A Beautiful Mess escrita por Danendy


Capítulo 4
Capítulo IV – Família


Notas iniciais do capítulo

Hey pretties! Aqui estou eu com um novo capítulo. Eu o li e reli e não acho que seja dos melhores, mas é necessário para o desenvolvimento.
Quero agradecer a todos que comentam, em especial a maymellark que fez uma recomendação tão linda quanto sua própria pessoa. Obrigada mesmo. ♥



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— Obrigada. — Peeta disse enquanto pegava a casquinha que a moça lhe estendia.

Eu reparei que ela lhe mostrou um sorriso largo, encantada com seu jeito meigo e gentil. Mordi o lábio inferior ao perceber que talvez meus sorrisos para ele fossem parecidos. Ele causava essa sensação nas pessoas.

Peguei o meu sorvete também, e enfim saímos da pequena sorveteria e voltamos a caminhar pela calçada.

— Eu disse que o sorvete era bom. — Falei, suspirando ao provar o meu de chocolate e subindo no meio-fio.

— Não se para de andar sobre o meio-fio depois dos doze anos? — Peeta comentou malicioso.

— Ah, qual é? Olhe minhas roupas? Minha vida é um musical, e nos musicais as pessoas andam sobre o meio-fio, tomam sorvete, cantam blues e vestem roupas dos anos sessenta.

— Não tem ninguém cantando blues aqui.

— Isso é um desafio? — Estreitei os olhos para ele e lambi meu sorvete.

Ele sorriu, e a expressão em seus olhos era de provocação. Eu dei uma risada curta e comecei a cantarolar a melodia de Two sleepy people. Ele pareceu maravilhado enquanto caminhava pela calçada e degustava do seu sorvete de kiwi. Tentei um falsete na voz, para sair mais parecido com a versão da Jane Russel, assim que comecei a cantar.

Here we are, out of cigarettes

E enquanto eu cantava, jogamos o resto dos sorvetes numa lixeira. Eu peguei a mão de Peeta, ali mesmo na calçada e o fiz me rodopiar enquanto cantava o refrão.

Two sleepy people by dawn early light and too much in love to say goodnight.

Seu sorriso ficou ainda mais largo quando ele me amparou em seus braços após o giro. Eu me recompus, um pouco sem jeito pela posição em que ficamos, e voltei a caminhar ao lado dele na calçada.

— Já lhe disseram que tem uma voz encantadora? — Peeta me perguntou.

— Sim, você, ontem. — Eu respondi travessa.

— Alguém, além de mim?

— Não. Não gosto muito de cantar. — Ele arqueou uma sobrancelha com isso. — Quero dizer, não canto para todo mundo.

E era verdade. Eu não cantava para todo mundo. De alguma forma, estar perto de Peeta Mellark me dava vontade de cantar e de agir feito boba, sem nem mesmo me importar com isso. Foi aí que eu soube que eu realmente queria ser sua amiga. Eu queria conhecer aquele garoto que se sentou calado perto de mim durante o ano todo. Queria saber da vida dele, e saber por que ele me dera aquele desenho, por que só agora.

— Animado com o fim do último ano? — Eu mudei de assunto.

— Sim e não. É ótimo finalmente terminar o colegial, mas minha mãe pretende ganhar o Oscar de melhor atriz dramática. O filho mais novo indo para a faculdade. Ela e meu pai ficando velhos e sozinhos. Esse tipo de coisa. — Ele explicou. — E você, animada?

— Muito. Eu não vejo a hora de deixar isso tudo para trás. — Confessei.

E era a verdade. Eu não me sentia em casa desde os dez anos, quando me mudara para Panem para viver com Haymitch. Quando toda a vida que eu conhecera deixou de existir, engolida pelas chamas. Sacudi a cabeça, afastando esses pensamentos. Notei que Peeta me olhou intrigado quando fiz isso.

— Mas, sua mãe está triste, hã? — Tentei fazer o foco da conversa voltar para ele. — Está indo para muito longe?

— Um pouco. Universidade da Califórnia em São Francisco. Arquitetura. — Ele contou.

— Mesmo? Eu vou para Berkeley. Biologia. — Sorri. — A gente pode se ver de vez em quando. — Eu disse sem pensar. — Quero dizer, ter alguém conhecido por perto é bom, às vezes.

— Seria ótimo ver você, Katniss. — Eu parei. Foi a primeira vez que ele pronunciara meu nome, ao invés de usar pronomes. Gostei de como soou em sua boca.

