Fico em estado de choque ao ouvir isso.

Tento perguntar que história é essa, mas não encontro minha voz. Não consigo perguntar nada porque tenho medo que isso que eu criei com Jake vá embora. Não quero que Jake seja uma pessoa má, ele não parece ser.

– Como assim? Jake matou sua irmã? Por que você nunca me falou sobre ela? – pergunto, mesmo assim, num sussurro, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

Elius hesita e muito antes de responder. Não sei quanto tempo passamos sentados enquanto eu espero a resposta.

– Meu nome não era Elius – confessa, sussurrando. – Quando nasci, minha mãe me chamava de Eliott, todos me chamavam assim.

Ele fica em silêncio por outro bom momento antes de continuar.

– Ela descobriu que eu era semideus quando eu tinha dois anos. Melhor dizendo, ela descobriu que meu pai era deus do sol e passou a me chamar de Elius. Ela dizia que era um apelido bonito, mas ninguém da minha família pegou. Quando eu digo minha família, entenda minha tia avó e a filha dela. Minha mãe começou a enlouquecer naquela época. Desapareceu por uns dias e quando voltou, minha tia a internou pela primeira vez. Mamãe passou um ano na clínica e foi lá que minha irmã nasceu. Eu só a conheci quando vim para cá, quando tinha 10 anos e ela, 8. Sim, Elisabet também era filha de Apolo.

“Ela era linda. Tinha os cabelos bem cacheados e loiros, não essa mistura de loiro e castanho que é o meu. Ela tinha a pele bronzeada naturalmente, até nos invernos mais rigorosos, sua pele tinha aquele tom bonito de dourado. Os olhos castanhos ajudavam. Ela tinha cara de verão.

“Jake chegou aqui quando eu tinha 12 anos e ele, 11. Ele e minha irmã se tornaram muito amigos. Mas tudo bem, ela ainda era minha irmãzinha e nós éramos muito próximos, muito mais que ela e Jake. Mesmo assim, eu morria de ciúmes dele. Aos 13, ela me disse que estava apaixonada por Jake. Eles começaram a namorar e, claro, eu não achei nada demais naquilo, mesmo achando Lisa nova demais. Nada além do ciúme normal de irmão.

“Lisa foi chamada para uma missão. Ela tinha que trazer para o acampamento uma garota, não vou entrar em detalhes sobre isso. Na missão, ela deveria levar um sátiro e um filho de Hermes, era o que dizia a profecia. Mas Jake teve uma crise de ciúmes e insistiu para ir junto. Você sabe que o máximo de semideuses que podem ir em uma missão é três. Isso gerou uma complicação enorme com Quíron, mas Lisa acabou pedindo para levá-lo.

“Briguei com ela na noite em que eles saíram. Os deuses sabem bem como me arrependo disso. Disse que ela estava diferente. Que ela estava mudando por causa de Jake, mas ela não me ouviu. Ela não me ouvia mais. Dois dias depois, recebi a notícia de que ela estava morta por conta de um descuido de Jake.”

Ele não diz mais nada. A tristeza e o rancor são claros em seu tom de voz. Ele levanta e sai. Não consigo impedi-lo. Nem quero. Quero que ele fique sozinho, que não me culpe por perguntar. Quero que ele pense se foi realmente uma boa ideia me contar tudo isso. Mas o que eu mais quero é ficar sozinha, aqui na praia, e pensar.

Eu sei que eu deveria ficar com raiva, no mínimo, de Jake. Ou com medo, ou qualquer coisa, menos o que eu estou sentindo agora.

E o que eu estou sentindo agora é apenas uma pena profunda. Uma vontade de estar com Jake, de abraçá-lo. De dizer que não foi culpa dele a morte de Elisabet, porque eu realmente não acredito que seja. Sinto vontade de saber tudo, mas não tenho coragem de perguntar.

Mas, mesmo sentindo isso tudo por Jake, eu tenho que sentir compaixão por Elius.

Eles já me puxavam para direções opostas antes, mas agora, Elius me puxa em uma direção totalmente diferente da que eu esperava e eu não sei para onde Jake vai me levar. E isso é infinitamente pior que ser puxada em duas direções opostas, já que antes eu sabia para onde ir.

Agora, eu sei apenas que tenho que ter respostas de Jake, com ou sem coragem de perguntar.