A Beautiful Mess escrita por Danendy


Capítulo 9
Capítulo IX - O Jantar


Notas iniciais do capítulo

Ok! Eu sei, eu mereço a morte! Tem quase um mês que não apareço. O que aconteceu foi um grande bloqueio criativo, que certamente, ainda perdura, como verão com este capítulo.
Tive que estudar muito para concluir o semestre (que sim, nas federais está todo louco e acaba por esses meses - o meu já acabou e reinicia dia 15), tive muito trabalho e andei tão sem paciência. Nem pra ler ou ver filmes eu achei tempo. Acho que só não deixei de ouvir música, mas o resto das coisas que amo fazer sucumbiram.
Anyway, estou de volta, não sei por quanto tempo, mas estou. E o capítulo do jantar está aí. Eu o havia escrito antes, mas daí detestei o rumo que a história tomou e o reescrevi. Não ficou grande coisa, mas está anos-luz melhor do que a primeira versão.
A propósito, estou sem tempo para uma revisão. Avisem qualquer erro que notarem.
Desfrutem (ou não)



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Não sei quanto tempo fiquei parada na varanda de Peeta. Eu só sei que demorou bastante para que eu tivesse coragem de tocar a campainha. Quando o fiz, já havia decorado todos os detalhes singelos da vizinhança e as casas ao redor. Não lembrava que existia uma parte tão bonita neste bairro. Não que minha vizinhança fosse terrível, mas certamente não tinha cercas brancas bonitinhas, casas em estilo vitoriano e pintadas com cores vivas como azul, verde e rosa.

Ouvi passos e vozes que pareciam se aproximar e, finalmente, a porta se abriu. Dois rapazes altos que pareciam idênticos me lançaram um olhar de curiosidade. Pela aparência, eu pude presumir que fossem parentes de Peeta, pois eram loiros e também tinham olhos azuis. Talvez fossem os irmãos, para o qual o jantar era em homenagem.

Um deles, o que tinha o cabelo bem aparado, falou comigo:

— Oi…?

Pareceu mais uma pergunta do que uma saudação. Os dois me sondavam, olhavam para mim com curiosidade e, posso estar errada, fascínio. Cheguei a me sentir nua no vestido azul-marinho que Johanna me fizera usar, e ele era bem comportado, comparado a alguns modelos que eu tinha no guarda-roupa: marcava a cintura, tinha um decote nada chamativo e uma saia de pregas que seguia até o joelho; e meu cabelo liso e negro estava solto, o que cobria as alças finas do vestido e parte da pele exposta da minha clavícula, mas ainda assim o olhar deles me deixou desconfortável.

— Oi, eu sou Katniss. — Eles pareciam confusos. — Hm… amiga do Peeta.

— Peeta não falou que tinha uma amiga tão bonita. — O outro rapaz, o com o cabelo maior, falou, encostando-se ao portal da porta.

O tom dele foi malicioso e quase me fez rir. Sinceramente, teria que aguentar essas cantadas baratas até aqui? Como se Darius e Cato não fosse o bastante.

— Meninos, quem é? — Pude ouvir uma voz distante falar atrás dos dois rapazes.

E logo uma mulher com os mesmos olhos dos garotos apareceu. Ela era loura, magra e um pouco mais alta que eu. Usava uma saia social e uma camisa branca com babados na frente. Parecia bem elegante, combinando o vestuário com um corte de cabelo rente aos ombros.

Ela também parecia curiosa a meu respeito.

— Olá. — Ela falou. — É a amiga de Peeta, não é? Katniss, certo?

Eu apenas aquiesci, um pouco intimidade por sua figura.

— Espera, você sabia que Peeta havia convidado uma garota e não nos avisou? — Um dos gêmeos, o de cabelos curtos, falou.

— Eu avisei a você e seu irmão, Damian. Disse que teríamos companhia e que seria melhor se trocarem.

— Achei que estivesse falando de uma de suas amigas… Peeta nunca traz ninguém aqui.

E então a mulher cruzou os braços e lançou um olhar enviesado ao garoto e depois se voltou para mim.

— Que tal entrar, querida? — O sorriso em seu rosto era sincero.

