A Beautiful Mess escrita por Danendy


Capítulo 3
Capítulo III – Uma obrigação


Notas iniciais do capítulo

Então, esse saiu MUITO antes do que eu planejava. Mas é bom, pois eu não sei se terei muito tempo essa semana. Enfim, espero que gostem.



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Minhas pálpebras pesavam e eu mal podia escutar o diretor enquanto ele falava comigo. Era algo sobre eu não comparecer as sessões com a orientadora escolar, mas eu não conseguia compreender muito bem, pois estava exausta. Passara toda a noite acordada e de olhos vidrados no nada, tentando não pensar e ignorar a risada que parecia ecoar por todo o meu quarto. Estava tão atormentada que cogitei até mesmo bater na porta de Johanna e dormir em seu quarto, porém não o fiz. Passara anos lidando com isso sozinha e achava que seguiria assim pelo resto da vida.

O diretor notou que eu estava em outra realidade, pois não escutei mais sua voz. Ele se apoiou na sua escrivaninha, de frente para mim, e estalou os dedos, para ganhar minha atenção.

— Srta. Everdeen, pode me ouvir? Está bem? — Perguntou arqueando uma sobrancelha.

— Claro, diretor Snow. — Eu consegui responder, mas meus olhos ainda não tinham foco, e minha cabeça começou a latejar por conta do sono.

— Ouviu o que eu disse antes? — Ele não parecia acreditar em mim.

— Sim, que eu mereço uma punição por me ausentar das sessões com a doutora. — Eu rezei para que fosse isso mesmo.

— Certo. — Ele não parecia convencido, mas eu havia lhe dado a resposta correta. — Eu sei que é o último mês de aula, que você já tem vaga garantida na universidade e que depois disso o ensino médio não parece ter importância alguma. Eu sei… Mas suas sessões com a Dra. Trinket estão acima de tudo isso, você sabe…

O diretor Snow parecia angustiado. Normalmente, ele era só um velho mal amado que gostava de pegar no meu pé, no entanto, hoje ele se mostrava muito preocupado, como se percebesse que havia algo de errado comigo. O que não era tão óbvio assim, porque apesar de meus olhos cansados, tomei precaução para que ninguém percebesse meu estado e deixei meu visual impecável. Usava um vestido azul-celeste de alcinhas que terminava um pouco acima dos joelhos, com detalhes em renda branca, e que destacava minha cintura, nos moldes dos anos 1960. Meu cabelo também não denotava desleixo algum, com todos os fios bem presos num rabo de cavalo alto por uma fita da mesma cor do vestido. Até maquiagem eu usava! Não queria que ninguém pensasse que eu era a menina perturbada. Por essa mesma razão eu vinha faltando as sessões.

— Eu sei… Mas veja bem, o objetivo dessas sessões era me ajudar a lidar com tudo o que aconteceu, superar e dar o meu melhor para que eu tivesse êxito. Bem, eu tive, como o senhor mesmo mencionou. Poxa, eu entrei na melhor universidade pública deste país! Então para que prolongar mais isso?

— Não está errada, Srta. Everdeen. — Ele admitiu e pareceu ponderar por um instante. — Façamos o seguinte. Você estará livre das sessões por esse mês, e ajudará a equipe de debate e o orador da turma com o discurso de formatura, tudo bem? Fará bem a você manter o foco em alguma coisa…
Certo, ele me tirava dos leões e me jogava aos lobos. Qualquer coisa era melhor do que ser a garota perturbada que tem três sessões semanais com a orientadora, porém conviver com a equipe de debate e o orador da turma era quase tão ruim. Quase.

— Ótimo. — Eu disse me levantando. — Vou me informar quanto às reuniões do grupo. — Disse já a meio caminho da porta.

— Srta. Everdeen, não tente faltar a isso também. Precisa do seu diploma para ir para Berkeley.
E eu entendi a ameaça ali. Ele ainda podia me reprovar se eu me ausentasse das reuniões da equipe de debate. Ótimo, era só o que eu precisava: exposição. Eu, que só queria passar o ensino médio sem ser notada.

