--Filha, você acabou de sair do hospital. Quer mesmo ir pra casa daquele garoto agora? Não acha que está muito tarde? --Minha mãe pregunta enquanto eu pego o meu celular. 

--Mãe, ele é meu namorado. Eu vou na casa dele, e além do mais, você vai ter que passar a noite na delegacia... Você e o senhor Hastins... --Digo, sorrindo. Ela fica vermelha.

--Não seja tola, Charlott... Michael e eu não estamos tendo um caso... 

Reviro os olhos. Dou um beijo estalado em sua bochecha e vou embora. Semana passada, minha casa pegou fogo. Agora eu e minha mãe estamos na casa da minha tia, Andréa. Ela e a minha mãe nunca se deram muito bem, mas como não temos lugar para ficar, ela cedeu um lugar na casa dela. A casa dela fica um pouco mais longe da casa de Léo, mas mesmo assim eu vou a pé. 

A mãe dele me recebe, dando-me um abraço. Dizendo "Oh, querida, que bom que está bem. Eu sinto muito!" Ela repete que sente muito algumas vezes. Peço que ela me deixe ir ver o Léo. 

--Ah, sim, claro... Ele está no quarto. --Ela aponta pra escada. 

Subo correndo. Há musica muito, muito alta vindo do quarto de Léo. É uma musica da OneRepublic. Ele adora essa banda. Entro sem bater na porta, como sempre. Eles está jogado na cama, com os olhos fechados. Não está dormindo, seus lábios se mexem acompanhando a letra da musica. Ando em silencio e me deito ao seu lado. Ele me dá um beijo assim que percebe minha presença, então volta a cantar em silencio. 

--Léo, eu tenho umas coisas pra te falar. Elas são muito importantes. --Digo, sentando. 

--Sobre o que é? --Ele pergunta, sem ligar muito. 

--Sobre o assassino, Léo. 

Ele se levanta bruscamente. Me encara, sério. Respira fundo e pergunta:

--O que? 

--Eu dei uma olhada nos arquivos da minha mãe que ela guarda em casa e...

--Olhou os arquivos da policia? --Ele arregala os olhos, num tom de completo terror. --Isso... É ilegal! 

--Não é, não... --Digo, mesmo que eu desconfie que isso é verdade.

--Claro que é! A quanto tempo você não assiste CSI? Isso é ilegal! 

Ele se apoia na parede encostada na cama, bufando. Ele passa as mãos pelos cabelos. Parece indignado com isso, mas eu pensei que ele entenderia. Pensei que ele entenderia o porque que isso me intriga tanto. 

--Léo, eu acho que eu descobri uma coisa... --Digo estendendo uma folha amassada. 

Ele ri. 

--Lottie... Pare com isso... --Ele diz rindo.

--Você está rindo assim que nem um idiota porque não sabe o que eu descobri! --Digo, animada. 

Ele tenta parar de rir. Se ajeita e se prepara pra noticia. Odeio quando ele brinca dessa forma comigo. Ele faz sinal para que eu continue. 

--Isso vai parecer estranho, mas eu acho que eu vi o Marcus ateando fogo a minha casa...

--Você só achou que isso ia parecer estranho? --Ele diz ainda rindo.

--É serio! Quando eu consegui sair da minha casa, ele estava lá. E fingiu uma voz assustada quando ele ligou para a emergência. Léo, eu acho... Acho que ele matou toda aquela gente. E acho... Acho que ele tentou me matar, mas não conseguiu. 

Ele só me encara. Segura a minha mão e olha nos meus olhos.

--Lottie, você estava assustada... Viu coisas... E a fumaça...

--Você não acredita em mim? --Solto minha mão. 

--Olha, é que as coisas que você está dizendo são meio... Bem, ridículas. O seu vizinho matando pessoas? 

Me levanto e saio do quarto. Ele chama meu nome. Desço as escadas correndo e não respondo quando a mãe de Léo pergunta aonde eu vou. Ele está vindo atrás de mim, gritando meu nome ou algum apelido que ele me deu. Saio pela porta sem olhar para trás. 

--Charlott! Volte aqui! Seja racional! --Ele grita. 

--Ah, vá se foder, Léo! Pare de ser tão babaca!

--Pelo menos eu sou um babaca não paranoico. Diferente de você, que pensa que seu vizinho é um serial killer! 

Ignoro o que ele diz e continuo andando. Droga! Por que eu tinha que estragar tudo contando pra ele? Paro e me viro para ver se ele está na frente da porta, me olhando ir embora, mas percebo que não está. Quando vou fazer a curva na esquina, mãos me seguram e tapam minha boca com um pano. Sinto um cheiro que faz minhas narinas arderem, então não vejo mais nada.