Assenti ainda sem jeito e ela me guiou pela porta, assim que os garotos entraram e desapareceram casa adentro, e a fechou atrás de mim. Por dentro, tudo parecia ainda mais suntuoso do que por fora. Peeta vinha de família abastada, ao que tudo indicava. Isso fora uma surpresa. Não que eu tivesse imaginado que ele vivesse na miséria, mas caramba, ele voltava a pé para casa comigo! Qualquer adolescente que vivesse num lar como aqueles certamente teria um carro. Ainda que a escola não ficasse muito longe.

— Então, está indo para Berkeley, hã? — O som da voz da mãe de Peeta me trouxe das minhas divagações.

— Hum? — Perguntei me voltando para a ela assim que chegamos ao cômodo que eu julguei ser a sala.

O lugar era branco e possuía móveis escuros para contrastar. A decoração incluía pinturas urbanas nas paredes e janelas onde a luz do dia¹ ainda penetrava a casa. Era tudo claro, bem mobiliado e elegante. Fiquei imaginando o que Peeta acharia se eu o levasse a minha casa e ele visse a falta de charme das paredes — já obscurecidas — cor de creme e a impessoalidade do lugar.

— Sua faculdade. Peeta disse que vai para Berkeley. — A mulher explicou.

— Sim… Biologia. — Sorri. — O que mais ele disse a meu respeito?

— Ah, ele não falou muito e olha que o pressionei. — Ela deu uma risadinha. — Acho que ele gosta de você. — E então como se tivesse falado algo errado pôs uma mão sobre os lábios. — Acho que falei demais.

Eu sorri novamente, mas estava desconfortável. Eu sabia que Peeta gostava de mim. Claro, ele me dera um bilhete com um poema e um desenho e ele me beijara há alguns dias. Mas, de alguma forma, ouvir a mãe dele me dizer isso foi como se tornasse as coisas oficiais. Confirmava, que se eu não fosse devagar, poderia partir seu coração. E eu não sabia o que pensar, apreciava sua companhia. Mas eu gostava dele daquela maneira? Tentei recordar do beijo que compartilhamos, mas tudo se embaralhou na minha cabeça. Eu estava confusa, e mais do que nunca queria sair dali. Queria poder voltar alguns minutos no tempo e não ter tocado a campainha. Ter dado meia volta e ido para casa.

— Bem, onde ele está? — Perguntei, tentando mudar de assunto.

— Lá em cima. Ele geralmente fica no quarto desenhando alguma coisa e ouvindo música. Provavelmente nem ouviu a campainha tocar e perdeu a hora. — Ela olhou o relógio. — Ah… eu preciso olhar o forno, minha lasanha está quase pronta. Por que não sobe? — Sugeriu. — O quarto dele é o primeiro do corredor, não tem como se perder.

Eu não protestei quanto ao fato de ela estar permitindo que uma garota, que há alguns minutos era uma completa estranha, se aventurasse até o quarto do filho mais novo. Apenas assenti e assisti enquanto ela sumia em um dos corredores. Olhei para a escada quase no fim da sala e segui até lá. Subi seus degraus o mais rápido que as sapatilhas pretas que estava usando me permitiram.

Lá em cima, seguindo para a esquerda, havia uma parede com três portas. Ela dissera que a de Peeta era a primeira, portanto não hesitei quando fiquei de frente para esta e bati. Levou alguns instantes — e mais algumas batidas — para que eu pudesse ouvir uma resposta.

— Pode entrar! — Eu pude ouvir sua voz através da porta.

Então girei a maçaneta e adentrei o recinto. Não havia imaginado o que encontraria, e talvez nem devesse, pois teria acabado de me ver terrivelmente enganada. O quarto de Peeta era uma bagunça. Mas não uma bagunça nojenta como a de alguns garotos, não havia roupas espalhadas ou um odor irritante, porém uma de suas paredes servia de mural para todos os seus desenhos, que retratavam paisagens urbanas, naturais, coisas surreais — o que me fez imaginar se ele estava pintando seus sonhos — e pessoas. Alguns dos desenhos estavam coloridos, outros permaneciam apenas com traços e contornos desenhados. Alguns pareciam não terem sido finalizados e se fundiam a outros.

— Olá. — Falei fechando a porta atrás de mim e me voltando para a direita.

