Mais Do Que Você Imagina escrita por RoBerTA


Capítulo 22
Você é nossa garantia, anjinho.




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POV Jimmy

Acordei com gritos. Entre os gritos era possível discernir “Christina”, proferida tanto pela voz de minha mãe como de meu pai, em tons variados de desespero. Meu coração começou a bater em um ritmo mais acelerado, meu íntimo dizendo que havia algo muito errado.

Saltei da cama, sem me importar em calçar as pantufas, e fui em direção às vozes. Vinham do quarto de minha irmã, e quando passei pela porta, vi apenas mamãe e papai. Ela estava com uma cara de desespero mesclada com uma expressão chorosa, já papai, estava pálido, e parecia um fantasma.

- O que aconteceu? – Perguntei assustado, e logo percebi. Christina não se encontrava em canto algum daquele quarto. A cama estava desarrumada, algo típico dela. Mas vazia.

- Christina sumiu. – Mamãe falou, em um fio de voz. Foi então que meu pai a envolveu em seus braços, lhe afagando o topo de sua cabeça gentilmente.

- Lola, se acalme, ela deve estar bem. Tem que estar. – A última parte falou baixinho, quase que para si mesmo.

Ela se afastou, olhos farejados.

- Mas Philip, eu sinto. Christina está em perigo, posso sentir isso no meu coração.

Enquanto dizia aquilo, segurava a camisa azul de papai com força, amarrotando-a, fazendo com que os nós de seus dedos ficassem brancos.  Eu não consegui a mais ficar observando em silêncio. Um nó se formou em minha garganta.

Ver meus pais aflitos daquela forma, juntamente com o fato de que minha única irmã poderia estar em perigo naquele momento, fez com que me sentisse tonto.

Apoiei-me na cadeira que ficava em frente ao computador, e fechei os olhos por alguns instantes.

- Será que ela não está na casa da Callilda? – Perguntei por fim, tentando trazer um pouco de luz para aquela situação. Isso pareceu deixa-los mais esperançosos. Ou talvez eles só precisassem de algo para se agarrar, mesmo que lá no fundo, soubessem que de nada adiantaria.

- Vou ligar para a Calli. – Mamãe saiu apressada do quarto, feliz em poder fazer algo de útil.

- E agora? – Perguntei quando havíamos sobrado apenas nós dois.

- Não sei, meu filho. Não sei. – Seu semblante estava cansado, e fiquei com raiva da Chris naquele momento. Seja lá o que acorreu, certamente foi ela quem provocou isso para si mesma.

Desencostei da cadeira, e fui xeretar suas coisas, para ver se encontrava alguma pista. Abri seu guarda-roupa, e estava tudo organizado, sem nada de alarmante. Então notei algo. Onde ficavam seus vestidos de festa, havia um cabine avulso, vazio. Quando olhei melhor, soube com exatidão qual vestido faltava. Um dourado, que na minha humilde opinião, era roupa de mulher pública. E como eu sabia que ela tinha esse vestido? Bom, digamos apenas que não é nada agradável ir ao shopping com sua irmã, ficar uma eternidade sentado esperando a maluca provar roupas e sapatos, e então – coisa séria isso – ter que carregar as sacolas. E não ganhar nenhuma renumeração.

- O que foi filho, achou algo?

Papai se aproximou, e fiquei sem saber o que fazer. Algo me dizia que certa garota idiota saiu às escondidas para alguma espécie de festinha, mas não sabia como dizer isso para nosso pai. Parecia traição, tanto quanto parecia ser o certo.

Fui poupado de responder quando mamãe voltou ao quarto.

Sua cara parecia de enterro.

- Ela não está lá. – E se abraçou quando terminou de falar.

Ficamos em silêncio, e o ar ao nosso redor parecia carregado, quase palpável, passando uma sensação de mal estar.

- Acho que deveríamos procura-la. – Falei, e só depois percebi o quão estúpido fora esse comentário. Mesmo assim, concordaram. Os observei saírem, até que fiquei sozinho, ouvindo eles conversarem em tom baixo, tentando encontrar alguma solução.

Suspirei, me sentido cansado e derrotado. Por que Christina tinha que ser sempre tão irresponsável? Houve um tempo em que ela não era assim, mas então, ela simplesmente mudou, da noite para o dia.

Sentei na cama, me sentindo um inútil. Deveria ter dito que ela saíra para alguma festa. Mas com quem? Quando olhei para frente, vi sua janela. Mas isso foi o menos importante.

Vi o quarto de Eric, e o próprio andava de um lado para outro, frenético, falando com alguém ao celular.

Algo me dizia que ele sabia de algo.

Mesmo de pijamas, e descalço, atravessei toda a casa, e depois o pátio, até chegar em frente à porta dos Gall, e tocar a campainha. Não precisei esperar muito, Eric foi bastante rápido.

Enormes olheiras emolduravam seus olhos, e seus cabelos estavam em um estado caótico.

- Onde está a Christina? – Fui direto ao ponto. Ele parecia abatido.

- Ela não está em casa, não é? – Pareceu mais uma afirmação do que uma pergunta, mas respondi mesmo assim.

- Não, não está. Quando acordei, meus pais estavam gritando o nome dela. Onde ela está? – Repeti a pergunta.

- Merda! – Eric bateu com a cabeça na porta, fechando os olhos com força, parecendo desesperado. – Merda, merda, merda!

Comecei a ficar assustado.

- Eric, onde está a Christina? O que aconteceu com ela?

Quando virou a face para mim, seu olhar era de cortar o coração.

- Não sei, eu não sei.

Pov Eric

Eu não acredito nisso.

