A Filha Perdida escrita por ACL
Notas iniciais do capítulo
Que tal conhecer um pouco mais do avô da nossa querida Missy?
(É curtinho mesmo porque é um capítulo extra :))
A vida é difícil.
Digo isso com a experiência de um homem de quase setenta anos que já passou há muito tempo do seu prazo de validade. E aí você pergunta como assim, prazo de validade? E eu te respondo que uma pessoa como eu expira muito mais fácil do que você imagina.
Já estive muito perto da morte. Já estive tantas vezes que nem conto mais. Não lembro e nem quero lembrar.
Lembrar é difícil. As lembranças de um velho homem, de um homem como eu, se misturam frequentemente e eu já não sei mais diferenciar o que eu vivi do que eu sonhei.
– Pai – chama a minha filha, Clare, enquanto eu tento me desvencilhar das minhas memórias confusas. Aceno com a cabeça para dizer que estou a ouvindo. – Acho que é um menino.
Minha filha está grávida do meu segundo neto. A mais velha, Melissa, é uma linda menina de doze anos. Solitária, mas ama a mim e a mãe dela mais do que tudo. Ela disse isso uma semana antes de Melissa nascer e eu sugeri seu nome.
Melissa foi uma ninfa que cuidou de Zeus quando ele era jovem e eu senti que minha neta seria tão importante quanto.
– E ele vai se chamar Jayme – continua minha filha. – Quero que ele seja tão bom, esperto e corajoso quanto você.
Sorrio porque Jayme é meu nome. Não acredito nisso de nomes. Tudo bem que escolhi Melissa por causa da história do nome, mas na verdade não acredito nisso. O que aconteceu com minha neta foi um estranho ataque de intuição que é normal para pessoas como eu e que podem se tornar perigosos se ignorados.
– Meu menino Jayme – termina de dizer Clare, provocando uma lembrança da qual não consigo me separar.
Era 1944 e eu tinha 13 anos. Vivia numa época difícil, era a segunda guerra mundial e eu vivia apenas com minha mãe, que era solteira.
Minha mãe se virava para conseguir dinheiro e me sustentar, mas não era fácil. Eu também trabalhava nas fábricas, entregava jornais, vendia coisas... Mas não era suficiente. Imaginem: hoje já é difícil para uma mulher sozinha cuidar do seu filho, imagine há mais de cinquenta anos.
Ela nunca falava do meu pai, não. Era assunto proíbido e me gerou longas noites de castigo e raiva.
Junho de 44, oficiais ocidentais desembarcaram na Europa, o que contribuiu para o fim da segunda guerra. Foi também o mês da morte da minha mãe e o mês em que tudo na minha vida mudou. Posso dizer também que foi o mês em que fui jurado de morte.
Me levaram para algum lugar estranho, onde disseram que eu ficaria escondido até que a situação melhorasse. Lá, me treinaram para a guerra. Mas não era uma guerra com armas desenvolvidas e bombas e câmeras de gás, como a que eu via nas televisões. Era uma guerra antiga, como as de gladiadores, com espada e armadura. Me disseram que eu deveria estar preparado para quando o inimigo viesse. Treinei por anos sem saber o que estava acontecendo, sem saber quem era meu inimigo.
– Menino Jayme, se prepare. O inimigo está vindo – dizia a única pessoa com quem eu tinha contato, mas mesmo assim, e eu só o conhecia como “O Treinador”
Quando eu soube de alguma coisa, tinha 16 anos, estava morando com O Treinador e sobre minha cabeça girava um tridente verde.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Então, entenderam porque o vovô Jayme adorava tanto Poseidon e "mitologia" grega?
OBS.: Depois disso, Jayme foi adotado por uma família de mortais que podem ver através da névoa e daí ele herdou todo o dinheiro que Melissa fala.