Eu estou esperando na delegacia a duas horas. Eu tive que dar um depoimento sobre o que eu vi na sala. Me disseram que o corpo era de Melissa Jones, amiga da Jessica. Eu não gostava dela, assim como não gostava de Jessica. Há sangue na sola do meu all star. O sangue de Melissa. Eu tento raspar um pouco dele com a ponta da minha lapiseira. Não consigo raspa-lo do meu tênis sem pensar no corpo de Melissa. Mutilado, ensanguentado, quase irreconhecível e... Sem olhos. Um policial se aproxima.

–-Garota, é melhor você ir pra casa. Passou por muita coisa hoje. Poderá dar seu outro depoimento amanhã. --Ele diz, entregando alguns documentos que minha mãe terá que assinar.

Eu agradeço e saio de lá. Lembro-me que preciso ir a casa de Léo, então mudo meu caminho.

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Caminho pelo quintal de Léo e toco a campainha quando chego a porta. Sua mãe abre. Ela esta com um casaco e bolsa em mãos. Me cumprimenta e diz que está feliz que eu não tenha desistido de Léo. Sorrio. Pergunta se me importo de ficar sozinha com ele enquanto ela vai ao supermercado. Ele é como meu irmão, então não me importo. Desde que vi ele chorar pela Jessica, não sei se sinto a mesma coisa por ele, como sentia antes. Ela sai e fecha a porta atrás dela.

Subo as escadas e vou ao quarto de Léo. Entro sem bater na porta. Dois dias atrás, ele me disse que não tinha problema. Eu o encontro lendo um livro, deitado na cama. Sua mão esta na frente do titulo, por isso não consigo lê-lo. Dou umas batidas leves na porta. Ele me ve.

–-Ah, Lottie! --Ele sorri e se levanta. --Pensei que não viesse.

–-Bom... Eu tive um contratempo, mas agora estou aqui. --Digo esticando os braços. Não poderia contar a ele que o corpo da melhor amiga da namorada morta foi encontrado na sala de aula. E pior, foi assassinado da mesma forma que Jessica.

Ele me abraça e pede que eu me sente ao lado dele. Ele faz um monte de perguntas. Qual assunto foi estudado hoje (sim, ele pergunta isso. Com certeza nem se importa); como eu estou; o que fiz hoje; e essas coisas. Peço para parar de falar de mim. Pergunto a ele como esta se sentindo. Ele responde:

–-Ah, eu não estou mais tão triste. Quero dizer, Jessica era legal, e era minha namorada, mas eu acho que estou começando a ficar melhor.

Sorrio. Nada pra mim é mais importante no momento do que ele melhore. Ele olha para mim, percebendo que estou sorrindo.

–-Deve estar sentindo muita falta dela, não é? --Pergunto com a voz mais doce que consigo.

Ele faz que sim com a cabeça. Ele para de olhar para mim e começa a falar num tom muito baixo, quase não o escuto:

–-Sabe, Charlott. Eu sinto falta dela. Mas... Desde... Desde aquela noite na festa, onde você dançou comigo e me ajudou a sair de lá... Eu quis... Quis terminar com a Jessica. Não poderia trair ela. Ia terminar com ela na segunda, mas recebi a noticia que ela morreu.

Não digo nada. Apenas concordo com o que ele diz. Não tenho ideia de onde isso vai levar. Ele volta a me olhar.

–-Não sabe o que estou tentando dizer, não é?

Balanço a cabeça em negativa.

–-Lottie, eu ia terminar com ela... Assim... Poderíamos... Eu... Eu e você...

Ele para de falar e chega mais perto de mim. Seus lábios se encostam nos meus. Sua mão vai aos meus cabelos e ele os acaricia. Ele para e me olha. Chega perto de meu ouvido e sussurra: "Diga qualquer coisa se quiser que eu pare"

–-Léo, eu... --Ele beija meu pescoço e não consigo terminar minha frase.

Suas mãos estão em minha cintura. Não consigo pensar em nada. Minha mente parece uma sala vazia. Não escuto nada. Não sei o que Léo esta pensando, e gostaria de saber. Ele morde de leve meu lábio.

–-Léo. --Murmuro.

Ele para de me beijar por um instante. Olha para mim esperando que eu diga algo.

–-Léo, não posso. Sua namorada morreu...

–-Ex-namorada. --Ele corrige.

–-Ela morreu. E... Sua mãe vai estar em casa em alguns minutos. Se ela nos encontrar o resultado não sera bom!

Ele parece desapontado com o fato de eu estar certa. Digo que preciso ir. Me despeso dele e vou embora.