Shall Never Surrender escrita por Light Angel


Capítulo 29
Chapter XXVIII - Choice


Notas iniciais do capítulo

Bom, chegamos ao último capítulo de nossa fic. Comentando que no Epílogo, que será lançado logo em seguida terá os Agradecimentos. E sim, eu vou agradecer especialmente cada um que leu e me apoiou nesta fic. Ok? Fiquem ligados. Já estou quase chorando, mas é isso. Tudo tem um final, certo? Então ta. Vamos nessa?



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Escuridão. Era o que havia restado de mim agora. Eu não sentia mais nenhuma dor, nenhum medo.

Apenas paz. Era isso que havia restado.

A escuridão estava me rondando, como uma manta. Eu estava aquecida e confortável. E não tinha nenhuma vontade de sair dali.

Uma pequena sensação de dúvida instalou-se em minha mente. Será mesmo que eu estava viva? Ou aquilo seria a minha Eternidade?

Esses dias foram loucura, não é mesmo?

Ouvi uma voz familiarmente conhecida. Eu a deveria conhecer mais do que ninguém, mas ainda assim, era estranho eu ouvi-la falando comigo.

Até porque... Opa. Agora eu entendi. Aquela voz me era conhecida sim. E eu a conhecia mais do que qualquer uma. Ela era a minha voz.

Uma figura mediana surgiu a minha frente. A forma parecia totalmente feminina, com curvas e detalhes que só uma mulher poderia ter.

Ela era magra. Tinha uma estatura mediana para uma pessoa, mas normal para uma mulher. Estava na faixa de seus dezoito anos, mais ou menos.

O físico era composto por olhos castanhos com uma tonalidade mel, cabelos castanhos claros, quase ruivos.

Era eu.

O que foi? Pareço tão estranha assim para você?

Eu não respondi. Ainda estava em choque com a realidade. Afinal de contas, o que estava acontecendo?

Fique tranquila, Kyrie. Nada mais vai fazer mal a você agora. Acabou.

- Mesmo? – Murmurei em uma voz cansada e aflita. Eu não poderia distinguir bem a realidade, mas ainda assim, a esperança era a mesma.

Sim. - O outro eu afirmou. Ela parecia bem mais confiante e forte. Uma Kyrie ao qual nem eu mesmo havia conhecido. – Antes de mais nada, Kyrie, eu queria me apresentar. Sou a sua subconsciência, ao qual você nunca tem acesso, mas sempre recorre a ela em situações extremas.

Eu não sabia muito bem o que dizer. Muito prazer?

Ela riu.

Esse seu gênio sarcástico ainda me surpreende, Kyrie. Mas não temos muito tempo. Você precisa voltar, afinal... Agora tudo mudou, não é mesmo?

Você fez o papel mais importante disso tudo. Você me libertou. Você se libertou. A pessoa que você sempre guardou dentro de si mesma, hoje está liberada. Mais do que isso. Ela está viva.

Concordei comigo mesma. Ok. Isso pode parecer loucura, mas ainda assim, era verdade.

Eu libertara alguém dentro de mim que precisava ser reerguido. A minha autoestima. A minha liberdade.

Não era só o mundo que conquistara a sua liberdade.

Eu também conquistara.

                                   ***

Meus olhos se abriram lentamente.

Minhas pálpebras pesavam como chumbo. Meu corpo parecia uma britadeira. Eu tremia tanto que eu era a própria britadeira.

Tentando me acalmar, eu comecei a ter noção de onde eu estava.

O quarto revestido em vermelho e dourado. A cama macia. O toque humano em um grande mar de terror.

Eu estava na Mansão de Sparda.

Mas o que exatamente eu estava fazendo ali?

Comecei a me levantar, certa de que estava tendo outro sonho.

Mas algo me impedia. Suspirando, olhei para baixo e avistei o imprevisto. Eu estava com uma atadura enorme em volta de todo o perímetro abdominal e torácico. Senti uma moldura gessal em meus ombros, descendo pelas costas.