Ele parou também e se virou para me ver sorrindo. Ali, quando a brisa de junho nos atingiu, eu gostei de como o sol das quatro da tarde tocou seus cabelos já claros e os iluminou ainda mais. O mesmo aconteceu com seu rosto. Seus olhos azuis e seus traços pareceram ainda mais atraentes, principalmente quando duas covinhas surgiram, uma em cada bochecha — ele estava sorrindo também.

— Bem, eu vou por aqui. — Eu disse apontando para uma rua à esquerda. — Vai à festa amanhã?

— É o nosso baile de formatura. — Peeta falou. — Não perderia por nada.

Eu assenti, e me sentindo um pouco desconcertada, me virei e caminhei sozinha pelo caminho que levava a minha casa. Olhei para trás uma vez, apenas, e o avistei, ainda parado, com as mãos nos bolsos e olhando para mim. Alguma coisa se agitou dentro de mim. Algo que costumava acontecer sempre sutilmente quando eu percebia a presença dele ao meu lado durante as aulas de biologia.

-x-

Perplexidade. Essa era a palavra adequada para descrever o momento em que eu cheguei a minha casa. O lugar inteiro cheirava a torta de maçã, e o aroma só podia vir de um lugar. Segui até a cozinha, imaginando que Johanna chegara mais cedo e resolvera novamente me humilhar com seus dotes culinários, mas ao adentrar o recinto eu me deparei com Haymitch sentado à mesa, olhando para a torta que parecia ter sido retirada do forno havia poucos minutos e ainda espalhava seu cheiro pela casa. A única coisa que consegui pensar foi que, até mesmo, um alcoólatra conseguia ser mais prendado que eu.

— Hey. — Eu disse, jogando minha mochila sobre a bancada. — Torta de maçã? Johanna vai precisar de mais do que isso para não te mandar para a reabilitação.

Haymitch me observou enquanto eu sentava a mesa e aspirava ao aroma de sua torta.

— Um cara tem que tentar… — Falou. — Está bonita. — Ressaltou. — Namorando? Espero que tenha um gosto melhor que Johanna.

— Obrigada, eu acho. — Respondi. — Mas não tem namorado algum.

— Que seja. — Haymitch disse. — Pensei que tivesse um estoque de algum entorpecente no quarto, não achei nada. Sem namorados, sem drogas… Que tipo de adolescente você é? — Ele perguntou.

— Bisbilhotou meu quarto?! — Eu exclamei.

— Eu limpei essa casa inteira hoje, queridinha.

— Não brinca? Mesmo? Deixe-me ver, você está sóbrio — eu acho —, limpou a casa toda e fez a torta preferida de Johanna… Alguém está com medo de apodrecer numa clínica. — Eu provoquei.

— Ela falou sério dessa vez. Até chorou. — Ele parecia envergonhado. — Eu não a vejo chorar desde que chegou aqui.

— E você acha que vai conseguir? — Eu perguntei.

— Não sei. Johanna disse que vou começar a frequentar grupos de apoio. Ela já me inscreveu em um. Todas as quartas. — Ele falou.

— E você quer parar de beber? — Eu perguntei séria.

— Eu sei lá. — Olhei em seus olhos cinzentos iguais aos meus e soube que aquela era a resposta mais sincera que ele poderia ter dado.

Nunca contei a Johanna, porém Haymitch nem sempre esteve tão no fundo do poço assim. Quero dizer, toda a minha vida eu me lembro dele ter um fraco para bebidas, mas soube que isso começou quando a mãe de Johanna o deixara e levara a filha junto. Rebecca Mason era uma mulher linda, inteligente e independente demais para se prender a um casamento. Acho que ela nunca amou Haymitch. Já ele, sempre fora louco por ela, e isso o levou a sua atual situação. Até uns anos, ele conseguia levar uma vida normal, me criando, trabalhando em sua loja e dormindo bêbado na sarjeta eventualmente. Mas quando Johanna apareceu, tão parecida com Rebecca e com a notícia de que ela morrera, acho que foi demais para ele.

— Posso pegar um pedaço? — Perguntei olhando para a torta.

— Só quando a Johanna chegar. Daqui a meia hora. — Ele olhou o relógio na parede da cozinha. — E ainda está quente, sua comilona.

— Está certo. — Concordei desapontada.

Levantei, peguei minha mochila e subi para o meu quarto. Tomaria um banho antes do jantar.

-x-

Aconteceu rápido demais. Eu estava lendo a New Scientist Magazine no sofá da sala quando a porta se abriu com um barulho alto e foi fechada com um ainda maior. Escutei passos na escada, no entanto, quando me virei não havia ninguém. Haymitch, que estava na cozinha, provavelmente lutando contra as consequências da abstinência, apareceu e eu me senti aliviada por não estar só, e pelo que eu havia ouvido não ter sido fruto da minha imaginação.

