Na escola...

Terça-feira, dia de educação física das meninas, meu professor é definitivamente muito gato.

- Baleado, A contra B.

- Parece mais a divisão das pálidas contra as bronzeadas – fiz um comentário em voz baixa com as meninas da minha sala.

- É exatamente isso que ele quer – Mel me explicou.

- Isso, o que?

- Provar que as pálidas são melhores que nós – Jú.

- No baleado, vocês irão treinar a força para balear, a agilidade para não ser baleada, e a resistência quando for baleada – o professor jogou a bola em nossa direção para interromper nossa conversa, mas em um reflexo muito rápido que eu nem imaginava que tinha, eu segurei a bola antes que esta se encostasse a qualquer uma de nós.

O jogo começou e durante todo ele, eu senti Victória me encarando, cada bola que ela lançava eu sentia que era para mim, e num instinto de auto defesa, quando eu fui para o morto, todas as minhas bolas eram em direção a ela, as outras garotas perceberam que eu só mirava em Victoria, então deu para balear algumas garotas que estavam distraídas esperando que eu só fosse balear Victória, hoje eu estava realmente rápida eu desviava de todas as bolas que me lançavam, minha força foi ao máximo e minhas bolas eram muito rápidas, mas eu percebi que não era só comigo, reparei em algumas garotas que se movimentavam tão rápido que eu via apenas vultos e a bola que me atingiu veio em uma velocidade muito grande imaginei que fosse doer bastante, mas parece que minha resistência também tinha evoluído durante àqueles cinqüenta minutos de baleado.

Depois do jogo estava na arquibancada descansando.

- Cara, a Victoria estava te encarando de um jeito... – Mel.

- Vocês perceberam? – eu.

- Você está brincando? Todo mundo percebeu o clima tenso entre vocês duas – Gabi.

- Mas fica tranqüila, se elas vierem pra cima, a gente vai estar com você – Paty.

- Elas? – eu.

- Claro! Quando alguém de lá briga com alguém daqui nunca vem sozinho e é por isso que você tem que estar preparada – Paty.

- Victória é a líder da panelinha pálida, e ela não vai poupar você – Jú.

- Você roubou o namorado dela e é por isso que eu sou sua fã! – Mel.

Victoria se aproximou da gente com seu grupinho, interrompendo nossa conversa.

- Oi... Luna?

- Sim, por quê?

- Só queria confirmar que foi você mesma que se atreveu a se meter em meu caminho.

- Acho que eu não entendi seu comentário...

- Você sabe exatamente do que eu estou falando.

- Se você está falando sobre Victor, acho que eu deveria te lembrar que foi você quem terminou com ele.

- Pois é, mas eu o quero de volta. E quando eu quero alguma coisa, eu sempre consigo. Sempre!

- Acho que você vai ter que abrir uma exceção.

- Veremos!

Eu nunca tinha entrado em uma briga, muito menos uma briga de gangue, com certeza eu iria apanhar, mas ela me afrontou, todos estavam esperando por esse dia, não tinha como fugir, não tinha para onde fugir e sinceramente eu não queria fugir. Com toda a certeza eu preferia que essa briga fosse só entre nós duas, mas isso não dependia só de mim...

Eu meio que tinha abandonado Lupi, estava andando com as meninas. Não queria envolver Lupi em minha briga com Victória, mas estava me sentindo culpada por deixá-lo sozinho, mas também não era o melhor momento para pensar nisso.

Quinta-feira...

A primeira aula foi de história, a professora passou um filme, Os miseráveis.

- Eu quero que vocês façam um texto de no mínimo vinte e cinco linhas, relacionando o filme ao nosso assunto dessa unidade, para ser entregue na próxima aula.

A TV estava em nossa sala, então na segunda aula tivemos que trocar de sala com a turma A, a professora de história era uma das poucas que não priorizava a turma A, a turma queridinha de quase todos os professores.

Nossa segunda aula foi vaga, mas me incomodava o fato de a turma A estar na nossa sala. Eu precisava passar por lá, eu sabia que alguma coisa errada estava acontecendo, Victória estava sentada na minha carteira, escrevendo alguma coisa nela e me olhou com um ar de deboche, que me incomodou, o que Victória estava escrevendo na minha carteira?

Na terceira aula voltamos para nossa sala, passei por Victória e ela esbarrou em mim de propósito. Quando sentei em minha carteira estava ansiosa para saber o que Victória havia escrito nela. Mas quando vi, minha opinião mudou repentinamente, eu com certeza preferia não ter visto aquilo.

- Vaca-Luna...

Eu vou matar aquela garota...

Só esperei a hora certa, a hora do intervalo. Assim que o sinal bateu desci correndo as escadarias que levavam ao pátio, ela estava lá, mas não viu minha aproximação, a raiva tomou conta de mim por inteiro, não pensei em mais nada, joguei minha mochila no chão e enrolei seus cabelos em minha mão e a empurrei para baixo esfregando seu nariz no chão áspero e sem reboco do pátio.

- Fala agora, na minha cara o que você escreveu na minha carteira!

- Vaca-Luna!

- Retire o que disse! – esfreguei seu nariz com mais força.

- Não!

- Retire o que você disse. Agora! – usei toda minha força, que agora era muita.

- Eu retiro o que eu disse...

- Agora me peça perdão!

- Aí já é demais.

- Eu disse, agora!!!

- Perdão... – dessa vez ouvi os soluços do seu choro, mas não bastava para mim, estava disposta a continuar ali, fazendo Victória se arrepender de tudo o que ela havia dito, mas Victor e Lupi resolveram interromper minha vitória.

Victor me arrancou de cima da Victória e Lupi foi ajudá-la a se levantar. Quando vi a diretora nos olhando com cara de desgosto, foi também quando vi o nariz de Victória sangrando, meu objetivo era fazer Victória se arrepender, mas foi eu que me arrependi do que fiz com Victória, queria pedir perdão, mas era tarde demais.

- Para a minha sala, as duas.