Entrei no quarto. Villtish estava na cama, meio curvado, apoiado na mão, onde a mesma estava sob o joelho. Olhava para frente fixamente. Cheguei perto dele e, sem olhar pra ele, sentei na cama com as mãos no joelho, coluna reta, cabeça erguida e falei:

– Olha, desculpa se gritei com você, se fui grosseira. É que eu sofro muito aqui. Até você chegar, pelo menos. - Hesitei em dizer isso, mas disse.

– Tudo bem. Acho que entendo você.

– Eu falava tanto sobre como meu povo era esperançoso e que eu seguiria com essa característica. Eu acabei me contradizendo.

– Já disse que tudo bem. - Alguns segundos de silênico se passaram até eu quebrá-lo.

– Como você chegou aqui? - Ele me olhou, olhou pra baixo e riu um pouco.

– Bem, vamos ver. Eu era só uma criança. Tinha 7 anos. Meus já eram muito velhos, não conseguiram ter filhos e me adotaram. Apesar de serem de planetas diferentes, eles tinham parentes aqui em Ignosow. Eles eram mestiços. Quer dizer, só minha mãe. Em vez de azul ou vermelho, sua cor corporal era roxo. A mistura. Era tão linda. Meu pai não resistiu à sua beleza. Mas era amor de verdade, sabe. Um dia, minha mãe queria nos apresentar à sua família, pois a princesa autorizou a viagem. Mas eles morreram na Floresta do Capricórnio. Sobrevivi porque fiquei o tempo todo numa caverna subterrânea, com entrada na superfície. Convivia somente com morcegos. Lá tinha água, mas o problema era a comida. Felizmente, fiquei perto de árvores frutíferas, e só comia delas, só que um dia eu tinha que sair. Saí faz 2 anos. Me sustentei com as frutinhas mas um dia eu me perderia, num lugar que não tivessem mais. E mesmo com as frutinhas, eu só conseguia fazer com que eu ficasse em pé e andasse. Os animais já tinham se acostumado com a minha presença.

– E você nunca conviveu com os ignosowes? Porque eu cheguei em Abril e desde do primeiro dia que cheguei sofro "Bullying"

– Logicamente já vi alguns. Mas nunca convivi.

– Ah... - Passei uns minutos em silêncio - Mas... Você tem quantos anos?

– 15. Por quê?

– Que dia você chegou?

– Dia exatamente não sei, mas foi no início de Abril. O mesmo mês que você! - Comecei a raciocinar.

– Você é um ano mais velho que eu, chegou no mesmo mês, disse que parecia já ter ouvido meu nome e disse que havia uma princesa. Da última parte eu lembro. Mas não lembro do meu passado...

– Não. É impossível. Disseram que a princesa estava a salvo em outro planeta.

– Este É um outro planeta! - Andei em círculos várias vezes. - Você se lembra do nome da princesa?

– Não. Mas posso tentar. Eu fui para a coroação dela. Era... Alguma coisa Dernnia e mais um nome.

– É, talvez não seja eu. Mas você viu alguém do nosso povo aqui, com o mesmo vestido que estou agora?

– Sim, me lembro de ter visto. Ficava o tempo todo atrás de um muro. Tinha medo de chegar perto. Achava que não era exatamente do nosso povo.

– É preciso ter evidências...

– Eu tenho uma.

– Qual? DIGA!

– Calma! Bom, apesar de caçar e ser muito habilidosa, você sempre teve umas frescurinhas na maneira de agir. Senta bem devagar, toda reta, cabeça erguida, com jeitinho de riquinha.

– Não, isso não acontece!

– Acontece, você não pode negar.

– Nossa. Mas bem, só podemos saber se você lembrar o nome.

– Mas espera aí. Por que você está aqui? Por que não está em Hydrow? - Nesse momento eu estremeci. olhei para baixo e senti meu olho lacrimejar.

Bem... Houve uma surpresa passageira porque você não sabe disso... Mas não tem como você saber.

– Fala logo!

– Okay, okay. Bem, nosso planeta foi destruído. Todos estão mortos. Só restou nós dois.