A Última Filha - Predador escrita por Ariane Rosa


Capítulo 12
Capítulo Doze


Notas iniciais do capítulo

Gente, desculpem a demora, estava difícil ter ideias para a história, mas está.
Boa Leitura ;)



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Eu devo ter apagado com a dor, pois quando voltei a si, estava sentada e encostada numa parede de um beco com Ross me sacudindo. Olhei-o confusa e ele disse:

– Haide, olha pra mim.

Minhas pálpebras estavam pesadas. As fechei por um momento, mas, então, as abri. E por algum motivo a dor estava voltando, e ela estava se intensificando a cada respiração.

– Ross. – Sussurrei com a voz falhando.

Ele me olhou preocupado e continuei:

– Diga ao Noah... Que sinto... Muito. – Eu disse tentando respirar a cada palavra.

Ross num súbito reflexo tirou sua jaqueta e colocou em meu ombro. Ele me olhou irritado e disse:

– Não. Não vou dizer, porque é você que vai fazer isso. Você não vai morrer.

Mesmo estando com muita dor e parecer estar delirando, eu pude ver algo nele. Ross estava apavorado de me perder. Nunca pensei que ele gostasse tanto de mim. Ou talvez só seja o medo de papai o culpar pela minha morte. Bom, não sei ao certo.

Ross ficou me olhando, me vendo morrer, pois eu já estava sentindo isso. Estava perdendo muito sangue e não sei quando mais poderia ficar acordada. Então ele tirou a jaqueta de meu ombro e disse:

– Haide, precisa se curar.

Eu olhei confusa e disse:

– Não sei fazer... Isso.

– Certo. – Ele disse pegando minha mão. Eu as olhei por um momento sem entender o porquê daquilo. – Não posso fazer isso por você. Então limpe a mente.

– Não consigo. – Eu disse suplicando para que ele parasse de tentar. Estava cansada de lutar e só queria dormir.

– Haide, eu não sou o Nero. Então ‘não consigo’ não vai dar certo comigo.

Eu o olhei em silêncio.

– Vamos. Por favor. – Ross estava chorando com as palavras, e isso estava acabando comigo.

Eu balancei a cabeça positivamente.

Algo iluminou seus olhos. E quando percebi dei um meio sorriso.

– Limpe a mente. – Ele disse finalmente. Eu fiz o que ele pediu. – Se concentre e ache a dor.

Fechei os olhos quando a encontrei tremi com isso.

Ele apertou minha mão mais forte e isso me fez prestar atenção nele. Nos seus movimentos. E percebi que a única coisa que me mantinha viva ali, era ele.

– Ótimo. Agora essa parte você tem que canalizar toda a sua força ali.

Eu balancei a cabeça e fiz. Dor, dor e mais dor. Eu gritei por um momento e desejei poder morrer de uma vez. Quando canalizei minha força ali, só me fez sentir mais dor. Senti a pele se esticar e se juntar, mas depois de alguns segundo aquilo começou a diminuir e consegui respirar normalmente. Foi um alivio quando tudo aquilo tinha acabado. Fechei os olhos exausta e Ross me perguntou:

– Pode se levantar?

Balancei a cabeça negativamente. Ele suspirou e me pegou no colo. Senti-o começar a caminhar pelo beco. Eu abri os olhos e olhei seu rosto.

– Pode ficar falando comigo? – Perguntei cansada. Ele me olhou confuso. – É que não quero dormir ainda.

Ele me olhou docemente e disse:

– Está bem.

Eu dei um meio sorriso e ele perguntou:

– Do que quer conversar?

Pensei por um momento. E então algo veio à tona.

– Como sabia onde eu estava?

Pergunta errada. Ele fechou sua expressão e ficou em silêncio. Desviou o olhar do meu e olhou para frente.

– Ross. – Eu o chamei séria.

– Você vai me odiar pra sempre se eu disser. – Ele disse rapidamente.

– Não é verdade. Porque você tentou matar o meu namorado e tentou me matar, e mesmo assim eu não te odiei. O que pode ser pior?

Ele me olhou hesitante, então suspirou e disse:

– Está bem. Eu te segui.

Eu juntei as sobrancelhas.

– Me seguiu? – Repeti. – Por que diabos você me seguiu?

Ele soltou um grande suspiro frustrado.

– Porque eu... – Hesitou.

Eu o olhei por alguns segundos e perguntei:

– Ross? Não confia em mim?

Ele havia desviado o olhar de mim enquanto falava, mas voltou com minhas palavras. Ele me olhou por alguns segundo eternos e finalmente disse:

– Não. Eu confio em você. Mas... – Hesitou novamente.

– Mas...? – Eu o encorajei.

– Eu não sei, mas senti que algo de ruim ia acontecer. Ainda mais depois de você ter brigado com o Noah.

Desviei o olhar e perguntei:

– Você viu?

– Claro. Eu estava na escola. – Ele disse sério.

Juntei as sobrancelhas de confusão e perguntei:

– Como você conseguiu entrar?

