Os dias que se seguiram pareciam incontáveis. Tantas coisas haviam acontecido... Eu não sabia nem por onde me lembrar.

Quando chegamos, ficamos impressionados.

Fortuna estava praticamente de volta a ativa. As ruínas em que a cidade havia ficado, foram deixadas para trás. Todos trabalharam muito para deixarem-na perfeita, como ela realmente era.

É claro que ainda faltavam muitas coisas, mas ainda assim... Nossa casa estava de volta.

Quando chegamos, fomos saudados com um coro de gritos. Todos estavam no Castelo para nos receber.

Nero sorriu diante da cena. Ele estava tão emocionado com tudo aquilo, que ainda não encontrara palavras para descrever.

Um grupo de crianças, de aproximadamente sete anos, o cercaram. Elas o olhavam admiradas, e eu sorri diante da cena.

Nero abaixou-se e brincou com cada uma delas. Ele jogou um pouco de futebol com os meninos e depois ajudou as meninas a pularem corda. E é claro que ele sempre as deixava ganhar.

Depois de se divertir com as crianças, prometendo voltar mais tarde, ele pegou minha mão e nos dirigimos ao Castelo de Fortuna, passando sob a Guarda de Honra.

- Meu Deus – Exclamei rindo. – O que é tudo isso?

- E você ainda pergunta? – Ele me beijou na testa. – Tudo isso é pelo que você fez, Kyrie.

- Nem vem – Rebati. – Você também fez muita coisa. E Dante, Lady e Trish...

- Ok! – Ele exclamou vencido – Todos nós, então.

Depois de sermos escoltados pela Guarda, fomos em direção a Catedral, onde nos esperavam com uma grande cerimônia.

Pricen, um dos Guardas de Elite ao qual meu irmão era o chefe, se aproximou.

- Sejam bem vindos, todos vocês – Ele exclamou. – A multidão que estava dentro da Catedral explodiu em aplausos e gritos. – Obrigado por estarem conosco, Heróis!

Nero me abraçou e Dante, Lady e Trish sorriram.

- Não somente nós – Nero exclamou. – Todos aqui, todos vocês... São heróis. Todos ajudaram a combater de uma vez por todas aquele fanático, aquele ilusionista! Inclusive você, Pricen.

Este riu e apertou o ombro de Nero, como um comprimento antigo.

- Como sempre, muito modesto – Ele riu.

Depois, gesticulando para todos, ele se dirigiu a uma cerimônia mais formal.

Nero e eu sentamos juntos e Dante e as meninas sentaram do outro lado. Pricen tomou o centro da Catedral e prosseguiu.

- Como sabem, hoje é um dia especial. É o nosso primeiro dia de muitos em que viveremos... Em liberdade. – Todos aplaudiram. – Graças a Dante, filho de Sparda, Lady e Trish, o nosso querido Nero e... Kyrie. A irmã mais nova de nosso falecido Capitão e Líder da Guerra contra Sanctus.

Todos gritaram ao ouvir meu nome. Imediatamente, quis protestar, mas a vermelhidão me tomou. Fiquei tão corada que poderia facilmente me esconder nos braseiros e me confundir com eles.

Nero me abraçou com força e depois começou a gritar junto com todos. Dei um soco de leve em seu braço. Ele riu.

Pricen continuou a cerimônia, homenageando algumas pessoas que foram as que motivaram, as que lutaram bravamente, as que se sacrificaram...

Depois, foi a vez de Dante receber as honras, que ele conduziu com muito bom humor, fazendo todos caírem na gargalhada.

Logo, Lady e Trish receberam também as honras. Elas atraiam muitos olhares do público masculino, inclusive alguns assovios e um sortudo ou outro arriscavam uma cantada. Felizmente, elas estavam de bom humor.

Na vez de Vergil receber as honras, Nero foi convidado a homenageá-lo. Ele e Dante subiram juntos ao palco.

- Nesta noite – Dante começou. – Estamos aqui para homenagear um...

- Um grande homem – Nero completou. – Um grande homem como Dante. Uma pessoa irreversível e as vezes, incompreensível. Mas acima de tudo... Um homem ao qual hoje eu posso dizer que me inspiro. Meu pai.

Todos aplaudiram fortemente, mas estava longe de terminar.

- O homem ao qual, admito – Dante continuou. – Eu odiei. Odiei, sim, mas não odiei de verdade. O homem que... Que hoje, eu posso dizer que é a pessoa em que eu posso confiar. Afinal, se não é seu irmão em que você confia, quem mais você pode recorrer? Vergil é a pessoa em que eu posso dizer... Que eu me submeti. E sempre me submeterei.

Os aplausos ficaram ainda mais fortes. Nero ficou por concluir a homenagem, mas não lhe vinham palavras no momento. Tudo o que ele queria dizer sobre o pai era mais forte do que qualquer coisa. Mais forte do que ele, até.

- Eu simplesmente quero dizer que... Pai. Aonde quer que você esteja... Eu sei que você vai estar sempre comigo. E eu vou estar sempre com você. – Ele suspirou. – De onde você está, eu sei que você está liderando.

- Assim como você deveria estar, Nero – Dante terminou.

Todos começaram a gritar e a aplaudir e em pouco tempo, estavam clamando Nero como Líder.