E em outros pontos do corpo, ataduras cobrindo os cortes e uma pasta rosada estava cobrindo os hematomas mais graves.

Minhas mãos estavam atadas até os dedos, mas eu conseguia movimenta-las um pouco.

Quando eu estava pronta para tentar me levantar novamente, senti uma leve pressão no alto de minha cabeça.

Confusa, olhei para cima. Minha clavícula não gostou nada disso.

Resmungando, tentei novamente. Ouvi uma leve risada e depois um leve afago em meus cabelos.

- Ei – Ouvi uma voz delicada e suave, mas ao mesmo tempo firme e forte. – Não vamos ter que salvar o mundo mais de uma vez, princesa.

Meu coração retumbou. Tentei me mexer novamente, mas recebi em resposta mãos firmes segurando-me.

- Kyrie – Ele disse com um leve tom de advertência. – Não vai ser muito bom para você, se continuar se mexendo desse jeito.

Delicadamente, senti algo se levantando atrás de mim. Rapidamente, as mãos de Nero estavam pousadas levemente em meu braço esquerdo, com a minha mão ferida levemente envolta nas suas.

Nero olhava para mim com um olhar intenso e firme, com um grande sorriso em seus lábios. Sorri de volta.

De repente, ele veio delicadamente até mim, me abraçando. Senti suas mãos me envolvendo e ele sussurrando em meu ouvido:

- Eu não mereço tudo o que você fez por mim, Kyrie.

E antes que eu o xingasse, ele se colocou a minha frente e segurou minha mão.

- Tudo o que você sacrificou, tudo o que você perdeu... Eu não merecia aquilo. Eu dei a chance de você fugir e se salvar. E você não fez isso.

Sacudi a cabeça firmemente.

- Não fiz e nunca vou fazer, Nero. – Eu o encarei firme. – Você é praticamente a minha vida. E não se desiste da vida, não é mesmo?

Ele fechou os olhos e sacudiu sua cabeça. Suas feições ainda me deixavam sem fôlego, com aqueles cabelos jogados e aqueles olhos elétricos.

Realmente, ele era mais parecido com Vergil do que eu imaginava.

- Não vou dizer que não entendo – Ele sorriu. – Afinal, por você eu sou capaz de destruir uma montanha. Mas ainda assim, você me deixou louco de preocupação.

Eu dei de ombros. Ai! Eu realmente precisava parar com isso.

- Ah, e você não? – Eu pisquei. – Mas eu não me arrependo de nada do que fiz. Porque tudo aquilo trouxe você de volta.

Ele sorriu e depois se aproximou lentamente. Seus grandes olhos estavam a dois centímetros dos meus. Eu já falei que meu coração parecia uma britadeira?

- Inclusive explodir um navio, não é mesmo? – Ele sorriu.

Eu ri baixinho. Ele estava mesmo a par de tudo.

- Foi sorte – Murmurei modestamente.

Ele revirou os olhos.

- Hm. Sei. Sorte foi Dante, Trish e Lady ter você do lado deles, isso sim.

Eu ri mais alto.

- Agora você exagerou, grandão.

Ele riu junto comigo. Depois, se aproximou ainda mais. Meu coração quase saltou de meu peito.

- Exagerei? E é exagero por um acaso falar que sua namorada é uma Caçadora de Demônios? – E falando mais baixo: - E que me deixa maluco só de pensar nisso?

Sacudi a cabeça rindo, enquanto ele me puxava delicadamente e pressionava seus lábios nos meus.

Nada mais nos iria interromper agora. Nada com que precisássemos nos preocupar.

Ele estava junto comigo. Cada osso quebrado e cada hematoma valeram a pena. Nero estava aqui, ao meu lado.

E praticamente Sanctus estava derrotado.

Pela primeira vez em anos, eu consegui ter certeza de uma coisa.