Subimos a escada com cuidado, assustados com o que quer que tivesse invadido nossa casa, quando ouvimos o som de algo se quebrando vindo do quarto de Johanna. Aceleramos o passo, preocupados. E o que avistamos assim que adentramos o local nos deixou chocados. Ao menos, eu estava. Voltei meu olhar para Haymitch que mais do que nunca parecia precisar de uma bebida.

— Eu não sei lidar com isso. — Ele admitiu e foi se trancar em seu quarto.

Eu fiquei ali sozinha, observando, da porta, Johanna sentada no chão com as costas apoiadas na beirada da cama, com os olhos inchados, e com restos de uma luminária quebrada a sua volta. Ela não parecia respirar. Seus ombros mal se movimentavam. Ela nem parecia estar ali, para ser exata.

— Johanna? — Fui me aproximando lentamente, tentando evitar os cacos de vidro. — Johanna? — Chamei de novo, mas ela não parecia estar lá.

Eu agora estava próxima a ela, sentada ao seu lado. Podia ouvir sua respiração baixa e perceber que piscava os olhos que pareciam ainda maiores por conta do choro. Apoiei a cabeça em seu ombro, e foi quando a ouvi soluçar baixinho. Sabia que estava chorando novamente. Continuei ali, enquanto as lágrimas escorriam do rosto dela e, casualmente, caiam sobre o meu.

— Ela está grávida. — Johanna falou entre soluços. — Ele me contou hoje…

E então os soluços aumentaram. Eu me endireitei e foi a vez dela de se apoiar em mim. Johanna me abraçou e apertou forte enquanto seu corpo estremecia em soluços. Eu sentia minha camiseta molhar enquanto ela enterrava seu rosto em meu peito, mas não a soltei. Ela precisava daquilo.

Não sei quanto tempo permanecemos naquela posição, porém em algum momento o pranto cessou. Johanna parecia cansada e frágil enquanto sua respiração se normalizava. Ela se afastou de mim e eu pude ver seu estado. Ela estava mais quebrada que a luminária. Eu não lembrava que ela podia ser assim. Não Johanna, a garota que raspara a própria cabeça para a mãe não se sentir mal com a quimioterapia. Não a garota corajosa que enfrentava qualquer um, que não se importava com o que diziam dela. Mas ali estava ela, desesperada e despedaçada, porque a mulher do homem que amava estava grávida.

Eu a ajudei a se levantar e a passar pelo quarto sem acabar cortando um pé nos cacos espalhados ali. Levei-a até o banheiro e a auxiliei enquanto ela tirava a roupa e ia para baixo do chuveiro. Então, quando ela se sentou no chão e deixou a água correr pelo corpo, eu voltei ao seu quarto e comecei a limpar a bagunça ali.

Johanna finalmente saiu do banheiro. Calma, mas ainda com os olhos vermelhos, ela entrou em seu quarto. Eu já acabara de limpar, mas permanecera ali para verificar seu estado. Saí para que ela pudesse se trocar e bati a porta do quarto de Haymitch. Seu olhar era inquisidor quando abriu a porta. Eu apenas assenti e ele desceu as escadas comigo.

Cortamos pedaços da torta, colocamos em pratos, e eu preparei chocolate quente enquanto esperamos Johanna descer. Ela parecia desconcertada quando entrou pela porta da cozinha e se sentou a mesa. Haymitch tentou sorrir para ela, mas para mim pareceu mais uma careta. Comer um pedaço da torta pareceu animá-la, embora eu estivesse com medo de que a qualquer momento ela ruísse em lágrimas ali mesmo.

Quando nós terminamos, deixamos a louça suja ali mesmo, pois o dia seguinte era sábado e eu não teria escola, poderia lavar os pratos. Eu guiei Johanna até a sala e Haymitch nos seguiu. Liguei a TV e me juntei aos dois no sofá. Haymitch permitiu que a filha recostasse a cabeça em seus ombros, e eu fiquei abraçada a Johanna. Foi a primeira vez que ficamos tão unidos assim. Também foi a primeira vez em muito tempo que eu senti que tinha uma família.

-x-


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo é o da festa/baile. E provavelmente só sai na semana que vem porque meu seminário é dia 6 e até o dia 15 fica corrido no meu trabalho (Contabilidade). Mas não vou abandonar vocês, queridas.
Até mais. ;**