Peeta me viu e automaticamente se levantou da cama em que antes estava. Ele não usava camisa, o que me fez reparar no quanto ele era magro e no quanto seus ombros eram largos. Sua pele tinha algumas pintas e eu sorri quando ele sem jeito procurou por toda a parte uma camiseta. Encontrou uma se voltando para a cabeceira da cama e eu notei mais das pintas escuras em suas costas.

Ele era uma bela visão, eu tinha que admitir.

— Achei que fosse minha mãe ou os meus irmãos. — Ele explicou passando a camiseta sobre a cabeça.

Ele se virou novamente para mim, agora vestido e corado de vergonha. Diferente de todos os meninos com os quais eu andava, acho que Peeta não se sentia muito a vontade sem camisa. Pelo menos, não comigo.

— Sua mãe me pediu para subir. — Eu disse, tentando conter o impulso de curvar os lábios num sorriso.

— Eu não ouvi você chegar… teria descido. — Peeta explicou. — Você chegou cedo.

— É, eu tenho essa mania com relógios… Ah e+ não precisa se preocupar. Seus irmãos foram excelentes anfitriões.

E então eu fiz algo impensado. Eu segui até Peeta e, passando por ele, me sentei na sua cama. Estava cansada de ficar em pé e queria poder analisar o quarto dele de um bom ângulo. Ali parecia o ideal.

— É um belo lugar. — Eu falei para ele.

Peeta pareceu hesitante antes de sentar ao meu lado. Ele manteve uma distância quase religiosa de mim. Eu tentei não pensar nisso e voltei a admirar o quarto. Fora a parede em que estavam todos os desenhos, havia também uma escrivaninha com o computador e bem ao lado dele estava o caderno de desenhos que eu já conhecia do outro dia no parque, havia também a porta de um closet e um pôster grande em outra parede do Homem Vitruviano de Da Vinci e ao lado uma prateleira com alguns livros antigos em capa dura. Senti inveja. Meu quarto era tão vazio e sem personalidade comparado a este.

— Você levou quanto tempo para terminar essa parede? — Perguntei apontando para a parede que ficava de frente a porta e ao meu lado.

— Ainda não terminei. — Ele disse. — Eu sempre vou desenhando e colando aí. Eu tento ver minha evolução através dessa parede. Como meus desenhos vão mudando, se aprimorando… às vezes, acontece o contrário, mas é uma mania.

Eu me levantei subitamente e segui até uma parte da parede. Havia um desenho bonito e um pouco maior do que os outros. Estava colorido e parecia recente, pois se sobrepunha sobre dois outros. Era eu toda sorridente em meu vestido azul celeste voltando para casa com um sorvete na mão e fita no cabelo.

— Você estava linda nesse dia. Eu tinha que pintar isso. — Peeta agora estava atrás de mim, um pouco próximo demais.

— Mesmo? — Eu me virei para ele. — Eu adorei.

Ele sorriu para mim e aquela mesma vontade que me invadira no baile quando eu fiquei na ponta dos pés e o beijei voltou. Porém não tive coragem e me voltei para prateleira com livros.

— São seus? — Perguntei.

— Eram da minha mãe e agora são meus. São clássicos franceses. Minha mãe era professora de francês antes de se casar com meu pai. Na verdade, o pai dela, meu avô era da França.

— Quer dizer que você é parte francês, monsieur Mellark?

— Oui, mademoiselle. — Ele respondeu.

Eu ri e me aproximei um pouco dele. Os olhos dele capturaram os meus e não consegui desviar o olhar. De novo aquela vontade. O que estava acontecendo comigo? Respirei fundo quando ele ficou mais próximo e seu calor irradiou até mim.

— Bem… — Ele começou. — Meu pai deve chegar as sete e quarenta e cinco. Até que o jantar aconteça ainda faltam quase meia hora. O que gostaria de fazer, Katniss?

Beijar você, eu pensei, mas logo afastei o pensamento balançando a cabeça. Tinha que me controlar.

— Bem, você podia me mostrar a casa.

Foi a melhor ideia que eu tive. Talvez, se saíssemos daquele cômodo, com uma cama, eu pararia de ficar pensando besteiras. Talvez meus hormônios parassem de pipocar e afetar minha racionalidade.