Eu finalmente poderia respirar o ar da liberdade.

                                   ***

Dois dias se passaram. Pelo menos, foi o que eu consegui contar.

Nero quase nunca saia do meu lado, e quando saia, ele voltava rapidamente. Conversávamos muito sobre o que havia ocorrido, principalmente sobre como passamos.

Nero sempre queria ouvir meus relatos, mesmo que ele já soubesse. Ele demonstrava muita curiosidade e respeito pelo que eu contava, mas é claro que não se comparava aos feitos que ele havia feito.

Mesmo assim, segundo ele, para uma humana era inacreditável. Depois do susto que ele levara quando contei minhas aventuras, ele conseguia dar algum sorriso. Embora sentisse culpado pelos meus ferimentos.

Dei um soco de leve em seu braço.

- Pare com isso! – Adverti. – Se continuar se culpando, não sou eu mais quem vai falar. E sim, Warrior.

Ele riu suavemente e depois acariciou meus cabelos.

- Desculpe-me, mas acho que não fui apresentado devidamente a sua nova amiga.

- Ah, é. Espere um minuto. – Olhei para baixo e vi minha grande pistola colocada ao lado de minha cama. Eu sabia que ela ficaria ali, já que agora se tornara uma das partes de minha vida. Estendi um dos braços e com dificuldade, consegui pegar Warrior. Ergui a Glock na direção dele. – Aqui está ela.

Nero arregalou os olhos diante da pistola. Primeiro, foram de susto. Mas logo depois, ele a pegou com um olhar ambicioso. Era louco por armas.

- Ela é uma belezinha, mesmo – Ele sorriu. – Boa proporção, peso adequado, velocidade instantânea. É uma das melhores metralhadoras. Mas, tem o tamanho adequado para se passar por uma arma.

Eu ri concordando. Logicamente, eu não entendia nada daquilo. Mas ainda assim, era ótimo vê-lo voltando ao normal.

- Estranhei-a no começo – Comentei. -     Ela era bem pesada, mas ainda assim, acabei me acostumando a ela. Na primeira vez em que a usei, percebi que não queria mais outra arma.

Ele ergueu as sobrancelhas.

- Jura? E como a conseguiu? A Glock é uma pistola rara. Apesar de ser nova.

Pensei um pouco no assunto. A primeira vez em que ganhei Warrior fora na noite em que escapei de minha cela.

- Eu a ganhei de Vergil – Murmurei suavemente. – Ele me salvou de minha prisão, quando fui levada por Sanctus. Aparentemente, ela era uma de suas novas armas.

- Hm, entendi.

Depois disso, Nero ficou quieto. Ele já não estava mais tão animado quanto antes, e uma nuvem sombria encobriu seus olhos.

Sempre que o pai era mencionado ele não respondia, ou quando Vergil dirigia-se a ele, ele o ignorava. Eu não era lá muito de me meter em situações delicadas, mas não estava correto. Vergil não era lá a melhor pessoa do mundo, mas ainda assim, eu tinha uma dívida com ele.

Fora que Nero era seu filho. Seu único filho. Tudo bem ele nunca ter estado presente na vida dele, mas ainda assim, ele nunca tivera escolha.

- Nero – Murmurei baixinho. – Posso falar com você?

Ele olhou para mim com os grandes olhos elétricos em sinais de tempestade. Por um momento, me encarou intensamente. Logo depois, sua expressão suavizou e ele sorriu levemente.

- Já não está falando, Kyrie?

Olhei para baixo timidamente.

- É que... – Eu suspirei baixinho. – Olhe, eu acho que parte desse seu sofrimento é minha culpa. Eu não deveria ter te contado tudo aquilo daquela forma, apressadamente. Mas não tínhamos escolha. Eu não queria que você descobrisse por aquelas pestes malditas. Iria ser bem pior. Então, meu amor... Desculpe-me.