–x-

— Parece distraída, Catnip. — Gale disse, sentando-se ao meu lado durante o almoço.

— E você está desacompanhado… — Notei. — Madge finalmente percebeu que é um otário e te deu um fora?

— Ah, não. Ela percebeu que você está loucamente apaixonada por mim e não quis ficar no nosso caminho, coração. — Ele respondeu sarcástico e eu lhe mostrei a língua. — Ela está estudando para o teste de recuperação em física. Se não conseguir pelo menos um B, Madge não ganhará o diploma e a vaga dela na Colúmbia já era.

Eu entendia o quanto era importante para Madge entrar na Colúmbia. O pai, o prefeito da cidade, a queria em Georgetown, pois assim poderia visitá-la facilmente em Washington D.C. por conta do cargo político. Em outras palavras, ela continuaria sob seu controle. Até o ano passado isso era totalmente aceitável, mas assim que Gale começou a sair com ela, tudo mudou.

O prefeito Undersee não aprovou, de início, o namoro dos dois. Gale era um de lar desconstruído, o pai era um dependente químico e um homem abusivo que a mãe só tivera coragem de deixar dois anos atrás. Gale teve que arrumar um emprego depois da escola para ajudar com as despesas, já que o salário da mãe não era o suficiente para manter uma casa com ele e seus três irmãos mais novos. Creio que o prefeito pensou que meu amigo, em meio a tantas preocupações, não teria foco para as atividades acadêmicas e acabaria preso aqui numa vida medíocre. Ledo engano. As notas de Gale ficaram entre as melhores tanto no vestibular, quanto no semestre. Ele entrou em Engenharia Elétrica na Universidade de Nova Iorque com louvor. Madge se inscreveu para Ciências Sociais em Colúmbia, a fim de ficar próxima do namorado, e o pai não pôde dizer nada quando ela passou, pois era uma ótima universidade.

— Por que não a está ajudando? — Indaguei. Gale era um gênio com as exatas.

— Eu estou. — Respondeu, e então notei que não levava bandeja nenhuma, apenas dois sacos de papel. — Vim pegar nosso almoço. — Ele os sacudiu com cuidado. — Aí vi você e quis dar um oi, parece cansada.

— Mesmo? — Eu não queria que ficasse tão evidente.

— Outro pesadelo?

Gale sabia sobre meus pesadelos. Ele sabia tudo o que acontecera comigo. Éramos tão amigos, porque compartilhávamos nossas tristezas e nossas alegrias. Não fossem ele e Johanna cuidando de mim a sua maneira, eu não teria conseguido. A amizade de Gale valia por quinhentas sessões com a Dra. Effie, porque ele não precisava perguntar sobre meus sonhos, como eu estava, ou qualquer coisa. Ele só precisava olhar para mim, sorrir e bagunçar meu cabelo, e eu sabia que ele compreendia e também sabia que tinha com quem contar.

— É, meu pai desta vez. — Admiti.

E então ele estendeu o braço e balançou meu rabo de cavalo, separando os fios.

— Vai ficar tudo bem. — Ele sorriu.

— Eu sei. — Tentei sorrir também.

— Bem, vou lá. A loira deve estar com fome. — Ele levantou, pegou os dois pacotes e me deu um beijo na testa. — Se cuida.

— Pode deixar.

Assim que Gale deixou a mesa, pude ver Clove se aproximar com Lavinia ao seu lado. Ambas estavam vestidas com o uniforme de líder de torcida, por conta dos treinos todas as sextas.

— Sério que vocês ainda treinam, mesmo com o fim do campeonato? — Perguntei quando elas se sentaram e depositaram suas bandejas na mesa.

— Ah, qual é? Mesmo que não houvesse treino, eu ainda vestiria esse uniforme. É quem eu sou. — Clove disse.

— Você é uma animadora?

— Ela é uma atiçadora, pergunte aos rapazes. — Respondeu Lavinia maliciosa e deu uma risada.

