?

Mas não importasse onde ela estivesse, eu iria encontrá-la. E então, nunca mais me separaria dela.


Pov Adelina


O dia é algo espetacular. Na verdade, a vida é algo espetacular. Melhor ainda, meu namorado é algo espetacular.

Suspiro, tão feliz que seria capaz de em um pulo tocar o céu. Só espero que não tenha tempestade nesse momento... Sabe, né, choques não são minha praia.

– Adelina, você pode me fazer um favor? - Ouço minha vó me chamar da sala, onde se encontra estirada no sofá, assistindo um programa de culinária.

– Diga. - Paro diante do sofá, e estreito os olhos para ela. A véia safada, aproveitou o calor, e colocou um top com estampas de tigrada, em tons rosa cegarei-te e amarelo-já-te-ceguei. Triste realidade.

– Você pode passar no mercado e...

– Meus Deus. - Meu pai entra na sala de forma repentina. - A Christina sumiu.

Absorvemos a informação em silêncio.

– Como assim sumiu? Não, não pode. Ela deve ter ido à casa de algum namoradinho e perdeu a hora.

– Mamãe! - Papai exclama exaltado. – Não é hora de piadinhas!

Vovó levanta os olhos, na direção dele, e ergue uma sobrancelha branca.

– E quem disse que foi uma piada?

Ele balança a cabeça, incrédulo, e resolve ignorá-la. Vira-se para mim.

– Adelina, você tem ideia de onde ela possa estar?

Nego com a cabeça, e me sinto a deriva, como geralmente ficamos ao recebermos notícias do gênero.

Nessa hora, Rafael resolve dar as caras. Como de costume, ele não bate à porta, apenas vai entrando.

– Oi minha gata. – Chega perto de mim, e me abraça apertado, dando um beijo rápido nos meus lábios.

– Olá senhor, - inclina a cabeça para meu pai, e então olha para vovó, - Terezinha, a senhora está magnífica. Hnm, tops, eles me lembram de coisas...

Esse último comentário é dirigido a mim, acompanhado de um olhar sapeca. Sinto-me quente, de repente, e esqueço-me da minha prima, e o fato de meu pai estar nos observando de olhos semicerrados. Rafael causa isso em mim, me faz esquecer coisas.

Jesus, me abana.

Ouço papai limpar a garganta, em uma tentativa de chamar atenção.

– Oi? – Digo estupidamente. Ouço Rafael rir baixinho, uma risada rouca e gostosa que acaricia meu pescoço, e traz consigo inimagináveis arrepios. Ai, que vontade de morder esse garoto...

– Adelina, será que você pode prestar atenção em mim? Sua prima sumiu.

Sinto Rafael ficar rígido, e seu sorriso some.

– Quando ela desapareceu? – Sua voz está séria.

– Hoje de manhã, encontraram o quarto dela vazio.

Meu namorado começa a balançar a cabeça, como se estivesse tentando se livrar de algo que o estava incomodando.

– Mas eu a vi ontem!

Com esse comentário, sou eu quem semicerra os olhos. Não sei porque, mas estou sentindo um pequeno ciúmes... E ah, quando sou eu que estou com ciúmes, ninguém vai me querer por perto. Quando ele vê e interpreta minha expressão, logo se apressa em complementar:

– Eu a vi em um barzinho ontem à noite, e nem cheguei a falar com ela! – Ergue as mãos como que se para provar algo.

– E o que você foi fazer lá? – Sinto minha voz subir algumas oitavas. Ele arregala os olhos, percebendo seu erro. Lança um olhar de “me ajude” para papai e vovó, mas ambos apenas encolhem os ombros, como se dissessem “arranjou sarna pra se coçar, agora se vira, filho”.

– Eu fui com alguns amigos, porque eles insistiram. O Leonardo estava de aniversário, mas só por isso!

Estreitei tanto os olhos, que mal o enxergava, via apenas o leve contorno de seu corpo bem definido. E que corpo... Espera, eu estou braba com ele, não posso ficar elogiando-o assim, se bem que, ele nem está ouvindo...

Adelina!

– Aham, amigos, estou sabendo. – Cara de assassina. – E onde fica esse tal lugar?