Nero fechou os olhos e segurou minha mão. Seus lábios estavam apertados em uma linha fina, mas logo ele os relaxou. Quando abriu seus olhos, eles estavam gentis.

- Kyrie, por favor. Você não tem que se desculpar de nada. – Ele suspirou. – Acredite, amor. Embora não pareça, aquilo não me pegou diretamente de surpresa. Eu meio que... Eu meio que já desconfiava.

- Como assim? – Ergui as sobrancelhas inquiridoramente.

- Bem, quando eu estava caçando Dante naquela missão... Eu fui parar na cúpula de Agnus. Ele meio que me colocou em uma armadilha. Mas... Até que fora bem proveitoso. Quando dei por mim, Yamato estava lá. Ela estava quebrada, mas estava ali. Bem perto do Portal do Submundo. Quando o Devil Bringer esquentou... Eu percebi que ele a chamava. Mais do que isso. Eu percebi que eu a chamava.

- Quando Yamato recorreu a mim como se fosse minha, e depois Dante a reclamou dizendo que era de seu irmão... Eu não sou burro. Juntei um mais um e percebi que... Se eu não era filho de Dante, então eu poderia ser seu parente próximo.

Depois disso, ele ficou quieto. As mágoas estavam consumindo seu coração, como facas. Nero estava com um olhar tão torturado que me doeu até olhar para ele.

Eu precisava acabar com isso. Estava chegando perto. Só precisava cavar mais um pouquinho.

- Tudo bem – Eu suspirei. – Digamos que você já soubesse. Mas ainda assim... Por que você está agindo assim, Nero? E não me diga que não sabe do que eu estou falando.

Ele sorriu com afeto e deitou-se ao meu lado. Delicadamente, ele me abraçou e ficou acariciando meus cabelos, pensativo. Eu não o pressionei. Ele falaria quando desse vontade.

- Kyrie... – Ele disse depois de um tempo. – Tem coisas que são complicadas. Tudo bem, eu entendi tudo o que meu pai fez por mim. E reconheço isso. Mas ainda assim... Não foi fácil. Não foi fácil crescer sozinho, ouvir que você era estranho, ver as crianças não chegarem perto de você porque você era solitário. Eu nunca gostei de ser o que sou. Nunca quis ser quem eu sou.

- E você meio que culpa sua ancestralidade por isso? – Eu ergui as sobrancelhas.

Ele não respondeu. Eu entendi o recado.

- Nero – Eu disse firme e fiz ele me encarar nos olhos. – Tudo bem, eu entendo seus motivos. Mas não vou dizer que concordo.

Ele suspirou.

- Eu já esperava por isso.

- Shhh – Murmurei. – Ainda não terminei. Vou dizer que não concordo porque não está certo. Nero... Eu também não tive lá minhas regalias. Perdi meus pais muito cedo e Credo... Bem, Credo não era lá muito presente. Ele me resguardava muito. Acha que se ele não tivesse me escondido e me colocado para dançar e cantar eu estaria machucada? Desse jeito? – Eu gesticulei para mim mesma. – Aprendi a lutar da pior maneira. Eu poderia ter ódio de meu irmão... Por ter servido a Sanctus cegamente por anos, por ter te colocado em várias enrascadas... Mas ainda assim, eu sinto uma dor imensa. Uma dor de perda.

- Eu ainda o amo como se fosse meu pai, Nero. Mas agora ele se foi. Pense bem. Às vezes, as pessoas não tem escolhas na vida. Mas as escolhas que fazem não são nada proveitosas e adoráveis... Mas são escolhas. Credo não me ensinou a lutar. Sempre fui tratada como uma bonequinha de porcelana. Mas aprendi da pior forma a lutar. Mas não me arrependo de nada do que fiz. E hoje, sei que posso estar machucada, mas é passageiro.

