Mais Do Que Você Imagina escrita por RoBerTA


Capítulo 21
O sangue que une, separa.


Notas iniciais do capítulo

Olááá gente esplêndida ^^ Então, amei os reviews, e já vou terminar de responde-los. Sintam-se à vontade para mandar mais :P
Capítulo dedicado a maravilhosa ChaMelPhia1D. Sério, amei a recomendação :3 Você é muito fofa ^^
Bjxx, e boa leitura ;-)



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Pov Christina

Meu corpo se retraiu na mesma hora. Um pânico entorpecente foi se alastrando por mim, substituindo o doce ardor pelo temor, e o fugaz desejo por puro anseio. Mil e uma possibilidades ocorreram-me, sobre quem haveria de ser. Cada uma mais aterrorizante que a outra. Até mesmo meu pai foi cogitado pela minha mente temerosa. E sejamos francos, entre ser flagrada por meu pai, seminua, debaixo de meu odiado vizinho, e ir para o inferno, bem... Talvez o inferno não sege tão ruim quanto fazem parecer.

– Coloque isso. – Eric atirou-me sua camisa, em postura e tom imperativo. Então vi algo que fez com que meu pânico se multiplicasse. Vi medo em seus olhos. Vi medo nos olhos do tão destemido Eric.

– Ok. – Murmurei desajeitada, e mais sem jeito ainda, saí debaixo dele.

Observei-o fechar sua calça, enquanto eu tentava abotoar a camisa, errando repetidamente os botões dos pequenos furos.

– Droga! – Ele xingou baixinho, e antes que pudesse dizer-lhe qualquer outra coisa, bateram novamente ao vidro, dessa vez com mais ímpeto. O embaçado já começara a sucumbir, porém o breu da noite impedia que víssemos mais que uma silhueta.

Eric virou-se para mim, com o semblante muito sério.

– Se eu te mandar correr, corra. Ok?

Acenei freneticamente com a cabeça, e então Eric abriu a porta.

Um guarda noturno nos encarava, parecendo analisar cada mínimo detalhe. Queria sumir da crosta terrestre naquele momento. O idiota soltou um suspiro aliviado, e precisei resistir ao impulso de espanca-lo.

– Vocês estão estacionados em um lugar para pessoas com necessidades especiais, sabem disso, não é?

De tudo que me passou pela cabeça, nada era parecido com aquilo. Passava da meia noite, e o maluco foi reclamar porque o carro estava estacionado em uma vaga errada? Francamente.

– Espera aí,- ele estreitou os olhos – vocês não são de menor não? – Oops.

Maldição. Maldição. Maldição!

Respirei fundo, tentando manter a calma, enquanto Eric parecia estar tentando bolar uma boa desculpa. Mas que provavelmente não seria boa o suficiente.

– Não. Estou. Conseguindo... – Respirei fundo, de forma ruidosa. – Respirar... Direito!

E comecei a tossir, de forma escandalosa. Nisso o guarda-do-cabelo-esquisito me ajudou a pular para fora do carro, e quando um sopro de ar gelado atingiu minhas pernas nuas, a tosse se tornou verdadeira. Continuei tossido, e acabei até por me apoiar nele. Quando senti sua mão descer pela minha perna, o empurrei.

– Seu tarado! – Exclamei, esquecendo-me de minha falsa encenação. O homem fez uma careta, na verdade, uma careta um tanto amedrontadora.

Arregalei meus olhos, e nisso, Eric simplesmente surgiu do nada e deu um soco no guardinha, que nocauteado, caiu no chão com um baque seco.

Digamos que meus olhos quase saltaram do meu rosto nesse momento.

– Eric! Seu idiota! Você bateu numa autoridade!

– Ele passou a mão em ti.

– E daí? – Não conseguia esconder o nervosismo da minha voz.

– E daí que ninguém mexe no que é meu.

Calei-me instantaneamente. A noite estava escura, e as estrelas pareciam ter sido engolidas por uma espécie de monstro imaginário. Até mesmo o brilho da lua parecia ter sido ofuscado. Um poste de luz pairava acima de nós, garantindo luminosidade o suficiente para que eu pudesse ver os contornos de suas feições. Ele estava sério, e me encarava sem pudor algum. E pra que precisaria ter qualquer espécie de pudor?

