Levantei cedo, como de costume, mas achei melhor não acordá-lo. Supus que ele estivesse muito cansado. Escalei uma árvore ingrime rapidamente e peguei dois galhos bem grossos. A árvore não era muito alta, então simplesmente pulei. Peguei alguns barbantes que achei, emendei e amarrei no primeiro galho, e era meio curvo. Peguei o outro e fatiei em 20 pedaços bem afiados. Tchams! Aí está meu arco e flecha.Atirei uma vez e ficou bem firme na árvore. Perfeito!

Alguns minutos depois, Villtish apareceu. Suas olheiras quase pretas estavam agora mais claras. E então ele disse:

– Bom, sabe. Não posso deixar que você faça tudo. Você poderia me ensinar algumas coisas. - Dei um sorrisinho no canto da boca, peguei postura e disse:

– Bom, para você viver aqui vai precisar aprender algumas coisas, mas suponho que você tenha algum conhecimento, já que passou um longo tempo na floresta. Você não sabe onde arranjar comida. Sabe de algum conhecimento importante?

– Hã... Bem...

– Okay, do ínicio - Falei rapidamente o interrompendo, antes que ele falasse alguma coisa - Espere aqui. - Corri e subi numa árvore pegando mais dois galhos grossos. - Você tem que fazer um desse aqui. Use a cabeça e entenderá. Vou deixar aqui para você ver melhor. - Deixei meu arco do lado de uma enorme pedra, sentei encostada nela e comecei a entalhar um pedaço de madeira.

Passaram-se duas horas quando ele finalmente disse, suado e cheio de machucados:

– Olha! Viu? Viu? - Disse ele todo empolgado. Ele se tocou e mudou de jeito - Hum! Ah, nem foi tão difícil - Franzi a testa, dei um sorrisinho e balancei a cabeça, voltando a entalhar o pedaço de madeira. Falei então sem olhar pra ele:

– Tem certeza que isso mata alguém? - Continuei sorrindo e entalhando.

– PSSS! É óbvio! - Ele tentou de todas as formas encachar a flecha no arco. Revirei os olhos, me levantei e fui falar com ele.

– Não é assim. Olha, você tem que posicionar essa brechinha do topo da flecha na corda e puxar aqui na altura do queixo, assim você vai mirar. - Soltei a flecha e ela foi só que não perfurou a árvore. - Creio que vai ter que afiar mais. - Devolvi o arco e voltei ao meu lugar, voltei a entalhar e soltei uma gargalhada silenciosa.

No mesmo momento em que me sentei ele me chamou.

– Caham, Primery! Se acha não é? - Ele acertou todas as flechas no mesmo lugar e as flechas perfuraram com tudo a árvore. Dei um sorriso de orgulho e pelo resto do dia ensinei como se apanha frutinhas, como saber se as plantas são venenosas ou não, caçamos um esquilo na Floresta do Caprocórnio e voltamos cheios de frutinhas. Já era de noite quando decidimos fazer uma fogueira. Assamos o esquilo e o dividimos no meio.

– Sabe... Acho que você vai se sair bem aqui. Vai sobreviver.

– Sobreviver?

– Como assim?

– Você só pensa em sobreviver? Você não quer viver? - Fiquei pensativa sobre o que ele falou.

– Hã... Bem, não é mesma coisa?

– Claro, sem as coisas boas na vida.

– Que vida...? - Perguntei, me segurando.

– A vida. Aquela coisa boa, que você sente bem e...

– Não existe vida, tá bom? ACHEI QUE VOCÊ SOUBESSE DISSO! NUNCA VAI EXISTIR VIDA! SÓ EXISTE A SOBREVIVÊNCIA, A GANÂNCIA E O EGOÍSMO! - Eu estava quase chorando. Como assim? Ele acha mesmo que existe vida?

– Hum. Você é incrível! - Disse ele irritado e irônico, se levantando, entrando em casa e batendo a porta com força. Me arrependi do que tinha dito. Mas queria que ele me entendesse. Me levantei, apaguei o fogo e saí.