- E você? – Segurei seu rosto junto ao meu. – Sabe que seu pai ama você mais do que ele, certo? Não foi culpa de Vergil ter te deixado, mas agora ele está querendo compensar isso. E então? Vai ficar se remoendo de mágoas antigas e jogar a toalha ou enfrentar o desafio com as armas que tem e talvez conseguir sair vitorioso?

Nero me encarou intensamente. Sua franja caíra em cascata sobre seus olhos, mas ele a retirou com um movimento. Pude ver seus olhos. Brilhavam mais do que qualquer vez que eu vira.

- Você é maravilhosa – Ele sorriu. – Eu já disse que eu te amo?

Eu suspirei e sacudi a cabeça, rindo. Coloquei meus braços em volta dele e o puxei para mim.

- Não tanto quanto eu.

Seus olhos se estreitaram.

- Isso é o que veremos.

E dizendo isso, me puxou para seus lábios elétricos.

                                   ***

Depois de alguns dias, eu já me sentia bem melhor. Vergil vinha me visitar regularmente, e por coincidência, Nero nunca estava lá quando ele vinha e quando estava, gostava de imitar estátuas.

Vergil avaliara que minhas condições já estavam bem melhores. Em poucos dias, eu já estava conseguindo sentar-me sozinha.

- Você é forte – Ele comentou rindo. – Conseguiu ficar por algum tempo em pé com as costelas quebradas. Vai se recuperar antes mesmo do que você pensa.

- Obrigada! – Eu respondia sorrindo.

Certa vez, Vergil viera me visitar como de costume. Nesse dia, Nero estava lá. Ele ficou o tempo todo quieto durante a consulta, mas naquela vez ele estava com um brilho diferente nos olhos.

Vergil conversou um pouco comigo e me ajudou a ficar em pé. Doía um pouco, mas eu consegui andar até o banheiro e voltar. Já era um grande progresso.

- Muito bem, Kyrie! – Ele exclamou sorrido. – Nem eu estou acreditando na sua recuperação progressiva. Continue assim e já pode lutar contra demônios novamente.

Nós dois rimos da situação em que imaginamos e depois Vergil se virou para sair. Como de costume, ele se despediu de mim e de Nero. Mas, já esperando a gentileza do filho, virou-se e abriu a porta.

- Vergil... – Nero sussurrou baixinho. Era a primeira vez que se dirigia ao pai diretamente.

Vergil levou um sobressalto. Virou-se rapidamente e encarou o filho nos olhos.

- Sim, Nero? – Ele mal podia conter a emoção.

- Obrigado – Ele sussurrou quase ininteligivelmente.

Vergil franziu as sobrancelhas. Claro que ele ouvira. Ele tinha uma audição umas dez vezes melhor do que a minha. Mas ainda assim, se fez de tonto.

- O que disse?

Nero suspirou.

- Obrigado – Ele disse mais alto dessa vez. – Por... Tudo. Pelo que você fez por ela. Significa muito para mim.

Vergil abriu um sorriso e gesticulou para Nero com um aceno de cabeça.

- Sem problemas, Nero. O prazer foi meu.

E dizendo isso saiu sem mais delongas. Fechou a porta suavemente. Nero ficou um tempo calado, mas eu pude perceber um sorriso formando-se em seus lábios.

De alguma forma eu tinha certeza de que Vergil estava sorrindo também.

                             ***

Duas semanas se passaram. Eu já não sentia mais muita dor nas costelas.

Estava feliz com o tratamento que Vergil estava fazendo, ainda mais depois que consegui descer e subir a escada sozinha.

Nero acompanhava de perto meu progresso e ficava exuberante com cada pequena conquista minha.

Ele já não ignorava Vergil completamente, mas também não conversava muito com o pai.

Mas toda vez que Vergil falava com ele, ele respondia e até arriscava vez ou outra alguma pergunta.

O relacionamento dos dois estava se entrelaçando, mesmo depois de todo aquele pesadelo. Até Dante e Vergil, que costumavam querer ver o outro morto, estavam se dando bem.

