Violinos e Veneno escrita por Mariana M


Capítulo 6
Uma corda para me enforcar




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Fui obrigada por Caroline a colocar uma peruca loira e óculos de sol para sair de casa, ela disse que não queria que ninguém me incomodasse na escola, mas eu já estava prevendo que colocar uma peruca e um óculos não ia ajudar em muita coisa, quando cheguei na escola todos me reconheceram porque Caroline e Regina estavam ao meu lado, e todos do meu bairro e da escola sabem que Caroline é minha irmã e Regina é minha melhor amiga, então o plano de Caroline falhou. A escola inteira me temia, até as garotas que anos atrás me intimidavam e me faziam comer meu lanche no banheiro quando Regina faltava estavam com medo de mim, elas corriam pelo corredor feito cabritas assustadas a procura de seu pastor, algumas meninas que geralmente me davam ‘’oi’’ quando eu passava por elas agora me olhavam estranho e saiam de perto rapidamente. Regina e Caroline pareciam incomodadas com a situação, mas eu estava adorando dar medo nas pessoas, era um pouco eufórico vê-las perdendo o ar só porque você estava passando. Mas havia uma pessoa que parecia nem ligar que estava no mesmo local que uma suposta assassina. Era uma menina. Ela tinha cabelos ruivos um pouco desbotados, mas que combinavam perfeitamente com ela, olhos verdes, sua pele era branca e ela usava óculos. Estava concentrada lendo algum livro que eu não consegui ver o título, parecia que ela não estava ali e sim no mundo da lua. Enquanto todos estavam correndo de mim ela apenas lia seu livro.

- Parece que nem todo mundo tem medo de você – Caroline disse incrédula

- Quem é aquela garota? – eu perguntei

- Não sei, acho que é aluna nova – Regina disse.

- Então ela deve ser de outro mundo, porque ela não tá correndo da Ariane – Caroline falou.

- Ou então ela não se importa – eu disse tentando entender o que se passava na cabeça daquela garota.

Caroline, Regina e eu fomos para nossas respectivas salas, quando cheguei em minha sala, todos que estavam conversando e rindo uns com os outros pararam imediatamente e ficaram me encarando, eu ignorei todos os olhares e me sentei no meu lugar, o silêncio predominou até que uma garota entrou na sala correndo.

- Me desculpe professora, eu sou nova aqui e fiquei procurando minha sala e acabei me perdendo, será que eu posso entrar?

A tal garota era a mesma que estava distraída no pátio na hora da entrada.

- Claro que pode. – a professora disse sorrindo e apontando um lugar ao meu lado pra ela – Pode se sentar ali e apresentar-se para o resto da turma.

A garota colocou sua bolsa em cima da mesa e foi para a frente da sala e deu um sorriso confiante ao pronunciar seu nome:

- Olá, eu sou a Sarah, Sarah Sparks.

- Seja bem – vinda a nossa escola, Sarah. – A Professora disse

- Obrigada – Sarah agradeceu e em seguida sentou-se em seu lugar

A Professora de Filosofia começou a distribuir uns papéis para todos, tomara que não seja prova porque estou completamente sem condições de fazer prova.

- Classe, eu distribui uma folha para cada um, nessa folha vocês devem colocar o que achou de mais interessante em seu colega, a proposta da atividade é reconhecer os talentos e as qualidades das pessoas que convivem com você boa parte do dia, a atividade é em dupla então juntem as mesas.

Droga. Atividade em dupla bem no dia em que a escola resolveu me odiar. Quando eu ia me levantar para pedir para a professora se eu podia colocar na folha o que eu acho de interessante em mim mesma um cabelo ruivo me chamou atenção, Sarah havia colocado sua mesa encostada na minha e me olhava com atenção.

- Olá, eu percebi que ninguém quis fazer a atividade com você então eu me sentei aqui – ela disse abrindo um sorriso simpático demais.

- Hm, obrigada, eu acho.

- Posso te fazer uma pergunta?

- Claro – eu meio que já sabia o que ela ia perguntar.

- Porque quando você passa todo munda sai correndo, desculpa perguntar isso, mas é que eu pensei que faziam isso porque você fedia mas agora eu percebo que  você não fede – ela disse quase sem respirar.

Eu não me contive e dei risada.

- Porque você tá rindo? – Sarah me perguntou confusa

- Realmente não me conhece de algum lugar? – eu tirei os óculos e a peruca loira.

Sarah abriu a boca espantada.

- Ai meu Deus você é... você é Ariane Miller!

- É – eu ri com a reação exagerada dela – Se você não quiser mais fazer a atividade comigo eu entendo.

