Downtown escrita por Bruna A


Capítulo 3
Capítulo 3




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Corro até o portão da casa de Léo. Entro de vagar e tento não pisar na lama que estava acumulada perto da cerca. Ando pelo caminho de pedras em linha reta. Olho para a janela do quarto de Léo.  Da pra ver, dentre os galhos cheios de folhas da arvore que fica em frente a casa, que as cortinhas de Léo estão bem abertas. Aposto que ele não esta olhando para o lado de fora. 

Chego perto da porta e toco a campainha. A mãe de Léo abre a porta. Ela não é nem um pouco parecida com o filho. Seus olhos são os mesmos, mas o cabelo é diferente. Ela tem seus cabelos pintados de vermelho. Eu poderia dizer que é ruiva, mas o vermelho é falso de mais. Ela não parecia estar muito triste. Talvez tenha ficado chateada por causa do filho, mas não parece ter chorado mais do que algumas lagrimas. Ela me convida para entrar. Ela me conhece a mais ou menos dois anos. É amiga da minha mãe. 

--Olá, Sra. Parker. --Digo. 

--Querida, como esta sua mãe? 

--Está ótima. --Sorrio. -- Mas eu queria mesmo era ver o Léo. Eu soube hoje de manhã o que aconteceu com a namorada dele. E então ele faltou a aula e eu queria ver se ele esta bem. 

Ela assentiu lentamente. Disse que era melhor eu subir. Eu acho que nós duas estamos pensando na mesma coisa. O pai de Léo tinha morrido a cinco anos, e ele não tinha lidado muito bem com aquilo. Mais uma pessoa que ele gostava morreu. Talvez ele não aguente. 

Subo as escadas e viro a direita, em direção ao quarto de Léo. Bato na porta duas vezes e espero ele responder. Ele grita "Mãe, eu não quero um cookie! Me deixa em paz!

--Léo. Para com essa palhaçada, sou eu. Charlott. --Digo. 

Eu escuto ele levantar da cama e andar com passos leves até  a porta. Ele a abre lentamente. Olho em seus olhos azuis. Ele esta com olheiras escuras e seus olhos parecem inchados. Seus lábios estão rachados. Nunca vi seus cabelos tão bagunçados dessa forma. 

--Oi, Lottie. --Ele disse com uma voz um pouco mais rouca que o normal.

--Oi, Léo. --Digo. -- Posso entrar? 

Ele acena com a cabeça. Entro com passos longos. O quarto dele estava muito arrumado. "Eu arrumo coisas quando estou entediado" ele disse. Sorrio para ele. Olho pela janela e vejo um ninho de passarinhos no galho perto do telhado. Tomo coragem e pergunto: 

--Então... Como você esta? 

Ele me olha de um jeito engraçado. 

--Como assim? 

--Bom... Você sabe... A coisa da morte da Jessica. 

Ele se senta na cama. Seu olhar se perde e ele fica por alguns minutos fitando o canto de seu quarto. Ando até ele e me sento ao seu lado. Ele apoia a cabeça em meu ombro, ainda sem dizer nada. Fico fitando o mesmo canto do quarto até ele falar alguma coisa. 

--Sabe o que aconteceu antes dela morrer?

Digo que não, então ele continua:

--Lembra de quando ela foi embora da festa? Bem, sequestraram ela e então a mataram. Pelo menos foi isso que o policial me disse. 

Seguro sua mão. Eu consigo ver que ele esta quase chorando.

--Sabe como ela estava quando eles a encontraram? --Ele me pergunta, quase soluçando. 

--Léo, não preciso que me conte...

--Tiraram os olhos dela, Lottie. 

Então ele começou a chorar. 

--Eles tiraram os olhos dela... --Ele repetiu mais uma vez, baixinho, como se quisesse que só nós dois ouvíssemos. 

Ele apoiou sua testa em meu ombro, e enquanto segura uma de minhas mãos, tenta se recompor. 


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