Outro dia, enquanto eu estava esticando minhas pernas, eu os ouvi em uma longa conversa, da qual Dante fazia piadas e Vergil gargalhava.

Eu já estava praticamente andando sozinha, sem precisar de ajuda. E foi quando Dante decidiu que já estava na hora de voltarmos para casa.

Todos os outros que sobreviveram foram para Fortuna, Bellone e Limbo. Ficamos sabendo que as cidades já estavam sendo reconstruídas e que aos poucos, Broken Island estava voltando à ativa.

Enquanto eu me trocava, ouvi um clima estranho vindo em outro quarto. Aparentemente eram as vozes de Lady e Vergil. Eram bem alteradas, mas não ao ponto de eles gritaram.

Mesmo assim, eu fiquei nervosa.

Quando sai de meu quarto, ouvi a voz de Lady e ela parecia bem exaltada.

- Vergil, isso não é possível! – Ela exclamava. – Depois de tudo o que lutamos... Você até está se dando bem com Nero... E com Dante, também!

Eu ouvi um suspiro.

- Eu sei, Lady. Mas é assim que as coisas são. Mesmo com Sanctus derrotado, eu ainda não posso mudar o que começou.

- Não! – Ela exclamava cada vez mais alto. – Isso não pode estar acontecendo, Vergil! A guerra já acabou!

- Eu sei, Lady! – Ele suspirou. – Mas ainda assim... O que está feito, está feito.

Eu saí o mais rápido possível dali. Fui à busca de Nero. Eu não queria mais ouvir nada mais daquele assunto.

Aquilo estava me dando um pressentimento muito ruim e eu já estava esgotada de coisas ruins. Mais alguma e eu iria desabar.

Nero estava no andar inferior, examinando minha pistola. Quando desci as escadas, ele se virou para mim sorrindo.

- Essa arma é mesmo muito potente! – Ele exclamou. – Soube que ela pode atirar até em uma distância de 1 km.

Eu ri meio que forçado.

- É verdade. Eu soube disso. – Fui até ele e segurei sua mão. – Quer saber de uma coisa? Por que não fica com ela? Eu não sou lá muito boa com essas coisas e acho que ela deveria ficar com você e não comigo.

Nero sacudiu a cabeça firmemente.

- Nem pensar, Kyrie. – Ele colocou Warrior em minhas mãos. – Ela é sua. Até porque não tem mais ninguém melhor do que você com ela, amor. E se está se relacionando porque foi um presente de Vergil... Bem, ele já me deu Yamato. Eu não poderia ter ganhado arma melhor.

Não consegui esconder um sorriso. Nero às vezes me surpreendia, mas eu sempre me acostumava com seu jeito. Era o meu jeito.

Logo depois, eu lembrei-me da conversa esquisita com Vergil e Lady.

- Nero... – Comecei. – Por um acaso, você sabe o que está acontecendo? Está um clima tenso, não é?

Eu pareceu pensar por um minuto. Depois, olhou para mim com as sobrancelhas erguidas.

- Na verdade, eu andei pensando sobre isso. Dante está bem tenso, quase não falou o dia todo.

Ponderei sobre o assunto.

- Lady e Vergil estavam discutindo feio lá em cima, quando sai do quarto.

Ele pareceu pensar mais um pouco.

- Acho que a coisa deve estar mesmo feia, Kyrie – Ele suspirou. – Será que não vamos mais... – Ele interrompeu no meio da frase, quando Dante, Lady, Trish e Vergil desciam as escadas. Aparentemente todos estavam tensos.

Eu não aguentei mais.

- O que está acontecendo? – Exclamei.

Eles se encararam e depois olharam para nós dois. O olhar de Vergil demorou-se em Nero, e eu pude jurar ter visto lágrimas em seus olhos.

Lady foi quem se manifestou.

- Aconteceu um problema.

Nero e eu nos retesamos. O que mais pode dar errado?

