Estava no “meu” quarto improvisado na casa de Nay, quando meu celular tocou, atendi sem sequer olhar o número, esperava encontrar a voz de Nay do outro lado da linha, afinal era a única pessoa que me ligava ultimamente.

- Alô?

- Senhorita Dias?

Não era a voz de Nay, olhei o número e também não era o dela.

- Sim. Quem está falando?

- Colégio Karku, você acaba de ganhar uma bolsa de estudos.

Eu estava me sentindo um verdadeiro parasita na casa de Nay, não me parecia uma má idéia começar uma nova vida em um novo colégio e voltar a morar na minha casa, não pretendia parar de estudar, mas não tinha dinheiro para continuar pagando um colégio para mim, muito menos o Karku, a rede de colégios mais cara do Brasil, com vários colégios espalhados pelo país, essa bolsa de estudos veio na hora certa, apesar de estar meio desconfiada, era a solução para os meus problemas.

- Que dia começam as aulas?

- Dia 07/02.

- Mas é depois de amanhã!

- Sim, às 7:00 h.

- Em todos os outros colégios as aulas só vão começar na próxima semana.

- Nosso conteúdo não é igual ao de todos os outros colégios.

- Mas... Como eu ganhei essa bolsa mesmo?

A ligação caiu ou então a pessoa que estava do outro lado desligou. A primeira opção era a que queria que fosse, a segunda era a que eu tinha quase certeza que era.

Eu ia esperar Nay chegar para lhe explicar tudo, ou o que eu sabia, e ir para casa. O colégio era do outro lado da cidade, mas apesar do carro estar completamente destroçado, ainda tinha a minha moto. Poderia usar minha mochila do ano passado, o caderno eu vou ter que comprar hoje, já que amanhã é domingo e todas as lojas estarão fechadas.

O som da campainha atrapalhou meus pensamentos. Abri a porta e vi um entregador de correspondências com uma caixa nas mãos.

- Hãn... O que é isso?

- Correspondência. – Ele levantou a mão esquerda, mostrando-me as cartas.

- Eu quis dizer... Essa caixa...

- Correspondência...

- Pra quem?

- Luna Dias.

- Pra mim?

- Você é Luna Dias?

- Sou...

- A única que mora nessa casa?

- Sim, mas...

- Então é pra você.

Ele empurrou a caixa contra mim com uma folha de papel em cima e uma caneta. Assinei o papel e entrei com a caixa e as outras correspondências. No remetente da caixa tinha escrito “Colégio Karku”. Abri a caixa onde havia três camisas, a primeira era sem manga, branca e escrita Karku em preto, a segunda era justa, preta de manga comprida e gola alta, escrito Karku em branco e a terceira era cinza, folgada com um ombro caído, escrito Karku em laranja fluorescente. Além das camisas, na caixa vieram quatro módulos, comecei a foliar os módulos e li a matéria de educação física... Eu nunca tinha visto nenhum módulo com a matéria de educação física seus assuntos em todos os módulos eram os mesmos defesa, ataque, resistência.

Quando Nay chegou tive que gastar muito tempo e muitas palavras para convencer ela que era o melhor para mim.

- Eu passo aqui todos os dias depois da aula.

- E vai me ligar quando chegar em casa e quando quiser sair de casa tem que me avisar para onde vai.

- Como você quiser.

Abraçamo-nos e nos despedimos, peguei a moto, passei na papelaria comprei um caderno da Capricho e fui pra casa. Aquela casa me fazia lembrar minha mãe, me tranquei no meu quarto, me desliguei do mundo, e... Chorei. Comecei a me arrepender profundamente ter saído da casa de Nay.