Violinos e Veneno escrita por Mariana M


Capítulo 5
Poder




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2 dias na cadeia. 2 dias vendo o país  inteiro me condenar por uma coisa que eu não fiz. 2 dias sendo a pessoa mais odiada do mundo. 2 dias sendo saco de pancadas na prisão. Por sorte foram apenas dois dias, o senhor Perez conseguiu que eu saísse da cadeia alegando que não tinham provas suficientes para me manterem na cadeia, felizmente eu não fiz a burrice de pegar na faca que matou Bianca e isso me salvou, porém os dois dias que eu passei na cadeia foram os piores de minha vida, ninguém dentro daquele lugar acreditava me minha inocência, as duas mulheres que ficaram presas comigo me bateram tanto que estou sem cílios e mais roxa do que tudo, elas diziam que não suportavam assassinas de pessoas inocentes e por isso me cobriam de pancadas e o que mais me doía durante a surra era ver que o guarda me olhava com pena em quanto eu apanhava, mas ele não fazia nada para impedir, as vezes dava impressão de que ele sentia piedade de mim mas achava que eu levar uma bela surra era uma coisa certa, como se eu tivesse pagando por um grande pecado.

- Tem certeza de que não quer ir ao médico, Ariane? – perguntou senhor Perez assim que saímos da delegacia

- Tenho, só quero ir pra casa. – eu disse me sentindo cansada

- Você está irreconhecível, é melhor ir ao médico...

- Não precisa, leve-me para a casa de Regina, por favor.

Ele não disse nada, apenas abriu a porta do carro e eu me sentei e fiquei observando a sujeira da janela enquanto ele ligava o carro, ele me observava preocupado e parecia estar com dó de mim, eu realmente deveria estar irreconhecível.

- Já encontraram o verdadeiro assassino?

Senhor Perez suspirou e logo em seguida disse:  - Eles não querem encontrar o verdadeiro assassino, eles tem certeza de que é você.

- O quê? Não tem provas suficientes contra mim, minhas impressões digitais não foram encontradas na faca, nada prova que eu matei a Bianca! Eles têm a obrigação de investigar melhor! –eu praticamente cuspi no coitado do senhor Perez que não tinha culpa de absolutamente nada

- Eles não tem provas contra você, exceto o testemunho de 6 pessoas.

- Quem são essas 6 pessoas? Por que deram falso testemunho?

- A primeira é sua colega de trabalho, Fernanda.  A segunda é a própria mãe dela, e as outras 4 ficaram no anonimato.

- Anonimato?

- Pediram segredo a policia.

Olhei pra janela e pelo reflexo percebi que estava chorando, chorando porque estava perdendo as esperanças de ser inocente.

- Vai ficar tudo bem, eu prometo – disse Senhor Perez tentando me consolar.

POV Fernanda

Fui ao encontro dele no horário combinado. Ele detestava atrasos. Nós combinamos de nos encontrar em um lugar longe de minha casa para não levantar suspeitas, depois que Ariane foi solta não podemos vacilar, cheguei cedo ao restaurante e ele ainda não havia chegado, então pedi um café enquanto esperava, esperei apenas 5 minutos e então ele finalmente chegou.

- Olá Fernanda – disse ele com a voz rouca e fria de sempre

- Olá – eu disse sorrindo amigavelmente

- Estou admirado com sua excelente atuação, a policia nem desconfiou que seu depoimento é falso.

Fiquei vermelha.

- E nem vão desconfiar.

- Assim espero – ele sorriu de um modo que me fez ter calafrios

- Trouxe meu dinheiro? – perguntei desconfiada

- Sim, mas antes lhe devo te alertar: se você pensar em dar pra trás e contar a polícia sobre o depoimento falso, você será presa e logo em seguida morrerá – ele deu risada.

- Morrerei?

- Quem quebra o pacto comigo sempre morre. Não precisa ter medo pequena Fernanda, tenho absoluta certeza de que vai cumprir sua parte e vai salvar sua vida, não é?

- É – eu disse mais nervosa do que nunca

Ele entregou o envelope pardo e deu uma piscada para mim.