– Sombras não são só servem pra se locomover e fugir, são boas para fiscalizar as irmãs encrenqueiras.

Eu voltei o olhar e ele estava com um meio sorriso nos lábios me olhando. Eu mandei um sorriso de volta e disse:

– Então você viu muita coisa.

– Vi. Nunca mais vá sozinha com alguém que você não conhece. – Ross disse com o mesmo tom que papai usa quando está bravo ou preocupado comigo.

– Está bem, papai. – Eu disse com um tom irônico.

Ele revirou os olhos com um sorriso.

Olha, sei que é meio louco isso vindo de mim, ainda mais quando se trata do meu irmão Ross, o irmão que odeio, mas pela primeira vez ele está sendo um dos meus irmãos mais importantes da minha vida. E mesmo estando imóvel por ter usado quase toda minha energia para me curar, estava me divertindo com ele.

E enquanto pensava ele ficou me olhando e eu só percebi depois que meus pensamentos começaram a ecoar pela minha mente. Eu o olhei de volta e perguntei:

– O que?

Ele piscou algumas vezes e disse:

– Nada. É só que... – Ele hesitou. – Você parece muito com a mamãe.

Eu olhei no fundo dos seus olhos para ver se ele estava sendo irônico, mas, por mais incrível que pareça, ele não estava sendo. Pisquei algumas vezes e perguntei:

– Eu sou?

Ele balançou a cabeça positivamente. Continuei o olhar em silêncio, até que eu perguntei:

– Como ela era?

– Como você. Só que a versão mais velha.

Eu balancei a cabeça sem entender do por que ele estava me dizendo essas coisas.

– Não me lembro dela. – Murmurei.

Ross deixou um suspiro triste escapar, e percebi que havia algo que eu não sabia.

– Ross? – Ele me olhou mais triste ainda. – Ela morreu por que foi minha culpa?

As palavras saíram como ácido pela minha boca, nunca perguntei se foi culpa minha a mamãe ter morrido.

Ele caminhava olhando pra frente sem se preocupar com minha pergunta, mas quando eu havia desistido de querer saber ele começou:

– Quando nasci fui o preferido de todo mundo. Mamãe havia largado sua vida humana para ficar no submundo com ele. E eles eram felizes. – Hesitou. – Eu fui o primeiro filho que o papai amou. E mamãe me mimava muito. – Ele sorriu parecendo lembrar-se da época em que eu não existia. – Mesmo depois que o Jean nasceu ainda continuei sendo o preferido. Mas, então, mamãe ficou grávida de novo. – Sua voz pareceu ficar fraca com as últimas palavras.

– Ross? Eu fui um erro? Não fui? – Perguntei me sentido o problema de tudo.

Ele me olhou hesitante e disse:

– Mamãe ficou doente com a sua gravidez. E eu sei por quê.

– Por quê? – Perguntei com as sobrancelhas juntas.

– Porque você é a mais forte. – Ele me olhou sem se importar com minha expressão de confusão.

– Eu não sou a mais forte. – Eu lhe disse irritada.

– Por que a mamãe aguentou todas as gravidezes, e do nada ela ficou doente com a sua? – Ele perguntou usando o mesmo tom que o meu.

– Porque talvez eu seja o problema.

– Não, porque você é mais forte que nós todos juntos. – Eu desviei o olhar. – Haide você sobreviveu a nós. Tentamos te matar de várias maneiras, e você sobreviveu. Você conseguiu controlar os cães do inferno, o que nós nunca conseguimos, além do papai e você. O Cérbero prefere você a nós.

– Isso não importa. – Eu lhe disse brava. – Ela morreu por minha causa. E eu não posso mudar isso.

Ele me olhou com pena, e eu odiava esse olhar, me senti fraca.

– Tem razão, você pode mudar isso. – Ele disse com um tom firme. – Mas não foi culpa sua.

Eu voltei o olhar irritada.

– Por que está cuidando de mim? Por que está se... – Eu hesitei.

Ele continuou a me olhar esperando eu terminar, então suspirei e continuei:

– Importando?

Ele me deu um meio sorriso e disse:

– Porque você é minha irmã. E eu prometi pra mamãe que cuidaria de você.

Eu o olhei com os olhos estreitos e arfei:

– O que?

Ele fechou a expressão novamente, e eu revirei os olhos.

– Vamos, Ross. Me diga. Eu quero saber. – Eu o encorajei.

Ele continuou com a expressão fechada por mais alguns segundos, mas, então, disse:

– A mamãe me fez prometer que cuidaria de você. Mas eu te odiei por um tempo. – Ele hesitou. – Acho que eu sempre te culpei pela morte dela, mas eu nunca percebi o quanto estava sendo idiota.

Desviei o olhar do dele, por ver que ele me odiava mesmo. Acho que havia uma parte de mim que ainda acreditava ele gostasse de mim, e acho que a verdade me atingiu em cheio.

– Desculpe se eu estou sendo muito direto...

