Once Upon a Time escrita por Susan Salvatore


Capítulo 7
Autoestrada para o inferno




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Eu devia ter corrido enquanto podia.

No meio da estrada, atropelei alguém. Isso quase custou um acidente de carro. Elena acordou num solavanco e bateu sua testa no vidro. Ah, Elena, não podia ter escolhido hora pior pra andar sem cinto?

Se não fosse minha extrema habilidade ao volante, provavelmente teríamos batido em alguma árvore e talvez até explodido. Mas não aconteceu, e é isso que importa. Depois de alguns segundos de espanto, eu desci do carro para ver que havia morrido.

Havia um corpo sim. Em pé. E este corpo exibia a distorção mais cruel do meu sorriso favorito.

Era a Katherine.

E antes sequer que ela pudesse piscar, agarrei seu pescoço.

– O que pensa que está fazendo, sua vagabunda?! – gritei, rosnando para ela. Ah, nem me fale, eu sei, totalmente sem classe.

– Awn, você fica tão fofo quanto tá nervosinho – respondeu, fazendo biquinho. Biquinho esse que eu quase arranquei com um soco – E continua com um belo gancho direito, pelo visto.

– Você tem um minuto pra falar.

– Ah, até parece.

– Katherine – chamei.

– Quê?

– Quarenta e cinco segundos.

– Ai, tá, tá bom. Vim aqui dar um recado, doçura. Um de seus irmãos está vindo atrás daquela garotinha morrendo ali – disse ela, quase saltitante.

– Qual deles? – perguntei, apertando ainda mais seu pescoço.

– Você já sabe a resposta, meu bem.

Larguei-a perplexo.

O que eu fizera meu Deus?!

– Bem, se não se importa, vou indo... – falou a vadia, tentando sair de fininho.

– Eu também tenho um recado.

– Ah, é mesmo? Pra quem?
– Pra você – disse, cravando minhas unhas em seu coração podre – Aproxime-se de novo dela e garanto que vai desfrutar da singular experiência de ver seu próprio coração esmagado. Veja bem, é quase um desafio e eu sou bem rápido.

Ela engasgou e eu a soltei. Quando tentou se recompor, chutei-a bem no lugar que acabara de enfiar a mão. E eu tenho uma mão grande.

– Volta pro inferno de onde você veio – completei

– Não... Não... F-fui eu, K-kol – disse ela, sem fôlego.

Agarrei-a pelo pescoço e a soltei num precipício logo ao lado.

– Eu disse pra voltar logo – sussurrei, alheio ao que quer que fosse acontecer com ela.

Então lembrei de Elena, literalmente engasgando no próprio sangue.

– Ah, meu anjo – disse, tentando acalmá-la enquanto rasgava meu pulso, dando a cura à ela.

Algo de muito ruim mesmo acontecera com Elena naquele acidente, pois ela só acordara três dias depois.

...

– Kol? – ouvi um gemido baixinho e suave vindo do quarto e corri ao seu encontro.

– Oi, diamante – brinquei, afagando seus cabelos macios.

– O que aconteceu? – disse ela, fazendo a pergunta que mudaria tudo dali pra frente. Odiando a mim mesmo pela centésima vez, eu respondi aquela inocente garota.

– Ficamos conversando até tarde ontem à noite – falei, usando minha compulsão – e você dormiu hoje o dia inteiro. Decidimos que vamos trancar a faculdade e viajar por aí de carro, só nós dois. Você ficou imensamente feliz com isso e também porque sabe que eu te amo.

– Imensamente feliz – respondeu Elena, sorrindo e piscando bobamente.

Aquela decisão não fora fácil de tomar. Até pensei em dar verbena a ela, para que eu não me sentisse tentando a continuar com aquilo. Não era nada saudável manter um relacionamento à base de compulsão. Porra, Elena é minha namorada não minha bolsa de sangue.

E por falar em sangue... Desde que Elena estava desacordada eu não provara uma sequer gota de sangue e isso era extremamente perigoso. Talvez se eu provasse só uma gota, era tão bom.

Não, gritou a voz da razão dentro de minha cabeça. Cara, eu tava muito na merda. Não havia jeito de sustentar aquilo. E, enquanto vivia aquele pequeno inferno dentro de mim, senti um abraço sutil na minha cintura.

– Eu te amo, Kol – sussurrou ela. Foi aí que percebi que, embora não fizesse ideia do que havia de errado comigo, ela se oferecera pra suportar os demônios comigo. Ela era meu anjo, meu próprio anjo.

Peguei-a no colo e a beijei.

– Pronta para as melhores férias de sua vida, bebê?

– Mais do que pronta.

...

Arrumamos nossas coisas e realmente voltamos pra faculdade dessa vez. Eu esperava no lado de fora do dormitório feminino enquanto ela empacotava suas coisas. Assim que Elena apareceu de novo na minha frente pude sentir minha garganta queimar de sede. E não vou nem comentar sobre o estado em que estavam minhas veias.

Ela pegou minha mão e me levou pro carro.

– Eu dirijo! – disse ela, como a garota que era. E, só pra variar, começou a fuçar no player. – You make me feel that... – cantarolou.

...

Eram quase três da manhã e eu ainda não conseguira pregar olho. Revirava na cama que dividia com Elena, e temia acordá-la.

Inferno, inferno. Essa sede era insuportável. Estava muito consciente da pulsação dela, do calor que seu corpo emanava. Todo meu autocontrole era um lenço de seda suportando o peso de uma muralha.

– Kol, o que há? – disse ela, docilmente preocupada.

E como era de se esperar o lenço sucumbiu à quem era mais forte. Joguei-a na cama, ficando por cima dela. Beijei-a e a excitei, quase levando a menina à loucura só com beijos. Agarrei sua cintura e a trouxe o mais perto possível de mim.

E então mordi seu pescoço.

Ah, como era deliciosa aquela torrente de sangue fresco dentro de mim! Até sua carne, se rasgando sob meus caninos era tão agradável. Fechei meus olhos e, pela primeira vez em muitos dias, fiquei completamente alheio à Elena. Tudo que importava era aquele maravilhoso sopro de vida fervilhando em minhas veias, suavizando-as, e me levando ao paraíso. Era um êxtase profundo.

Não sei por quanto tempo suguei aquele sangue maravilhoso. Deve ter sido por um bom tempo pois, quando ouvi o sussurro frágil de Elena, fui capaz de parar.

Meu Deus.

Eu não me arrependia. Eu sou um vampiro, um vampiro com uma bela presa. Não há arrependimentos pra um ser como eu.

Mas há um coração e esse coração tinha o sobrenome Gilbert - por hora.

Enquanto Elena desfalecia em meus braços, pude ver seu último olhar para mim, e não havia nenhum amor nele. Era só medo.

Curei-a antes que aquilo pudesse piorar.

...

Pela incontável vez naquele dia, Elena despertou confusa.

Mas a confusão durou só um pequeno momento. Pois quando seus olhos focalizaram em mim, ela gritou desesperadamente.

Demônio, seus olhos acusavam.


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