- Adeus, pequena Fernanda.

- Adeus

Sai do restaurante com as pernas bambas e com medo, medo que eu nunca tive em minha vida, medo de morrer. E por um segundo eu tive um pensamento idiota de desistir de tudo aquilo.

POV Ariane

Quando finalmente cheguei na casa de Regina eu me olhei no espelho, hematomas espalhados pelo rosto e pelo corpo, meu cabelo preto estava cheio de nós e em algumas partes dava até para ver o coro cabeludo, meus olhos estavam sem cílios e eu estava praticamente sem sobrancelha, sangue ainda escorria pelos lábios rachados e meu nariz estava doendo muito, meu pescoço estava com as marcas dos dedos delas, por causa das tentativas inúmeras de me enforcar .

- Você está horrível – disse minha irmã Caroline entrando no banheiro

- Seja gentil Caroline – disse Regina entrando no banheiro logo atrás de Caroline – Mas você tem razão, o que houve com você Ariane?

- Resolveram me usar de saco de pancadas na cadeia

- Ah, desculpa, eu sinto muito – Regina desculpou-se.

- Tudo bem – eu disse sorrindo para ela

- Eu tenho umas maquiagens lá em casa, se você quiser eu trago pra você – Caroline sugeriu.

- Não, muito obrigada – falei tentando ser educada.

Por um minuto o silêncio predominou o banheiro, mas Regina quebrou.

- O Senhor Perez me disse que a polícia não quer investigar outras pessoas, eles tem certeza absoluta de que você é a culpada.

- Estou completamente fodida, podem falar – eu ri

- É, você está – Caroline disse revirando os olhos

- O que você está fazendo aqui Caroline? – eu perguntei irritada

- Pensei que seria legal ver minha irmã que acabou de sair da cadeia – ela suspirou – sei lá, só pensei.

Percebi que ela tinha ficado chateada, na maioria das vezes eu não sou de magoar as pessoas, exceto aquelas que me magoaram a vida inteira.

- Mudando de assunto, Ariane, a Diretora me pediu pra te avisar que você precisa ir até a escola amanhã. – Regina disse

- Por quê?

- Ela quer falar com você e disse que você precisa colocar suas lições em dia.

Nem quando se é preso você se livra da escola, af

- Tudo bem, eu irei.

- Ah e você vai precisar dormir com seu namorado super gostoso hoje – Caroline falou rindo – Vou ter que dormir na sua cama, mas se você quiser eu durmo com ele sem problemas.

- Onde ele está? – eu disse ignorando a piadinha super sem graça de Caroline.

- Dormindo, ele não dorme desde o dia em que você foi presa – Regina explicou.

- Vou fazer companhia pra ele, estou morrendo de sono

- Não quer comer nada? – Regina disse preocupada

- Não, eu só preciso dormir. Me acorde amanhã para ir pra escola, ok?

- Pode deixar.

- Boa noite pra vocês

- Boa noite - elas responderam em coro

Fui para o quarto de João Pedro com pressa, o que eu mais queria assim que cheguei da cadeia era vê-lo e ter certeza de que ele estava bem. Quando entrei no quarto ele estava apenas de cueca exibindo seu corpo escultural, ele dormia feito um filhote de gato, era tão fofo. Vê-lo de cueca não me intimidava porque já tinha visto ele completamente nu. Quando nós éramos namorados há 2 anos nós transamos. 5 vezes. Confesso que naquela época eu estava um pouco viciada em sexo, não sei se era pelo prazer que proporcionava ou pelo êxtase de não ser mais virgem e ter a necessidade de transar toda hora, felizmente esse meu vício por sexo acabou assim que eu tinha terminado com ele, mas como nós voltamos eu estou com medo de transar outra vez e acabar me viciando novamente. Mas por outro lado, sexo era algum bom e às vezes necessário, eu havia acabado de sair da cadeia, estava toda machucada e meu namorado estava seminu na minha frente, isso era extremamente excitante. Resolvi acorda-lo e partir logo para o ataque.

- João Pedro – eu chamei

Ele abriu os olhos devagar e assim que percebeu que era eu quem estava na frente dele, ele se sentou na cama.