Eu juro que mato eles se encostarem num fio de cabelo dela, eu juro. Malditos!

Meus pés estavam inquietos, pior que minha mente, que imitava um furacão em plena atividade. Já meu interior personificava um vulcão. Eu queimava, queimava e ardia. Mas não era do mesmo jeito que acontecia como quando estava com a Chris, da forma que ela me acendia. Não, claro que não.

Era raiva. Ódio puro.

Eles mexeram no que é meu. E vão pagar por isso.

Tentei discar o número mais uma vez, mas caiu na caixa postal novamente. Não iria ficar o dia todo simplesmente ligando, sem fazer nada. Iria até eles. E faria com que devolvessem minha Christina.

Meu Deus, o que será que estavam fazendo com ela?

A ideia me torturava.

Atravessei meu quarto com longas passadas, e acabei topando com meu irmão no caminho. Meu olhar era tão cheio de raiva e tão fulminante, que ele simplesmente saiu da minha frente sem soltar um pio.

Desci as escadas correndo. Fazia algum tempo que Jimmy fora embora. Ele e os pais deviam estar procurando a Chris. Mas nunca a achariam sozinhos.

E tudo por minha culpa.

Se ao menos eu tivesse sido mais forte ontem... Resistido ao charme dela...

O simples pensamento era ridículo.

Como eu poderia resistir se a amo?

É amor, eu sei que é. Não tem outro nome para o que sinto. A princípio era adoração para aquele ser que parecia um anjo.  Então coisas estranhas aconteceram comigo, me deixando confuso. Só mais tarde eu entendi o que era. Anseio, puro anseio. Por ela.

Minha primeira paixão. Se bem que é errado dizer primeira, sendo que foi a única.

Só Deus sabe como eu a quero. Como eu sempre a quis, com cada fibra do meu ser. E só ele sabe como me doía ver o modo que ela me repelia, e acreditando no meu ódio inexistente por ela.

O que eu senti nunca passou perto do ódio.

 Não poderia ter passado mais longe.

E agora, quando parecia que ela retribuía, acontece isso.

Por que, por que a vida tem que ser tão injusta? Por que os desencontros são mais numerosos que os bons momentos?

Balancei a cabeça, cansado das mesmas indagações de sempre. Eu deveria manter o foco. Peguei as primeiras chaves que avistei. Eram da camionete do Guilherme. Ele não iria reclamar comigo, por vários motivos.

Fui a uma velocidade maior do que de costume, apenas pensando em chegar logo àquele inferno de lugar.

Estacionei de forma bastante desleixada, e quase me esqueci de trancar a camionete, tamanha a pressa.

Corri para a porta verde de metal, apresentando sinais de ferrugem, proveniente de sua provável idade avançada.

Bati com certa urgência. Demorou algum tempo até que alguém abrisse.

Um homem enorme e coberto de tatuagens parou à minha frente. Vacilei por um instante, mas a coragem voltou como uma torrente.

- Onde ela está? O que vocês fizeram com ela?

Ele cruzou os braços.

- Não sei do que você está falando. Dê o fora daqui.

- Jo...

Minha boca ficou escancarada, e meu coração gelou.

Um grito de dor. Christina.

Pov Christina

- ME SOLTA!

Por mais que tentasse, era impossível escapar. As amarras que colocaram em meus pulsos eram apartadas demais, e eu quase nem sentia mais meus dedos, porém sentia a pele que era esfolada pelas cordas.

Meus pés também estavam presos, um em cada pé da cadeira em que eu fora obrigada a ficar sentada. Um saco cobria minha cabeça, e eu me sentia nua, só com a camisa de Eric. Meus cabelos estavam grudados na minha nuca e têmpora, e eu sentia que transpirava muito.

- SOCORRO!

Quanto mais eu gritava, pior era. Eu ficava com dor de garganta, com a voz mais rouca, e me sentia cada vez mais fraca.

Eu só queria chorar. Mas nem isso conseguia. Só era capaz de gritar, gritar, gritar...

De repente, senti minha cabeça sendo arremessada para trás. O saco voou, indo parar em algum canto longe de mim. Arfei, me sentindo zonza.

Quando abri os olhos, vi um homem baixinho com cara de mal humorado me encarando.

- Você me bateu. – Falei estupidamente, sem crer. Ele jogou a cabeça para trás e riu, como se aquilo tivesse graça. Aproximou-se de mim apertou minha coxa despida, cravando as unhas. Gritei de dor.

- Isso não é nada, anjinho.

Lágrimas embaciaram minha visão.

- Vai desejar nunca ter conhecido seu amiguinho. – A respiração quente dele na minha cara me dava vontade de vomitar, e seu bafo de bebida me deixava ainda mais tonta.

- Por que está fazendo isso comigo? O que eu te fiz? – Minha voz saiu entrecortada, por causa dos soluços.

- Nada, anjinho, você não fez nada, – ele passou as pontas dos dedos na minha bochecha, parando nos meus lábios, onde apertou, me fazendo gemer de dor – mas ele fez. Seu amiguinho não cumpriu sua parte do acordo, e você é nossa garantia. Nossa garantia e pequena vingança.

O homem tascou um beijo na minha boca, e me deu as costas. Ouvi o barulho de seus passos subindo alguma espécie de escada, e então uma porta se fechando. A escuridão era quase total. E o único barulho era o do meu choro.

De alguma forma inexplicável minhas lágrimas encontraram seu caminho. Ou nem tão inexplicável assim.

- Socorro... – Um pequeno sussurro, que nasceu e morreu comigo.


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Notas finais do capítulo

100 leitores e 11 reviews? Assim vocês me deixam triste :(