Verdadeiros Mitos escrita por Liz Santanna


Capítulo 2
Reviravolta




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Meu nome é Luna, mas todos me chamam de... Luna, tenho 15 anos e moro com minha mãe em Salvador-BA, num apartamento relativamente grande, minha mãe é médica, mas eu pretendo me formar em engenharia, ou outra área bem distante da saúde. Não me sinto muito a vontade em ver ferimentos, muito menos sangue, que dirá fazer cirurgias, acho que eu me sentiria pior que o paciente.

- Luna! Vamos!

- Já vou mãe!

Estava escolhendo uma roupa para vestir, geralmente demoro séculos fazendo isso, nós viajaremos a Santa Cruz-PE, para assistir ao enterro de minha avó, essa notícia acabou com nossas férias, ela sempre foi como uma segunda mãe para mim, nossa família não era muito grande - e agora estava menor ainda - já que nunca conheci meu pai, e não faço a mínima questão de conhecer, e meu avô morreu pouco tempo após meu nascimento. Minha mãe e minha avó me criaram com muita dificuldade antes de minha mãe se formar, durante um tempo morei apenas com minha avó, pois minha mãe teve que ir trabalhar em outra cidade, já que lá o salário era bem melhor, minha convivência com minha avó não era lá muito boa, mas eu a amava e não iria deixá-la morando sozinha, por isso minha avó foi morar com a família dela em Pernambuco e eu com minha mãe na Bahia.

Pernambuco...

Eu não tinha muitas roupas pretas, para falar a verdade, eu só tinha uma blusa preta tomara que caia cheia de lantejoula e eu não iria a um enterro brilhando mais que uma árvore de natal (árvore de natal é muito exagero), tive que usar uma roupa de minha mãe o que não era nenhum sacrifício, já que eu amava todas as roupas de minha mãe e nós duas usávamos o mesmo manequim.

Eu não devia estar pensando em roupas numa situação dessas, mas quando recebi a notícia que minha avó havia morrido eu realmente chorei rios, mas às vezes eu me sinto normal por que esqueço que minha avó morreu, acho que a ficha ainda não caiu completamente, como agora, eu me arrumando. Um enterro sempre é um enterro, mas eu não o sentia como “o enterro da minha avó”, era surreal demais para mim, eu sempre a tive comigo, e muitas vezes não dei o devido valor a sua presença e agora é tarde demais para dar valor a algo que já não tenho.

No velório de minha avó tinha muitas pessoas, minha avó tinha sete irmãos e seus irmãos tiveram muitos filhos que tiveram muitos netos... Minha avó teve apenas minha mãe e outra filha que havia nascido morta, e minha mãe só teve a mim. Não tínhamos muita aproximação com a família de minha avó. E agora éramos somente nós duas, uma pela outra.

Nós ficamos lá por três dias, em um hotel, mas percebemos que não tínhamos mais motivos para continuarmos ali.

Voltamos ao túmulo de minha avó e ficamos lá por um momento recordando mentalmente cada momento com ela, cada palavra dita no momento em que deveria continuar omitida, cada palavra omitida no momento em que deveria ser dita...

“Avó, Mãe, Filha, Pessoa única, que deixou em cada um que continua aqui, um pedaço de seu amor e de seu carinho por cada ente em especial. Deixou uma marca em cada um, fez a diferença na vida de todos, e para sempre habitará nossos corações. Antes de seu nascimento, durante sua vida e depois de sua morte. Amém.”

Nós resolvemos voltar para a Bahia de carro, que pensávamos ser mais seguro. Estávamos cansadas e apressadas para chegarmos em casa. Como de costume, fui no banco traseiro, geralmente eu dormia durante toda a viagem, mas nessa, em especial, algo interrompeu meu sono. O carro bateu em um poste, capotou e ficou parado no meio da estrada.

- Filha, tenta sair do carro...

- Mas... E a senhora?

- Meu cinto não quer soltar...

Quando eu consegui sair do carro e fui tentar ajudar minha mãe a sair. Um caminhão, com um motorista talvez mais distraído que nós, bateu no carro, que raspando em mim, me deixou caída e desceu o barranco, capotando várias e várias vezes.

- Mãe? Mãe?! Mãe!

Bahia...

Se para mim a morte de minha avó era algo surreal, a de minha mãe era algo que eu jamais entenderia. Por que ela? Por que a pessoa mais importante da minha vida? Agora, mais do que nunca, eu me sentia sozinha, eu sabia que estava sozinha, eu realmente estava sozinha...

O que mais me esperava? Qual a próxima desgraça que aconteceria em minha vida? Primeiro meu avô, depois minha avó e agora minha mãe, só falta levarem a mim, eu não tenho mais nada, não tenho mais ninguém...

No enterro de minha mãe vieram todos os amigos dela, do seu trabalho, da cidade... Minha mãe tinha muitos amigos, era uma pessoa realmente muito especial. Da família? Apenas eu e sua melhor amiga que era praticamente da família. Minha mãe nunca se casou, acho que depois do meu pai ela perdeu toda a crença que tinha em homens, essa lição ela acabou passando para mim, eu não lembro muito de meu avô quando ele morreu, eu era muito pequena, mas eu sei dessa história, ele era um bom pai, um bom avô, mas não era um bom marido, era sustentado por minha avó e a traía, minha avó sustentava a ele e a outra...

- Você vem comigo?

- Não, eu quero volta pra casa...

- E ficar sozinha lá? Acha mesmo que eu vou deixar você ficar naquele apartamento, daquele tamanho, sozinha? Você vem comigo.

Na primeira vez em que Nay disse isso foi em tom de pergunta, mas agora era como se fosse uma ordem. Eu realmente preferia morar com ela a qualquer outra pessoa da minha família, eu sempre a adorei, sempre muito divertida era o que mais animava minha mãe e isso me deixava feliz também, mas não me sentiria muito bem dependendo de alguém que não tinha parentesco algum comigo. Porém, resolvi aceitar seu convite apenas temporariamente, ainda não sabia ao certo que rumo minha vida tomaria, apenas esperava que alguma solução caísse do céu.


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