Ele se encolhe.

– Adeli...

– Onde?

– Perto da minha casa.

– Vamos, - digo – depois a gente conversa. – Acrescento em um tom mais baixo, para ele.

Vovó fica em casa, já eu, o Rafa e papai vamos para o tal bar. Em todo o trajeto o Rafinha permanece de cabeça baixa, com cara de cachorrinho chutado. Rio internamente.


Pov Calli

Pisco, um pouco zonza. Demora um tempo para que eu ajuste minha visão. Estou em casa, deitada de bruços na minha cama, milagrosamente arrumada.

Quando saio da mesma, cambaleio um pouco, e quase desabo no chão, mas me agarro na cabeceira, e fecho os olhos com força, até a tontura passar.

Olho pela janela, e vejo um final do dia que se aproxima. Estreito os olhos. Impossível... Havia saído de casa ainda de manhã...

As lembranças voltam de uma vez só, e me atingem como uma flecha. Ney...

Olho meu pulso, e lá estão, as marcas de unhas. Isto é, as marcas de unhas encobertas por curativos. Será que foi John...? Um calor sobe pelo meu peito, quando o imagino limpando meus machucados, e logo após os cobrindo com algodão.

Vou tateando pelas paredes, com o objetivo de chegar ao local onde posso ouvir vozes conversando entre si. Mamãe e John, sentados lado a lado na sala, conversando. Uma cena de se presenciar agradável.

– OI. – Digo, com a voz rouca.

Imediatamente a conversa cessa, e ambos vêm ao meu encontro.

Pedem se estou bem, se estou tonta, se preciso de algo. Esse excesso de informação me nocauteia, deixando-me tonta.

– Estou tonta... – E ameaço cair, mas John me segura no último minuto.

– Ei, querida, fiz um chá para você, sente-se, que já vou pegar.

Sou levada até uma poltrona, onde Aslan está ronronando. John o pega no colo, para que eu posso me sentar. Ele se agacha em minha frente, e passa a mão no meu rosto, de forma suave.

– Está bem minha querida? – Sua voz é veludo, e me derreto.

Assinto com a cabeça, embora me sinta um pouco densa, por assim dizer. Como se estivesse caminhando na água, e minha boca estivesse cheia de areia.

– Sabe por que meu nome é Callilda? – Pergunto de repente.

Ele nega.

– Por quê?

– Minha avó se chamava assim, nome de família.

– Engraçado, a minha também. A gente pode pôr o nome da nossa filha de Callilda, não acha?

Fico vermelha, e mesmo assim, concordo veemente. Adorei a forma que as palavras nossa filha ganharam vida na sua boca.

Vejo mamãe chegando um uma xícara fumegante, e então me afasto um pouco de John, sem perceber que estávamos tão pertos um do outro.

– Aqui, querida, vai te fazer se sentir melhor.

Pego a peça de porcelana com ambas as mãos, e vou bebericando aos poucos.

– Calli, preciso dizer algo, é sobre a Chr...

Mamãe o cutuca, o impedindo de continuar. Dá um olhar de alerta para ele, antes de se virar para mim.

– Ela precisa se recuperar antes de qualquer coisa. Como está se sentindo agora?

Fico muito confusa, muito mesmo. Mas tomo mais um gole do chá antes de responder.

– Um pouco melhor.

Ela suspira aliviada. Mas então um vinco surge entre suas sobrancelhas, demonstrando preocupação.

– Eu tenho uma reunião agora... Mas poderia desmarcar...

– Não, - pego em seu braço – não desmarque não. O John pode cuidar de mim, não é mesmo? – Viro na direção dele, que concorda com muito ímpeto.

– Tenho alguns filmes bem legais em casa para assistir. – Ele olha para minha mãe, pedindo permissão.

Ela suspira.

– Ok, vou confiar em você, garoto. Mas nada de circos e cartomantes malucas, entenderam?

Assentimos.

– Só vou trocar de roupa. – Aponto para mim mesma.

Eles concordam, e mamãe me acompanha até meu quarto.

Faço rápido, e em pouco tempo já estou pronta. Mamãe nos dá carona, já que a casa dele fica no trajeto do lugar onde ela deve ir.