–*-

A casa de Peeta era enorme, e não deu tempo de conhecê-la completamente até a hora do jantar. Às oito da noite, a família inteira e eu estávamos na sala de jantar. O pai de Peeta, um homem um pouco rechonchudo e alto, que tinha os cabelos alguns tons mais escuros que os dos filhos e da esposa, chegou. Ele fora simpático ao me cumprimentar. Parecia tão surpreso quanto os demais da casa, mas soube disfarçar melhor. Notei que Peeta parecia ser mais aberto com ele e que os gêmeos, que eu agora sabia se chamarem Damian e Cameron, ficavam mais a vontade com a mãe.

A comida da sra. Mellark seria um crime para qualquer vegetariano, pois tudo envolvia carne e derivados de animais, exceto a salada. Para a felicidade dela, eu não era vegetariana, na verdade, apreciava mesmo carne animal e saboreei sua lasanha de carne e seu frango assado suspirando. No fim da refeição ela nos ofereceu um sorvete caseiro que era bem mais cremoso que os convencionais, e muito doce. Comi até onde a educação me limitava.

Todos foram para a sala depois das nove da noite, quando o jantar acabou. Sentamo-nos nos sofás, com exceção do pai de Peeta, que ocupou a poltrona e começamos a conversar. Os gêmeos falaram do quanto estavam empolgados com o novo semestre em fisioterapia, e no quanto a equipe de natação da faculdade era incrível. Peeta parecia estar bastante atento.

Aliás, Peeta não falava muito, foi o que percebi. Nem ele, nem seu pai. As estrelas ali eram os gêmeos e sua mãe. Eles conversavam muito e diversas vezes me fizeram algumas perguntas sobre minha vida, meus estudos e minha família. Era legal estar num lugar aonde as pessoas não me julgassem por Haymitch ou Johanna. Parecia que os boatos nunca alcançaram aquela vizinhança, muito menos a família Mellark que vivia ali há apenas três anos. Era bom não ter alguém olhando para mim com um olhar de pena. Como se viver com Johanna e Haymitch não fosse digno.

Isso me fez lembrar do pai de Marvel e de como eu detestava quando ele me flagrava saindo da sua casa pela manhã e me olhava como se eu fosse um filhote que caiu do caminhão da mudança. Ok, talvez naquela época, com as sessões com a Dra. Trinket, bebedeiras sem fim de Haymitch e o começo do caso de Johanna e Finnick, eu andasse mesmo um pouco perdida. Mas não era agradável mesmo assim.

Eram mais de dez horas quando eu resolvi me despedir. Os irmãos de Peeta me abraçaram e um deles, acredito que tenha sido Cameron, disse:

— Se aparecer pela Penn State qualquer dia… sei lá, para uma excursão, saiba que já tem onde passar a noite. — E piscou para mim.

— Ok… vou me lembrar disso. — Eu disse tentando conter o riso.

A mãe de Peeta também me abraçou e me deu um beijo na bochecha.

— Volte quando puder, querida. — O sorriso dela era enorme.

O pai de Peeta apertou minha mão e sorriu para mim.

— Foi um prazer, Katniss. — Ele disse.

— O prazer foi todo meu, sr. Mellark.

— Eu volto daqui a pouco mãe! — Peeta gritou enquanto saía da casa em minha companhia.

— Bem, meu pai me deu as chaves do carro dele…

Entendi o que ele quis dizer e o segui até onde um carro esporte estava estacionado. O pai de Peeta era promotor público e trabalhava no fórum municipal. Isso explicava a casa e o carro luxuosos.

— Sua família é bem legal. — Eu falei enquanto Peeta dava a marcha ré.

— É, eu sei… mas a mamãe é um pouco… bem, ela sufoca um pouco as pessoas, deve ter percebido isso quando ela ficou chateada por ter perdido o campeonato dos meus irmãos. Ela acha que tem que estar presente em tudo. Acho que em parte é isso foi isso que me fez querer ir para a Califórnia.

— Entendo. — Eu falei.