O garoto me conhecia de trás pra frente, e vice e versa.

– Preciso ir. – Maneio a cabeça, tentando convencer a mim mesma. – Antes que ele acorde. E antes que meus pais descubram que eu saí escondida.

Eric nada diz, apenas continua a encarar-me estagnado em seu lugar, sem sequer piscar.

Vou até o carro, pego meu vestido e minha bolsa. Apoio-me no capo, para poder retirar os sapatos, que estavam acabando com meus pés.

Quando me viro, Eric continua na mesma posição, sem ter mexido um músculo, ainda a me fitar.

Aceno, e então começo a andar na direção contrária, sem saber que rumo tomar a seguir. Sequer fazia ideia de como iria para casa. Não tinha coragem de voltar para James. Algumas coisas pareciam ter mudado dentro de mim.

Limpei uma lágrima solitária, enquanto continuava caminhando, sentindo as pedras pontiagudas do cascalho agredirem meus pés, e o vento violento açoitar as extensões de pele nua. Não que eu sentisse frio. Não que eu sentisse qualquer coisa.

Continuei vagando, pela noite solitária, com mente vazia, e os poucos pensamentos restantes, dispersos.

De repente, comecei a ouvir barulho de passos, ao longe. Meus pelos da nuca se erriçaram, e um alarme interno começou a apitar, de forma louca e descontrolada.

Perigo, minha mente dizia.

Perigo, os passos que se aproximavam proferiam.

Perigo, era o que anunciava um homem que praticamente se materializou em minha frente.

Perigo, quando virei-me prestes a correr para o outro lado, e vi um corpo vindo em minha direção.

Perigo, ao largar sapatos, vestido, bolsa, e sair correndo na outra direção.

Perigo, ao bater-me de frente a alguém que mais parecia uma parede de tijolos, e cair.

Perigo, comecei a me rastejar para trás, perigo, minhas lágrimas embaciando minha visão, perigo, aqueles vultos me cercando, perigo, algo colocado sobre minha cabeça, perigo, escuridão total.

Perigo, eu estava perdida.

Perigo. E então, a voz de Eric, distante, em minha cabeça.

Corra.




Pov Callilda


Mal podia acreditar na minha sorte e alegria!

John havia me convidado para ir a um circo que recém havia chego à cidade. Obviamente concordei, com um excesso de felicidade vergonhosa. Claro que deixei de fora meu medo bizarro por palhaços. Não queria que ele me visse como uma fraca.

Terminei de passar uma leve camada de maquiagem, e fitei-me frente ao espelho. Queria estar bonita. Queria que ele me achasse bonita, e gostasse de mim. Na verdade, queria desesperadamente que ele gostasse de mim.

Fui até minha cadeira-depósito, e mexi em todo aquele amontoado de tecidos, até encontrar um lenço carmesim, que enrolei ao redor de meu pescoço. O tecido deslizou pela minha pele, fez cócegas, e roubou-me um suspiro.

Ou talvez o suspiro tenha sido roubado por outro motivo. Um motivo que estava em frente a minha casa, escorado contra a cerca de aspecto bastante degradado. Um motivo extremamente lindo.

Um motivo chamado John.

Com muito pesar desviei meu olhar da janela, consequentemente, dele. Apanhei minha bolsa jeans, e saí praticamente correndo porta afora. Queria estar perto dele, respirar o mesmo ar, ser a causa de seu sorriso.

– Oi. – Parei de forma abrupta em sua frente. John me recebeu com um sorriso caloroso. Tremi por dentro, eu era puro anseio.

– Olá, Callilda. Você está muito bonita hoje.

Como. Se. Respira?

– Hnm, obrigada. Hnm, você também. Quero dizer, uau, essa calça jeans é muito chic, toda escura e tal. – Senti minha face arder em vergonha, e passei a fitar meus pés, com meus All Star verdes e surrados.

– Sim, ela é. – John disse suavemente, e passou um braço ao meu redor. – Vamos? – Olhou-me diretamente nos olhos. Gaguejei um incoerente sim, e o permiti levar-me.

Conversamos um pouco sobre tudo no caminho, e quando chegamos ao aglomerado de lonas e cores, apinhado de pessoas, me sentia extremamente feliz.