- Claro que não! Eu vim para essa escola por sua causa. – ela ficou vermelha.

Ah não, ela é repórter.

- Eu acredito que você é inocente, e quero te ajudar a provar sua inocência.

Isso era tudo que eu menos esperava ouvir.

- Porque quer fazer isso?

- Eu sou viciada em livros e filmes de suspense, e digamos que seu caso é bem complicado porque tudo indica que você é a culpada e ao mesmo tempo indica que você não é.

- Porque acha que eu não sou culpada?

Sarah riu

- Francamente Ariane, você é uma garota de 16 anos, você não seria capaz de mutilar uma pessoa como a Bianca em pedaços.

Aquilo me incomodou bastante, e isso me assustou. Eu deveria estar feliz porque finalmente alguém tinha inteligência o suficiente para perceber que eu, uma garota magrela de 16 anos não seria capaz de matar a colega de escola. Mas a forma como ela duvidou da minha capacidade de matar uma pessoa me deixou realmente irritada.

- Entendo, mas o que me indica culpada?

- Os fatos, segundo as testemunhas você foi a última pessoa que viu a Bianca viva e você foi encontrada no local do crime totalmente desesperada, ou seja: o seu desespero deu a entender que você matou a Bianca e ficou muito arrependida.

Sarah era realmente muito inteligente, no fundo eu sabia que precisava da ajuda dela para provar minha inocência, mas o que me deixava confusa era o fato dela ter caído do céu, coisas fáceis vão embora fácil.

- Então, vai deixar eu te ajudar? – ela fez uma carinha muito fofa.

- Talvez, eu preciso conversar com meus amigos primeiro.

- Ok, espero que seus amigos me deixem entrar pra turma – ela deu risada

- Eles são legais.

Assim que o sinal tocou fui me encontrar com Caroline e Regina, elas estavam sentadas em um banco do refeitório com as piores caras do mundo.

- O que foi gente? – eu perguntei

Caroline abaixou a cabeça e me olhou em seguida mas não disse nada, Regina começou a explicar:

- Atacaram a Caroline hoje.

- O que? Como assim? – eu disse olhando para Caroline.

- Hoje algumas meninas da minha sala estavam falando de você, falaram que você era um monstro e uma assassina, estavam até pensando em te bater na hora da saída, então eu fui te defender e a sala toda se voltou contra mim. Eles me jogaram na parede, e disseram para mim parar de defender você porque se não eles iam acabar comigo.

Isto estava ficando sério, eles não podiam machucar Caroline por uma coisa que eu supostamente fiz, ela não era culpada.

- Sinto muito. – eu disse sem pensar, não sabia o que dizer a ela.

- Sinto muito? Ariane, eu sei que não é sua culpa, mas eu não posso mais fazer isso, eu não posso mais tentar ser sua amiga. Desculpe-me, eu quero ter uma vida normal onde ninguém me odeie, quero que as pessoas olhem para mim e que a coisa mais maldosa que elas pensem seja ‘’que cabelo feio’’, não quero ser odiada por ninguém, espero que entenda.

Eu não entendia, Caroline era minha irmã e estava me abandonado, estava se afastando de mim por uma coisa idiota. Irmãs mais velhas deviam ficar ao lado das mais novas, correto? Não. Caroline nunca foi do tipo de irmã legal, nunca nos falamos direito e tinha vezes que eu tinha tanta raiva dela que sentia vontade de mata-la.

- Eu não entendo você é minha irmã, Caroline!

- Eu sei, e você me conhece, eu nunca fui uma irmã confiável, eu nunca fui sua irmã de verdade.

- Esse é o momento que eu mais preciso de você, por favor.

- Eu sei Ariane, se você precisar de alguém parar levar suas coisas para casa de Regina, ou para te dar noticias da mamãe pode contar comigo, mas não conte comigo para participar dessa loucura que se transformou sua vida, eu não estou pronta para passar por isso. Eu sinto muito. – assim que terminou sua frase Caroline pegou sua mochila e saiu andando sem rumo.

Regina colocou a mão no meu ombro numa tentativa de frustrada de me acalmar.

- Eu não aguento mais, porque isso está acontecendo comigo? Porque pensam que sou uma assassina? Porque tenho que perder as pessoas que eu amo por uma coisa que eu não fiz? – eu estava chorando, estava desesperada, sem saída.

- Acalme – se, uma hora nós iremos encontrar uma saída, isso vai passar. Eu te prometo.

Chorei mais ainda, Regina definitivamente era a pessoa que mais se importava comigo no mundo, não importava se eu fosse uma suposta assassina ela sempre estaria ali para me dar apoio, não sei o que faria da vida se eu perdesse Regina.