- O que foi? – Nero ponderou firme e com a voz grave.

- Nem todo mundo vai embora, hoje. Um de nós vai ter que ficar. – Ela disse simplesmente.

- O que? – Exclamei.

- É isso mesmo – Vergil suspirou. – E essa pessoa sou eu.

- O que? – Foi a vez de Nero exclamar. Todos olharam para ele surpresos, inclusive Vergil. – Como assim?

- Nero... – Vergil olhou para ele sorrindo. – Tem certas coisas que nem o Universo sabe explicar. Na noite em que perdi tudo... Só me restara você. Eu nunca quis te abandonar, Nero. Mas eu não tive que escolher. Era a sua vida ou a minha. Logicamente, eu escolhi a sua. Achei que estava fazendo a coisa certa. Fechando o Portal e te protegendo disso tudo.

- Mas não foi bem isso o que aconteceu. – Vergil parecia perdido em pensamentos. – Confiei você a pessoa errada, filho. Mas na época, era a única pessoa que eu tinha. No fim, quem poderia acreditar? Eu realmente fiz a coisa certa, apesar de não ter sido certa. Você virou um homem forte. Você destronou Sanctus, Nero. Cabe a você agora...

- Nem pense em dizer que eu vou ter que assumir o lugar desse bosta! – Nero gritou. – Eu renego se for preciso. E nem pense em dizer que não quer me abandonar, Vergil. Está fazendo isso de novo! E eu que pensei...

- Nero! – Dante exclamou. – Não fale assim com seu pai. Vergil não está fazendo isso porque quer. Ele é obrigado, Garoto. Seu pai recebeu a maldição de ficar preso aqui. Com Sanctus morto ou não, a maldição ainda prevalece.

- Não! – Exclamei. Depois de tudo, não! Isso não poderia estar acontecendo.

Nero virou-se com os olhos elétricos para Vergil. Olhando-o intensamente, eu percebi que não havia raiva neles. Eu sabia que ele tinha um coração maravilhoso. Uma lágrima escorreu pelo rosto de Nero.

- É minha culpa, não é? – Ele parecia um garotinho. Indefeso, desprotegido e inseguro.

Vergil deu um passo a frente e tomou Nero nos braços. Ele ficou surpreso no início, mas logo depois envolveu o pai em um abraço. Silenciosamente, os dois choravam.

- Nero, é claro que não! Nunca mais diga isso, meu filho. Nada do que aconteceu é sua culpa, entendeu? Nada!

- Mas... – Nero começou.

- Não, Nero. Isso era para acontecer. Independentemente do que houvesse, eu nunca poderia impedir isso. Eu fiz a minha escolha. Você só foi parte dela. Mas não é sua culpa. Entenda isso.

Nero chorou baixinho. Se ele sentia raiva do pai, agora não sentia mais. Ele não soltou Vergil nem por um minuto. Agora que estava começando a se dar melhor com seu pai, isso acontece. Ele não aguentava mais nenhuma perda.

- Mesmo assim, eu... Eu não quero perder você novamente. – Ele fungou e soltou Vergil.

- Mas você não vai, meu filho. – Ele apertou a mão de Nero. – Eu vou sempre estar com você, não importa o que aconteça. Mas tenho que ficar. O trono do Submundo fica a meu poder agora. E como Dante é o gêmeo que permanece no mundo mortal...

- A liderança fica com Nero – Dante fincou o pé. – Eu lá não sou bom com essas coisas, você bem sabe... E além do mais, nada mais justo que seu filho tome o trono. Ele derrotou Sanctus. É herdeiro direto de Yamato.

- Eu não vou ficar com trono nenhum – Ele resmungou.

- Para de bancar a adolescente mimada, guri – Dante alertou. – Pelo que eu sei, esse papel é de Kyrie.

Engatilhei a Glock.