Eu ri também, porque Clove ficou sem jeito. Ela tinha cabelos escuros e sedosos e era do tipo magra, alta e sensual de uma maneira selvagem. As fotos da equipe de líderes, principalmente dela, se destacavam no site da escola. E havia comentários que descreviam como eles se sentiam ao olhar para ela. O diretor teve que retirar a maior parte das fotos por conta disso. Ele disse que estimular a libido de adolescentes cheios de hormônio não era o objetivo da equipe de animação.

Hola chiquitas. — Saudou Cato chegando de repente com sua bandeja. Darius estava com ele.

— Agora é latino? — Lavinia perguntou, enquanto eu finalmente parava de divagar e mordia meu sanduíche natural.

Cariño mio, por você, sou qualquer coisa. — Ele piscou para ela que mostrou o dedo a ele.

— Prontas para a festa de amanhã? — Darius perguntou enquanto se sentava.

— Claro, é nossa última festa da escola… Meu Deus! — Clove exclamou tendo uma epifania. — Última festa da escola!

Eu tive que rir da expressão de perplexidade dela. Não sabia do que estava reclamando, ela iria cursar Direito na Universidade de Miami. A vida dela seria uma festa a partir de agora.

Todos começaram a falar, em nossa mesa se iniciou uma discussão, de como nós teríamos que nos divertir para valer e tirar onda com todos os que ainda permaneceriam ali por mais alguns anos. Nós conseguimos. Mais uma etapa de nossas vidas estava concluída.

–x-

Ao fim das aulas, eu tive que ir ao auditório onde a equipe de debate se reunia. Eu jamais pisara no auditório sem ter a obrigação de ir a uma assembleia, então me senti estranha ao adentrar aquele local e notar o quão silencioso e grande ele conseguia ser sem a massa de estudantes que geralmente o preenchia.

Aproximei-me do palco e pude notar movimento ali. Também havia sons. Vozes. Já havia alguém presente para a reunião. Tentei não parecer nervosa e segui em direção as vozes. Quatro pessoas estavam ali: uma bela garota loira de cabelos cacheados sob uma boina verde-limão, ela vestia um suéter da mesma cor e uma saia branca de pregas; uma garota ruiva muito magra com o rosto pequeno e o nariz arrebitado que usava jeans e camiseta; um garoto de cabelos e olhos castanhos, forte e alto que vestia a jaqueta do time de futebol (mesmo depois do fim da temporada!) e que eu conhecia bem até demais; e Peeta.

Olhar para os dois garotos me deixou confusa. O que faziam ali? Um mal gostava de falar, e o outro… Meu Deus, como eu esquecera que ele seria o orador da turma? Onde eu estava com a cabeça quando disse que estava tudo bem ao diretor?

— Hey. — A menina loura me cumprimentou com um aceno. — Veio para a reunião, ou só está perdida?

— Kitty! — O garoto de cabelos castanhos praticamente gritou. — Sabia que sentiria saudades.

Todos ficaram olhando de mim para ele e dele para mim. Eu suspirei.

— Estou aqui para ajudar com o discurso de formatura. — Respondi a menina loura e ignorei o garoto.

— Seja bem-vinda, então, somos os poucos responsáveis pelo discurso e pela cerimônia de formatura. A equipe de debate terá um recesso por conta dessas nossas reuniões, mas eles nos ajudarão com os preparativos. — Explicou a garota loira se aproximando e tomando meu braço. — Bem, esses são Finch, — Ela apontou a garota ruiva. — Peeta e Marvel. — Apontou para cada um dos garotos. — E eu sou Glimmer. — Ela concluiu. — Ao que parece, você e Marvel se conhecem, não é, Kitty?

— Na verdade, é Katniss. Kitty é um apelido que eu não gosto muito. — Lancei um olhar de desprezo a Marvel.

— Oh… — Ela disse e pude notar alguma compreensão em seu rosto. — Tudo bem. Enfim, estranho eu não me lembrar de você, somos do mesmo ano.

— Acho que não temos nenhuma aula juntas. — Eu respondi.

— Ela está nas turmas avançadas. — Finch falou. — Fazemos História juntas. Katniss se senta ao fundo da classe.

Nunca tinha notado Finch nas aulas de História, mas quando ela constatou o fato, eu me lembrei da garota ruiva e estranha, possivelmente bulímica, que se sentava no canto.