Finalmente entramos na estrada. Peeta era um motorista prudente e seguia devagar na estrada. Eu só mostrei tanta prudência assim quando tirei a carteira. Depois passei a correr. Talvez em parte fosse uma boa ideia eu só poder receber a herança da família da minha mãe aos vinte e um, porque se eu pudesse comprar um carro agora, eu talvez não fosse chegar aos vinte.

— E a sua família? — Peeta perguntou.

E tudo pareceu congelar, ainda que estivéssemos seguindo na estrada.

— Bem, Haymitch e Johanna são legais, da forma deles. — Falei hesitante.

— Mas e seus pais? Haymitch não é seu pai, é? — Ele franziu o cenho, mantendo a atenção na estrada.

— Eles morreram. — Optei pela história mais curta. — Você não sabia? Foi num incêndio, quando eu tinha dez anos. Meu pai, minha mãe e minha irmã. Eu sobrevivi porque estava dormindo na casa de uma amiga. Minha primeira festa do pijama. — Tentei não soar amarga demais.

— Oh… — Ele parecia surpreso. Para alguém que me analisou o ano inteiro, Peeta talvez não me conhecesse tão bem quanto gostaria. — Sinto muito.

— Não, não foi culpa sua. — Eu tentei sorrir. — Enfim, acho que estamos quase chegando. Aquela rua ali. — Apontei para a direita.

Em pouco tempo estávamos de frente para a minha casa. Eu agora queria entrar o mais rápido possível. Porém assim que abri a porta, Peeta segurou o meu braço.

— Desculpe por ter perguntado. — Seu tom de voz era sincero.

— Eu sei que não teve nenhuma má intenção. — Falei, não sei se mais para ele do que para mim.

— Ok… — Ele disse.

— Bem, eu tenho que ir. — Disse me voltando para ele. — Estão me esperando lá dentro.

— Sei… — Peeta falou, mas não largou meu braço. — Escuta, Katniss, eu queria falar sobre o que aconteceu na noite do baile.

— O quê? — Minha voz, tenho certeza, soou rude demais.

— B-bem… eu queria pedir desculpas por aquilo. Foi errado. — Ele olhava para o chão do carro.

— Não precisa se desculpar. — Falei.

— Não? — Ele disse e se aproximou um pouco. — Eu não quero que pense que eu sou desse tipo que sai por aí seduzindo as garotas.

Eu tive que rir.

— Acredite, eu conheço muitos caras desse tipo e sei que você não é um deles. E bem, eu também não sou tão fácil de seduzir assim. — Pisquei.

— Tudo bem, então. — E finalmente soltou meu braço.

— Boa noite, Peeta. — Eu falei e me inclinei no banco para beijar seu rosto, que corou ao meu gesto.

— Boa noite. — Disse assim que eu sai do carro e me dirigi a porta de casa. — Vejo você segunda.

— Pode ter certeza. — Acenei e segui para minha casa.

–*-

Johanna já dormia, pois tudo em seu quarto estava escuro e silencioso pela janela, mas quando entrei em casa, encontrei Haymitch na sala vendo TV. Ele parecia agitado apertando as almofadas. Havia lido que as pessoas que costumam beber demais, quando param tem uma espécie de síndrome chama de Síndrome da Abstinência, alguns de seus sintomas são insônia, agitação e ansiedade. Haymitch estava sofrendo disso.

— Hey. — Falei tirando os sapatos e me sentando ao seu lado no sofá. — Como vai a noite?

— Terrível. Gostaria de uma bebida para apagar de vez… — Ele resmungou.

— Veneno é uma ótima pedida. — Provoquei.

— Engraçadinha. — Ele falou deixando de prestar no filme de faroeste em preto e branco que passava. — E a sua noite, docinho? O rapaz que a trouxe não passou dos limites, não é?

— Por favor, Haymitch, pare de se comportar feito uma velha espiando os outros pelas janelas. Arranje uma vida. — Falei irritada com a provocação dele. — Além do mais os meus limites já foram ultrapassados tem um tempinho. — Sorri com escárnio.

— Um pai pode sonhar, não pode? — Ele falou.

— Você não é meu pai, Haymitch. — Falei. — Nem o tio que deveria ser você é…

— Bem, ninguém é perfeito.

— E você se esforça para ser justamente o contrário.

— Culpado. — Ele admitiu.