- O que eu quero dizer – Disse Dante enquanto me olhava de esguelha. – É que nada acontece por acaso, Nero. Não há líder melhor em Fortuna do que você. Compreende? Uma hora ou outra, você irá ter que assumir.

Nero ficou ponderando por um tempo. Basicamente, eu já saberia qual seria a resposta dele, mas ele resolveu não dizer nada.

Ele apenas encarou Vergil. De alguma forma, ele entendeu o que o pai quis dizer. Para manter o equilíbrio... Era necessário.

- Eu vou te ver outra vez? – Ele murmurou para Vergil.

Vergil abraçou o filho mais uma vez e sussurrou em seu ouvido

- Eu te amo, Nero. Mais do que qualquer coisa que exista neste mundo.

Nero retribuiu o abraço.

- Eu também te amo... Pai.

Vergil chorou. Lágrimas vieram aos olhos de Lady e Trish e eu chorei baixinho. Até Dante virou-se para “ver a decoração”.

- A hora está chegando – Trish anunciou.

Vergil e Nero se separaram. Mas ambos trocaram olhares. Aquela não seria a última vez que eles se veriam.

Vergil olhou para mim e sorriu.

- Obrigado, Kyrie. Se não fosse por você... Nada disso teria acontecido. Foi a melhor Líder que eu já vi na minha vida. 

Sacudi a cabeça.

- Obrigada a você, Vergil. Por ter me mostrado isso.

Ele me abraçou e eu enterrei meu rosto em seu ombro. De alguma forma, ele também era importante para mim. Disso eu tinha certeza.

Quando ele me soltou, ele virou-se para Dante.

Dante o encarou com os olhos cinza brilhando.

Os filhos de Sparda, os tempestuosos gêmeos, ficaram se encarando. Dante, com um pequeno sorriso e Vergil com um aceno de cabeça.

- Obrigado por tudo que fez pelo meu filho, Dante – Vergil estendeu a mão. – Vou lhe ficar devendo essa.

Dante apertou a mão de Vergil.

- Sabe que vou cobrar, certo?

Palavras não poderiam descrever aquele momento. Os dois se encaravam fraternalmente, como que falassem tudo o que queriam falar.

Dante sempre amara o irmão. Apesar de tudo, ele sempre o amou.

Os olhos de Dante encheram-se de lágrimas e os de Vergil também. Os dois apertaram ainda mais a mão e deixaram-nas escorrerem.

Depois daquela hora, eu soube. Eu soube que de alguma forma eles tinha alma. E que de alguma forma eles tinham sentimentos.

Sim. Demônios podiam chorar.

Nero veio ao meu lado e segurou minha mão. Ele poderia estar abalado agora, mas ainda assim, eu estava com ele.

Estávamos juntos. Como sempre deveria ser.

Depois de um momento entre Dante e Vergil trocando mensagens silenciosas, ao qual não poderiam ser verbalizadas, Dante deu um sorriso para Vergil.

- Sabe, mano – Ele piscou. – Apesar de tudo, eu ainda não vou com a sua cara.

Vergil deu uma longa risada e puxou Dante em um abraço apertado. Este, não recuou.

- Sim, eu sei. Eu também te amo, Dante. 


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Notas finais do capítulo

E foi isso. Sei que alguns não gostaram, mas nem tudo é perfeito sim? Bem, eu to quase chorando aqui, não quero me despedir dessa fic. Mas tenho uma boa notícia. Aos que gostaram... Sim, ela terá continuação! Só não sei quando, pois com meus vestibulares chegando, acho que lançarei só no fim do ano, pois tenho duas fics em andamento ainda. Mas ela vai ter. Ok? Então, não sintam como um adeus. E sim como um "até logo". Bem, este vai ser o último aviso antes dos agradecimentos. Obrigada por tudo! Vocês são os melhores leitores e amigos que me acompanharam! Vamos lá terminar essa fic de vez? Antes que eu morra de chorar? Hahaha, ok. Bora ler o Epílogo. '-'



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