- Ariane? – Ele tocou no meu rosto como se fosse a coisa mais preciosa do mundo – O que houve...?

Interrompi antes de ele fazer a pergunta

- Me usaram de saco de pancadas na cadeia – eu ri forçadamente

- Ai meu...

Interrompi mais uma vez, tirei minha camiseta e joguei em um canto do quarto ficando apenas com meu sutiã de renda vermelho.

- Quero fazer uma coisa – eu disse sussurrando no ouvido dele e tirando sua camiseta

- Faça o que quiser – ele deu risada e me ajudou a desabotoar o zíper da minha calça enquanto beijava meu pescoço

E então ele cuidou de mim como ninguém nunca havia cuidado.

Depois de uma das melhores noites da minha vida eu estava pronta para voltar para a escola e enfrentar tudo o que me esperava, desde que João Pedro estivesse ao meu lado eu saberia que eu era a capaz, e não ficaria em casa chorando pelos cantos só porque o país inteiro me odeia, afinal, isso não é o fim do mundo. E é como Caroline sempre diz: Tem sempre alguém pior que você.

- Bom dia! – eu disse para Regina e Caroline que estavam sentadas na mesa da cozinha com caras de sono.

- Bom dia – Regina respondeu – Você parece feliz.

Eu ia falar, mas Caroline me interrompeu.

- Mas é claro, depois de uma noite quente como essa que ela teve até eu ficaria feliz, porra deu pra ouvir todos os barulhos lá do quarto! A propósito, bom dia irmãzinha – Caroline disse com seu tom de ironia que eu detestava.

Minhas bochechas ficaram vermelhas, afinal eu não esperava que minha irmã mais velha soubesse que eu era sexualmente ativa e nem que ela saberia disso através de ‘’barulhos’’.

- Caroline! – Regina a repreendeu – Pare de ser inconveniente!

- O que é? Vai fingir que você não ouviu o vuco vuco que foi essa noite? Você pode ser idiota, mas nem tanto né.

 Eu corei mais ainda e decidi acabar com aquele assunto de vez.

- Então gente, vamos pra escola né? A vida continua – eu disse tentando disfarçar a profunda vergonha que eu estava sentindo.

- Vamos a pé? – Regina perguntou

- Vamos ter que ir porque a Ariane acabou com a força do João Pedro essa noite – ela disse rindo da própria piadinha sem graça

Regina riu também.

- Você não presta Caroline, não é atoa que repetiu o ano.

- Falhas técnicas – ela disse me ignorando – Agora vamos antes que eu repita outro ano.

Saímos pela porta e por um segundo eu senti que não estava pronta para aquilo, mas eu precisava estar pronta. Me lembrei de João Pedro e o modo como ele me fazia ficar segura e continuei andando com cabeça erguida ignorando todos os olhares estranhos que direcionavam para mim na rua, teria que me acostumar com aquilo. Na minha vida normal apenas minha mãe me odiava, mas na vida da Ariane Assassina todos me odiavam e isso não era uma coisa normal para se acostumar de um dia para o outro. Quando chegávamos perto de crianças as mães pegavam os filhos no colo e saiam andando mais rápido, todos estavam fazendo isso, todos estavam correndo de mim e por um momento eu gostei daquilo. Eu sempre fui a garotinha frágil que todos tinham pena porque a mãe era injusta comigo, sempre fui aquela que por mais que negasse, temia a mãe e queria a aprovação dela para tudo mesmo sabendo que não teria. E agora todos temiam a mim, todos tinham medo de mim. Eu sei que não deveria gostar disso de jeito nenhum, mas o que fazer quando nem se consegue controlar as próprias emoções?

- Está pronta? – Regina chamou minha atenção e então percebi que estava em frente ao portão da escola com todos me encarando – Vamos, você é forte!

- Eu sou forte – eu disse aquelas palavras no sentido de ser poderosa e causar medo nas pessoas, e não no sentido de aguentar aquela pressão, em hipótese alguma Regina poderia saber daquilo.

Entramos juntas pelo portão da escola e pela primeira vez eu senti que tinha o poder nas mãos.


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