Eu não era muito de sentir pena, mas confesso que me senti um pouco mal por deixar Katniss sozinha na floresta. Foxface estava apenas alguns passos ao meu lado, correndo entra as árvores.

Encontramos Thresh no caminho. Ele estava alarmado e ofegante.

– O que aconteceu de fato, Thresh? – Parei, mas Foxface continuou seu caminho. Não me preocupei em saber aonde ela ia.

– Ninguém sabe direito. Alguém entrou no esconderijo. – Parei olhando pra ele, confusa. Só quem tinha a figura da espada consigo, como eu tenho no bracelete, podia entrar.

– Tem que ser alguém com a chave. Mas... – Só duas pessoas poderiam ter o símbolo, e a ideia de que eles tivessem voltado, ou ao menos uma delas, me alegrava.

Voltei a correr, ouvindo Thresh me seguir. Só me preocupei em esconder em esconder o rosto com o capuz novamente quando já tinha chegado ao vilarejo.

Corri até o beco com a entrada do esconderijo e entrei no corredor subterrâneo. Cheguei ao esconderijo, aparentemente vazio a não ser por um ou outro ladrão dormindo. Fui até o outro salão.

Abri um sorriso só de vê-lo, mesmo sabendo que não éramos amigos. Ela logo surgiu na minha frente, retribuindo o sorriso.

– Clove, que satisfação revê-la, minha amiga. – A abracei. – Também estou feliz em revê-lo Cato.

Ele simplesmente deu um sorriso. Minhas expectativas tinham se confirmado, mas não entendia porque eles voltaram.

–Por que voltaram? Não que não esteja feliz, mas estou curiosa.

– Creio que podemos conversar mais tarde, não? Quero ver os outros antes.

– Tudo bem. – Não estava muito contente, mas concordei. Outros começaram a chegar no esconderijo.

Sai do esconderijo, correndo de volta para a floresta. Eu sabia que era fácil sair dali, mas também sabia que a princesa não sairia dali tão rápido. Ou ao menos esperava que ela não tivesse tentado fugir e se perdesse.

Subi em uma árvore e continuei meu caminho do alto, para conseguir achá-la mais rápido. Minha mente vagava entre encontrar a princesa e o que eu conversaria com Clove. Eles pareciam nervosos com algo, tentando adiar a situação.

Me concentrei apenas em encontrar a princesa. Cheguei ao lugar em que a deixei sozinha, mas ela não estava mais lá.

– Ótimo. Era tudo que eu precisava, alteza. Que você se perdesse. – Me conti para não gritar, mas minha voz ainda tinha um tom de frustração.

Respirei fundo e procurei em que direção ela tinha ido. Me surpreendi ao ver que ela tinha ido na direção certa. Segui o rastro dela, mas desisti de ir por terra e subi em uma árvore de novo.

Segui um pouco antes de encontrá-la. Ela resmungava, de uma maneira educada. Me parecia um pouco arranhada, mas estava bem. Mas o que mais me surpreendeu foi que ela carregava um graveto com ela.

Não sei bem porque aquilo me surpreendeu, a única coisa que ela fazia com o graveto era empurrar um galho ou outro. Desci alguns galhos, olhando mais de perto.

Era aquilo que me surpreendia, o jeito como ela segurava o graveto, como se fosse uma flecha. Imagino que ela nunca tenha visto ou segurado um arco, mas ela parecia saber como segurar uma flecha muito bem.

Continuei observando-a do alto das árvores, com um lampejo de uma ideia que tem tudo para dar errado se formando na minha mente. Desci da árvore sem alertá-la.

– Alteza, espere. – Ela se virou de imediato, com uma expressão estranha, mas que eu diria ser de raiva.

– Esperar? Você poderia ter me dito pra esperar lá atrás antes de sair correndo feito uma louca e me largar sozinha, não? – Era definitivamente raiva.

– Perdão. Eu sei que devia ter dito alguma coisa, eu sei, mas também fui pega de surpresa. – A expressão dela suavizou um pouco.

– Tudo bem. O que foi? – Parei pensando se deveria mesmo fazer aquilo.

– Não sei bem. Posso te acompanhar até o garoto que te trouxe? – Ela começou a perguntar como eu sabia do garoto, mas a interrompi. - Eu o vi na primeira vez que veio ao vilarejo.

– Posso te perguntar uma coisa, já que você não disse o que queria? – Concordei com a cabeça, ignorando o assunto do garoto. – Por que você voltou?

– Acho que você merecia ao menos um pedido de desculpas. E, por mais que eu não saiba explicar, eu gosto de você.

Ela largou o graveto e continuou a andar na mesma direção de antes. Hesitei um pouco antes de continuar a segui-la. Ela não fez nenhuma objeção, só continuou andando.

Chegamos no vilarejo em poucos minutos. Ela teria achado o caminho por conta própria, mas demoraria um pouco mais. Ela não voltou ao assunto de mais cedo, e também não falou muito mais comigo.

Não a acompanhei depois que passamos a borda da floresta, minha mente voltando a pensar no que Clove poderia me dizer. A princesa continuou a caminhar, sem se importar em se despedir.

Caminhei na direção do beco do esconderijo, tentando esquecer a caminhada estranha com Katniss.