Downtown escrita por Bruna A


Capítulo 4
Capítulo 4




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Acorde mais cedo hoje. Me vesti com a roupa que ia pro colégio e fiquei na frente da minha casa. Dois dias atrás, quando eu fui para a casa de Léo ver se ele estava bem, ele me fez prometer que eu ria visita-lo todos os dias em que ele não fosse para a escola. Ontem contaram para a policia que eu brigava constantemente com a Jessica, e querem que eu dê um depoimento, já que sou suspeita. 

Olho para a casa de meu amigo Marcus e me pergunto se ele já acordou. Ele é meu vizinho e meu amigo desde que eu tinha onze anos. Ele é um ano mais velho que eu e foi reprovado uma vez, por isso estamos no mesmo ano, mas não na mesma escola. Vejo ele saindo de sua casa. Ele acorda mais cedo para poder sair por ai antes da aula. Assim que ele me vê, ele acena. 

Ele vem andando até mim e senta do meu lado no meio fio. 

--Oi, Char. --Ele diz esbarrando o ombro no meu. 

--Oi. --Respondo desanimada. 

--Nossa, que baixo astral é esse? 

--Bom, a namorada do meu amigo, a Jessica, foi assassinada. E pensam que eu a matei... 

Ele balança a cabeça lentamente. Acho que não esta entendendo o que esta acontecendo, assim como eu. Eu não matei ninguém. Não sou uma assassina. Marcus sabe disso. Ele me conhece a mais tempo que Victoria. Eu mal consigo matar uma barata sem me sentir culpada e pensar que eu posso ter matado a mãe de uma família toda! Imagine um ser humano! 

Encosto minha cabeça no ombro de Marcus. Ele coloca o braço por cima de meu ombro e apoia sua cabeça na minha. Diz que vai ficar tudo bem. Eu não acho. Duvido que algo acabe bem. Tiraram os olhos dela, Lottie. Isso ressoa na minha cabeça desde ontem. Eles tiraram os olhos dela. Tive pesadelos nos ultimos dias. Homens mascarados tiravam os olhos de Léo e Victoria. E eu não conseguia impedi-los. Então eu acordava, quando eles tiravam os meus olhos. Eu estou realmente tentado não chorar agora. Quero ir para a casa de Léo com Victoria, assim eu posso ficar de olho nela, enquanto Léo me consola e diz que vai ficar tudo bem. Mesmo que não vá. Mas isso não vai acontecer. Não vai. Porque eu não vou poder ir a casa do Léo hoje a tarde, já que vou prestar um depoimento a policia, então Léo ficará bravo comigo por não ir vê-lo, e ele não vai mais querer falar comigo. Essa é a minha estupida ideia. É ridicula e infantil, mas é nela em que eu acredito. 

Olho meu relógio e vejo que talvez eu já devesse ir pegar o ônibus. Me despeso de Marcus com um beijo em sua bochecha e tomo meu cominho. 

.

.

Eu chego na escola e vou direto a minha sala. Todos ainda estão lamentando a morte de Jessica, mas estão conseguindo sorrir hoje. Os professores em geral, dão um folga para nós. Mas o professor de matemática está tornando as coisas mais difíceis. Nos ultimos dias, ele não teve pena em dar anotações na ficha escolar, nem em dar broncas. Agora ele está com a primeira aula, e o bom humor de todos não vai durar.

Ele passa alguns cálculos e e nos assiste resolve-los. Meggie passa um bilhete a Vanessa. 

--Vocês acham que só porque a amiga de vocês morreu, vocês podem passar bilhetes em minha aula? --Ele gita as ultimas palavras. Se levanta e fica em pé na frente do  quadro negro. --Sabe, quando eu tinha a idade de vocês, eu nunca poderia passar um bilhete. 

Todos se encolhem na cadeira. 

--Eu acho esse tipo de coisa inaceitável! --Ele diz e bate a palma da mão no quadro, fazendo um barulho alto. Sinto cheiro de nauseante de conservantes e sangue. -- I-na-cei-tá-vel! --Ele bate forte no quadro a cada silaba. Viro a cabeça para meu livro.

Uma garota grita. Olho para o professor. Do quadro negro sangue escorre e forma uma poça no chão. Ele pinga, ou escorre pelas paredes. Eu não consigo me mover. Não escuto nada, embora saiba que tudo que as pessoas fazem é gritar. Meu olhos estão totalmente abertos, e não pisco. O professor se afasta quando o quadro negro cai sobre a poça do sangue que escorreu. Na parede há o buraco em que o quadro se encaixa. No buraco, há um corpo. 


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