Querida Sabine,

Na última segunda-feira (dia 15 de agosto) aconteceu a cerimônia, fechada e secreta, de minha posse como Marechal de Campo. Além de mim, participaram desta cerimônia: O Füher, Heinrich Himmler, Kurt Daluege (Coronel-General), Hans Boelsen (General), Walter Model (General) e von Rundstedt (General).

Brindamos a um novo cargo que sequer pudesse sair daquela sala. Então, minha nomeação estava apenas na boca do Füher e na mente de cada um de nós. Nada escrito. Oficialmente Himmler é o Marechal de Campo com poderes limitados apenas pelo Füher. Mas na prática sou eu quem ocupa este cargo.

Quando Himmler tentou falar alguma coisa referente a algum problema vivido em campo, o Füher, interrompendo-o, falou em tom grave (indicando a importância e a gravidade de suas palavras):

— Este é um momento de descontração. Não quero, em momento algum, ser abordado com assuntos fora desta comemoração, exceto quando em caráter muito urgente. O que vai me dizer tem esta característica?

Himmler respondeu, em voz baixa e submissa:

— Não, meu Füher.

E teve como resposta:

— Bem como eu pensei. Não me incomode mais!

Para mim era clara a antipatia que o Füher nutria por Heinrich Himmler. O motivo disto eu iria saber dois dias mais tarde...

Continuamos o nosso encontro, bem descontraído, longe de outros olhos, cercados no mundo que criamos ali. Era um momento de diversão em meio a guerra acontecendo fora daquela sala. Quem estava do lado de fora não entendeu o motivo de estarmos ali bebendo, rindo e nos divertindo. E nem poderíamos divulgar estes motivos.

Na saída o Füher nos convocou para uma reunião na próxima quarta-feira (dia 17 de agosto).

No dia seguinte não vi nenhuma das pessoas que estavam naquela reunião. Fiquei envolvido com a pilha de documentos que eu precisava estudar, especialmente os documentos referentes a "Operação Lüttich", que aconteceu no dia 7 de agosto.

Lendo tais documentos vi muitas falhas na estratégia. São falhas que beiram o absurdo, partidas do próprio Füher.

No dia 17 de agosto tivemos uma nova reunião. Além de mim estavam nela: O Füher, Heinrich Himmler, Walter Model, Erwin Rommel e Hans Boelsen.

Assim que a porta foi trancada e nos acomodamos à mesa, o Füher iniciou a reunião:

— Senhores, o objetivo aqui hoje é avaliar o nosso posicionamento na última investida contra nossos inimigos e determinar atitudes daqui pra frente.

— A Operação Lüttich foi um fracasso. Quero, antes de tudo, ouvir Wilfried Baumberg sobre suas considerações acerca desta operação.

Eu tive um pouco de medo, e fiz uma longa pausa antes de iniciar. Mas antes que eu abrisse a boca o Füher disse:

— Você está livre para falar o que quiser. Embora o meu nome esteja na autoria das ordens, isto foi feito por Heinrich Himmler. Talvez por isto o fracasso desta operação toda.

Neste momento eu me senti mais a vontade para criticar o que havia visto. Então perdi o medo e disse:

— Meu Füher, esta estratégia está completamente contrária a qualquer estratégia aceitável para o momento. Houve muita falha na utilização. A região de Mortain é muito perigosa para nós, então o correto seria que von Kluge esperasse a chegada dos reforços para dar início a Operação Lüttich.

O Füher me interrompeu dizendo:

— Von Kluge convenceu Himmler que não seria necessário esperar e que, estrategiamente, seria melhor dar início imediato. Himmler acatou a idéia e, em conversa comigo, me apresentou um cenário onde isto seria possível. Por isto eu mesmo emiti a ordem.

Eu não considerei o que ele falou para não perder minha linha de raciocínio. Continuei dizendo:

— Nossas baixas foram muito altas. A estimativa é de 150 tanques e 2000 homens. E isto poderia ter sido evitado com a espera dos reforços ou com a retirada estratégica ao ver que houve reação pesada por parte do inimigo. Seria mais produtivo recuar e juntar-se aos reforços que estavam no meio do caminho..

Notei o rosto do Füher num semblante nervoso e pronto para explodir. Fiquei me perguntando se havia dito alguma coisa errada.

