Verdadeiros Mitos escrita por Liz Santanna


Capítulo 4
Você?




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Indo para o colégio no primeiro dia de aula, no meio do caminho bateu a fome, parei numa lanchonete e pedi um cachorro-quente, estava com pressa, mas reparei em um garoto que estava sozinho sentado numa mesa perto de mim, um moreno alto e forte, com uma jaqueta preta que eu não entendi direito, eu estava derretendo lá, de mais ou menos 16 anos, mas o que realmente me chamou atenção foram seus olhos claros, de um mel quase amarelo. Meu cachorro-quente ficou pronto, apesar da pressa iria comer ali só para reparar um pouco mais naquele garoto, mas quando me virei ele já tinha ido embora.

Guardei o cachorro-quente pra comer depois, só faltava cinco para as sete, peguei a moto e continuei meu caminho para o colégio, mas novamente meu caminho foi interrompido, o mesmo garoto da lanchonete estava atravessando a rua, mas no momento em que consegui desviar, eu virei e ele não estava mais lá. Essa capacidade desse garoto aparecer e desaparecer do nada, com certeza agora estava na lista das coisas que mais chamavam minha atenção para ele.

Se eu tivesse algum problema por ter chegado atrasada, com certeza eu colocaria toda a culpa nesse garoto, ele atrapalhou meu caminho duas vezes, tudo bem, a primeira vez foi meu estômago, mas eu continuaria ali por causa dele, agora acho que ele me fez um favor em ter ido embora da lanchonete, antes que eu continuasse ali e perdesse a hora.

Cheguei exatamente às 7:00, e para o meu azar não tinha mais ninguém no pátio a não ser ele, o garoto da lanchonete, o problema é que eu não sabia onde era minha sala.

- Oi, err... Você sabe onde é minha sala?

Ele olhou pra mim como se estivesse me perguntando silenciosamente, porque que eu estava falando com ele.

- Hei...

- Eu não sei onde é a minha sala, vou saber onde é a sua?

- Desculpa, eu achei que você fosse menos irritante!

- Você que tentou me atropelar?!

- Você que apareceu na minha frente!

...

- Desculpa – falamos ao mesmo tempo.

- Luis Paulo Braga, mais conhecido como Lupi - ao mesmo tempo em que estendeu a mão para um aperto.

- Luna Dias, mais conhecida como... Luna – correspondendo ao seu gesto.

Uma risada dupla isolou o clima tenso de cinco segundos atrás.

- Preciso achar minha sala...

- É, eu também...

Os nomes estavam em uma lista ao lado da porta de cada sala, e adivinha, éramos da mesma sala, “primeiro ano sala B”. Todos os alunos estavam divididos em duplas.

- Licença...

- Podem entrar – respondeu o professor – Sentem naquelas cadeiras, e respondam a esses questionários, acho que pra vocês dois não vai ser difícil falar um sobre o outro – disse ele entregando uma folha com o horário das aulas para cada um.

- É impressão minha, ou ele acha que nós estamos juntos?

- E não estamos?

- Você entendeu o que eu quis dizer... – nós rimos, mas algo me dizia que ele estava falando sério e que tinha entendido exatamente o que eu quis dizer.

Os tópicos do questionário estavam no quadro.

- Então, música preferida? – eu comecei querendo fugir do assunto.

- É isso mesmo que você quer saber? – percebi uma tentativa de me deixar envergonhada.

- Não, mas é isso que está no quadro – eu disse tentando não corresponder as expectativas dele.

- E o que você quer saber? – ele se aproximou de mim, talvez para tentar me intimidar, mas eu estava determinada a não ceder ao que ele queria e me aproximei mais ainda.

- Seu número...

- Calçado ou manequim? – encostando-se na cadeira.

- Celular... – repeti seus movimentos.

- 8249-6777... Não vai anotar?

- Eu tenho boa memória.

Que grande mentira eu sabia que se não anotasse aquele número nesse exato momento nunca mais conseguiria me lembrar, mas eu não ia deixar evidente para ele que eu tinha me deixado hipnotizar pelo mel de seus olhos de tal forma, que não fosse capaz de parar de olhar ao menos para anotar aquele número. Disfarçadamente, anotei o número no canto do caderno ao mesmo tempo em que anotava os outros tópicos do questionário, estava no ultimo tópico quando o sinal bateu.

- Professor, a gente pode entregar na próxima aula, é que nós chegamos um pouquinho atrasados e...

- Mas justamente vocês que eu achei que seriam os primeiros a entregar, já sei, ficaram muito entretidos um com o outro e acabaram esquecendo o trabalho.

- Sabe como é, né fessor?

Não fazia a mínima idéia do que Lupi queria com aquilo, ainda mais me abraçando por trás daquela forma, seu corpo era quente, ele era meu amigo e eu não deveria sentir isso, mas eu gostei da forma como ele me abraçou, eu me senti protegida, como se nada pudesse me atingir enquanto eu continuasse nos braço de Lupi.

- Sei sim, por incrível que pareça eu já tive a idade de vocês – nós três caímos na gargalhada, meu professor de redação aparentava ter no máximo 19 anos de idade, era alto, bonito e forte, a partir daí eu comecei a perceber que todos no colégio tinham esse perfil – então, vejo a redação de vocês na próxima semana.

Depois da aula passei na casa de Nay para almoçar.

- Como foi seu primeiro dia de aula?

- Normal... – não estava muito a fim de falar sobre o que tinha tomado a maior parte do meu tempo.

- Sério? Ai que normal mais sem graça.

Nós rimos, mas o assunto morreu aí acho que ela percebeu minha “vontade” de falar sobre isso. Terminamos de almoçar, ela foi para o trabalho, eu lavei a louça, varri a casa dela e voltei pra minha. Abri a mochila e peguei o caderno, como era primeiro dia de aula, os professores não passaram atividades, só o de redação que resolveu fazer àquele trabalho em dupla. Isso me fez lembrar Lupi, eu precisava ligar para ele e teria a desculpa de terminar o trabalho.

- Alô?

- Lupi?

- Você ligou mesmo, né?

- A gente precisa terminar o trabalho, né?

- É...

- Onde você está?

- Em casa.

- Onde é sua casa?

- Você não está pensando em vir aqui está?

- Por que não?

- Eu vou aí.

- Mas você não sabe onde é minha casa.

Ele desligou, mas como ele vai vir pra cá se ele nem sabe onde é minha casa? Para a minha surpresa 5 minutos depois a campainha do meu apartamento tocou e era ele.

- Como você chegou aqui?

- De moto.

- Como você sabe onde é minha casa?

- Eu sei mais coisas sobre você do que você imagina.

- Então por que você veio até aqui? Já que você sabe tanto sobre mim já deveria ter respondido o questionário por mim.

- E respondi.

- Então por que você veio?

- Primeiro, você ainda não respondeu o questionário sobre mim. Segundo, você acha mesmo que eu ia perder a oportunidade de vir a sua casa por um convite seu?

- Primeiro, eu não te convidei e segundo... Eu preciso terminar o trabalho, então já que você está aqui vamos logo acabar com isso.

- Tem certeza que quer se livrar de mim assim tão rápido?

- Tenho.

Eu só consegui terminar o questionário depois de duas horas tentando forçar ele a responder, mas parecia que ele não estava com muita pressa para se afastar de mim, ele não quis me responder como sabia onde era minha casa, mas eu tinha um mau pressentimento de ter sido seguida, mas se ele tivesse me seguido ele ia pensar que eu morava na casa de Nay. Essa história estava causando um verdadeiro caos em minha mente. Como Lupi sabia onde era minha casa?


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