Foi assim... escrita por Caroline


Capítulo 3
Jantar


Notas iniciais do capítulo

Eu me empolguei um pouco neste.



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Eu estava arrumando pela décima vez os talheres na mesa, eu estava impaciente, os minutos se arrastavam como se fossem horas. Mas talvez isso fosse fruto da minha impaciência, eu estava ansiosa, queria vê-la fora do laboratório, queria saber a mulher que existia por trás daquela supervisora mandona e irredutível.

Olhei mais uma vez para o relógio, constei que mal havia se passado cinco minutos. Os ponteiros marcavam 8:35 p.m, nunca em toda a minha vida meia hora demorou tanto para passar, parecia até que era pirraça das horas.

Fui em direção ao som para colocar uma música, talvez me acalmasse e evitaria que eu ficasse andando de um lado para o outro como uma louca olhando a cada cinco minutos para o relógio. É claro que eu sabia que a música não faria isso, era só um pensamento de esperança de que isso acontecesse.

No volume mínimo tocava uma música calma e lenta. Não prestei atenção na letra, apenas nas batidas que reproduzia com meus dedos na mesinha de centro que estava a minha frente. Eu estava com a sensação de um adolescente quando vai receber alguém no quarto às escondidas no meio da madrugada e tem receio que os pais acordem no mesmo instante e entre no quarto. Era um misto de adrenalina, excitação e pânico. Sim, eu estava em pânico.

Era Catherine Willows a minha convidada, ela poderia estar em um bar qualquer para arranjar um par para esta noite com um simples sorriso. Mas ela estava indo para minha casa, não encontrava nada do jeito que eu gostava, nem minha comida estava com o mesmo sabor.

Pareci que nada era suficiente naquele momento.

Sensação que mais tarde eu esqueceria quando a visse sorrindo para mim.

Quando fui olhar mais uma vez para o relógio escutei algumas batidas na porta, segurei a respiração e caminhei a passos apressados em direção à batida. Meu coração não sabia se parava ou se batia mais rápido, estava indeciso. Eu só fui soltar o ar quando abri a porta, mas logo o perdi quando vi Catherine em um vestido azul escuro. O vestido realça suas curvas e cá entre nós, que curvas! O azul escuro realçava seus olhos que no momento estavam da mesma cor.

– Espero que não seja incomodo chegar antes do horário, eu estava com fome e não estava passando nada interessante na TV. – É claro que não havia problema algum, aquilo serviu para acabar com metade da minha ansiedade, agora era saber lidar com ela.

– Não, não vejo problema algum. Entre! – Dei um passo para trás para que desse espaço para ela passar, quando ela passou por mim pude sentir o cheiro de seu perfume. Não era o mesmo que usava no trabalho, era outro, era mais suave e gostoso. E combinava perfeitamente com essa Catherine fora do trabalho.

– Pelo cheiro que estou sentindo a comida deve estar boa. – Eu fechava a porta quando vi ela se virar para mim com um lindo sorriso. Como eu disse, todas as sensações que antes eu sentia desapareceram e senti um baque no estômago. Como se eu tivesse levado um soco e perdido o ar, mas era apenas o sorriso da loira que analisava toda a minha casa.

– Não deixe o cheiro te enganar, ela pode estar deliciosamente ótima. – Lancei-lhe um sorriso convencido, sabia que minha comida não era do tipo que ficava boa, era do que ficava ótima.

– Não seja tão convencida assim, eu ainda não experimentei e posso dizer que está errada sobre isso. – Essa não seria o tipo de situação que eu perderia para ela, sabia que gostava de estar sempre com a razão, mas ali era o meu tabuleiro.

Ela foi caminhando até a cozinha, mas antes que chegasse a mesma parou na minha estante de livros. Passou o seu olhar atento por todas as prateleiras, às vezes sorria ao encontrar um título ou autor conhecido. E enquanto ela analisava meus livros eu a observava.

Estava extremamente linda, eu acho que desse jeito ela não precisaria nem sorrir para conquistar qualquer um. Era simplesmente chegar e lançar um olhar sobre o seu objeto de desejo. Mas tinha um quê a mais, não era só a sua beleza que fazia dela uma mulher tão sexy, talvez o jeito de andar ou o jeito de falar calmamente enquanto um sorriso brinca por seus lábios. Ou simplesmente por seu olhar tímido quando recebe um elogio, ela poderia se mostrar decidida, mas não sabia reagir a um elogio.

– Você está linda! – Ela não me olhou, mas pude notar suas bochechas se avermelhando e um sorriso aparecer por seus lábios.

Somente corava e sorria de forma inocente, como uma garotinha de nove anos. E quando via que não poderia falar sem ostentar aquele sorriso tímido mudava de assunto.

– Não sabia que gostava tanto assim de Shakespeare, isso é tão Grissom. – Comentou sem ao menos tirar os olhos dos livros.

– Eu gosto desde que era criança. – Respondi simplesmente.

– Que criança se interessa por Shakespeare? – Ela me olhou incrédula, sua sobrancelha estava arqueada criando um vinco em sua testa. Por que diabos tudo tinha que ser sexy em Catherine?

– Uma criança curiosa que queria saber o que tanto a mãe lia, já que andava com o livro para lá e para cá. Confesso que na primeira vez que li não entendi muita coisa, mas depois minha mãe sentou comigo e leu para mim me explicando tudo. – Ela soltou uma gargalhada, o que atraiu ainda mais a minha atenção. Ela estava tão espontânea ali comigo, como ela nunca fora nesses anos todos.