— Isso. — Eu expliquei a Glimmer.

— Certo, certo. Enfim, vamos ao trabalho então? — Glimmer parecia ser a líder ali.

Todos nos sentamos nas cadeiras ao lado do palco. Eu estava tensa com Marvel ao meu lado e curiosa quanto à presença de Peeta ali.

— Bem, Kitt… Katniss, eu dizia ao Marvel que seria bom se nós citássemos autores famosos no nosso discurso. Já o temos todo escrito, mas estamos trabalhando para melhorá-lo. Peeta deu essa ideia. A Finch apoia, e você, o que diz? — Glimmer olhou para mim.

— Acho ótimo. — Disse, mas não havia entendido muito bem.

— Então, é isso aí. Nossa missão da próxima semana é encontrar poemas ou textos inspiradores que possamos anexar ao nosso discurso. — Ela parecia realmente animada com isso. — Procurem também ver vídeos de discursos de formaturas na internet. — Olhou para Marvel. — Quanto a você, mon cher, tente aperfeiçoar mais ainda sua capacidade de falar em público. Já entrou para a equipe de liturgia na igreja? — Ele assentiu. — Meu garoto… — E se voltou para mim. — Vou te mandar o discurso via email, Srta. Aulas Avançadas, quero mais ideias. — E piscou e me deu uma post-it para eu anotar meu endereço eletrônico. — Bem, acho que é só…

Ela se levantou e pegou sua mochila. Eu agarrei a minha também. Estava prestes a sair dali quando ele me agarrou pelo braço. Finch e Peeta olharam para mim e Marvel e se afastaram, deixando o recinto. Sobramos somente eu e ele.

— Achei que sua fixação em mim havia acabado. — Eu disse me soltando.

— Ah, qual é, eu sou o que tem fixação? O que você faz aqui? Com certeza sabia que eu sou o orador da turma, ou não, Kitty?

— É Katniss pra você. E eu não lhe devo explicações da minha vida. — Falei me virando e saindo dali.

Era só o que me faltava, ter que aturá-lo novamente. Já estava me sentindo arrependida de ter aceitado a proposta do diretor, mas sabia que não tinha volta. Ele era irredutível. Ele dissera que era para eu fazer aquilo, então eu teria que fazer ou adeus diploma.

Estava tão atarantada que acabei esbarrando em Peeta passando pelos corredores, enquanto tentava me afastar do auditório. Ele gemeu baixinho, eu o atingira com força.

— Oh meu Deus, desculpa. — Eu disse, me controlando para não rir da situação.

— Sem problemas. — Ele se recompôs.

— Não sabia que estava envolvido com os preparativos do discurso. — Eu comentei.

— Glimmer é minha amiga e precisa de apoio. Ela se sobrecarrega, às vezes. — Ele explicou.

— É, notei que ela é bem ativa. — Confessei. — Vai para casa agora? — Eu perguntei.

— É… — Ele assentiu.

— Vamos juntos, então.

Ele pareceu hesitar, novamente sem jeito comigo. Eu franzi o cenho. Eu realmente o assustava ao que parecia. Tentei convencê-lo:

— Eu pago o sorvete. — Disse sorrindo. — Tem uma sorveteria bem legal no caminho para o nosso bairro.

Presumi que se ele andara pelo parque na noite anterior, era porque vivíamos no mesmo bairro, embora eu não conseguisse me lembrar disso. Talvez porque eu passava a maior parte do meu fim de semana na casa de Gale ou de qualquer outra pessoa, não rondando a vizinhança. Além disso, era um bairro grande, e eu não conhecia nem mesmo meus vizinhos de porta, muito menos os de outros quarteirões.

— Tudo bem. — Ele sorriu de volta.

–x-











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Notas finais do capítulo

Ok, as perguntas que ficaram no ar aqui, não se preocupem, serão respondidas mais tarde.
De qualquer forma, eu estou adorando escrever essa história. E adoro as reviews de vocês, pessoal. Obrigada, vejo vocês no fim de semana. ♥