-Charles-

Acordei suando e aos berros, tia Lea já estava na porta do dormitório, assustada.

–Oh, meu Deus, o que ouve? – perguntou ela, aflita.

–Pesadelos... –disse em um fio de voz.

–Novamente? Já é a terceira vez só essa semana!

–E o sonho é sempre o mesmo. Primeiro aparece um menino-bode, depois uma garota, e logo vêm os monstros que ficam nos perseguindo.

A moça me encarou com pesar nos olhos, e afastou os cabelos grudados no meu rosto pelo suor.

–Não é menino-bode, e sim Satiro, ou fauno, dependendo. – ouvi uma voz de garota, e levantei-me para ver quem era. – Eu li em um livro, sabe... – disse uma garotinha sorrindo.

Ela estava trajando um pijama azul claro, estava encostada na porta. Ela era um pouco mais baixa que eu, mas também devia ter sete anos, pele muito branca, cabelos curtos e pretos, e olhos claros. Ela sorria, e usava aparelho nos dentes.

Foi quando percebi que ela era a garota em que via nos meus sonhos.

–Prazer! – disse ainda sorrindo. – Meu nome é Vanessa, mas no outro orfanato me chamavam de Nessie, então me chame como quiser.

–Ola... – disse ainda confuso. – Você nunca esteve aqui, não é?

–Ela foi transferida do Canadá para Londres essa semana. – disse Lea.

–Você tem pesadelos com Satiros? – ela perguntou, pulando na minha cama. – Que engraçado, eu também! Mas nos meus sonhos ele me ajuda...

–Er. Sim. Desculpe, meu nome é Charles, prazer!

Ela sorriu, seus aparelhos eram azuis.

–Muito legal ver que vocês fizeram amizade, mas agora, para a cama, os dois. – mandou Lea. –Já!

–Boa noite! – disse Vanessa, e saiu saltitando do dormitório.

Sete anos depois.

–CHARLES! – acordei com Nessie pulando em cima de mim. – ACORDA, ACORDA, ACORDA! –ela dizia, rindo.

–NESSIE!

–O que?

–Sai de cima, ta machucando! – disse a empurrando.

–O. k. Seu fracote... – ela disse fazendo careta, enquanto sentava no chão.

Ela não havia mudado muito, só que agora com quatorze anos, seus cabelos, ainda curtos e repicados, continham mechas azuis e brancas nas pontas. E agora, alem de aparelhos nos dentes, ela também usava óculos, mas só de vez em quando - nunca na verdade-.

–O que você esta vestindo? –perguntei, quando vi sua saia de prega azul, camiseta branca e meia ³/4 branca, e seu costumeiro all star roxo sujo.

–Meu novo uniforme, o seu, já esta em cima da cômoda, e Ben já ligou. Dizendo que vem nos pegar. Então vá se arrumar depressa! – ela disse e saiu pulando pelas escadas.

Levantei e tomei uma ducha rápida, na hora de escovar os dentes, sem querer relei na tomada e levei um choque, isso sempre acontece comigo. Atordoado, me troquei (calça jeans, all star preto, e a blusa do novo uniforme), e desci correndo para a cozinha do orfanato.