- Obrigada por tudo. – então me lembrei de Sarah – talvez, eu já tenha encontrado a porta da saída.

- Oi? – Regina fez uma cara estranha.

Contei tudo para ela, desde o começo do dia onde eu havia visto Sarah no pátio até a hora em que o sinal tocou.

- Tem certeza de que esta garota é confiável? – Regina perguntou desconfiada.

- Não, quer dizer, mais ou menos, ela é inteligente e precisamos de pessoas inteligentes para me ajudar, e ela está desposta, então...

- Preciso conhecer essa garota antes de confiar nela, onde ela está?

Fiquei procurando por Sarah por um tempo, não a vi em lugar algum, não estava no refeitório, nem nos jardins da escola, parecia que tinha tomado chá de sumiço.

- Tem certeza de que essa Sarah existe de verdade? – Regina disse tentando ser sarcástica

- Tenho. – Sarah apareceu do nada atrás de Regina, que se virou imediatamente para vê-la – é muito bom finalmente conhece-la...?

- Regina.

- Regina! Belo nome – Sarah sorriu mostrando seus dentes perfeitos, isso pareceu incomodar Regina.

- Então, Sarah como pretende ajudar minha amiga?

- Gente, eu vou ao banheiro – eu gaguejei, estava com medo de deixar as duas sozinhas.

- Quer que eu vá junto? – Regina se ofereceu

- Não, muito obrigada, acho que ninguém vai me atacar a caminho do banheiro – fazer piada com aquilo não tinha a mínima graça, mas mesmo assim eu fazia.

Até a porta do banheiro foi tudo tranquilo, apenas algumas pessoas cochichavam quando eu passava, estava até me acostumando. Mas quando entrei no banheiro fui recebida com um doloroso tapa na cara. Levantei a cabeça para ver quem havia me atacado. Lorena. A melhor amiga de Bianca.

- Como você tem coragem de aparecer nessa escola? – ela disse praticamente me matando com os olhos.

- Eu estudo aqui, é normal eu aparecer. – eu estava tentando ser irônica mas na verdade eu estava me cagando de medo.

- Você matou minha melhor amiga, você a cortou em pedaços! E ainda tem coragem de ser cínica comigo!

Levei outro tapa.

- Eu não matei a Bianca!

Ela riu.

- Pare! Pare de fingir, todos aqui sabem que você a matou, pare!

Quando Lorena levantou o braço para me bater novamente eu segurei sua mão, ela tentou me bater com o outro, mas eu o segurei também. Ela me deu um chute na perna que me derrubou no chão, imediatamente dei outro chute que acertou em cheio a barriga dela, Lorena caiu no chão e puxou meu pé, fazendo minha cabeça bater fortemente no chão frio, me levantei e puxei os cabelos loiros dela, ela deu outro chute que acertou minha perna, mas dessa vez eu não cai, ela se levantou e tentou me socar, então segurei o pulso dela e disse:

- Pare você!

Ela conseguiu se soltar de minhas mãos e saiu em direção a porta, então se virou e disse friamente:

- Você irá me pagar muito caro, eu vou vingar a Bianca, você vai pagar Ariane!

Todas as garotas que estavam no banheiro saíram correndo feitas galinhas assustadas, o que me deixou aliviada, não queria levar outra surra. Me olhei no espelho e percebi que metade da maquiagem que eu havia passando tinha sumido, agora dava pra perceber que eu tinha levado uma bela surra. Droga. Fechei a porta do banheiro pra ter privacidade, quando ouvi um barulho vindo de um dos boxes. Acho que nem todo mundo saiu.

- Tem alguém aí?

Ninguém respondeu, ouvi outro barulho e um vulto passando por mim, os pelinhos do braço de arrepiaram.

- Não tem graça, tem alguém aí?

Nenhuma resposta. O vulto passou de novo. Então ouvi um celular tocando. Ninguém atendia. Comecei a abrir a porta de todos os boxes, eu sabia que tinha alguém lá, eu precisava saber quem era. Fui abrindo porta por porta, e o volume do toque do celular só aumentava. Quando cheguei ao último box alguma coisa me dizia para não abri-lo, o som do celular estava vindo de lá.

- Este box está ocupado? – perguntei

Ninguém respondeu, quando finalmente abri o box vi uma das cenas mais aterrorizantes da minha vida. Uma garota estava morta no box, não havia sangue no local, apenas a garota com o celular na mão, e uma corda de violino enrolada no pescoço. O barulho do celular estava me dando dor de cabeça, apertei o botão de atender a chamada e ouvi a pior voz do mundo dizendo:

- Alô, eu estou voltando.

Dei um grito de horror e saí correndo daquele inferno.


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