Bato freneticamente à porta do chalé 10 e a pessoa que atende é a última que eu quero ver no momento. Olivia.

– Oi, queridinha – diz ela com aquela voz aguda irritante. – Veio procurar seu namorado?

– Jake não é meu namorado – respondo. – Mas eu estou o procurando sim.

Ela dá de ombros e faz um sinal para que eu entre. Ela tem me ignorado bastante desde que chegamos aqui e eu acho bom.

Procuro por Jake no chalé, mas ele não está lá.

– Ele saiu, Missy – fala a voz doce e suave da pequena Silena.

– Ah, oi, meu amor – falo com ela. Tenho uma relação estranha com Silena. Não sei se é por ela me lembrar meu irmão ou por ela me adorar e sempre estar atrás de mim. Mas eu sinto que eu devo cuidar dela tanto quanto eu devo cuidar de Jay. Eu a abraço. – Tudo bem com você?

– Tudo, sim. Eu estava tentando aprender a lutar com adaga hoje de manhã, mas é difícil. Então eu pensei se você não podia fazer uma para mim, se não se torna mais fácil lutar com ela.

– Faço sim – aceito a proposta sorrindo. O que não faço por aqueles grandes olhos azuis? – Mas você sabe aonde Jake foi?

– Sei não.

Resmungo um tudo bem. Isso é uma droga. Não sou boa em me relacionar com as pessoas e isso é uma característica dos filhos de Hefesto. Por isso nunca pergunto nada, nunca questiono nada. Porque, apesar de ser um pouco antissocial, sim, eu morro de medo de ser rejeitada e de ficar sozinha. Deu para perceber que sou uma filha de Hefesto diferente dos demais, não é?

Não sou boa em me relacionar com as pessoas, por isso, nunca falo de coisas delicadas. Mas hoje decidi perguntar tudo a Jake, entender toda a história.

Você pode pensar que não é da minha conta, mas é. Porque quando Elius e Jake estão me pondo no meio de uma briga antiga, como estão fazendo agora, eu tenho que, no mínimo, entender o que está acontecendo. Saber os motivos que levaram os dois à essa rixa.

Me despeço de Silena e saio do chalé. Quase bato a porta, com raiva, mas me controlo para não fazer isso. Atravesso o pátio dos chalés para ir para o chalé de Hefesto deitar na cama e esfriar a cabeça. Quero pensar em tudo o que está acontecendo, pensar sempre ajuda.

Mas não é isso que eu faço. Quando chego lá, Jake está sentado num banquinho ao lado do espaço onde ficaria minha cama. Faço uma cara de interrogação e me preparo para perguntar o que ele faz aqui, mas ele me interrompe.

– Quero que você saiba tudo o que aconteceu – diz ele.

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Estamos sentados à beira do lago de canoagem.

Ponho meus pés dentro d’água, como eu costumava fazer na piscina da casa do meu avô. Isso me ajuda a relaxar. Olho para Jake, esperando ele dizer alguma coisa.

– Não ponha os pés dentro d’água – aconselha. – As ninfas podem puxá-la para o fundo do lago.

– Isso é só uma lenda – digo.

Ele respira fundo antes de falar de novo. Provavelmente pensando no que dizer. Espero paciente, afinal, não é nada fácil para ninguém lembrar um passado que se quer esquecer. E com certeza, tanto Jake, quanto Elius querem esquecer esse passado.

– Eu acho que sei o que Elius te contou sobre a irmã dele. Sobre a morte dela. Mas ele não estava lá, ele não sabe de tudo o que aconteceu.

“Não queria ir naquela missão, não mesmo. Não queria encarar a morte certa, fosse ela de Lisa, minha ou dos outros dois campistas que foram conosco. Lisa insistia e eu sempre recusava, mas eu era discreto. Ela brigou comigo por causa disso e eu fiquei com a culpa da briga e a fama de ciumento. No final, decidi que ir seria melhor ir, assim, poderia controlar Lisa.

“Elisabet nunca foi a pessoa mais equilibrada. Ela tinha oscilações bruscas de humor. Não quero que você fique com raiva de mim, mas acho que isso ela puxou da mãe. Não é uma coisa que falo por maldade, é um fato que não pode ser ignorado. No meio dessas oscilações bruscas de humor, estava a questão de ela sempre ter o que quer.

“Por isso eu decidi ir, poderia proteger Lisa de si mesma. Mas tudo deu errado. Não consegui me proteger, eu ia morrer. Eu ia morrer porque fui um fraco. Não vou dizer que tipo de monstro enfrentei ou porque eu ia morrer, isso é vergonhoso. Mas eu digo que ia morrendo por ter um psicológico fraco. E por causa de uma maldição que me foi lançada antes de chegar aqui. ‘Sua maior fraqueza será o motivo de sua morte ou causará a morte de alguém que você ama.’, me disseram.

“Não pense que é fácil para mim admitir que minha maior fraqueza está dentro de mim. Que isso não é algo que eu possa mandar embora com um golpe de espada ou com uma flecha. Mas eu te devo uma resposta completa, ou o mais completa possível, e estaria sendo injusto se não a desse. E além de você, eu só confiei a uma pessoa esse meu segredo: Elisabet.

“Então, Lisa sabia do meu problema. E ela me ajudou. Ela me defendeu e isso custou sua vida. Ela morreu por causa da minha maior fraqueza e, Mel, eu não me perdoo por isso até hoje. Disse para todos no acampamento que ela morreu por um descuido meu. E todos acreditaram. É por isso que ninguém gosta de mim.”

– Eu gosto de você, Jake – digo e o abraço. Não consigo ver a dor nos seus olhos. Não consigo deixá-lo sentir essa dor sozinho.

É diferente do que eu senti com Elius. É infinitamente mais intenso. Quando eu não consegui deixar Elius sofrer, a nossa estranha conexão falava mais alto. Não era uma coisa minha, natural, como é com Jake. Com Jake, eu sinto algo mais real. Foi algo que eu construí. Algo que veio pouco a pouco, que foi moldado perfeitamente para nós.

– E eu não sou a única – termino. – Kyle é seu melhor amigo.

Ele olha nos meus olhos e eu sei que o que ele vai dizer agora é algo difícil para ele.

– Não. Nem Kyle gosta de mim, ele apenas me entende. Ele tem que entender, já que viu Elisabet morrer.