Por fim ele explodiu:

— Estou sendo assessorado por um bando de incompetentes! Não sei como pude dar ouvidos ao Heinrich Himmler, que nunca mereceu o cargo que ocupa! Wilfried Baumberg teve acesso aos documentos desta operação ontem e hoje chega com aquilo que era óbvio aos olhos de qualquer um, porém dois homens ocupando cargos altos se mostraram incapazes de gerir este processo de maneira óbvia.

— Eu já destituí von Kluge de todos seus cargos. Ele está confinado sob a guarda de Walder Model. Quero que ele seja retirado de serviço mas não quero baixa desonrosa. Quero de uma forma que ele reconheça a sua má atuação e, por livre vontade, se retire de uma vez por todas.

Walter Model tomou a palavra e perguntou:

— Füher, o senhor o quer morto?

E a resposta foi:

— Sim, mas não quero que seja morto. Não seria uma boa propaganda para nós neste momento.

Walter disse:

— Considere como feito, meu Füher.

Füher me dirigiu a palavra, dizendo:

— Wilfried, precisamos de um substituto para von Kluge. Dentro do que já estudou, existe alguém que esteja apto para ocupar este cargo? Coloquei Walder Model em seu lugar, mas até designarmos outra pessoa, pois quero Walter em outros processos.

Eu já havia lido alguns nomes interessantes. Precisava eleger alguém. Não podia destituir as pessoas das posições que ocupavam por não saber exatamente o que estavam fazendo. Então precisa colocar alguém de confiança, porém, que estivesse sem atividades importantes. Foi quando me veio à mente uma pessoa. Então disse a ele:

— Bem, há sim um nome que não sei se será de seu agrado, mas estou com argumentos que podem certificar sua capacidade para o cargo. Trata-se de von Rundstedt.

O Füher franziu a testa. Coçou a cabeça como quem estava digerindo o que acabou de ouvir. Logo em seguida disse:

— Von Rundstedt me desagradou em duas ocasiões. Mas devo reconhecer que as atitudes dele seriam de grande valia se eles estivesse a frente da Operação Lüttich. Ele tem o espírito conservador, não é desbravador, não pisa em terrenos desconhecidos. Se von Kluge tivesse este perfil não teríamos tido tantas baixas e poderíamos ainda oferecer uma grande resistência em Mortain.

Fez-se uma pausa. Um silêncio que me incomodou muito. Em seguida continuou:

— Acredito que você fez uma boa escolha. Não posso dispor de nenhum de meus oficiais. von Rundstedt é uma pessoa de confiança e também acredito que será capaz de conduzir esta situação de forma melhor. Parabéns, Wilfried, fez uma boa escolha. Confesso que te fiz esta pergunta esperando que me sugerisse alguém que não poderia ser destacado para o cargo. Me surpreendeu. Parabéns!

Eu me senti muito bem com isto. Respondi, educadamente:

— Obrigado, Füher.

Neste momento ele se dirigiu a Hans Boelsen dizendo:

— Procure por von Rundstedt e traga-o até mim. Quero informá-lo de suas novas atribuições. Vou devolver a ele o cargo que tinha.

Tratamos de outros assuntos, questões pessoais de algumas pessoas da reunião e questões de menor importância. A reunião foi dada por encerrada.

Hoje (sábado, dia 20 de agosto), pouco antes de começar a te escrever, soube da morte de von Kluger. Suicidou ontem com cianureto deixando uma mensagem ao Füher. Tenho certeza que não foi suicídio, tenho certeza que foi tudo preparado para ser considerado suicídio. Aos olhos de quem não sabe, foi um homem que cometeu um erro e não conseguiu conviver com isto.

Não sei o que pensar de tudo isto, Sabine. Sei que são atitudes necessárias e eu mesmo já tive de tomar atitudes similares. Mas nunca vi isto acontecer com um colega de farda. Ao mesmo tempo não tiro a razão do Füher, pois perdemos 2000 homens. Algo precisava ser feito. Por isto não sei o que pensar. São atitudes drásticas e tomadas de maneira fria pensando na causa. Isto me faz admirar ainda mais o nosso Füher.

Vou passar um tempo maior sem te escrever. Terei de fazer algumas pequenas viagens, acompanhando o Füher. Ele insiste que eu o acompanhe, mas a idéia de voar não me agrada muito. Terei de vencer isto.

Assim que possível dou novas notícias.