– Mal tinha saído das fraldas e já era Nerd, não tinha mais nada para fazer na infância? – Ela ainda ria, tentava se controlar para voltar ao normal e eu para não abrir um sorriso bobo.

– Sim, eu tinha, mas quando estava chovendo era impossível sair de casa. O verão era quase sempre chuvoso, então eu passava-o todinho lendo. – Ela continuou a analisar meus livros, quando acabou finalmente se dirigiu a cozinha.

– Posso te fazer uma pergunta? – Ela se virou para mim, eu quase que a derrubei no chão, mas antes que nossos corpos se chocassem eu consegui parar. Numa distância quase inexistente entre nós eu respondi:

– Já está fazendo, mas lhe dou o beneficio de mais uma. – Sorriu da minha resposta, como conseguia ter variados sorrisos e todos lindos?

– Você mora sozinha e tem uma casa tão grande, tem a intenção de se casar ou ter filhos? – Mais uma vez arqueou a sobrancelha, que dessa vez veio acompanhada de um bico extremamente fofo.

– Não... Sim, eu queria ter um filho, mas na época eu não tinha tempo para adotar um cachorro. Eu acho que nunca vou ter tempo para conseguir cuidar de um, digamos que não sei dar conta de mim mesma.

– Eu notei pelo tanto de números de restaurantes pregados na sua geladeira. Se sabe cozinhar por que comprar comida? – Ela saiu de perto de mim e foi se sentar em uma das cadeiras. Soltei um longo suspiro, por que ela tinha que acabar com o que estava tão bom?

– Não é legal cozinhar para apenas uma pessoa, então eu acho que não vale a pena perder tempo. – Seu olhar estava na mesa analisando a comida.

– Então mestre cuca, o que temos para esta noite? – Em seus lábios agora havia um sorriso brincalhão.

– Lombo ao molho madeira com purê de batata, uma pequena lasanha vegetariana ao molho branco. Uma salada e um vinho suave. – Foi dizendo o nome apontando para cada coisa que havia na mesa. Os olhos de Catherine brilhavam e meu estômago se contorcia de fome.

– Tudo parece delicioso, então se sente e vamos comer. – Ela já pegava seu prato para se servir, eu até poderia falar que seria falta de educação, mas estava com a mesma fome e tinha certeza de que faria o mesmo.

Enquanto se servia pude perceber que cantarolava uma música, a mesma que tocava no som na sala.

That what you fear the most could meet you halfway. – Era apenas um sussurro, mas eu ainda podia ouvi-la e aquela música em sua voz era tão gostosa.

– Eu não sabia que gostava de Pearl Jam. – Comentei enquanto me servia, ela estava distraída e quando ouviu o meu comentário notou que não cantava baixo o suficiente.

Ela corou, se soubesse como ficava linda dessa forma...

– É da minha época, só não sabia que conhecia... – Seu comentário foi cortado quando ela experimentou a comida. Sua expressão era a mesma, a curiosidade me corroia, queria saber o que ela achou.

– Então? – Não poderia esperar que ela decidisse falar.

– Odeio ter que concordar, mas isto está realmente delicioso. Como consegue cozinhar tão bem? – Ri de seu comentário, era uma honra receber elogios de Catherine.

– Não há segredo, apenas não sigo receitas. – Dei uma piscadela e voltei à atenção para o meu prato.

– Vinho? – Ela que já se servia me oferecia, mas apenas balancei a cabeça negativamente. A fome não me deixava parar de comer para abrir a boca. – Não bebe vinho? – Essa eu tive que responder, não tive escolha e o garfo que estava indo em direção à minha boca parou no meio do caminho.

– Não, eu não gosto de beber enquanto como e não gosto de vinho. – Respondi com certa pressa, poderia ser falta de educação, mas agora que toda a minha ansiedade havia passado e só restava a vontade de que o tempo parasse, a minha fome voltou com tudo.



O jantar foi tranquilo, cheio de amenidades e eu me surpreendi. Catherine conseguia ser interessante de qualquer perspectiva, o arrependimento de não ter tido a coragem para fazer isto antes foi algo de que senti vontade de me socar.





Ainda conversando sobre amenidades fomos para a sala após lavar a louça. Liguei a TV e ela se sentou ao meu lado, digo que tive sorte ao ligar naquele exato momento. Estava começando o jogo do Giants contra os Dodgers, seria um ótimo jogo.



– Se você trocar de canal eu lhe dou um soco. – Ouvi a voz de Catherine perto de meu ouvido, quando me virei para olhá-la notei que encarava a TV.

– Desde quando gosta de beisebol? – Inquiri curiosa.

– Desde que Sam me deu uma camiseta do Giants e me ensinou tudo sobre o jogo. – Não pude evitar um sorriso bobo, não podia ser mais perfeita do que era. Isso chegava a ser impossível, mas não para ela.

– Então eu acho que escolhi a mulher certa! – Logo que isso saiu por minha boca virei para TV e ali foquei minha atenção, fingindo ignorar o olhar de Catherine sobre mim.

– É, eu acho que sim. – E depois disso o silêncio reinou até o primeiro strike, quando ouvi seu grito xingando o jogador.


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