Nero nem sabia o que dizer, até que eu não aguentei mais e gritei:

- Nero! É seu destino. Você mudou a vida dessas pessoas. Cabe a você, agora, conduzi-las.

Todos mais uma vez gritaram e aplaudiram em resposta.

Pricen tomou aquilo como um sim e sorriu para Nero, que sorriu timidamente em resposta.

- Muito bem, então! – Ele segurou o Devil Bringer de Nero e o levantou ao alto. – Senhoras e senhores, saúdem o mais novo Líder Supremo da Ordem da Espada!

Um urro ensurdecedor percorreu o público, fazendo com lágrimas viessem aos meus olhos. Em resposta, gritei o mais alto que podia e aplaudi meu namorado com uma força ao qual nem eu sabia que tinha.

Nero olhou sorridente para todos e lançou uma sombra de seu Devil Bringer em saudação. Todos gritaram ainda mais.

Finalmente, estava completo. Eu não sabia se explodiria de felicidade ou se mais coisa poderia acontecer.

A única coisa de que eu sabia era que... Éramos livres agora. Não havia mais nada a temer.

Felizmente, as cartas que eu havia jogado... Estiveram ao meu favor.

                                   ***

Depois da cerimônia de honra, Nero ficou meio inacessível.

Havia tantos cumprimentos e tantas formalidades, que eu achei melhor dar um espaço a ele.

Enquanto a festa retumbava a todo vapor dentro do Castelo, eu comecei a andar ao redor da fonte externa.

Aquele cenário fora de muita importância em minha vida... Onde eu e Nero nos conhecemos, onde ele derrotou Sanctus pela primeira vez, onde ele havia sido raptado... E agora, era onde ele era coroado. Como legítimo Líder.

Eu estava tão feliz por ele, que não sabia como essa felicidade caberia em meu peito.

Girei ao redor da fonte, como eu fazia quando era uma garotinha. Velhos hábitos custam a passar, como dizem os mais sábios.

Inesperadamente, depois de um tempo, senti mãos fortes em minha cintura.

- Ei – Nero sussurrou baixinho em meus ouvidos. – O que a minha namorada está fazendo aí sozinha, posso saber?

Eu ri e o abracei.

- Pensando.

- E em que essa cabecinha está pensando, hã? – Ele me encarou.

Dei de ombros.

- Na vida, Nero. Em como agora tudo mudou... Às vezes é tão maravilhoso que até assusta.

Ele me olhou com ternura e me tomou em seus braços.

- Pode até ser, Kyrie. Mas ainda assim... Lembra que uma vez você me perguntou: “Isto é o fim?” Pois é. Eu lembro que eu lhe disse que talvez fosse, mas na verdade, eu estava errado. Isto não é o fim, amor. É o começo. É o começo de tudo. É como um livro em branco. Agora, só precisamos começar a escrevê-lo.

Eu o abracei forte e encarei-o com os olhos brilhando.

- E é isso que Vossa Majestade ordena, senhor? – Eu ri diante da brincadeira.

Nero franziu as sobrancelhas.

- Sabe que não gosto dessas formalidades.

- Sei. – Dei de ombros. – Por isso, é bom se acostumar.

Ele revirou os olhos e riu. Às vezes, eu era bem brincalhona.

Por um momento, ficamos rindo. Aproveitando ao máximo todas as nossas vitórias e conquistas.

Depois, Nero inclinou-se na minha direção. Eu já esperava por isso, e quando estava fechando os olhos...

Ouvimos um ruído muito conhecido.

Alguns demônios que haviam sobrado depois da guerra, aqueles que eram bem fraquinhos, estavam andando na nossa direção.

- Eu não acredito! – Rosnei, lembrando-me de outra ocasião em que eles também interromperam.

Nero soltou uma grande gargalhada e engatilhou Blue Rose.

- Bem – Ele suspirou, controlando o riso. – Parece que eles estão sempre querendo estragar tudo. Acho que esse beijo vai ter que esperar. De novo.

E virando-se para lutar contra eles, senti uma energia emanando de Nero ao qual eu não sentia fazia muito tempo. A de excitação por fazer o que ele sempre fez... Exterminar essas pestes.

Ele deveria imaginar que minha resposta deveria ser: “Tudo bem, eu espero”. Por isso, ele nem se deu ao trabalho de esperar.

Só que ele estava muito enganado.

- De jeito nenhum! – Exclamei, puxando Nero pelo capuz e fazendo soltar outra série de risos. – Agora, meu querido, são eles que terão que esperar.

- Sim, senhora – Nero me olhou, enquanto me tomava nos braços e me girava entre eles, me beijando da forma mais intensa possível. Meu ar foi para o espaço, disso eu tinha certeza.

Nos braços dele, eu entendi. Entendi que meu lugar não era sendo protegida por ele, e sim, lutando ao lado dele.

E daí por diante era assim que seria. Aquela Kyrie que eu havia libertado finalmente tomara o seu lugar.

Obstáculos sempre existiriam. Caberia a nós saber o que fazer com eles.

E disso nós tínhamos certeza. Apenas uma certeza única.

De que o quer que aconteça, nós enfrentaríamos. Não importasse o que seria. Sempre estaríamos lá, prontos para qualquer coisa, em qualquer lugar.

Não tínhamos certeza de que sempre iríamos vencer.

Mas sim, de que...

Nós nunca iríamos nos render.