Ficamos em silêncio então. O filme até que não era ruim. Não gostava muito de filmes com tiroteios demais e história de menos, mas esse parecia ser interessante.

— Haymitch, já se apaixonou? — Eu perguntei, de repente, sem pensar.

— Que pergunta é essa? — O tom de Haymitch foi cuidadoso. — Você não está…

— Dá um tempo, Haymitch! Por que só não responde a pergunta? Ou então esquece…

— Bem, Rebecca era linda e eu… eu gostava muito dela. Mas ela me deixou antes de eu descobrir o que era… — Ele admitiu.

— Você já bebia naquela época? Foi por isso que ela o deixou e foi embora grávida da Johanna? Por que não viu um futuro com você?

— Está fazendo perguntas demais, não acha? — Incrivelmente, ele não parecia irritado com minha curiosidade.

— Bem, é sabe como as crianças são curiosas. — Brinquei.

— É, eu bebia. Sabe que eu e seu pai tínhamos um pai de, me desculpe à palavra, merda. Eu virei um bêbado e bem, não meu leve a mal, o seu pai um piromaníaco. Ele enganou nossas mães e nos tratou feito lixo.

Eu suspirei. Haymitch era meio-irmão do meu pai. O meu avô tinha um caso com a mãe de Haymitch e foi dessa relação que ele nasceu e jamais possuiu nada do que era do meu avô. Nem mesmo o sobrenome. Meu pai por ser filho legítimo, ficou com a casa antiga (que mais tarde viria a atear fogo) e com todo o dinheiro que meu avô deixou de seus investimentos e compras de ações. Era alguma coisa, e se meu pai fosse um ser humano normal, ele teria feito algo bom com isso, porém ele não era, e o dinheiro foi na maioria gasto com remédios que não o fizeram melhorar da sua esquizofrenia. Minha mãe se casou com ele mesmo sendo um rapaz perturbado como ele era, e com o dinheiro da família dela, que eram donos de terras (meus falecidos avós), vivíamos bem o suficiente até aquela fatídica noite.

— Culpar o vovô pelo que você se tornou não ajuda. — Falei.

— Bem, eu tenho que culpar alguém que não seja eu mesmo, se não como eu poderia viver?

— Bem…

E deixei o quer que fosse falar suspenso no ar. Eu não sabia, na verdade, o que responder. E já estava começando a ter sono.

— Ainda são onze horas e Johanna já está dormindo? — Perguntei, finalmente lembrando dela.

— Não, ela não está em casa. — Haymitch pela primeira vez na noite pareceu afetado de verdade por algo que eu dissera.

— Acha que ela está com ele?

— É sempre assim, não é? Ele a decepciona, ela chora, ele liga, ela o perdoa e depois some.

— Achei que o fato da mulher estar grávida fosse tornar as coisas diferentes.

— Bem não tornaram… — Haymitch finalizou.

Voltamos nossa atenção para o filme. Era o duelo final. O mocinho iria enfrentar o homem que procurava a fim de vingança.

— Quem acha que vai morrer? Jack ou Bill? — Perguntei antes que os dois cowboys na tela se voltassem um para o outro e disparassem.

— Bill… — Haymitch declarou. — Os mocinhos sempre se dão bem no fim.

— Bem… eu acho que Jack vence esse duelo. Repare na atitude de matador dele.

Haymitch estava errado. Jack se virou e atirou em Bill antes deste poder sacar a arma. O mocinho caiu ao chão. Talvez nem sempre os heróis se dessem bem.

— Bem, parece que nem sempre. Fazer o quê? É a vida… — Haymitch disse.

Ele se levantou e se esticou.

— Boa noite, docinho. — Falou indo rumo às escadas.

— Boa noite. — Repliquei ainda sentada no sofá.

Peguei o controle e troquei de canal.


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Notas finais do capítulo

1- O Pôr do Sol em Ohio acontece após as oito da noite.

Bem, bem. Sei que não ficou um cliffhanger pro próximo capítulo, mas gostaria de dizer que planejo que seja mais focado nos amigos da Katniss e na Johanna. Espero conseguir escrevê-lo logo. Torçam por mim (ou não).
Um beijão, ainda amo vocês. ;***