– Duas entradas, por favor. – Ele pagou para um homenzinho pequeno, de aspecto rechonchudo, com um nariz enorme e avermelhado. Sua roupa era listrada, igual às tendas, porém ao invés de possuir um excesso de cores, permanecia em preto e branco.

Sua mão deslizou até um pouco acima da minha cintura, e então me empurrou levemente. Sorri para ele, e entrei no circo.

Confusão, essa era a palavra que melhor descrevia tudo aquilo. Pessoas rindo, correndo, se empurrando, um completo caos. A minha sorte era que John não me largava nunca, sempre mantendo contato comigo, não deixando com que a multidão me esmagasse.

Vi uma bela tenda, com um ar místico, listras ora roxas, ora pretas. Fui inexplicavelmente atraída até ela, puxando John comigo.

Parando perto de sua entrada, percebi que ela não exibia nenhum cartaz ou algo do gênero, ao contrário de todas as outras tendas pelas quais passamos.

E foi justamente essa falta de anuncio, esse desleixo em conquistar futuros clientes, que me atraiu, fazendo com que eu desse um passo em frente. Entrando na misteriosa tenda.

O dia estava extremamente ensolarado, mas quando estávamos completamente dentro dela, foi como se algo houvesse engolido o sol, e vomitado milhares de estrelas feitas a partir dele, todas enjauladas no teto que parecia maior do que realmente era.

Semelhavam constelações entrelaçadas entre si, mas essas estrelas eram douradas, como ouro derretido. Estrelas douradas que emanavam uma luminosidade prateada, quase celeste.

– Aproxime-se, minha cara.

Dei um pulo de susto, quando uma mulher surgiu das sombras. A cada passo seu, eu ouvia um barulho metálico, como várias correntes e sininhos se batendo. Era um som que hipnotizava, e parecia sibilar.

Mais tarde eu descobriria que quem sibilava era uma cobra, de um tom marfim, escondida em um canto, me observando com olhos inteligentes.

– Quem é você? – Gaguejei. John pareceu perceber meu nervosismo, pois me apertou um pouco mais, tentando passar uma sensação de segurança. E funcionou.

A mulher era linda. Seus cabelos eram muito semelhantes aos da Christina, com aqueles cachos perfeitos e dourados. E os olhos eram de um tom surreal de verde. Isso sem falar de seu corpo escultural, parecendo ondular naquelas roupas que pouco deixava para a imaginação.

– Sou o que precisam que eu sege. Mas me chame de Ney.

– Ney. – Murmurei. Por que esse nome não me era estranho?

– Então, querida, o que deseja?

Um arrepio percorreu minha espinha. Havia algo muito errado ali. Eu só não sabia dizer o que era. John permanecia estranhamente calado, mas isso não deveria soar estranho, afinal, sua taciturnidade era sua marca registrada.

– Não sei. – Digo, o que não é mentira. Do mesmo jeito que me senti irresistivelmente atraída para cá, mal consigo esperar para me mandar daqui. Esse lugar emana errado. Parece estranho, maluco até, mas há algo de perturbador aqui.

Ney não caminha até mim, ela dança, parece flutuar. E eu não consigo me mexer do lugar. Prendo a respiração, quando ela pega minha mão, virando a palma para cima. Sua pele é suave, parece um pergaminho antigo e delicado. Mas é gelada. Não parece a mão de uma pessoa viva.

– Sinto muito. – Diz com voz afável, passando o indicador pelo meu pulso, fazendo leves cócegas. Ela olha de mim para John, com expressão melancólica. – Realmente sinto muito. Mas o sangue fala mais alto. O sangue que une, separa. Sinto muito.

Arregalo os olhos, quando suas unhas cravam em minha pele, e pequenas gotículas de sangue escorrem. Tudo acontece muito rápido. Posso ver John prestes a empurra-la, com uma fúria em seus olhos negros que nunca tinha presenciado antes. Mas minha visão começa a escurecer, pouco a pouco, começando pelas bordas.

A dor aguda, que vem em pequenas pontadas, desvanece aos poucos, dando lugar a uma dormência que percorre todos meus sentidos.

Sinto-me cair. Mas braços fortes me amparam antes que eu caia.

A última coisa que ouço, é sua voz, como uma cantiga que serpenteia entre meus pensamentos.

– Sinto muito.


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Notas finais do capítulo

P.S. Quem aí se lembra da Ney? Do AA19V? :P