– Não. – Eu o interrompi. E voltei o olhar. – Eu só queria saber a verdade. Era só isso.

Ele continuou a me olhar com remorso pelas as palavras que me disse.

Ficamos em silêncio por um tempo, mas, então, ele perguntou:

– Como é que é?

Eu voltei o olhar e perguntei:

– O que?

– Sentir que tem alguém que te ama?

Eu abaixei meu olhar e ele continuou:

– Eu quis dizer, nós todos ficamos sozinhos. Não podemos nos apaixonar, é uma lei. E como é que é saber que você não vai ficar sozinha?

Voltei o olhar tentando também refletir sobre isso. Nunca havia me ocorrido que eu nunca ficaria sozinha. Que talvez eu fosse envelhecer com Noah, não com a mesma velocidade, mas que eu iria passar meus dias com ele.

– Eu não sei. Também estou tentando entender isso.

Ele continuou a me olhar no fundo dos olhos tentando ver se eu estava escondendo algo, mas ele viu que não havia mais nada ali, e então desviou o olhar do meu.

Ele – depois de um tempo de andar naquele beco, e já está escurecendo – entrou numa sombra que nos levou até meu quarto.

Ross tinha um dom de se locomover pelas sombras e ir a longas distancias sem gastar muito sua energia.

Ele me colocou suavemente na cama e me cobriu com o cobertor. Ele se virou para ir embora, mas eu o chamei:

– Ross, espera. – Eu disse com a voz fraca, e já ficando quase inconsciente.

Ele continuou de costas pra mim, mas parecia estar disposta a me escutar. Então limpei minha garganta e perguntei:

– Pode ficar aqui comigo?

Vi seus ombros se erguerem um pouco, então me apressei:

– Até eu pegar no sono.

Ele suspirou, então se virou com um meio sorriso e disse:

– Tudo bem. Mas até você dormi.

Eu balancei a cabeça lentamente e ele veio se colocar ao meu lado. Ele colocou os braços ao meu redor e eu me agarrei a sua jaqueta que estava fria, mas nem me importei.

Ficamos imóveis por um tempo até ele dizer:

– Você pode chorar agora.

Eu estava de olhos fechado quando ele perguntou, então os abri e o olhei. Ele me olhava sério e esperando tudo que eu tinha guardado para mim mesma vir à tona. E então senti meus olhos lacrimejarem e disse:

– Não quero chorar.

Eu não queria mesmo, pelo menos, não na frente do meu irmão mais velho.

– Vamos. – Ele me encorajou. – Eu sei quer.

Então meus olhos deixaram cair pequenas gotas de água na sua jaqueta, e isso me fez piscar, o que fez cair mais e mais. Então me deixei ir. Agarrei-me em sua jaqueta com força, tentando me controlar, mas não conseguia. Ele foi além do que eu imaginava. Ele apertou os braços ao redor de mim e colocou seus lábios em meu cabelo. Eu tremi com seu súbito movimento.

– Tudo bem. – Ele sussurrou para mim.

Eu fechei meus olhos e escondi meu rosto em sua jaqueta.

...

– Haide?

Senti algo me balançar. Eu estava com sono e havia um raio de luz bem na minha cara, fazendo meus olhos lacrimejarem. Eu me virei para o outro lado e então me dei conta de que era Olga que estava me chacoalhando. Pulei para fora da cama rapidamente e me senti tonta por isso. A olhei confusa e então para minha cama que estava desarrumada e sem ninguém.

– Ah, querida, te assustei? – Ela perguntou indo até mim colocando suas mãos em meu ombro.

– Não. Não me assustou. – Eu pisquei algumas vezes tentando entender o que havia acontecido ontem.

– Por onde você entrou? – Ela me perguntou tirando as mãos do meu ombro e colocando na sua cintura fina.

Eu franzi as sobrancelhas de confusão. Ela me olhava séria e querendo algumas explicações, então disse a primeira coisa que veio em minha mente nublada:

– Subi pela escada de incêndio.

Ela juntou as sobrancelhas de confusão e perguntou:

– Por quê?

– Não sei. – Eu disse passando os dedos em meus olhos. Quando voltei a ter foco nela percebi que ela me olhava como se eu fosse louca, e então me apressei:

– Olha, desculpa se não te avisei quando cheguei aqui em casa estava cansada e...

– Quer conversar? – Ela perguntou parecendo aquelas mães dispostas a falar sobre garotos.

– Não. Eu não quero conversar. Eu estou bem. – Eu lhe dei um sorriso mais encorajador que eu podia.

Ela me olhou por alguns segundos, mas, então, saiu. Eu suspirei aliviada.

Minha mente podia estar nublada, mas eu tinha certeza de uma coisa: Ross e eu tivemos uma conversa muito estranha ontem, e acho que isso foi o mais próximo de nossa relação familiar.

Mas o filho da mãe foi embora logo depois que eu dormi. Eu geralmente teria adorado se ele tivesse ido embora, mas agora...


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