– Se comportem. – Diz, antes de partir, em uma voz um tanto aterrorizadora.

John abre a porta, e me deixa passar na frente. A casa é um pouco maior que a nossa, e tem aspecto aconchegante.

Vou direto para o sofá, que se exibe de forma convidativa. Acomodo-me nele, e espero.

– O que você quer assistir?

Dou de ombros.

– Tanto faz.

Ele vai até um pequeno balcão, e abre uma das portinhas. Como está de costas, não posso ver o que está fazendo. Mas então ele levanta e fecha a portinha, indo depois até a televisão.

Dois minutos depois vejo o filme que ele escolheu. O Exorcista.

– Tá de zoa comigo, né? – Ergo uma sobrancelha.

Ele me fita com ar de inocente.

– Por que, tem medinho?

Mostro a língua para ele.

O chato se senta ao meu lado, e me abraça. Até parece que eu ia conseguir assistir o filme.

Meia hora depois, eu não conseguia nem dizer que filme que estava assistindo. A tontura sumiu. Mas a tentação ficou.

A gente se beijava impetuosamente, eu por cima dele. Sentia suas mãos apertarem minha cintura, acariciarem, e então descerem.

Mordi seu lábio, e senti gosto de sangue, ao mesmo tempo em que ele gemeu de dor. Não consegui me conter, e comecei a rir.

– Está rindo do que? – Ele me perguntou de forma séria. Ri ainda mais. – Aé? Vou ter que te punir, então?

Ele me pegou pelos pulsos, e fez com que eu ficasse por baixo.

– Me pune, então. – Tentei usar uma voz sedutora, e pela expressão dele, funcionou.

E então, aconteceu.

Olhei dentro da profundidade daqueles olhos negros, que pareciam me engolir, e soube. Não era mais paixão, era amor.

E a única coisa que eu queria no momento, era consumar aquele amor que me consumia.

– Seja meu.

– Já sou.

– Não, não assim. – Cheguei mais perto, e passei as pernas ao seu redor, ao mesmo tempo em que nossas bocas estavam quase grudadas. – Assim.

E o apertei contra mim.

Ele pareceu entender.

– Mas...

O calei com um beijo.

E foi assim que aconteceu. Num sofá. Mas que importância isso tinha? Poderia ter sido em um carro, em um motel, atrás de um arbusto, num hotel cinco estrelas. O lugar não importava. Era a pessoa que fazia o momento especial ou não.

E eu não poderia ter escolhido pessoa melhor. Não poderia ter imaginada uma forma mais especial de acontecer.

Quando terminamos, descansei minha cabeça em seu peito. Sentia seus dedos acariciarem meu ombro, e isso era bom, muito bom.

– Te amo.

Minha voz saiu baixinha, e por um momento, achei que ele não tivesse me escutado. Mas então, sua respiração veio de encontro com a minha.

– Te amo mais.

Seu tom era sedutor e provocador. E era imensamente clichê, mas teria como não ser? A verdade é uma só, e clichê até os limites que a separam da mentira.

– Ei, estou com sede, onde tem água?

Ele afunda a cabeça no meu pescoço.

– Fica mais um pouquinho...

Uma risada explode em meu peito, e me desvencilho dele. Desço do sofá, e vejo sua blusa jogada no chão. Pego-a e visto-a, não por vergonha, mas por frio. Em mim ela parece uma camisola.

– Onde?

Ele afunda a cabeça em uma almofada.

– Na cozinha. Vire à esquerda. – Sua voz sai abafada.

Rolo os olhos, e viro a tal da esquerda. Mas antes de chegar na porta que deve dar para a cozinha, paro abruptamente. Sinto John me observando.

– Quem, quem é esse? – Aponto minha mão para um quadro enorme, anexado à parede. Não consigo me impedir de gaguejar, e que minha mão trema.

– Eu, minha mãe e meu pai, há dois anos.

Observo o homem, com um sorriso enorme, convidativo. Vejo seus olhos, cinzas, idênticos aos meus.

Em cinco anos, ele não mudou nada. Duvido que esteja diferente agora.

Steve. O meu pai.


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Notas finais do capítulo

E aí, quem entendeu?