- Suíte Presidencial! – gritou Samuel quando a porta do elevador fechou. Felizmente, não havia ninguém além de mim, Vanessa, Monroe e Isabella lá dentro.

O apartamento era perfeito: somente a sala de estar já era maior do que o apartamento em que eu morava com Lucy e meu pai em Brasília e o outro, em Washington; não era fácil descrever tudo, mas tente apenas multiplicar sua definição de perfeição por dois. Havia três quartos, um com três camas de solteiro, outro com duas e outro com uma cama de casal.

- Meninas no quarto à esquerda – falei – e meninos no quarto à direita

- Ah, qual é! – Isabella resmungou chateada – eu quero o outro quarto, ele é mais espaçoso.

- Se você for para lá, vai ter que levar aquilo ali com você – disse, apontando meu queixo para Monroe.

- Hmm – pensou Isabella – até que não seria uma má ideia

- Concordo – respondeu Monroe

- Cara, ela estava brincando – Vanessa falou com um tom que soava como “como vocês não conseguem identificar uma indireta?”

- Dane-se – Isabella disse, pegando sua pequena mochila e foi até o quarto de casal. Como um cachorrinho, Monroe foi atrás dela.

 Vanessa e Samuel e eu ficamos trocando olhares até que Monroe fechou a porta.

- Espero que eles não... – tentei fazer meus amigos pensarem no que eu estava pensando – vocês sabem... eles só são um ano mais velhos do que a gente...

- Bom, se qualquer coisa acontecer, a culpa é deles – Vanessa resmungou, indo até a geladeira.

Fui atrás dela e peguei um pacote de salgadinhos no armário embaixo da pia. Ao abrir a embalagem fiquei frustrada ao perceber que havia mais ar do que conteúdo, mas mesmo assim devorei tudo bem rápido, e continuei com fome.

- Você precisa de ambrosia ou néctar – observou Vanessa – uh, e um bom banho!

- Tudo bem – falei – já vou

- Não – Vanessa e Samuel gritaram ao mesmo tempo – eu preciso... fazer minhas necessidades... – Vanessa falou baixinho

A ideia de usar um banheiro “sujo” era péssima; principalmente para mim, que tenho um pequeno nível de toc. Mas não queria parecer inconveniente ou mesquinha, então acenei com a cabeça e Vanessa foi até nosso quarto.

- Sabe – disse Samuel – acho que nós podíamos...

- Eu não vou pedir para Vanessa trocar de quarto com você, se é o que está pensando.

- Não é isso – ele riu um pouco e parou quando percebeu que eu não estava falando sério – podíamos marcar uma reunião para bolar um meio de achar Atena. Sabe, ela é sua mãe...

- Pode ser – eu disse, pegando uma lata de Guaraná da geladeira – nove horas da noite, na sala de estar? Eu preciso descansar.

- Não. Eu não confio em Isabella ou Monroe. Eles nos seguiram até aqui. Temos que ir à um lugar onde eles não poderão  nos achar. Seu pai ainda tem aquele apartamento na Asa Norte?

- Sim, e provavelmente ele está lá; quando nos mudamos de Brasília para Washington ele falou ‘caso alguma coisa ruim aconteça, voltaremos no primeiro voo de volta’. Claro, eu pensava que seria em caso de não nos adaptarmos ao país, apesar de que Lucy e meu pai nasceram e cresceram lá nos Estados Unidos, mas não algo como o que aconteceu.

- Você já falou demais – ele concluiu – então, as nove, nós três vamos até o apartamento. Podemos falar com seu pai sobre algo haver com sua mãe. Ah, aproveite e pegue algumas roupas suas, eu não aguento olhar para você com as mesmas roupas todos os dias, parece que o tempo não passa.

- Ok – disse, e dei o último gole no Guaraná – mas e se Isabella e Monroe perguntarem aonde nós vamos, o que falamos?

- Você é a inteligente por aqui, Corujinha. E eu tenho a leve impressão de que eles nem vão ligar.